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Esta foto foi tirada hoje à porta Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal. À saída, claro. Não veem o sorriso? Mesmo que o vejam, não conseguem perceber a exata proporção do que sinto interiormente. Podem ter uma vaga ideia, mas não dá para perceber o turbilhão de sensações. Vocês têm acompanhado aqui este meu percurso, têm feito parte dele de forma entusiasta (foi por isso que criei este blogue, lembram-se?) e, portanto, é justo que compartilhe convosco aquilo que, em palavras, consigo partilhar. As lágrimas que me correram hoje, sem vergonhas nem pudores, à frente da médica, quando ela me mostrou os resultados das análises, isso não consigo descrever por palavras. Sei que me entendem. 

Acabo de sair da APDP e da minha terceira consulta, desde que a 19 de junho me foi diagnosticada a Diabetes Tipo 2. Nesse dia, tinha 329 mg de açúcar por decilitro de sangue. Hoje, três meses e meio depois, tinha 89 mg/dl. O melhor teste, porém, já aqui o tinha dito, é o da hemoglobina glicada (ou glicosada), o valor médio de três meses de glicemia. Esta é a medida de referência usada clinicamente para diagnosticar o quadro de diabetes e aferir a evolução do paciente.

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Pois, se bem se lembram (contei aqui!), a 2 de agosto, apenas com um mês e picos de mudança de estilo de vida, o meu valor ainda era muito alto (9,1%), se atendermos ao valor-referência: o ideal é que o número esteja abaixo de 6,5/7. Hoje, 4 de outubro, a minha hemoglobina é perfeita: 6,4%. Um valor de alguém saudável!

No que toca a pesos e medições, os resultados não poderiam ser mais inspiradores e recompensadores: no espaço deste último mês perdi mais seis quilos, graças à conjugação "reeducação alimentar + exercício físico + medicação", e reduzi a minha cintura (o famoso e perigoso perímetro abdominal) em 7 cm. Isto significa que desde que iniciei o tratamento na APDP, perdi 12 quilos e 22 centímetros de barriga. O resultado é ainda mais espantoso se recuar a abril, quando me inscrevi no ginásio. Em seis meses perdi 23 quilos. Não é gralha, são mesmo 23 quilos. O meu índice de massa corporal baixou 5 pontos percentuais. Na prática isto diz uma coisa fundamental: é preciso continuar este caminho. Mas cá dentro,  meus amigos, cá dentro da cabeça é uma enorme volta. A começar pelo rótulo. Desde hoje deixei de ser um Obeso Grau III, e passei a ser um Obeso de Grau II. Pior ainda: abandonei, de acordo com os padrões de aferição do IMC (índice de massa corporal), o pavoroso escalão da Obesidade Mórbida. As palavras não são ocas, têm significado, têm peso. E às vezes, mesmo para um tipo bem resolvido e com uma autoestima alta, as palavras pesam toneladas.

No domingo passado passei pelo CascaiShopping e comprei um par de calças. Constatei que o meu número (aquele que tinha comprado há um mês e meio, quatro números abaixo do que vestia há quatro meses) já era grande de mais. A funcionária sugeriu-me um número abaixo. Ainda ficavam a bailar. Foram dois números abaixo. Ou seja, reduzi seis números (equivalente a 12, uma vez que as calças saltam de dois em dois...). 

Ao longos dos últimos dias, nas redes sociais, tenho colocado fotografias e rececebido centenas de simpáticos "likes" e dezenas de calorosos comentários. Com alguns emocionei-me. Outros fizeram-se sorrir. A todos agradeço. Muitos tinham um denominador comum: por um lado, o espanto e as felicitações; por outro, a ideia subjacente à frase "como vês, o esforço compensa". Tenho pensado muito nisso, nesta última ideia. Mas qual esforço? Acreditem, não estou a fazer género. E percebo que seja difícil perceber que esteja a ser sincero. Se fosse verdade, se fosse fácil perder peso no meu caso, não teria ultrapassado os 140 quilos, como cheguei a pesar. Mas, para ser honesto comigo, tenho de vos dizer: não tem havido esforço. Tem havido rigor, força de vontade, capacidade de resistência, uma grande entrega e, mais importante que tudo, um grande respeito por mim. É isso mesmo. Um grande respeito por mim. Mas esforço? Não. Habituei-me a fazer exercício físico porque era imprescindível. Tinha de ser. Hoje apaixonei-me por caminhadas.

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Tanto que, como sabem, no domingo passado me inscrei na primeira prova coletiva da minha vida. Foi a Mini Maratona de Lisboa, na Ponte Vasco da Gama. Mas quando cruzei a meta, ao fim de 6,5 quilómetros, senti que queria mais. E continuei, junto à margem do Tejo, até que cheguei ao Lux, onde chamei um Uber. No total do dia, tinha caminhado 14,9 quilómetros!

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Foi a minha primeira vez. Teve um simbolismo especial. Fui sozinho, não encontrei lá qualquer amigo dos que me disseram que também iam. Eram milhares de pessoas, seria a mesma dose de fortuna do que encontrar uma agulha no palheiro. Mas aquele sentimento de partilha, de comunhão, aquela sensação de que estávamos todos ao mesmo, foi magnífica. Tal como eu centenas de pessoas fizeram a prova a caminhar. Havia pais com crianças, havia carrinhos de bebéis e até alguém que se juntou com um cão a meio do percurso. Escusam de perguntar: sim, emocionei-me quando cruzei a meta. Não pelos 6,5 quilómetros, mas porque tinha conseguido, porque tinha sido capaz de me expor uma vez mais, de partilhar com os outros as minhas fragilidades e forças.

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No final, à chegada à linha de meta, instalada na Alameda dos Oceanos, o meu amigo e companheiro de trabalho Rodrigo Cabrita, um magnífico fotojornalista que estava a trabalhar, registou o momento que fica para a posteridade. Tal como o dorsal 22521 e a medalha, anónima, banal e sem qualquer valor financeiro, mas que nunca vou esquecer e que guardarei sempre comigo.

Portanto, que fique claro. Sim, o sacrifício pode valer a pena. E há alturas na vida que podemos e devemos fazer sacrifícios, se eles nos levarem a bens maiores. E neste caso, o da minha saúde, faria tdos os sacrifícios necessários. Mas, acreditem, não tem sido. Tem sido uma redescoberta apaixonante. Contagiante porque visível todos os dias. 

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Acham este prato de robalo grelhado em cama de legumes um sacrifício? Eu cá não acho. Estava delicioso. E é mais uma prova, das muitas que aqui tenho deixado, que um diagnóstico de Diabetes não é uma gilhotina em cima da cabeça. Nem tão pouco uma prisão absoluta que nos obriga a comer coisas chatas todos os dias. Não posso comer rissóis, bolas de berlim, mousses de leite condensado, folhados de carne, cozidos à portuguesa e feijoadas todos os dias? Não, não posso. Ainda bem. É preciso regra, rigor, contenção, alguma capacidade de resistência, mas há tanta coisa boa que podemos reaprender a cozinhar e a comer que as outras vão deixar de fazer falta. E quando sentirmos falta, já sabem a minha dica, comam. Uma vez não vos fará mal. 

Este texto já vai longo e não vos quero maçar mais. Nem queria terminar com uma mensagem moralista. Já aqui vos disse: eu deixei de fumar há cinco anos porque quis, não foi porque li nos maços que fumar causava cancro ou impotência sexual. Há momentos para tudo. Nem sempre estamos preparados para esse momento. Não quero ser heroi de ninguém, nem exemplo do que quer que seja. Mas posso ser uma inspiração. Para mim tenho sido. E se comigo tem resultado, convosco também vai resultar. Acreditem, deem o primeiro passo, não desistam. E passem cá para contar. Façam like na página de Facebook do Tipo 2 e partilhem as vossas histórias. Se formos todos a puxar para o mesmo lado, talvez isto seja menos difícil...

 

 

 

 

 

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 Ui, tenho tanto para vos contar! Ontem, tive a minha primeira prova de fogo, 42 dias depois de me ter sido diagnosticada Diabetes Tipo 2. Foi o meu primeiro contacto com a equipa de médicos da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal que me vai seguir. Podia ter escolhido outra solução, mas desde a primeira hora, depois de algumas referências obtidas, decidi ser acompanhado pela equipa multidisciplinar da APDP. Para primeira amostra, e apesar de lá ter estado entre as 12h45 e as 17h45, fiquei satisfeito.

E porquê prova de fogo? Porque, apesar de todo o rigor que tenho tido, apesar da reeducação alimentar que estou a fazer, apesar do exercício físico que iniciei há um mês e tal, e apesar dos sinais (interiores e exteriores), agora o veredicto era a sério: faria exames, análises e seria visto por profissionais de saúde. Reforço aquilo que sempre disse aqui: não sou médico. Tudo o que aqui escrevo, e que tem resultado em mim, não deve ser tido como exemplo para todos. Cada caso é um caso e cada um deve procurar a ajuda médica necessária para melhorar a sua qualidadade de vida, como eu tenho feito, com resultados visíveis.

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Desde que iniciei esta conjugação medicamentos+alimentação+exercício físico, perdi 12 quilos, aumentei massa muscular (que também pesa), baixei quatro números de calças (o que significa que o meu perímetro abdominal reduziu, o que é o melhor sinal de todos, porque a gordura localizada nesta zona é a mais perigosa de todas) e um número de camisas.

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Nota: A evolução das fotos que aqui publico não é de apenas um mês e meio. São fotos dos últimos dois anos. Acho que se nota bem a diferença...  

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Voltando ao dia de ontem, de manhã fui ao ginásio para uma aula com PT. Ao chegar ao Virgin Active, lembrei-me que um dos exames que faria à tarde seria um eletrocardiograma. Seria compatível com a prática de exercício físico de manhã? Como não sabia, liguei ao meu médico de família. Que sim, que era compatível, que até era melhor, porque quando fizesse o exame à tarde, veriam um coração que tinha feito esforço de manhã.

Mandaram-me estar na APDP às 12h45 já almoçado. E eu, que sou um menino cumpridor, lá estava. Esperei uns minutos, fui à triagem para pesagem e medições. Meia hora depois estava a recolher as minhas colheitas de sangue e urina para análise. No imediato, a técnica disse-me que estava com 158 mg de glicose por decilitro de sangue. "É um valor muito simpático, uma vez que estamos após o almoço", disse-me. Simpático?, pensei. De facto, dez minutos antes de entrar no laboratório, enquanto esperava, ouvi a mesma profissional a dizer a uma senhora de cerca de 60 anos: "'Sôdona' Etelvina, estamos com os valores um bocadinho elevados. Vai ficar aqui a descansar com insulina. Neste momento tem 358 de açúcar". A 'sôdona' Etelvina passou para a sala ao lado e eu entrei. Apesar de me ter dito que eram um valor "simpático", os meus 158 mg/dl não me pareciam nada simpáticos. Muito acima do normal, que têm sido nas últimas semanas, duas horas depois do almoço (considerado o pico da glicose) de 125 ou 130. Fui à casa de banho e medi com o meu glicómetro: 124. Voltei ao laboratório e mostrei os valores à técnica. Nada como perceber as coisas como elas são: "Fez bem em fazer isso. O valor que acabou de obter foi de uma colheita capilar, com o teste de sangue no dedo. Eu fiz aproveitando o sangue que lhe retirei da veia. São valores mais fidedignos e há sempre uma ligeira variação. Não fique preopcupado. O seu valor é absolutamente normal". Agradeci, saí e fiquei mais descansado. 

Seguiu-se o exame aos olhos, para despistar a Retinopatia Diabética, ou seja, complicações na visão decorrentes da presença exagerada de açúcar na corrente sanguínea (os resultados só se saberão mais tarde), e, logo a seguir, o electrocardiograma. Demorou dois minutos. No final, a técnica olhou para ele e disse: "o coração de um jovem". Lembrei-me dos meus quase 42 anos e sorri. 

Depois dos exames, as consultas. Primeiro, claro, a espera. A sala de espera tinha agora bem mais gente. Na sua maioria gente mais velha do que eu, embora houvesse dois ou três jovens. Na sua maioria, gente com excesso de peso como eu, embora menos obesos do que eu. Ouvi muitas conversas durante aquelas horas que ali estive, mas disso ocupar-me-ei num outro post.

Ao fim de 40 minutos, lá fui chamado ao consultório. A minha diabetologista, Dra. Ana Filipa Lopes, apresentou-se, estendeu-me a mão e deu-me as boas vindas. Fez perguntas e eu respondi. Elogiou o trabalho feito nas últimas semanas e falou-me do valor da única análise que já estava disponível, o da Hemoglobina Glicada (HbA1c). É uma análise extremamente útil na avaliação da glicemia por períodos prolongados. A hemoglobina glicada serve para monitorizar o controlo da Diabetes de uma forma mais contínua, pois permite analisar a glicemia média de 90 dias. Um valor aceitável é de 7%, um valor ótimo é 6,5%. 

O meu médico de família, António Calaim, já me tinha alertado para não me assustar. O meu "caminho" tem ainda só um mês e meio, portanto, o outro mês e meio anterior, de açúcares altos e descontrolados, fariam seguramente o valor da HbA1c subir muito acima do desejável. "Pode ser que tenhas 10 ou 11%, não nos vamos assustar", alertara-me o médico. O resultado foi o esperado, embora o valor mais baixo do expectado. "Tem 9,1% de hemoglobina glicada, que é um valor alto, mas acredito que mantendo o que tem estado a fazer, na próxima análise que fizer, já vamos ter resultados desejáveis".

Quanto à medicação, manteve-me tudo, mas mudou-me o antidiabético oral. Continua a ser metformina diária, mas receitou-me ainda Bydureon, "uma medicamento de ação prolongada, que se toma apenas se toma uma vez por semana e que combina o combate à diabetes mas, ao mesmo tempo, reforça a perda de peso, que é o que o Nuno continua a precisar", explicou-me a endocrinologista. "Tem uma contrariedade apenas: não foi possível desenvolver este medicamento por via oral, é injetável com uma caneta", explicou-me. Tremi um pouco, confesso. "No fundo, é como a insulina, mas isto não é insulina", acrescentou. Continuei apreensivo. Nunca gostei de agulhas e a perspetiva de fazer a administração numa prega da minha própria barriga (vulgo pneu) não me agrada. "Não há outra alternativa?", perguntei. Ela sorriu. "Haver, há. É continuar com a medicação que está a fazer, que está a ter efeito no controlo da diabetes, mas eu acho que vai ter um ganho substancial com esta solução que lhe proponho, porque vai ajudá-lo ainda mais a perder peso. Mas só faz se quiser. Se não quiser, mantemos tudo como está". Pensei cinco segundos em silêncio. E resolvi aceitar. Também há um mês e meio a ideia de me picar três vezes ao dia para controlar a glicemia me soava a estranho e afinal... não custa nada.

Também aqui, a médica mudou a prática: "Ah, e não quero que continue a picar-se três vezes ao dia. A sua glicemia já não o justifica. Basta que controle dia sim, dia não, ou depois de alguma refeição especial para perceber que impacto é que ela teve em si. Mas não faz sentido continuar a medir a sua gicemia com tanta frequência". E pronto, estava terminada a consulta.

De volta à sala de espera, agora à pinha. Mais 20 minutos, e eis que sou chamado pela Dra. Ana Raimundo Costa, que passou a ser a minha nutricionista. A consulta demorou mais de 40 minutos. Por minha culpa. Fartei-me de falar, expliquei-lhe as mudanças introduzidas na minha alimentação, enumerei as refeições, falei-lhe das equivalências, mostrei-lhe fotografias, falei-lhe do blogue. A empatia foi rápida e recíproca. "Não lhe vou passar nenhum plano alimentar, Nuno. Basta continuar a fazer o que está a fazer, está a ir muito bem. Parabéns!".

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 De repente, chegou o email com os resultados das análises. "Uau!", disse primeiro. Depois, imprimiu as folhas para me mostrar. À minha frente tinha as análises feitas a 19 de junho e, agora, estas de 2 de agosto. Olhei para umas e para outras. Deixem-me confessar: vieram-me as lágrimas aos olhos. Não sei bem porquê. Ou, melhor, sei. Sei perfeitamente. Porque verifiquei que o caminho que comecei está a dar resultados científicos. "Nuno, parabéns! Colesterol a níveis normais, reduziu para metade. Triglicéridos excelentes. São valores muito importantes porque têm a ver com o metabolismo lípido, aquilo que afeta o coração e que provoca as complicações cardíacas", explicou.

Há 40 e tal dias, o meu colesterol era de 270 mg/dl. Caiu para 135, 1 (o valor de referência é abaixo de 200). Os triglicéridos, que já estavam bem em junho, com 121 mg/dl, baixaram para 110, 2 (o valor de referência é abaixo dos 150). E o açúcar, que tinha sido 329 no dia em que tudo começou, estava ontem, depois de almoço, nos 158 mg/dl. 

Despedi-me com dois beijinhos da nutricionista. Prometeu-me que vinha cá ler o blogue. E veio, percebi meia hora mais tarde. 

O dia na APDP ainda não tinha terminado. Numa última consulta, foi-me explicado como usar a tal caneta do tal medicamento que vou passar a autoadministrar uma vez por semana. O ideal é que seja sempre no mesmo dia da semana e sensivelmente à mesma hora. Escolhi o domingo ao pequeno almoço. Assim, faço em casa, sem stresses. Acho que à primeira vai custar um bocadinho, mas que é tudo uma questão de hábito. Se me vai fazer bem, então vamos lá sem medos. Volto à Associação em setembro. E, espero, com novas razões para sair de lá a rir.

 

 

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"Não sabia que era diabético?"

por Nuno Azinheira, em 06.07.16

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19 de Junho. De bata branca e olhar grave, a médica perguntava: "O senhor não sabia que era diabético?" A pergunta parecia um raspanete. Era. Na mão, a médica do hospital tinha os resultados das análises que tinha mandado fazer uma hora e meia antes. 

Sentira-me mal. Em rigor, sentia-me mal há uma semana e tal. Dormia pouco, mal, sem sensação de descanso, acordando sobressaltado a meio da noite. "Muito stress", disse-me a médica, ao fim de cinco minutos no exíguo gabinete. Mediu-me a tensão. Estava alta. Hipertenso medicado há sete anos, ter picos de pressão arterial não era frequente, mas também não era inédito. "Tem de acalmar, senhor. E tem de perder de peso, mas isso o senhor já sabe", disse-me. Preparava-se para me despachar com uma receita de ansiolíticos. Até que ganhei coragem. "Sabe, dôtora. Há um histórico forte de diabetes na minha família. Eu sei que a diabetes é hereditária. Acordo muitas vezes a meio da noite com vontade de ir à casa de banho, tenho sempre muita sede. Não achará melhor fazermos uma análise para perceber se não serei diabético?", perguntei a meio tom. Arregalou-me os olhos e respondeu secamente com uma pergunta: "E só agora é que diz isso?". Retorqui: "Também não perguntou".

Fiz a recolha de urina e de sangue (uma vergonha...). Uma hora e meia depois, a pergunta da médica não deixava margem para ilusões. "O senhor não sabia que era diabético? Como é possível que não soubesse?". O número de glicemia era tão cru que não havia como evitá-lo. 329!

 

 

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