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"Come-me, come-me", pediu o rissol. E eu comi-o.

por Nuno Azinheira, em 17.08.16

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 Anda um tipo a entrar nos eixos, seguindo um caminho definido, bem trilhado, com resultados visíveis, e eis que aparecem os diabinhos da tentação. Eles andam sempre por aí a pairar. Esta minha segunda semana de férias algarvias, em casa de família, têm tido muitos diabinhos à solta. Nada de surpreendente, eu já vos tinha prevenido para isso. E, sobretudo, já me tinha prevenido a mim próprio.

Depois de uma primeira semana em que passei com distinção, apenas com uma bola de Berlim na praia e sem gelados, esta segunda semana, em Tavira, tenho fraquejado. Enfim, nada de grave, claro, mas tenho caído em tentação. Algum álcool e dois gelados. Há três dias que me andavam a falar dos "melhores rissóis do mundo" no café Mira, uma relíquia tavirense (os conhecedores sabem do que falo). Quando aqui chegámos, correu o rumor de que o Mira tinha fechado. O horror, a tragédia. Numa das minhas caminhadas matinais comprovei que se mantinha aberto. Era falso alarme. Apenas mudou de mãos. Ou melhor, os proprietários mantêm-se os mesmos, mas "concessionaram" a operação. E deram-lhe um toque de modernidade. Uma pena.

Corações mais sossegados. Retomaram-se velhas rotinas. De manhã, cafezinho no Mira. E um rissol. Ontem resisti. Hoje, sentado na esplanada com os restantes comensais, ouvi o diabinho: "come lá um rissol, pá! Não sejas maricas!". Não fui. Comi o rissol. Simpático, mas longe de ser o propalado "melhor do mundo". Pelo menos do meu mundo, que, em matéria de rissóis, tem muitos quilómetros palmilhados. 

O rissol não me soube bem. Não era mau, mas não fui capaz de o fruir. Bateu-me um sentimento de culpa. Como se tivesse violado uma linha intransponível. Como se tivesse transposto uma barreira psicológica. E transpus. Ao fim de 59 dias, comi um salgado. Pronto, levanta a cabeça e segue. Ainda ouvi a conversa motivadora: "Tem calma, não foi por comeres um rissol que colocaste em causa o teu percurso até aqui". É verdade. 

Passadas estas horas estou tranquilo em relação ao rissol que comi de manhã. Mas tinha-o aqui entalado. Tinha de vos contar. O Tipo 2, tão motivado, tão inspirador, também fraqueja. E vai fraquejar mais vezes. É mesmo assim. De vez em quando, convém pisarmos o risco. Caso contrário, tornamo-nos uma seca...

Medi a glicemia há pouco: 124. O rissol já lá vai e não deixou rasto. Ao menos isso. Ainda se fosse o melhor do mundo, sempre havia um consolo. Assim não. Adeus!

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4 comentários

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De António Ferreira a 17.08.2016 às 20:54

Não podemos ser santos todos os dias, Nuno.
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De Nuno Azinheira a 18.08.2016 às 13:28

Nem todos os dias, nem em dia nenhum. Ser santo, não obrigado :)
Mas, sim, eu percebo o que diz. E concordo. O melhor é ter bom senso.
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De Ana a 18.08.2016 às 11:43

Bem... Se há coisinha que me irrita é "pecar" e o "pecado" não me saber bem... Ao menos que a pessoa sinta algum prazer enquanto está a pecar. O sentimento de culpa torna-se menor.
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De Nuno Azinheira a 18.08.2016 às 13:30

É verdade, "Cá coisas minhas". Se é para pecar, então que se se peque com estilo ;)
Obrigado.

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