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E, entretanto, passaram 38 dias. Parece que foi ontem que estava naquela marquesa de hospital, com duas enfermeiras a tentar encontrar-me veias nos braços para tirar sangue para análises. Parece que foi ontem que a médica, severa, me dizia que tinha diabetes. Parece que foi ontem que fui à farmácia comprar um glicómetro e que fiz o primeiro teste de glicemia.Parece que foi ontem que abri o frigorífico e mandei para o lixo um conjunto de coisas que não podia/queria comer. Parece que foi ontem que comprei o meu primeiro livro sobre a diabetes. E, já agora, parece que foi ontem que calcei os ténis e fui pela primeira vez para o pé do rio fazer caminhada.

Parece que foi ontem, mas, entretanto, passaram 38 dias. Os primeiros 38 dias do resto da minha vida. De uma vida que pretendo mais longa e mais saudável. O balanço é altamente positivo, como, de resto, tenho partilhado convosco aqui neste blogue. Uma nova forma de alimentação, mais variada, com muito menos quantidade de cada vez, e com hidratos controlados, associada ao exercício físico e aos medicamentos orais, provocou muitos resultados:

- Treze quilos perdidos

- Níveis de glicose no sangue com valores normais (média de 110/120 mg/dl por dia)

- Menos sede exagerada e menos vezes na casa de banho

- Melhoria clara na qualidade do meu sono. Hoje deito-me, adormeço no segundo seguinte e só acordo de manhã

- Bem estar físico e psicológico

- Maior resistência ao exercício físico

- Maior autoestima

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Acreditem que não é pouco. É muito, é tanto. E é a prova de que é possível. Em mim, cuja força de vontade nestas matérias nunca foi o meu cartão de visita em 42 anos de vida, e em cada um de vocês, sejam ou não diabéticos. 

Terça feira à noite estava num centro comercial e parei para ver umas calças na zona dos "tamanhos grandes" (qualquer dia conto-vos como este estigma persegue os gordos ao longo dos anos...). Decidi comprar um par, porque todas as minhas calças têm de ir para apertar. Pareço um palhacinho dentro delas. Por precaução, tirei um número abaixo do que habitualmente visto (como sabem, nas calças os números saltam de dois em dois - é sempre de par em par). "Deixa cá ver se já visto o número abaixo", pensei para mim. Fui ao provador. Ficavam-me a nadar. A menina, diligente, disse que ia buscar o número mais abaixo. Continuavam grandes. A cena repetiu-se por mais duas vezes. A minha felicidade ia crescendo (parece coisa de miúdo, não parece?) à medida que o número das calças ia baixando. Conclusão: o par de calças que trouxe para casa, rigorosamente da mesma marca e do mesmo modelo do que as que visto há muitos anos, tem um número com oito algarismos abaixo. Ou seja, baixei quatro números. Não sei se percebem bem o que isto significa para um obeso?

E depois há outra coisa fantástica: sentir o apoio à nossa volta. Os comentários aqui no blogue, os likes e os incentivo nos Facebooks (no meu pessoal e no desta página) e as reações reais de gente que me vê ao vivo e que nota a diferença. E neste capítulo, permitam-me que hoje destaque o sorriso feliz e o abraço terno da minha sobrinha mais velha, que está a vibrar tanto como eu como as minhas mudanças. "Todos os dias vou ao blogue ler se já escreveste alguma coisa", disse-me anteontem, entusiasmada, quando nos juntámos com os pais para jantar. Depois do jantar, fomos andar um bocadinho a pé para desmoer. A Sofia abraçou-me e deu-me a mão. Tem 15 anos. "Queres que vá caminhar contigo?", perguntou-me. Derreti-me. Quero. Vamos no sábado de manhã e eu já estou em pulgas. Depois conto-vos. 

 

 

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4 comentários

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De Anónimo a 28.07.2016 às 14:13

Vivo esta mesma emoção desde Novembro de 2014, data em que me deram os resultados das análises, era diabético. Desde então mudei radicalmente o meu estilo de vida, alterei por completo a minha alimentação, frequento o ginásio, mudei o guarda roupa (perdi 20Kg), e a minha auto-estima aumentou substancialmente. Neste espaço de tempo, reduzi a medicação e deixei de picar o dedo todos os dias. Continue por o esforço é compensatório.
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De Nuno Azinheira a 28.07.2016 às 18:28

Olá "Anónimo".
Muito obrigado pelo seu depoimento e por esse sopro de esperança. Eis mais uma prova de que sim, é possível, e que a Diabetes é uma doença absolutamente controlável. Continue com essa força e a inspirar os outros (como eu), que agora começam a caminhada.
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De Patricia Fernandes a 28.07.2016 às 16:55

O Nuno foi meu professor e recordo com carinho as piadas, a disponibilidade e sinceridade de cada conversa. Admiro-o muito - não só pelo trabalho que desenvolveu, na área que estudei, mas como não se deixou ir abaixo num momento difícil. Tomou todas as medidas para lutar - lutar pela vida, pelo bem-estar e, consequentemente, pela sua felicidade. Continuarei a seguir e a apoiar cada vitória. Identifico-me, não por ter diabetes (apesar de me ser muito próxima), mas por sempre me ter sentido mais gorda (pesada, maior, desproporcional) do que as meninas da minha idade.
Admiro-o muito e continuarei a apoiá-lo nesta luta, que é feita todos os dias. Força Nuno!
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De Nuno Azinheira a 28.07.2016 às 18:33

Olá Patrícia. Que boa surpresa!
Obrigado pela tua mensagem. São estes estímulos que fazem bem, que nos ajudam a crescer. Eu também aprendo muito convosco em cada aula. Por isso me dou tanto a conhecer. Ninguém tem de se sentir diferente porque é "mais gorda, pesada, maior, desproporcional".

"Para ser grande, sê inteiro:
Nada teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago
A lua toda brilha,
Porque alta vive."

Ricardo Reis
Odes de Ricardo Reis. Fernando Pessoa. (Notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (imp.1994)

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