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Não há como esconder, nem por que esconder: amanhã vai ser um dia muito importante para mim. 

Embora não tenha nada de esotérico, sou um tipo muito ligado aos simbolismos. Os gestos, as datas, os momentos, as viagens, os gostos, os abraços, os acontecimentos. 

Nesta fase da minha vida, mais ainda. E, portanto, para lá do 19 de junho, dia em que me foi diagnosticada a Diabetes Tipo 2, e que serviu para ativar a campainha que há dentro de nós, o dia de amanhã talvez seja o mais importante de todos. Amanhã, a esta hora, já estarei a percorrer a Ponte Vasco da Gama a pé, a fazer os primeiros quilómetros da Mini Maratona de Lisboa. 

Serão apenas sete quilómetros, bem menos do que ando habitualmente nas minhas caminhadas, mas estes são sete quilómetros diferentes. Pela primeira vez, decidi inscrever-me numa prova coletiva. Pela primeira vez, vou partilhar esta experiência com outras pessoas. Pela primeira vez, aceitei o desafio que me coloquei a mim próprio. Pela primeira vez vou estar acompanhado por gente que partilha o mesmo gosto ou necessidade de exercício físico, mesmo sabendo que, no final, estarei sozinho. Mas sei que, quando cruzar a meta, sem ligar ao tempo (na mini maratona, aliás, nem haverá cronometragem oficial), vou sentir um imenso orgulho e uma grande felicidade. Porque é a primeira vez. Porque é especial. Porque é mais um passo na minha caminhada.

Os útimos dias têm sido difíceis. Mas se há uma coisa em que não cedi foi o meu compromisso comigo mesmo. Continuo focado nos objetivos, no processo de reeducação alimentar, tomando a medicação que me foi preescrita e fazendo exercício físico (ora caminhada, ora ginásio).

Amanhã vai ser então o grande dia. Se querem que vos diga, estou um pouco nervoso. É um bocadinho como o primeiro dia de aulas. Haviam de me ter visto, sexta-feira à hora do almoço, na sala Tejo do Pavilhão Atlântico, quando fui levantar o dorsal. Nunca tinha feito nada do género. E, portanto, achei que chegava lá, tinha um guichet e pronto, davam-me o dorsal. Mas não. Quem já é um pro nestas coisas deve estar a rir-se neste momento: lá estavam várias bancas com os dorsais, várias bancas com as T-Shirts e depois toda a sorte de marcas de desporto a venderem acessórios, roupa, calçado, seguros e mais uma imensidão de artigos relacionados com o desporto. Faz todo o sentido, mas para mim foi uma surpresa.

Amanhã tenho de estar na Gare do Oriente às oito da manhã. Há autocarros especiais que nos levam para o ponto de partida, na Ponte Vasco da Gama. Às 10h30, dá-se o tiro de arranque: primeiro partem os da meia maratona, a correr, focados nos seus objetivos de tempo. Depois, para trás, ficam os da Mini Maratona. A maior parte, já me disseram, também vai a correr, mas, garantem, não serei o único a caminhar. Mesmo que seja. Vou ao meu ritmo.

Já tenho tudo preparado. O meu primeiro Kitt de competição está a postos para me embalar. No final, não haverá prémios. Apenas um simbolismo. Mas é um simbolismo que me vai marcar para sempre, quando lá para o meio dia e picos chegar à meta. Não sei se receberei algum aplauso no final. Não sei se receberei um sorriso ou um abraço. Mas nesse momento, nesse exato momento, quero pensar em mim. Quero sentir-me um vencedor. Quero aplaudir-me a mim próprio e confortar-me no meu próprio abraço. Acho que mereço.

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O pecado não morou ao lado

por Nuno Azinheira, em 25.09.16

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Chama-se Red Velvet e é um bolo especial. Desde os tempos da Segunda Guerra Mundial. Com o racionamento alimentar, a beterraba, que era considerado um alimento menor e com grande abundância nos Estados Unidos,  passou a ser o ingrediente imprescindível para este bolo. Depois da Guerra, com o sucesso do bolo, eslegante e saborosíssimo, começaram a substituir a beterraba por corante.

Chama-se Red Velvet e foi um bolo especial. Foi, já não é, porque foi todo comido ontem à noite. Mas continua a ser um bolo especial, porque foi feito, especialmente para mim, pela minha sobrinha mais velha, Sofia, que tem sido a mais terna e importante das minhas inspirações nesta fase da minha vida. 

Ontem foi o meu dia de aniversário. Dia dos 42 anos. Para muitos, o dia de aniversário é o arranque de um novo ciclo, de um novo ano. Para mim, essa mudança acontece só no final do ano civil, a 31 de dezembro. Mas ainda assim, se ontem tiver começado um novo ano da minha vida, que ele seja melhor e que consiga superar os desafios que tenho pela frente.

Para assinalar o dia, juntei a família à mesa. A família nucelar e alguns mais próximos da família que escolhemos, os amigos. Não estiveram lá todos, nem podiam. Era praticamente impossível juntar todos. Mas a Sofia conhece-me bem e sabia bem o que eu queria. O presente que me deu, e que, naturalmente, fica entre os dois, era algo que ela sabia que eu desejava muito e nunca tinha conseguido encontrar. Ela deu-se ao trabalho de encontrar. E encontrou. E depois fez o bolo. Uma trabalheira que eu sei que lhe deu prazer, porque era para mim. 

Foi um daqueles dias que encaixam na máxima "Dias não são dias". Para um jantar de grupo (gente diferente, gostos diferentes, bolsas diferentes...), um restaurante italiano é sempre uma opção sensata. Ainda por cima, o que escolhi, um restaurante que também tinha alternativas portuguesas. Podia ter optado por um salmão grelhado com brócolos (havia na lista, digo já...), mas apeteceu-me uma massa com gambas e rúcula. Que diabo, toda o meu regime diário é baixo em hidratos de carbono. Não havia (não houve) mal nenhum em aumentá-los ao jantar. Soube-me bem, a massa. Gosto muito de massa mas, naturalmente, reduzi o seu consumo desde que a diabetes entrou na minha vida.

Ao almoço, porém, já tinha tratado de compensar o excesso que haveria à noite. Fui às Amoreiras e comprei um menu low carb, um dos vários pratos que a Go Natural tem disponíveis com um baixo teor de hidratos de carbono (desculpem eu falar-vos tanto da Go Natural. Acreditem que este conteúdo não é patrocinado, e que a Go Natural não me paga nada pela publicidade que lhe faço, mas de facto, é hoje a minha cantina habitual pela variedade e cuidado nutricional dos pratos preparados ou pelas saladas que podemos pedir para preparar à nossa frente). Escolhi Frango Teriyaki com legumes asiáticos. Não sendo o meu preferido, soube-me bem e, acompanhado da sopa de brócolos sem batata, fiquei saciado. Uma peça de fruta e fibra a meio da tarde deu o toque perferfeito antes da hora do disparate. 

À noite, quando cheguei a casa, a minha glicemia pós-prandial (duas horas e meia depois da refeição, entendida pelos médicos como o pico mais alto de açúar no sangue) era de 106 mg de açúcar por decilitro de sangue. Um valor perfeitamente normal e que revela que estou no bom caminho. 

Agora, de pequeno almoço tomado, vou queimar calorias e caminhar, caminhar, caminhar. O corpo precisa. A cabeça também.

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Tenho andado um pouco desaparecido daqui, é verdade. Queixem-se à vontade, deem-me na cabeça, mas às vezes há momentos em que o mundo (o nosso mundo) pára. E é preciso respirar fundo, reencontrar forças, lutar contra as inércias, e voltar à luta. Apesar de tudo não tenho estado parado, tenho feito o meu exercício físico diário. Ora, no ginásio, ora nas caminhadas que aqui vos vou contando.

Três meses depois de ter começado a tratar a minha diabetes tipo 2 (o click foi quase instantâneo, como sabem), sou hoje um homem mais saudável do que era. Mais longe do barril de pólvora em que o meu corpo se tornara. Perdi 20 quilos, reduzi os níveis de colesterol, de triglicéridos e de perímetro abdominal, contribuindo com isso para a redução das probabilidades de um enfarte do miocárdio. A minha tensão arterial estabilizou, os valores da minha glicemia estão hoje perfeitamente controlados e quase nos limites de um "não diabético". Isto não significa que a batalha acabou. Nada disso. Vai continuar. Até porque, devo confessar-vos, há coisas que mudaram de forma tão estrutural na minha vida, que já não é possível voltar atrás. 

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Falo do exercício físico. Mais do que uma necessidade de saúde, o exercício físico passou a ser um hábito, uma saudável rotina, um prazer. Hoje já não penso duas vezes quando é preciso ir a algum lado e não me apetece ir de carro. Vou a pé. Ao meu ritmo, no meu registo, com a minha música, mas vou. Desço e subo sem me cansar tanto, controlo a respiração e já consigo conversar ao mesmo tempo que ando. Tenho uma hora perdida antes de uma reunião de trabalho? Vou andar um bocadinho. Creio que isto dá uma dimensão aproximada do que mudou na minha vida. Quem não tem paciência para estas coisas, percebe bem o que eu sentia. E sentirá agora uma pontinha de inveja. "Ai se eu tivesse a força de vontade que ele tem...", pensam. Pensam e dizem-me, que eu bem leio as mensagens que me mandam por aqui e pelo Facebook. Não se enganem. Vocês não têm falta de força de vontade. Ou pelo menos, não têm mais do que eu tinha até há três meses. Mas há momentos em que temos de tomar decisões na vida. Há momentos em que temos de parar e que nos confrontar com a realidade, por mais dura que ela possa parecer. "A continuar assim, vou ter muitos problemas, ou vou morrer cedo". Sim, pensei nisso, não há que negá-lo. E eu não quero morrer cedo. Quer dizer, sei que esse dia vai acontecer, mas quanto mais tarde, melhor. 

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Não estou sozinho nesta batalha. Tenho as pessoas que gostam de mim à minha volta, tenho a minha equipa clínica da Associação de Diabéticos. E tenho meu PT, o André Guardado, do Virgin Active de Lisboa, que tem sido inexcedível no apoio e adequado no tom e na forma como exige de mim mais esforço e mais determinação.

O exercício físico é essencial para o controlo da diabetes. Não basta a mudança de hábitos alimentares, embora eles sejam muito importantes. Mas nada é possível sem darmos um pontapé no sedentarismo.

Quando fazemos exercício estamos a estimular o pâncreas a produzir insulina. Por outro lado, como estamos a exercitar os músculos, eles precisam de energia. Deste modo, também estamos a aumentar a utilização de glicose pelos músculos, impedindo que esta se acumule no sangue e aumente os valores de glicemia. Isto não é só teoria: basta fazermos um teste de medição de glicemia antes e depois do exercício e verificar a diferença.

Nas conversas que tenho tido com as pessoas que me vão seguindo por aqui tenho verificado o receio que muita gente tem que a prática de exercício físico lhe provoque crises de hipoglicemia: ou seja, quando os valores do açúcar no sangue descem abaixo dos 70 mg por decilitro de sangue. É uma preocupação que deve ser tida em conta (e por isso a necessidade de nos alimentarmos corretamente antes do exercício físico, de levarnos água para hidratação e um hidrato de carbono de absorção rápida para o caso de nos sentimos "com fraqueza").

A prática regular de exercício físico, em especial os exercícios aeróbios:

  1. Diminui os níveis de glicose no sangue;
  2. Estimula a produção de insulina;
  3. Aumenta a sensibilidade celular à insulina;
  4. Aumenta a capacidade de captação de glicose pelos músculos;
  5. Diminui a gordura corporal, a qual está relacionada à diabetes tipo 2.
  6. Permite a perda de peso.
  7. Estimula a nossa autoestima por conseguirmos alcançar objetivos.
  8. Uma melhor autoestima torna-nos mais confiantes e felizes connosco e com os outros.

De um modo geral, e sempre com controlo de profissionais qualificados, o exercício deve contemplar uma mistura de dois tipos de exercícios:

  1. Exercícios aeróbios (a caminhada, como eu faço, é uma delas, mas a corrida, ou a natação ou o ciclismo podem ser boas alternativas). Meia hora por dia pode ser o suficiente. Ou seja, cerca de 150 minutos/semana, com intensidade moderada. Pelo menos no início.
  2. Exercícios de musculação – Duas a três vezes por semana, de 30 minutos cada, dando mais importância aos grandes grupos musculares.

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Pela minha parte, sinto bem a diferença. Há menos gordura localizada na barriga, e junto à zona abdominal, há muito menos cansaço cardiovascular e tenho vindo a desenvolver músculos em zonas onde até aqui existia apenas gordura. Ou seja, os músculos estavam lá, mas tapados.

O caso das minhas pernas é paradigmático. Eu sempre fui um obeso sobretudo da cintura para cima, mas hoje, quatro meses depois de ter começado a fazer exercício (inscrevi-me no ginásio e com PT um mês antes da história da diabetes), a definição muscular das minhas pernas (na zona dos gémeos) é hoje claramente notória e é um reflexo deste trabalho que tenho feito e não quero parar.

Nem todos podem ter a mesma paciência para ginásios, mas há imensas coisas que podem fazer. Por exemplo, quem tem cães, pode prolongar um pouco mais as passeatas com eles. É bom para os bichanos e é bom para nós. Quem gosta de natação pode fazer hidroginástica. Que me perdoem os mais crescidos, mas sempre achei que a hidroginástica era uma "tanga" e uma coisa para "gente mais velha". Antes das férias, na piscina do ginásio, resolvi ir a uma aula (são gratuitas): gostei muito. Em primeiro lugar, eu não era o único netinho por ali (havia gente da minha idade e até mais novos...) e depois, não, a hidroginástica não é uma tanga. É aliás muito mais difícil do que parece, porque, por causa da água, a força que temos de fazer para mexer os músculos é muito mais intensa. 

Outra ideia: têm escadas em casa, ou no prédio onde vivem ou trabalham? Experimentem descê-las e subi-las pelo menos uma vez por dia. Reduzam o uso dos elevadores (pronto, se viverem no 12º andar, deixo já de parte este exemplo...), vão ver o efeito que isso provoca no vosso corpo e na vossa capacidade de resistir ao esforço. Vá, força!

 

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A minha primeira vez no Monsanto

por Nuno Azinheira, em 18.09.16

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 Fechem a boca. Sim, sou lisboeta e nunca tinha estado mais do que cinco minutos no Monsanto. Só de passagem e de carro. Conhecido como o pulmão verde de Lisboa, o Mosanto é um ponto de encontro sobretudo para quem tem filhos e para quem pratica exercício físico (sim, há outras atrações que o tornaram/tornam famoso, mas não me estava a referir a essas...). Acontece que eu não sou pai e portanto não conhecia os Parques do Alvito e da Serafina. Não me lembro de ter estado lá, apenas passado por lá. E como só há três meses comecei a mexer-me, o Monsanto não era um sítio óbvio para mim. Mesmo que esteja a cinco minutos de carro de minha casa. Já aqui disse que moro perto do LX Factory e, portanto, o Monsanto é um pulinho. Aliás, já vários amigos me tinham perguntado: "E no Monsanto, não treinas? Aquilo é porreiro". A minha resposta era sempre "Não, nunca experimentei". Até hoje. E, de facto, eles tinham razão. Aquilo é porreiro. O pior é lá chegar. É o diabo. :)

Apesar das mudanças que estou a operar na minha vida, eu estou longe de ser um atleta. E, portanto, subir de Alcântara ao Monsanto, através da Estrada do Alvito, é um desafio pesado. Faço o caminho com muita frequência de carro e até vos garanto que, lá de cima, somos capazes de ter uma das melhores vistas sobre o Rio Tejo.

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O pior é lá chegar. Debaixo da ponte 25 de Abril, junto ao restaurante russo Tapadinha, começa um trilho pedestre em terra batida. Assustei-me logo ali. Mas o desafio estava lançado a mim próprio. Ainda não eram 9h30 e da manha e lá estava eu com o batimento cardíaco mais acelerado, calções e T Shirt preta, fones brancos na cabeça. A ladeira começava ali. Duvidei se arrancaria. Ou se deixava para outra altura, quando tivesse mais pedalada. Afinal, ainda só passaram três meses desde que comecei. Além disso, ontem, sábado, o André Guardado, meu PT no Virgin Active, tinha-me dado uma tareia. Conclusão: havia músculos no meu corpo. Isso. Havia, eu podia senti-los. Todos. Em todo o meu corpo. Nas coxas, na barrigas das pernas, na parte superior das pernas, nos ombros, nos peitorais, nos bíceps, nos tríceps (é impressionante a quantidade de nomes que eles arranjam...). Tudo estava dorido, mas não desisti. Um desafio é um desafio. Se me sentisse mal, tinha bom remédio: voltava para trás. A descer, dizem, todos os santos ajudam. E eu, mesmo não acreditando neles, tenho uma fezada que num momento de aflição, eles hão-de me valer. Não foi preciso.

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Parei duas vezes pelo caminho, mas cheguei ao cume do meu primeiro Prémio da Montanha. De primeira categoria. Tive pena de não levar uma bandeira, como Neil Amstrong fez em 1969, quando, ao pisar a Lua, deixou lá a bandeira dos Estados Unidos da América. Eu podia ter levado uma bandeira: "O Tipo 2 esteve aqui!". Mas não levei. Acredito, porém, que pode não ter sido "um grande passo para a Humanidade", mas foi seguramente, "um pequeno passo" para mim.

É que até aqui eu tinha apenas feito caminhadas relativamente planas, sem grandes declives, portanto, em nenhum momento tinha chegado cansado, ou tinha sentido necessidade de abrandar o ritmo, ou mesmo de parar. Desta vez, foi diferente. E aumentar as cargas é bom, colocarmo-nos à prova também. E a sensação de superar os os obstáculos é excelente.

 

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Confirma-se. A vista lá de cima é fantástica. Eu vejo-a quase todos os dias, quando vou para casa, mas a pé teve outro significado. Depois, continuei por ali acima até chegar ao Parque do Alvito. Àquela hora, já havia muitos pais com as suas crianças a passear e a divertir-se.

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Achei o parque particularmente bem tratado, bonito, convidativo. Continuei ladeira acima, e comecei a cruzar-me com gente que caminhava, que corria, que andava de bicicleta. Pais a andar e flhos de triciclo, famílias completas, que passeavam os seus cães. Tudo era novo para mim. "Venho aqui todos os domingos com ele", disse-me Lara, segundos depois de eu ter ajudado o filho, que não teria mais de 4 anos, a levantar-se de uma miniqueda da sua minibicicleta com rodas atrás. A Alameda Keil do Amaral, que desemboca num anfiteatro natural (onde há muitos anos, duas décadas talvez, assisti a um concerto dos Madredeus), hoje, aparentemente abandonado, é um sítio familiar.

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E senti-me bem nessa caminhada, agora já em terra firme e inclinação quase nula. Era já o momento de descompressão, apesar de ainda me faltar mais de metade do percurso que tinha pensado para regressar a casa.

Fi-lo pela Ajuda, descendo a íngreme Calçada, que voltou a mostrar-me que os músculos das minhas pernas estavam vivos. No final, já em Belém, fiz o caminho plano até casa, cruzando os 15 km de caminhada, contente e orgulhoso com o esforço feito. 

Amanhã, segunda-feira, passam três meses desde que me foi diagnosticada Diabetes. O que eu andei para aqui chegar.

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Como de mais? O livro que afasta todas as dúvidas

por Nuno Azinheira, em 17.09.16

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Quantas vezes não ficámos enfartados depois de um jantar? Quantas vezes não tivemos dúvidas (ou mesmo certezas) de que a dose que nos puseram 
à frente era muito superior à necessária? Quantas vezes não dissémos, à mesa, para amigos "Deixa-me cá tirar mais um bocadinho. Isto já não é fome, é mesmo gula!"? Quantas vezes, num restaurante, quando uma dose veio para a mesa, não comentámos com o/a companheiro/a de refeição "Devíamos ter dividido a dose. Isto dá para um batalhão!". Já nos aconteceu a todos. Uma, duas, três, dez, cem vezes. Acontece quase sempre. Sempre.

Vocês já me conhecem: gosto de comer, gosto do prazer de uma boa refeição, gosto daquele culto da mesa, de ter amigos à volta da dita, de uma boa dose de conversa e de gargalhadas. Portanto, cessem os temores: não vou aqui armar-me em puritano. Longe disso. Quem sou eu, afinal, para isso, que acumulei erros alimentares ao longo de quase 42 anos de vida?

Já vos disse, não me tornei um radical. Falo muito mais destes assuntos, estudo muito mais estas questões, preocupo-me muito mais com a minha saúde e procuro partilhar com quem me quer ouvir (ou ler) a informação que sei. Só isso. Cada um seguirá o seu caminho à mesma. Entendidos? Sem ressentimentos, então...

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 "Carbs & Cals", na edição portuguesa, é um "guia visual para a contagem de hidratos de carbono para pessoas com Diabetes". O trabalho é uma compilação da dietista Chris Cheyette e do fotógrafo Yello Balolia. Já o tinha visto na Fnac duas ou três vezes e fiquei interessado nele. Não o comprei na altura porque, ao folheá-lo, encontrei uma série de pratos e alimentos que fazem parte da dieta no Reino Unido (os autores são ingleses), mas que não têm adequação habitual em Portugal. E, por outro lado, faltavam lá pratos e alimentos que fazem as delícias dos portugueses. Intriguei-me ainda com uma coisa que me parecia estranha: "como é possível isto não estar adaptado para português?" Não era só a tradução, era a adaptação. 

Afinal estava. Num destes dias, na livraria do Saldanha Residence, em Lisboa, encontrei-o. Na semana passada, na sede da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal, em Lisboa, também vi que estão lá à venda todos os os livros com a chancela ou com o apoio científico da APDP. É o caso deste. A adaptação à nossa realidade ficou a cargo da dietista Ana Raimundo Costa, precisamente a minha nutricionista na associação, e de quem já aqui vos falei.

Mas o que tem, afinal, este livro de tão interessante e de tão diferente dos outros? É que não se limita a explicar a importância da contabilização do consumo de hidratos de carbono de um diabético. Nem se alonga em explicações técnicas. Não, este livro não explica, mostra. De uma forma muito clara. O livro tem mais de 900 fotografias a cores de alimentos e bebidas, com até seis quantidades diferentes de cada alimento. 

A ideia é simples. Por cada secção (o livro está dividido por 14 categorias de alimentos codificados por cores), fazemos a pergunta interiormente: "ora bem, quanto é que eu, em média, como de arroz de pato? Será este bocadinho, será este prato assim, ou será esta pratalhada?" Não vale a pena enganarmo-nos. Também ninguém precisa de saber: escusam de fazer esse exercício ao lado dos colegas de trabalho e amigos (embora, acreditem, se o fizerem pode ser bem divertido...). Façam-no sozinhos em casa, no quarto ou na sala. O que importa é que assimilem o que comem, de facto, e o quanto é que isso representa em hidratos de carbono e em calorias. E, depois, mais importante do que isso, percebam que, se reduzirem a dose, consomem muito menos calorias (portanto, perdem peso) e muito menos hidratos (logo, reduzem a quantidade de açúcar no sangue). Viverão melhor, enfim.

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Vamos lá a mais exemplos. Quem não gosta de um bom prato de Esparguete à Bolonhesa? Então, os miúdos adoram. É rápido de fazer e é gostoso. Olhem lá para a imagem e sejam sinceros comigo: normalmente, como fica o vosso prato quando se servem de uma Bolonhesa? Como na primeira imagem (60 gramas de esparguete e 90 de bolonhesa)? Hummm, não acredito. Se comerem pouquito, talvez o segundo prato. Se estiverem com fomeca, o terceiro vai na boa. Quem adota aquela máxima "Eu treino, eu posso", vai logo para a linha de baixo. Ou aqueles pais e avós que servem os filhos/netos ("oh, coitadinho, ele está a crescer. Come filho, come!"). Repito: não estou a censurar ninguém. Eu não cheguei ao meu peso e ao corpo que tenho a beber água do Luso. Estamos entendidos? Já perceberam que por cada foto têm o valor equivalente de calorias e de hidratos de carbono, o que faz este guia excelente não só para diabéticos, mas também para aqueles que, não sendo, são obesos, pré-obesos ou para lá caminham.

E Cozido à Portuguesa, quem não gosta? São boas as doses que vêm nos restaurantes, não são? E ainda há aquela frase fatal, que se repete nos sítios mais familiares: "Senhor Antunes, arranje-me aí mais dois bocadinhos de farinheira e de carne de porco, se faz favor!". Já repararam que nunca ninguém pede ao senhor Antunes mais um bocadinho de cenoura cozida e de nabo?

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Olhem a linha do meio: parece um prato razoável. Está cheio mas não tem muito de tudo: tem um bocado de couves, um bocado de arroz, meia dúzia de feijões, uma rodela de vários enchidos e carne. A quarta fotografia deve corresponder à média de meia dose de Cozido à Portuguesa num normal restaurante português. Aquele quarto prazo corresponde quase 50 gramas de hidratos de carbono e 668 calorias. Se a dose for maior, aquela pratalhada pode chegar às 72 gramas de hidratos de carbono (que dão energia mas que se transformam em glicose na corrente sanguínea) e ultrapassar as 1000 calorias. "Ai que horror, mas eu não como tanto!". Sim, já sei que estão a pensar nisso. "Só uma besta come aquilo tudo", acrescentam envergonhadamente. Não. Basta que comam uma primeira dose e depois voltem a servir-se "de mais um bocadinho para acamar".

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E para sobremesa, vai uma Mousse de chocolate? Vai, pois. A diferença entre uma pequena e uma grande dose vai na distância entre 75 e 450 calorias ou entre 10 gramas e 60 gramas de carbohidratos.

O livro tem muitos exemplos para descobrir: desde o leite ao vinho (sabiam que há uma enorme diferença entre o vinho branco e o tinto e que este último quase não tem hidratos de carbono? Eu não sabia!), dos bolos à fruta, dos cereais de pequeno almoço aos pães de leite e croissants. É um guia para ir folheando e abrindo a boca de espanto a cada página, acreditem. 

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Para terminar, um clássico: sim, comer um pastel de nata é melhor do que um queque. É um clássico porque já muita gente sabe disso, tantas vezes o exemplo foi repetido, mas contraria aquilo que o nosso senso comum responderia. Um pastel de nata? Que tem creme e massa folhada? Um queque, que é um bolo seco e sem creme? Mas que tem montes de manteiga. O exemplo também está no livro. O pastel tem 34 gramas de hidratos de carbono, enquanto o queque, que tem quase mais cem calorias, fornece 40 gramas de hidratos.

Pronto, não vos maço mais. Boa leitura!

 

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O Tipo 2 está quase a fazer três meses. Muito caminho já foi andado até aqui. E muitos se foram juntando a nós, quer aqui, quer à página de Facebook, que já tem quase 4 mil seguidores. Aliás, se ainda não foram lá colocar o like, do que é que estão à espera? Na página de Facebook encontram todos os posts que aqui vou colocando e outro material exclusivo que não vem para aqui (fotos e vídeos, por exemplo).

Quem me tem seguido sabe dos meus objetivos: em primeiro lugar, motivar-me nesta batalha contra a diabetes e pela perda de peso e ajudar outos a encararem a doença não como um fardo, mas como uma janela para um estilo de vida mais saudável.

 

Para estes dois objetivos, tenho usado estratégias várias: por um lado, conto as histórias em nome pessoal, sem me esconder, sem esconder os que me rodeiam, sem meter a cabeça na areia. Partilho convosco as minhas alegrias, os meus sucessos e algumas angústias. Falo de mim, das minhas coisas, dos meus gostos, das minhas forma de ser, do meu feitio. Ou seja, procuro dar um rosto, humanizar uma doença que atinge diretamente um milhão de pesssoas em Portugal, mais, indiretamente, as que convivem com elas.

Por outro lado, procuro assumir um lado pedagógico, quase de serviço público. Ressalvando sempre que não sou médico, e o que aqui partilho resulta das conversas que tenho com a excelente e dedicada equipa clínica multidisciplinar que me segue na Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal, tenho procurado fornecer informação útil para quem é diabético ou para quem, mesmo não sendo ainda, tem fortes probabilidades de vir a ser. Preocupo-me com todos, mas, como compreenderão, mais com aqueles que, das duas, uma: ou não querem saber (aconteceu comigo, antes do diagnóstico oficial) ou vivem em negação ("sei que sou mas não quero saber dessa maldita doença, nem picar-me, nem mudar a minha vida"). 

No fundo, o que procuro é descomplicar a Diabetes, explicando que é uma doença crónica e que, controlados os valores da glicemia no sangue, permite uma vida absolutamente normal. Mas é preciso mudar o estilo de vida: tomar a medicação que nos é receitada pelos médicos (e só pelos médicos, que eu não acredito em chás e truques naturais...), reeducação alimentar e exercício físico. 

Já aqui o disse e reforço: o grande medo que há sobre a diabetes resulta do grande desconhecimento sobre a doença. As pessoas têm medo do desconhecido. Ouvem falar em cegueira, em amputação de membros, em AVC. E, sim, tudo isso pode acontecer. Mas só se não mudarmos os hábitos alimentares e deixarmos a vida sedentária em que a maior parte nós vive. Não é preciso correr maratonas, e não vale a pena invocar a falta de tempo: bastam 30 minutos por dia de caminhada (à hora do almoço, por exemplo, em vez de irem beber a bica ao café do lado, deem mais uns passos e vão ao outro a seguir).

Já aqui tenho recomendado livros (hei-de voltar a eles, em breve), já aqui tenho citado sites credíveis e relatórios científicos. Hoje publico este vídeo produzido por um excelente site chamado Controlar a Diabetes. É um vídeo que mostra, com imagens, com grafismos e com uma linguagem muito acessível, o que é isso da equivalência de hidratos de carbono, um hábito essencial na nossa reeducação alimentar. Perguntas como "Quanto arroz posso comer?", "posso juntar arroz e ervilhas?", "posso comer fruta?", "E como é em dias de festa?" estão todas respondidas. Vejam o vídeo e percebam como, passados os primeiros dias, se habituarão facilmente às novidades.

Para terminar, vamos ser claros: ter diabetes é bom? Não, claro que não. É dramático? Não, não é, mas obriga-nos a mudar algumas coisas na nossa vida. Este Tipo 2 que vocês se habituaram a ler é o exemplo de que é possível: já perdi 19 quilos, 15 centímetros (!) de perímetro abdominal (a barriguinha onde se concentra a gordura visceral, tão propícia a enfartes do miocárdio), reduzi o colesterol para metade, baixei os triglicéridos, estabilizei a tensão arterial e tenho os níveis de açúcar no sangue absolutamente controlados e quase num patamar de "não diabetes". E, como vos tenho mostrado, não tenho sido mais papista que o papa. Tenho pecado. Com muito gosto.

Ponham isto na cabeça: "se este tipo consegue, eu também vou conseguir!". E não me venham com essa conversa de que eu tenho muita força de vontade. Sempre que me dizem isso, eu respondo da mesma forma: "se tivesse muita força de vontade, não tinha chegado aos 42 anos com obesidade mórbida, a pesar 140 e tal quilos, com o açúcar nos 300 e muitos, e não era hipertenso há oito anos. Tudo isto era um barril de pólvora. Um cocktail explosivo que, mais cedo ou mais tarde, mata. E é certo que sabemos que todos nós, um dia, seguiremos deitados para o mesmo destino, mas mais vale ser tarde do que cedo. Eu penso sempre nisso. E em todos os que amo e em tudo o que ainda me apetece fazer. Foi "isto", foi só "isto" que me fez dar o click. É disso que estão a precisar, um click.

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É longe de Lisboa que me desgraço

por Nuno Azinheira, em 12.09.16

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 Isto não são só coisas boas, calma. Há avanços e recuos, há momentos em que não conseguimos resistir. Portanto, não quero dar-vos a ideia de ilusão, nem que esta batalha, permanente e diária, é fácil. Não é. Também não é o bicho de sete cabeças que muitos, por medo e desconhecimento, pensam, mas não é fácil.

Este blogue, que se chama Tipo 2, tem um subtítulo: "Motivações, desafios e frustrações de um diabético em busca de melhor qualidade de vida". E, portanto, não vale a pena esconder-vos as frustrações. Tenho por aqui, ao longo dos últimos meses, partilhado convosco as motivações e os desafios. E, de quando em vez, algumas frustrações. Como aquela em Tavira, em agosto, quando não resisti a um rissol. Não teve problema nenhum, mas foi o simbolismo do primeiro rissol comido depois da minha mudança de estilo de vida. Quem já me lia nessa altura sabe como isso me marcou. Fiquei ali a matutar na coisa durante um tempo.

Pois bem, este fim de semana portei-me mal. Repito: portei-me mal. Agora em letra grande: PORTEI-ME MAL. Foi um conjunto de disparates. Não há outra forma de dizer. A coisa até começou bem no sábado, com 11 quilómetros de caminhada aqui em Lisboa, junto ao rio. Mas depois o resto do fim-de-semana foi para esquecer. Um amigo de infância fez 40 anos e, com aquela treta de "só se fazem 40 anos uma vez na vida...", convidou os amigos para um fim de semana numa herdade ao pé de Beja. Eramos, entre adultos e crianças, 40 e tal alminhas num monte fechado para nós. A coisa tinha tudo: sol, calor, piscina (imaginem toda a gente ali metida...), prova de vinhos (na Herdade do Vau produz-se o vinho Riso, de muito boa qualidade), acompanhada de queijos, enchidos, salgados e outras coisas do Diabo, jantar e dormida e pequeno almoço de domingo. Só faltou a pulseirinha, mas estava tudo incluído. Foi um grande espectáculo, mas, aqui para nós, não foi um espectáculo digno de se ver aqui para o meu lado. Já de regresso a Lisboa, fora do programa, decidimos almoçar em Serpa, no Molhó Bico. O excelente ensopado de borrego e o Pudim de Requeijão com Leite Condensado não foram o meu melhor momento. Mas estava deliciosos, ao menos isso.

Consequências? Bem, no sábado à noite, antes de me deitar, a glicose estava mais alta do que o normal (claro!), mas longe de níveis alarmantes: 162. Mas no jejum de domingo já tinha descido para 114. E ontem à noite, já depois de ter jantado um hamburguer de salmão e uma bela salada de tomate, já estava nos 99. Portanto, do ponto de vista da glicemia, a coisa voltou ao sítio. Não me pesei, mas sei que devo ter recuperado um quilinho com os anos do Nuno. Paciência, é a vida! 

Hoje, o meu sobrinho mais novo, Martim, completa 5 anos. Ai, vou ter de resistir tanto. Ai vou, vou...

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Claro que pode comer bananas. Quer dizer: se quer basear a sua dieta alimentar à base de bananas, é capaz de não ser uma boa ideia, mas se estamos a falar de comer moderadamanete bananas, a resposta é sim: pode comer.

Tenha só uma coisa em atenção: uma banana normal, daquelas importadas que temos nos supermercados, de tamanho médio (85 gramas, tirada a casca) fornece cerca de 20 gramas de hidratos de carbono. Se a banana for das grandes, com 128 gramas, já contem 30 gramas de hidratos de carbono e fornece 122 calorias.

Já se for uma banana da Madeia, mais pequenina e saborosa (e mais cara), deve pesar cerca de 65 gramas. Aí o seu suporte de carbohidratos é de 15 gramas, ou seja, é o idêntico a uma maçã, a uma nectarina, a duas clementinas pequenas, a dez pares de cerejas, a uma taça de framboesas ou de morangos, a dois kiwi, a 12 bagos de uvas ou, acredite, a três figos frescos!

Quer isto dizer que não há problema se, moderadamente, substituir uma banana pequena (ou meia banana grande) por outra peça de fruta na sua dieta diária. Não o faça todos os dias, mas pode fazê-lo duas ou três vezes por semana. Mas não se esqueça, a fruta tem açúcar (frutose) e deve ser sempre comida na companhia de fibra, para absorver o impacto do açúcar na corrente sanguínea.

Já agora, é importante saber que as bananas são uma excelente fonte de potássio e magnésio, importantes para a estabilização da tensão arterial, para a prevenção de doenças cardiovasculares e essenciais para a função nervosa e muscular. Por alguma razão, quando tem câimbras, deve comer bananas, porque ajuda a repor o nível de potássio.

 

Fontes: 

A este propósito, recomendo-lhe a compra de:

Carbs & Cals, um guia compilado por Chris Cheyette e Yello Balolia, recomendado pela APDP, e cuja adaptação para Portugal foi feita pela minha nutricionista, Ana Raimundo Costa;

Guia dos Alimentos Vegetais, de Jean-Claude Rodet;

100% sem Diabetes - como controlar a doença através da alimentação, de Eduarda Alves

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Não, não sai. Sai muito mais caro ir ao restaurante e pedir um Cozido à Portuguesa, uma Chanfana ou umas Tripas (gosto dos três pratos, ficam já a saber!). Mas "essas comidinhas" que eu como, e que na maior parte das vezes são feitas por mim em casa, não custam muito. Custam menos do que qualquer meia dose num restaurante. E a médio e longo prazo custam também muito menos: comida mais saudável torna-nos mais saudáveis.

 

Vejamos este exemplo: é o meu almoço de hoje. Fi-lo esta manhã, em 15 minutos.

E deixem-me explicar-vos como foi. Não foi copiado de lado nenhum, fui eu que fiz. E aos 42 anos, e com 27 de profissão, eis-me a publicar uma receita.

Há um tempo para tudo :)

 

BERINGELA RECHEADA COM SALADA FRESCA (2 refeições)

Ingredietes: 

1 beringela de tamanho médio (0,80€)

1/2 courgete média (0,75€)

1 cenoura (0,25€)

1 ovo cozido tamanho L (0,25€)

1 lata de atum ao natural (0,68€)

50 gramas de cogumelos frescos (0,80€)

40 gramas de mozzarella light para pulvilhar (0,60€)

1 tomate grande (0,45€)

1/2 lata de milho pequena (0,35€) 

Coentros e hortelã q.b (0,20€)

1 colher de sopa de sementes de girassol (0,10€)

1 fio de azeite (não quantificável)

1 colher de café de sal (não quantificável)

8 amêndoas (não quantificável)

 

TOTAL: 5,23 euros. Bem, se juntarmos o gás e a eletricidade, é capaz de chegar aos 7 euros. Para duas refeições: 3,5 euros por cada uma.

 

MODO DE CONFEÇÃO:

1) Divida a beringela em duas metades e descasque o seu interior, até parecerem duas barcaças.

2) Num tacho junte um fio de azeite, uma pitada de sal, o recheio das beringelas em cubinhos, uma cenoura ripada, 50 gramas de cogumelos frescos, 1 ovo cozido partido em pedacinhos, meia courgete partida em cubinhos e o conteúdo de uma lata de atum natural, com a água escorrida.

3) Coloque as duas barcaças a cozer numa caçarola em água quente, só para lhes dar uma "entaladela" (5 minutos chegam. Ficam mais macias quando forem ao forno)

4) Mexa bem o recheio do ponto 2, até ficar bem cozinhado. Junte-lhe as amêndoas.

5) Divida o recheio pelas duas metades de beringela. Cubra com um pouco de mozarella ripada light. Leve-as ao forno forte durante 15 minutos para gratinar o queijo. 

6) Enquanto isso, corte um tomate grande em pedaços pequenos, junte o milho, pique juntamente coentros e hortelã (são duas ervas fortes, mas que eu gosto muito juntas porque dão muita frescura). Acrescente as sementes de girassol e regue com um fio de azeite.

Bom apetite!

 

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Descubra as diferenças

por Nuno Azinheira, em 08.09.16

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Já aqui vos contei: sempre fui gordo. Os anais da história dizem que até aos seis anos era um pisco a comer e que até era magrito. Mas a partir dos seis anos comecei a engordar. Era um "badocha". E um "caixa de óculos", já agora, porque usava uns grossos, de massa, como naquela altura os meninos tinham. Sempre cresci gordo. Sempre cresci a ouvir os termos todos que vocês conhecem: "Piranha", "Baleia fora de água", "Badocha", "Monte de banhas". Assim, de repente, não me lembro de mais. Apesar de tudo, cresci com uma certa autoestima elevada. Era um líder entre os amigos. Um falador, um bom aluno, um sedutor. Já não me recordo, mas claro que ouvir todos esses nomes deve ter sido difícil. Mas se me perguntam se me marcaram para todo o sempre, a resposta é uma: não.

Ser gordo atrapalhava algumas coisas na fase de crescimento. A começar pela roupa: nunca havia números para nós. Aliás, a impreparação dos comerciantes para lidar com gordos é uma coisa que roça o absurdo. A pior coisa que se pode dizer a um gordo que procura um determinado número de calças ou de camisa é uma resposta do tipo: "Experimente este. Este dá de certeza, que é enorme!". E depois se não dá? "Ah, ia jurar que dava. É o maior que temos". Pior a emenda que o soneto. Só falta mesmo dizer que "essa é a peça que temos normalmente para os bisontes, mas você ainda é maior do que um bisonte". Sim, isso acontece. Aconteceu-me.

Ser gordo atrapalha noutras coisas. Nas brincadeiras na escola. O gordo vai sempre à baliza, porque nunca ninguém quer o gordo na sua equipa. Eu era sempre o último a ser escolhido pelos capitães. 

Ser gordo magoa nas intimidades. Todos gostamos do belo. O gordo não faz parte dos cânones tradicionais de beleza. E isto é válido para homens e mulheres. Passei anos da minha adolescência com amores não correspondidos, simplesmente porque a outra parte nem reparava no gordo. Até que um dia percebi que havia mercado. Que há gente que gosta de gente, independentemente de ser gordo ou de ser magro. Gosta de gente, com gente dentro. Com cabeça, com ideias, com charme, com inteligência, com humor. Safei-me, enfim.

Quem nasce e cresce gordo nunca deixa de ser gordo. Mesmo que perca muitos quilos, mesmo que o corpo diga o contrário, será sempre gordo na cabeça. Saberá sempre perceber o que sofre um gordo, ou alguém diferente. Um gordo não é perfeito: um gordo também olha primeiro para o embrulho e depois para o conteúdo, mas, provavelmente, se for bem formado(a), perceberá que o conteúdo é bem mais importante que o embrulho. 

Para quê esta conversa? Para vos explicar que quem luta contra o excesso de peso, luta severamente. Luta muto. Pela sua saúde, pela sua autoestima, contra os preconceitos. É uma luta que pesa toneladas. E é uma luta de avanços e de recuos. E de muitos fracassos. 

A questão da minha autoestima sempre a resolvi com o trabalho e com o sucesso profissional que fui conseguindo com o meu trabalho. Comecei aos 15 na rádio. Tenho 42. Quando olho para trás e vejo o que já fiz, orgulho-me. Fiz imensas coisas mal? Claro que sim. Mas muita coisa de que me orgulho. E isso sempre me fez acreditar em mim, no meu conteúdo. Apesar do embrulho.

Chegou a vez de tratar do embrulho, como sabem. Foi um click que despertou na minha cabeça com a descoberta da Diabetes. Em rigor tinha começado dois meses antes com uma nova tentativa de ginásio. E um PT dedicado. Cheguei a ter um peso idêntico àqueles jovens que se inscreveram no Peso Pesado. Desde abril para cá perdi 19 quilos. Desde que a Diabetes foi diagnosticada oficialmente, a 19 de junho, perdi 15. Durante as férias (as férias, sabem, aquele período em que há mais pão, mais álcool, mais patuscadas...) perdi 6,5 quilos e 15 centímetros de perímetro abdominal. Estes dados foram-me confirmados terça-feira na consulta que tive na Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal. 

Quinze centímetros de perímetro abdominal perdido significam duas coisas óbvias: menos quatro números de calças, menos dois números de camisas e T Shirts. Mas uma ainda mais importante: menor risco de complicações cardíacas, como AVC. Calculam a emoção com que saí da APDP e os parabéns e o beijinho que recebi da enfermeira Rita Almeida e da nutricionista Ana Raimundo. Aqueles sorridos e as minhas lágrimas, que não tive problemas em esconder, são o melhor estímulo para continuar.

Hoje, as Memórias do Facebook trouxeram-me uma foto de há cinco anos. Era eu, com mais 30 quilos e menos cinco anos. Mais perto da doença. Talvez da morte, embora a gente nunca saiba quando a velhaca aparece. Hoje, pareço outro. Não pareço. Sou outro. E não vou desistir. Mas de facto apetece dizer "Descubra as Diferenças"...

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