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"Não tenho horas para nada". Isso acabou, ok?

por Nuno Azinheira, em 10.07.16

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Horas. A vida passa a ter horas. Essa é talvez a primeira grande mudança que tem de acontecer na cabeça de um diabético. Habituados a um estilo de vida agitado, nos tempos que vivemos, nunca temos tempo para nada. As agendas, sejam elas de cabeça, em papel ou digitais, são impiedosas. Reunião agora, encontro a seguir, texto mais logo, entrevista depois. A nossa vida é uma ditadura de horas, mas nunca temos horas para nós.

Toca o despertador, levantamo-nos a correr. Banho apressado, roupa vestida. Abre-se o frigorífico e saca-se um iogurte líquido que vamos a beber durante a viagem de carro. "Quando lá chegar, como qualquer coisa", pensa-se. Ao balcão. De pé. Qualquer coisa significa normalmente... qualquer coisa. 

"Hoje ainda não parei, nem tive tempo para almoçar". Quantas vezes repetimos isto? Quantas vezes comemos uma tosta mista, um salgado e um sumo em pé, entre uma SMS enviada e um email respondido. E depois? Comida? "Ui, só vou jantar lá para as tantas. É melhor ir ali à máquina buscar qualquer coisa para ver se me aguento".

Fazemos isto anos a fio. Porque "tem de ser". Porque "não há tempo para tudo". Porque "o trabalho não aparece feito sozinho". Caramba, a quantidade de desculpas (algumas bem verdadeiras...) para justificar os nossos erros.

Horas. A vida passa a ter horas quando se descobre a Diabetes. Porquê?

Não devemos ter intervalos superiores a três horas entre cada refeição. O que aumenta a quantidade de refeições por dia: (1) pequeno almoço - 09h00, (2) merenda a meio da manhã - 11h30, (3) almoço - 14h00, (4) merenda a meio da tarde - 17h00, (5) jantar - 20h00, (6) ceia - 23h00. Isto pode ser o normal, mas dentro da normalidade dos nossos dias, quem me garante que janto às 20h00 e não às 21h30? Se assim for, não posso estar sem comer das 17h00 às 21h30. Um triângulo de queijo magro ou uma gelatina 10 kcal ou duas tostas podem ser uma solução.

Estão a ver como as horas passam a compassar a nossa vida? Mas não só. De manhã, é preciso contar mais 15 minutos extra para medir glicemia e tomar o pequeno almoço sentado, mastigando o que se come. E à noite? É preciso preparar o dia seguinte. Quando digo preparar é mesmo preparar. Sabem aquela ideia que nos passava pela cabeça do tipo "Ah e tal, depois se tiver fome, passo pelo café e como qualquer coisa..."?. Not. Não comemos qualquer coisa. À noite é preciso planear almoço e jantar (e prepará-los, se a hora previsível de regressar a casa ultrapassar a hora admissível de jantar), é preciso preparar os lanchinhos (saber que uma peça de fruta tem de se casar com uma bolacha ou uma tosta que anule o efeito da frutose).

Nem sempre é fácil. Lembram-se daquela ideia que nos passava pela cabeça do tipo "Ah, deixa cá ver o que há aqui no congelador! Olha que fixe, há aqui uma lasanha pré-congelada. Isto fica pronto num instante". Not. Não pode ser.

Preparar o dia seguinte demora tempo. Nada que quem tenha filhos não saiba. Mas eu não tenho. Estas tarefas eram coisa que conhecia só em teoria. Agora conheço na prática, como veem.

Horas. Acreditem, a vida passa a ter horas. 

 

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