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Falemos então de álcool. Sim, das imperiais fresquinhas na esplanada em tardes quentes de calor, dos gins sofisticados nos sunsets na praia, da sangria docinha numa sardinhada entre amigos. O verão puxa pelo álcool. O álcool puxa pelos hidratos de carbono e pelo açúcar. Resumo da coisa: álcool e diabetes não são coisa que se deem particularmente bem.

Mesmo para quem não tem diabetes, mas tem excesso de peso e pretende perder alguns quilos, as bebidas alcoólicas são um inimigo clássico. Mesmo que a maior parte de nós não o saiba. Que fique, pois, claro: o álcool não é só nefasto para quem vai conduzir. 

 

E porquê?

O álcool não é convertido em glicose, e sim metabolizado de forma semelhante às gorduras. Um grama de álcool contribui com 7kcal para o plano alimentar. Quando bebemos, o álcool é absorvido quase que instantaneamente pelo corpo, entrando na corrente sanguínea, de onde segue para o fígado, responsável por filtrar o sangue. O fígado tem capacidade de eliminar o álcool de uma dose de bebida em cerca de duas horas. Se nesse período consumirmos mais do que uma dose, o álcool continua na corrente sanguínea. Os efeitos são os que conhecemos: extroversão, euforia, tontura, raciocínio lento, diminuição da coordenação motora.  

Acontece que o fígado também é responsável por controlar o nível de açúcar no sangue, através de um mecanismo chamado glicogenólise. Funciona assim: quando a glicose fica baixa de mais, o fígado usa parte de suas reservas de açúcar na corrente sanguínea, equilibrando a glicemia. Ora, quando um diabético bebe de mais, o fígado fica sobrecarregado na tarefa de eliminar o álcool e não consegue regular corretamente o nível de açúcar no sangue. Isso leva a uma queda exagerada da glicose e às crises de hipoglicemia, que como aqui já contei pode ser muito grave.

Outro problema é que bebidas alcoólicas são extremamente calóricas, como veremos mais à frente: o seu consumo frequente aumenta as probabilidades de desenvolver obesidade, um dos fatores que piora a diabetes e dificulta seu controlo.

 

Parece assustador? Um bocadinho. Mas calma. Desde que o diabético esteja a cumprir uma dieta adequada e com os níveis de açúcar controlados, não necessita excluir completamente as bebidas alcoólicas do seu estilo de vida. De acordo com os estudos revelados pela Associação Americana de Diabetes, o limite de ingestão de álcool recomendado é de duas porções/semana, ou seja, duas latas de cerveja (350ml cada), ou duas taças de vinho seco (150ml cada), ou duas doses de bebida destilada (50ml cada).

A restrição total de bebidas alcoólicas está indicada para diabéticos adolescentes, gestantes, lactantes, pacientes que tiveram pancreatite prévia, pacientes com triglicérides aumentados e neuropatia grave.

Já agora, a ingestão de bebidas alcoólicas, sem alimentos, pode provocar hipoglicemia tanto em pessoas que usam insulina como naquelas que utilizam hipoglicemiantes orais. Assim, não se deve beber de estômago vazio. Deve-se observar o compor- tamento do organismo com a ingestão de álcool realizando-se testes de glicemia antes e duas horas após, para avaliar e adequar a dose de insulina a ser administrada. 

No meu caso, a restrição de bebidas alcóolicas tem sido quase total. Mas, convenhamos, não é um problema grave para mim. Já aqui o disse: nunca fui muito de beber álcool. Uma cerveja muito raramente, um copo de vinho tinto socialmente ao jantar (duas vezes por semana? três vezes por semana?). Um gin com amigos (uma vez por mês?). De facto, desde que a minha vida mudou não voltei a ingerir álcool. Mesmo aqui em férias, no Algarve, onde estou rodeado de gente que, naturalmente, bebe, embora moderadamente. Sempre preferi água fresca: mata muito mais a sede, faz menos mal. Mas já sabem como eu funciono: não bebi álcool ainda nestas férias porque não me apeteceu. Não tem sido um sofrimento. Se um destes dias me apetecer uma imperial, ou um gin, beberei. Tenho quase a certeza que a companhia desta segunda semana algarvia vai propiciar a ingestão de algum álcool. Sem dramas.

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O que é importante é que estejamos todos conscientes do impacto que o álcool tem no nosso organismo. Esta tabela que aqui vos deixo mostra o valor calórico médio de uma bebida alcoólica. Não encontrei os valores específicos de hidratos de carbono por bebida, mas isto já permite ter alguma ideia. 

Quando bebemos três imperiais numa esplanada estamos a ingerir entre 350 e 400 calorias. Duas caipirinhas ou dois mojitos significam 300 calorias. Mesmo um copo de vinho tinto anda à volta de 100 kcal.

O meu objetivo aqui é sempre o mesmo. Dar informação a quem me lê. Feitas as contas, a receita é sempre a mesma: nada de fanatismos. A moderação e o bom senso são sempre a melhor solução.

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 "Ah, eu de manhã raramente tenho fome. Nunca tomo o pequeno almoço". Quantas vezes ouvimos esta frase de amigos e conhecidos? Muitas. Demasiadas. É um dos erros mais frequentes do ponto de vista alimentar, mesmo para gente saudável. Não, aquela história do "O pequeno almoço é a refeição mais importante do dia" não é tanga, nem conversa de médico ou de mamã. É mesmo verdade. E deve ser rico em nutrientes para começar o dia com energia e vitalidade.

Melhor do que eu, os médicos explicam porquê:

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 "O pequeno-almoço é a primeira refeição realizada após um período de jejum noturno, no qual o corpo necessitou de ir às suas reservas energéticas para obter energia para se regenerar e desempenhar funções básicas. Não tomar o pequeno-almoço é, no fundo, prolongar esse período de jejum e de recurso corporal às reservas energéticas, sendo esse processo menos eficiente do que a obtenção da energia a partir dos alimentos. Isso provoca uma maior sensação de sonolência e fadiga, e a um menor desempenho cognitivo e físico, principalmente no período da manhã. Há ainda quem experimente dores de cabeça, agitação, má disposição geral e mesmo maior irritabilidade", escreve a Fundação Portuguesa de Cardiologia.

E mais: "Um estudo apresentado na American Heart Association Conference demonstrou que a toma de pequeno-almoço todos os dias estava associada à redução de 30%-50% do risco de obesidade e de resistência à insulina. Outros estudos publicados no American Journal of Clinical Nutrition demonstraram um menor risco de desenvolvimento de diabetes tipo 2 e doença cardíaca em pessoas que tinham o hábito de consumir o pequeno-almoço. Contudo, no que toca ao efeito preventivo, importa não só a toma do pequeno-almoço mas também a sua qualidade."

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 Em minha casa, desde criança, sempre se deu muita importância ao pequeno almoço. Bem, eu não sou propriamente um bom exemplo. Ao longo da minha vida, nunca saltei um pequeno almoço, mas assaltei-o com coisas que jamais deveria ter comido. Sobretudo naquelas quantidades. Já aqui vos disse que, mais do que doces, a minha perdição são (eram) os salgados. E, portanto, durante muitos anos, um folhado de carne, um rissol ou uma empada fizeram parte da ementa da minha primeira refeição do dia. A tal que é suposto fornecer-nos nutrientes necessários para um dia cheio de vitalidade. No meu caso, cheio de gordura!

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 Desde que descobri que sou diabético, reforcei a importância do pequeno almoço. A ingestão diária de um pequeno-almoço saudável promove a saciedade e ajuda a controlar os níveis de açúcar (glicose) no sangue. Vejamos o que diz a IDF, International Diabetes Federation a propósito dos alimentos que devem/podem estar presentes num pequeno almoço equilibrado para diabéticos. Escolham alguns destes alimentos, não todos no mesmo dia, ok?

  • Água, chá e café não açucarados
  • Pão integral ou de mistura de farinhas pouco refinadas
  • Cereais de pequeno-almoço pouco açucarados e ricos em fibra
  • Leite magro
  • Iogurte magro e sem adição de açúcar, ao qual se pode adicionar sementes, frutos secos ou fruta fresca
  • Queijo pouco gordo (1 porção pequena, ex. 1 fatia fina)
  • Fiambre de aves (1 porção pequena, ex. 1 fatia fina)
  • Ovo cozido ou escalfado sem adição de gordura
  • Fruta fresca (1 peça, ex. maçã, pera, laranja, pêssego)
  • Vegetais

E, pronto, estamos conversados? 

 

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Por estes dias, a propósito deste meu processo de reeducação alimentar (é disso que se trata!), para controlar a diabetes e melhorar a minha qualidade de vida, lembrei-me de uma excelente reportagem televisiva. 

Chama-se Somos o que comemos, foi exibida em 2015 na SIC e foi feita por uma equipa de profissionais cujo principal rosto, a jornalista, chama-se Miriam Alves. 

É um testemunho impressionante para todos: diabéticos ou não diabéticos. Pais e filhos. Qualquer pessoa que se preocupe minimamente com aquilo que come deve ver esta reportagem. Ali se desfazem muitos mitos ("eu pensei que o Iced Tea era chá gelado"), ali se revelam muitas verdades escondidas atrás das máscaras, ali se apontam caminhos e, sobretudo, ali se mostram os números. Por exemplo, estes que vemos na imagem e que são paradigmáticos da sociedade que construímos: a alimentação inadequada é responsável por muitos mais anos de vida perdidos do que o tabaco, o álcool e a droga. 

A preocupação maior dos clínicos ouvidos nesta reportagem são as crianças. Os hábitos alimentares promovidos pelos pais logo nos primeiros anos de vida dos seus filhos são determinantes para os seus futuros. E, naturalmente, os pais não têm consciência dos perigos.

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Os números são reais e alarmantes. E o que se verifica é que desde o pequeno almoço até ao jantar, consumimos muito mais açúcar do que aquela é recomendado pela Organização Mundial de Saúde.

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Ora, com tudo aquilo que têm lido neste blogue ao longo das últimas semanas, é fácil perceber como a esmagadora maior parte das pessoas ultrapassam em muito o consumo de 25 gramas de açúcar por dia. Nos refrigerantes e no álcool que bebe. Nos bolos ou doces que come. Nos salgados, queijos, enchidos, fiambres e outras carnes processas a que não resiste diariamente. Vejam a reportagem e depois falamos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Vigio, logo existo! E vejam como resulta.

por Nuno Azinheira, em 16.07.16

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Ninguém faz nada por nós, acreditem. É claro que não estamos sozinhos no mundo e não dependemos só de nós, mas o que eu quero dizer com esta frase é que o mais importante está em nós, na nossa força de vontade, na nossa capacidade de perceber que mudar o estilo de vida é essencial para ter uma saúde melhor. É preciso ser responsável. E é essa responsabilidade que nos conduz a resultados. Uma das principais responsabilidades de um diabético é a autovigilância. Ignorar este facto é fingir que não se tem o problema. Um diabético não pode ter uma vaga ideia de que tem o açúcar alto. Um diabético tem de saber realmente qual a quantidade de açúcar que tem no sangue (aqui ficam os valores de referência - um quadro retirado do site da APDP). 

Um destes dias conheci alguém diabético tipo 2 que não faz a medição: a célebre "picada de dedo". Nunca fez. Perguntei-lhe como controla os valores da sua glicemia. Não controla. Toma os antidabéticos orais, mas não mede a glicemia. Não sou médico (repito isto vezes sem conta para que não restem dúvidas. Os conselhos que dou, as coisas de que falo resultam da minha própria experiência, do que leio e do que converso com o meu médico, e adequam-se a mim), mas parece-me que controlar a glicemia é algo vital para um diabético. Só assim é possível controlar o caminho que estamos a fazer: se estamos a correr corretamente ou se há ajustes a fazer, se os medicamentos estão a surtir efeito, e perceber o impacto do exercício físico no nosso corpo.

Tenho, como já perceberam, levado muito a sério essa autovigilância. Como aqui já escrevei anteriormente, meço a glicemia três vezes ao dia: jejum, meio da tarde e à noite. E praticamente um mês decorrido sobre a minha crise hiperglicémica que espoletou tudo isto, a evolução dos meus valores é altamente favorável. Os gráficos que vos mostro são aqui são retirados da App que uso diariamente que monotorizar os resultados. 

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Se bem se lembram, no dia 19 de junho (domingo), quando fui ao hospital, a análise deu 322 miligramas de glicose por decilitro de sangue. Comecei a medicação no dia seguinte e a medição na terça-feira. A minha primeira medição, nesse dia, registou 269 mg/dl. Vejam a evolução.

A zona sombreada em cada gráfico (correspondente a cada semana) é a margem média considerada de referência para um diabético (entre os 70 mg/dl e os 160 mg/dl). Vejam como na primeira semana, os valores estavam todos acima dessa margem. E que na segunda semana havia muitos acima e alguns já dentro da margem. Na terceira semana a maior parte estava dentro da margem de referência, mas alguns ainda fora. Finalmente, nesta quarta semana, só há dois valores acima da margem (foram registados no dia da Final do Europeu, domingo, dia de festança e nervos à flor da pele). Nesta última semana, a minha glicemia média está nos 115/120!

Não pensem que já estou a festejar. Não. Mas comemoro cada dia. Consciente que é apenas mais um dia. Mas orgulhoso de cada conquista que faço. Continuo seriamente a alimentar-me bem (acreditem, ainda não pequei com uma empada ou um rissol...) e a fazer exercício físico. Porque vejo os resultados e isso é o maior incentivo de todos. Esse é o combustível que me alimenta todos os dias. E é com ele que vou seguir a minha viagem. Tem sido bom partilhá-la convosco e sentir o vosso apoio aqui e nas redes sociais. Obrigado.

 

 

 

 

 

 

 

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Para começar, vamos colocar os pontos nos is. Não me interessam as marcas para nada. Nem sequer vou referir marcas neste post. É evidente que muitos dos leitores vão conseguir associar as cores e os letterings às marcas, mas não é isso que está em causa. Em cada segmento alimentar, para cada marca há mais 30 concorrentes, portanto, o que é válido para estas em concreto é válido para as marcas ao lado.

A minha intenção com este post é apenas alertar para as enormes quantidades de açúcar concentradas nestas bebidas. A indústria alimentar cumpre a legislação quando publica nos rótulos a Declaração Nutricional de cada produto (quer por unidade média, quer por porção), mas na maior parte dos casos, há uma grande ignorância da nossa parte. E isso paga-se caro.

Captura de ecrã 2016-07-13, às 19.02.15.pngQuerem um exemplo? Eu gosto de compras, de ir com calma ao hipermercado, andar com carrinho entre corredores, vendo este e aquele produto e comparando. Adoro sumo de laranja, daqueles mesmo naturais com fruta que nos prometem "acabada de espremer". Estão normalmente na zona dos frios (vocês sabem a que me refiro). Ora, numa hora e tal de hipermercado, eu sou capaz de ir beberricando facilmente uma garrafa daquele sumo. Há laranja, há maçã e cenoura, há só maçã. É à escolha do freguês. Ora, aquelas garrafinhas têm 750 ml de sumo de fruta. É fruta, é saudável, não é? Pois, vejam o rótulo. Por cada copo de 200 ml, 25,2 gramas de açúcar. E como está ali escrito no rótulo, uma embalagem de 750 ml contém 3,75 porções de 200 ml cada. Portanto, uma garrafinha contém 94,5 gramas de açúcar. Corresponde a 12 pacotes de açúcar (que oscilam entre os sete e os oito gramas). 

"Bem, isso és tu, que és bruto!", podem, e bem, pensar. É verdade. Mas tenho a certeza que não seria eu o único bruto à face da terra. E mesmo que à refeição beba dois copos de um destes sumos, são 50 gramas de açúcar. Ou seja, a mesma coisa que 6,5 pacotes. Como é óbvio, continuo a ir ao hipermercado e a ter gosto em demorar-me. Mas já não bebo o suminho. 

 

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"Tem sede? Bebe água!" Sempre foi assim que os meus pais nos educaram lá em casa. Refrigerantes foi coisa que muito raramente por lá entrou. E isso deixou marcas (apesar dos pesares): ainda hoje, a água é a minha bebida favorita. Mas sim, não vale a pena negar: também ao longo da vida bebi refrigerantes. Ou iced teas, por exemplo. "Ah, isso podes beber, que é chá fresquinho, não faz mal". Não? então reparem: um copo de iced tea (não interessa a marca, volto a dizer) tem 11 gramas de açúcar. O problema é que nunca bebemos um copo. Se numa refeição bebermos dois copos, são 22 gramas de açúcar, ou seja, três pacotes de açúcar. Numa tarde quente de verão, numa esplanada sabe bem uma lata de chá gelado. Uma lata tem 0,33, ou seja 330 ml. 13,5 gramas de açúcar, correspondentes a 57 calorias.

Pior, muito pior são as colas com açúcar: 35 gramas por lata. Ou os sumos em pacote. São os reis da selva e fazem as delícias da pequenada: cada pacotinho, um festa de 16 gramas de açúcar (cada pacote tem 0,20L). Ou os néctares: entre 6 e 7 gramas de açúcar por cada 100 ml. Um copo normal, daqueles que temos em casa, tem cerca de 200 ml. É duplicar.

Moral da história: a ideia não é aconselhar-vos a deixar de consumir. Cada um sabe de si. A ideia é apenas alertar para as quantidades de açúcar que consumimos em produtos que não associamos a altas cargas glicémicas. Por isso, muitas destas marcas têm já versões "zero", em que o açúcar desce para valores quase residuais. Se não conseguirem passar sem o sabor destas bebidas, optem pelas versões zero, ou aquelas que são adoçadas com stevia, por exemplo. Ou com outros adoçantes. Mas o melhor mesmo é água. Bem fresquinha, se faz favor!

 

 

 

 

 

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10 coisas que não se podem dizer a um diabético

por Nuno Azinheira, em 12.07.16

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1 - "És diabético? Coitado pá, isso é uma seca para a vida inteira"

Sim, nós sabemos que é para a vida inteira mas não vale a pena dizer com esse ar. Além disso, a Diabetes, sendo uma doença crónica e, portanto, motivo de vigilância constante, pode e deve ser um excelente pretexto para uma reeducação alimentar e de estilo de vida.

 

2 - "Isto não podes comer, pois não?"

Posso, posso. Antigamente, havia uma visão muito restritiva do regime alimentar que um diabético devia seguir. Hoje, de acordo com todos os médicos, estudos e livros da especialidade, o diabético pode comer de tudo, desde que com moderação. E que tenha noção que as opções que toma em determinado momento têm de ser compensadas nas refeições seguintes. A minha mãe, diabética, e que me tem ajudado muitíssimo neste processo, diz uma coisa com piada: "Eu posso comer. Mas não devo". É isto.

 

3 - "Olha, estou a combinar um jantar com amigos cá em casa. Queres vir? Queres que te faça uma canja sem sal?"

Uma canja sem sal? Mas estou no hospital e ninguém me disse nada? Se fizeres canja para todos, podes fazer que eu gosto muito. 

 

4 - "Tens de te picar todos os dias? Que seca!"

Há quem se pique todos os dias e goste. Diz que dá uma grande pedra. Mas não, nunca foi a minha cena. Sim, um diabético tem de se "picar" todos os dias. É a menor das complicações. A medição de glicemia deve ser diária (duas a três vezes ao dia). Sobretudo no início, é preciso perceber que tipo de impacto têm alterações e comportamentos na quantidade de açúcar no sangue. Por exemplo: antes e depois de exercício físico. A autovigilância é fundamental. E não vale a pena enfiar a cabeça na areia.

 

5 - "E que tal irmos comer um gelado? Ai, desculpa, tu não podes"

E se fosses à merda? O diabético aqui sou eu, não és tu. Se te apetece um gelado, vamos lá comer o gelado. Eu posso não comer. Ou posso comer, se me apetecer. Mas essa decisão é minha, não tua. Este arrependimento, esta espécie de sentimento de culpa que os amigos sentem depois de dizerem coisas banais, não faz sentido. Um diabético é um tipo normal, que apenas tem de ter mais cuidado com a sua alimentação. O mundo não gira à sua volta. É verdade que namorados(as), parceiros(as), amigos(as) e familiares são importantes no apoio que devem dar ao diabético, mas não o tratem com pena. Ele não merece. Mas sobretudo, não precisa.

 

6 - "Ai, eu não teria essa coragem!"

Não terias? Mas achas que sou algum herói porque estou a tentar mudar a minha vida e os meus hábitos alimentares e estilo de vida? Aqui não é uma questão de coragem. Ou é ou não é. Ou mudas ou morres. De repente ou, muito pior, lentamente, degradando a tua qualidade de vida e a dos que amas.

 

7 - "Porra, só vais comer isso? Não vais aguentar!"

Eh pá, obrigadinho pela motivação. O registo não é esse, ok? O registo é: "boa, assim é que é. Estou aqui para te ajudar, para te motivar. Continua, já se nota a evolução. Vais sentir-te muito melhor".

 

8 - "Olha, dei aqui uma volta à cozinha e arrumei as minhas coisas num armário. Aquele armário fica só para as tuas coisas"

Nunca gostei nada da cena "férias conjugais": aquela história moderna de casais que tiram uma semana de férias um do outro. Para descansar um do outro. Respeito, mas não entendo. "Cozinhas conjugais" também é uma cena que não me assiste. Entendo o objetivo e acho-o fofinho: "eu só quero que não caias em tentação, por isso escondi as Oreo". Pois, mas eu tenho de aprender a conviver com as Oreo todos os dias. Tenho de olhar para elas e saber que não devo comer. Não é escondendo, proibindo. O que tem de mudar é a cabeça do diabético, não é a vida das outras pessoas.

 

9 - "Quero lá saber se isto é um excesso de comida.
Ao menos se morrer, vou de barriguinha cheia"

É um disparate dizer isto. Não é um disparate dizer isto a um diabético, é um disparate dizer isto. Ponto. A um diabético recente, que está a fazer um esforço para mudar os seus hábitos de vida, é ainda mais. A vida são as nossas escolhas. Sei que isto parece uma frase do Gustavo Santos, mas é mesmo verdade. Ter noção dos nossos excessos e saber corrigir não é um ato de coragem, é um ato de inteligência. Falo de barriguinha cheia (literalmente). Passei anos a cometer excessos alimentares. 

 

10 - "Agora só falas de disso. Tornaste-te um fundamentalista, uma seca!"

É um risco, de facto. Tenho absoluta noção que nas últmas semanas falo muito disto com as pessoas que me estão mais próximas. É uma forma de me motivar, de promover resultados, de estimular incentivos. E já agora, sem querer ser um exemplo para ninguém (não sou, recuso essa ideia), alertar outras pessoas na mesma situação ou em pré-diabetes. Não quero tornar-me um radical, um fundamentalista. Há quatro anos deixei de fumar e quem convive comigo sabe que não tornei um fundamentalista da luta antitabágica. As pessas podem fumar no meu carro e em minha casa. Tenho lá cinzeiros à vista e tudo. E até tabaco, para os mais esquecidos. O que não quer dizer que não alerte de vez em quando amigos meus para o número de cigarros que estão a fumar. Com isto é a mesma coisa. Agora estou entusiasmadíssimo e isso nota-se na conversa. Não quero (e não vou) perder esse entusiasmo, mas espero que, em breve, se possa notar apenas na saúde, nas análises, na perda de peso e na roupa. Não quero ser um chato insuportável.

 

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"O que é doce nunca amargou". Lembram-se disto?

por Nuno Azinheira, em 09.07.16

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Tenho imensas saudades da minha avó materna. Na cozinha fazia três coisas superlativas. Uma simples: galinha corada (com limão dentro do bucho), uma complexa: os melhores pastéis de massa tenra que alguma vez comi, e uma inimaginável: coelho à caçador acompanhado de bacalhau desfiado com puré. Sim, é a mais estranha, improvável e perfeita combinação de que há memória. Mas estas memórias perduram no tempo e falamos delas sempre que estamos juntos, em família. A vida é também isto. Afectos, partilhas. 

A minha avó era diabética. Não era gorda. Era uma mulher lindíssima, com uma pele suave de bebé, que manteve até aos últimos dias. Cresci a ouvi-la dizer um provérbio popular então muito em voga: "Gordura é formosura". Mentira. Percebo a intenção com que se diz isso a uma criança, procurando educá-la no sentido certo: o que interessa é o interior (os valores) e não o exterior. É uma mentira piedosa, mas é uma mentira. E elas (as mães, as avós...) também nos ensinaram que mentir é feio.

Hoje os tempos mudaram, o acesso à informação é outro, a sensibilização para as questões alimentares é muito maior, a vigilância dos adultos também. Mas continuamos todos a assobiar para o lado no que toca a educação alimentar. De que vale obrigar as máquinas de vending dos hospitais a terem fruta fresca, se depois continuamos a permitir uma overdose publicitária a produtos em que a dose de açucar ultrapassa claramente o admissível? É um crime. Um crime que tem responsáveis. 

A obesidade infantil é um problema de saúde pública. A Diabetes atinge um milhão de portugueses. O Estado gasta milhões de euros, por via do Sistema Nacional de Saúde, no tratamento destas patologias. Mas continuamos a brincar aos alimentos energéticos "para dar força" às nossas crianças. Ou a deixarmo-nos enredar pelos mitos urbanos que fazem a nossa cabeça há anos.

O açúcar é o inimigo público número 1 na alimentação. Dir-se-á que é o sal, até porque há dois milhões de hipertensos em Portugal, mas em relação ao sal, há hoje já uma mais correta sensibilização para o seu uso excessivo. No caso do açúcar, não. "O que é doce nunca amargou", diziam também as nossas avós. Amarga e muito, anos mais tarde.

A glicose (açúcar no sangue) é essencial à vida. O nosso organismo utiliza o açúcar para produzir energia indispensável ao funcionamento normal dos vários órgãos e tecidos.

Para que a glicose possa ser utilizada pelo organismo precisa de uma importante hormona: a insulina. A insulina é uma hormona (substância química produzida pelo organismo) que tem como função regular a glicemia. Em situações normais e desde muito cedo na vida - antes de nascermos - o pâncreas produz esta hormona que retira o "açúcar" do sangue, transportando-o para dentro das células. Desta forma, os níveis de "açúcar" no sangue (glicemia) baixam.

Na Diabetes mellitus esta situação está alterada. A característica mais importante e que define a Diabetes mellitus é a subida anormal e descontrolada da glicemia ou "açúcar no sangue". Isto é causado por problemas com a produção de insulina ou com a sua atuação nas células (a chamada "resistência à insulina").

A Diabetes Tipo 2 é a forma mais frequente de diabetes: 9 em cada 10 diabéticos são do tipo 2. Surge em qualquer idade, mas é mais frequente nas pessoas adultas com peso a mais. Neste tipo de diabetes, o organismo produz menos insulina e a insulina faz menos efeito (chama-se a isto "resistência à insulina").

O que ando a fazer há 20 dias é, para além de exercício físico, mudar os meus hábitos alimentares, reduzindo as quantidades de comida que ingiro, diminuindo o intervalo entre refeições para 2,5/3 horas, diversificando a alimentação, evitando os alimentos com maior índice glicémio, e aprendendo a ajustar as doses certas de todos os nutrientes.

Nestes dias, em que os resultados começam a ser visíveis (também com a ajuda da medicação), passei a estar particularmente atento aos rótulos no supermercado. E há coisas verdadeiramente incríveis.

Num dos próximos textos, vou dar-vos alguns exemplos inocentes de coisas que bebemos e da quantidade de açúcar que ingerimos.  Preparem-se para um susto valente! :)

 

 

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"Preocupado? Sim. Determinado? Muito mais!"

por Nuno Azinheira, em 07.07.16

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Aqui chegados, mentir-vos-ia se dissesse que, em nenhum momento, estremeci com a novidade. Houve ali uma hora inicial, deitado na marquesa daquele hospital, enquanto "metia para a veia", que o coração acelerou. Que me passaram imensas coisas pela cabeça. Sobretudo, sobre as imensas coisas que me tinham passado pela boca todos estes anos!!!

À minha volta, os mais próximos fizeram soar as campainhas de alarme. "Estes valores são altíssimos. Isto é grave!", ou "É preciso mudar urgentemente!". É. Foi. A Diabetes é uma doença grave sobretudo pelas complicações que, não dominada, pode acarretar. Controlado o nível do açúcar no sangue, por via de medicação, de um regime alimentar equilibrado, variado e baixo em hidratos de carbono, e de exercício físico, é uma doença crónica como tantas outras. 

Passados os cinco minutos, só queria sair dali. Só queria esquecer o hospital e lembrar-me que não queria voltar ali. Diabetes, diabetes, diabetes. A palavra repetiu-se vezes sem conta na minha cabeça. Era preciso mudar o chip. Era preciso perceber que esta era (é) a oportunidade de fazer o que tem de ser feito: perder peso, adotar um estilo de vida mais saudável, cuidar de mim e dos que amo. É preciso fazer sacrifícios? É. Vai ser, estou consciente. Mas o resultado final vai ser muito melhor.

Passaram 15 dias e os valores começam a estar bem mais controlados. Perdi uma dezena de quilos, a glicemia está a descer, a hipertensão está de novo no registo normal. Nada está conseguido. Sei que vou tropeçar, sei que não deixarei de ter vida social, sei que haverá dias em que não posso comer só uma saladinha. Mas sei também que no dia seguinte tenho de compensar a ingestão de hidratos. É tudo uma questão de equivalências, como mais à frente explicarei. Mas, não estou iludido. Isto é um combate para a vida.

Para já, o essencial. Não desvalorizei a Diabetes. Mas também não a dramatizei. Mantenho-me consciente dos seus perigos. Mas incrivelmente determinado. E, sobretudo, não me sinto um "coitadinho". Acho que esse é o primeiro passo para mudarmos a nossa vida. Encararmos as coisas de frente. Sim, sou diabético, e então?

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"Porquê?"

por Nuno Azinheira, em 06.07.16

Não, não pensem nisso. O título deste post não tem nada a ver com a minha primeira reação segundos depois de me ter sido diagnosticado Diabetes Mellitus Tipo 2. Teria sido um absurdo fazer a pergunta "Porquê?" ou mesmo, pior ainda, "Porquê eu?". Porquê eu? E por que raio de razão não poderia ter sido eu, se, de acordo com a Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal, há no nosso país mais de um milhão do doentes? Perguntar "porquê? também não faria sentido. Porquê? Bem, talvez porque seja gordo desde os seis anos de idade, tenha dezenas de quilos para perder, tenha um IMC muito além do recomendável. Talvez tenha ajudado um pouquinho haver um histórico de diabetes na família, mas não me vou esconder na armadilha estatística. Sim, eu nunca tive grandes cuidados. Fiz várias dietas ao longo da minha vida. Perdia quilos no primeiro mês, mas depois cansava-me, pecava, desistia. Por esta ordem. Até aos 42 anos, os hidratos de carbono venceram sempre. Chamemos as coisas pelos nomes: os rissóis, as empadas de galinha, os folhados, os queijos, os enchidos, o pão com manteiga e tantos outros perigos venceram sempre. Até os "sumos naturais", tão saudáveis, não é?, mas sempre carregados de frutose.

O título deste post é, pois, uma justificação. Porquê? Porque é que resolvi criar este blogue? Porque é que decidi contar isto que vos conto? Porque é que, na opinião, seguramente respeitável de muita gente, me decidi expor assim de uma forma tão crua? A resposta é simples. Para ajudar. Para me ajudar a mim, em primeiro lugar. Cada um tem as suas estratégias para atingir o objetivo a que se propõe. O meu é viver melhor, de forma mais saudável e mais tempo. Ao descobrir que sou diabético ganhei um novo estímulo. Mas partilhar esse estímulo, esse desafio, com os outros motiva-me mais. Obriga-me a apresentar resultados. Não basta prometer, não basta dizer que vou conseguir. Vou ter de provar. 

Se com estes textos conseguir ajudar outros que estão na mesma situação, melhor. Se através do que aqui escrever for capaz de sensibilizar mais pessoas para esta batalha e para a forma criminosa como o açúcar faz parte da nossa alimentação, muitas vezes sem nos apercebermos, melhor. Estamos juntos. Vamos?

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