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"O que é doce nunca amargou". Lembram-se disto?

por Nuno Azinheira, em 09.07.16

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Tenho imensas saudades da minha avó materna. Na cozinha fazia três coisas superlativas. Uma simples: galinha corada (com limão dentro do bucho), uma complexa: os melhores pastéis de massa tenra que alguma vez comi, e uma inimaginável: coelho à caçador acompanhado de bacalhau desfiado com puré. Sim, é a mais estranha, improvável e perfeita combinação de que há memória. Mas estas memórias perduram no tempo e falamos delas sempre que estamos juntos, em família. A vida é também isto. Afectos, partilhas. 

A minha avó era diabética. Não era gorda. Era uma mulher lindíssima, com uma pele suave de bebé, que manteve até aos últimos dias. Cresci a ouvi-la dizer um provérbio popular então muito em voga: "Gordura é formosura". Mentira. Percebo a intenção com que se diz isso a uma criança, procurando educá-la no sentido certo: o que interessa é o interior (os valores) e não o exterior. É uma mentira piedosa, mas é uma mentira. E elas (as mães, as avós...) também nos ensinaram que mentir é feio.

Hoje os tempos mudaram, o acesso à informação é outro, a sensibilização para as questões alimentares é muito maior, a vigilância dos adultos também. Mas continuamos todos a assobiar para o lado no que toca a educação alimentar. De que vale obrigar as máquinas de vending dos hospitais a terem fruta fresca, se depois continuamos a permitir uma overdose publicitária a produtos em que a dose de açucar ultrapassa claramente o admissível? É um crime. Um crime que tem responsáveis. 

A obesidade infantil é um problema de saúde pública. A Diabetes atinge um milhão de portugueses. O Estado gasta milhões de euros, por via do Sistema Nacional de Saúde, no tratamento destas patologias. Mas continuamos a brincar aos alimentos energéticos "para dar força" às nossas crianças. Ou a deixarmo-nos enredar pelos mitos urbanos que fazem a nossa cabeça há anos.

O açúcar é o inimigo público número 1 na alimentação. Dir-se-á que é o sal, até porque há dois milhões de hipertensos em Portugal, mas em relação ao sal, há hoje já uma mais correta sensibilização para o seu uso excessivo. No caso do açúcar, não. "O que é doce nunca amargou", diziam também as nossas avós. Amarga e muito, anos mais tarde.

A glicose (açúcar no sangue) é essencial à vida. O nosso organismo utiliza o açúcar para produzir energia indispensável ao funcionamento normal dos vários órgãos e tecidos.

Para que a glicose possa ser utilizada pelo organismo precisa de uma importante hormona: a insulina. A insulina é uma hormona (substância química produzida pelo organismo) que tem como função regular a glicemia. Em situações normais e desde muito cedo na vida - antes de nascermos - o pâncreas produz esta hormona que retira o "açúcar" do sangue, transportando-o para dentro das células. Desta forma, os níveis de "açúcar" no sangue (glicemia) baixam.

Na Diabetes mellitus esta situação está alterada. A característica mais importante e que define a Diabetes mellitus é a subida anormal e descontrolada da glicemia ou "açúcar no sangue". Isto é causado por problemas com a produção de insulina ou com a sua atuação nas células (a chamada "resistência à insulina").

A Diabetes Tipo 2 é a forma mais frequente de diabetes: 9 em cada 10 diabéticos são do tipo 2. Surge em qualquer idade, mas é mais frequente nas pessoas adultas com peso a mais. Neste tipo de diabetes, o organismo produz menos insulina e a insulina faz menos efeito (chama-se a isto "resistência à insulina").

O que ando a fazer há 20 dias é, para além de exercício físico, mudar os meus hábitos alimentares, reduzindo as quantidades de comida que ingiro, diminuindo o intervalo entre refeições para 2,5/3 horas, diversificando a alimentação, evitando os alimentos com maior índice glicémio, e aprendendo a ajustar as doses certas de todos os nutrientes.

Nestes dias, em que os resultados começam a ser visíveis (também com a ajuda da medicação), passei a estar particularmente atento aos rótulos no supermercado. E há coisas verdadeiramente incríveis.

Num dos próximos textos, vou dar-vos alguns exemplos inocentes de coisas que bebemos e da quantidade de açúcar que ingerimos.  Preparem-se para um susto valente! :)

 

 

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