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A importância de não nos fecharmos numa concha

por Nuno Azinheira, em 15.10.16

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Acordei. 08.17. Lá fora chovia a cântaros. Era forte o som da chuva a cair nos telhados de Lisboa. As previsões apontavam para a probabilidade de umas pingas, sim, mas nada que pudesse assustar. E logo hoje que me tinha inscrito, pela primeira vez, nos Sábados Desportivos que a Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal promove em dois sábados de cada mês. Ainda por cima, tinha vindo aqui ontem desafiar-vos a virem comigo e a conhecerem-me pessoalmente, depois destes meses em que temos partilhado desabafos, motivações, frustrações, preocupações e experiências de vida.

Não, eu não podia faltar. Mas chovia. Lá fora chovia a cântaros. Continuava forte o som da chuva a cair nos telhados de Lisboa. Peguei no telemóvel, confirmei na aplicação de meteorologia que, sim, a probabilidade de chover ao longo do dia era forte (60%). Batia certo. "E agora? Vou de calções e T-Shirt para o Lumiar e corro o risco de apanhar uma molha e não estar lá ninguém?" ou "Falto ao meu compromisso, invocando a ira dos deuses e fico na cama?". 

Não podia ser. Os últimos quatro meses têm sido de batalha, de coragem, de sentido de responsabilidade e, sem que esse fosse o meu objetivo inicial, tornaram-me também um exemplo, uma fonte de inspiração aos olhos de que me lê aqui no blogue ou no Facebook. Não queria entrar numa de "Bem prega Frei Tomás". Não podia prometer uma coisa e depois falhar. Apenas por conforto de ficar na cama.

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Levantei-me a medo. Fui à janela. Ao fundo a Ponte 25 de Abril, o Tejo e umas nuvens carregadas. Os vidros molhados. A chuva caía. Voltei a deitar-me e a enroscar-me na almofada. Nisto, providencialmente, toca o despertador, que eu tinha colocado para as 08.30. Simbólico. Se é para despertar, é para despertar. 

Levantei-me, tratei do pequeno-almoço, da medicação e de mim. Vesti os calções e a T-Shirt, calcei os ténis. Na mochila coloquei uma garrafa de água, uma maçã e duas bolachas de fibra e gengibre, mais o glicómetro e a carteira. Por via das dúvidas, preparei a mochila para o ginásio. Se lá chegasse ao Lumiar, e não estivesse ninguém, ia praticar exercício indoor.

No caminho não parou de chover. Mas eu não desisti e segui a minha rota, em busca do Parque das Conchas, no Lumiar, onde nunca tinha entrado na vida. Quando cheguei e estacionei o carro, vi dez pessoas à porta da entrada junto à saída do Metro (era o local combinado). Eram todos mais velhos do que eu. Não sei se tinham "ar de diabético" (o que é isso, afinal?), mas percebi que, sim, aquela era a minha gente. Gente como eu, interessada em fazer exercício, sofrendo da mesma doença do que eu, e procurando, melhor ou pior, aumentar a sua qualidade de vida. Na frente do grupo, um amigo antigo, o João Antunes,  velho companheiro dos tempos dos relatos na saudosa Rádio Ocidente. Ele já tinha prometido ontem que viria, quando eu desafiei toda a gente. Prometeu e também cumpriu. Nos minutos seguintes, juntaram-se mais cinco ou seis pessoas. E conheci a Ana Rodrigues, a professora de Educação Física que trabalha para a APDP e que, percebi logo, tinha já uma grande empatia com todos ("os meus meninos", como disse repetidamente). Apresentámo-nos, e a seu pedido falei-lhe do meu historial. As duas horas que se seguiram foram excelentes: caminhada de três quilómetros pelo parque, muito bonito, com zonas relvadas e outras de pinhal, subidas e descidas; exercícios de força, flexões, elasticidade e resistência, e alongamentos no final. Gargalhadas, histórias de partilha e de superação. Antes e depois do exercício medimos a glicemia. E todos constataram a descida dos valores com a prática da atividade.

No final pedi para tirar uma selfie, uma foto de família, que, expliquei previamente, seria para publicar aqui. Ninguém se importou e todos apareceram para a foto. No fundo, a ideia era essa. Partilhar. É esse o caminho, o objetivo. Uma partilha entre iguais, para desmistificar a diabetes e perceber que a vida pode ser melhor mesmo com a doença. No meu caso, seguramente, sobtetudo por causa da doença. Dentro de 15 dias, se não tiver qualquer compromisso inadiável, voltarei lá. Fiquei fã. E atenção: a iniciativa, que é de inscrição gratuita, não é válida apenas para diabéticos. Qualquer um pode aparecer, e juntar-se ao grupo. Venham. O pior que pode acontecer é fecharem-se na vossa própria concha...

 

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Está na altura de nos conhecermos, não?

por Nuno Azinheira, em 14.10.16

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Tenho um desafio para vos fazer. A Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal promove todos os meses uma iniciativa chamada "Sábados Desportivos". Por estranho que possa parecer, decorre aos sábados! Este sábado, dia 15, é um desses dias. Decorre no Parque das Conchas, no Lumiar (a concentração é na entrada mais perto à saída do Metro, linha amarela), e, segundo me foi explicado, a atividade é monotorizada por um professor de Educação Física especializado na temática da Diabetes.

O Sábado Desportivo decorre entre as 10h00 e as 12h30 e a entrada é gratuita. O público é muito heterogéneo: gente magra, gente gorda, mais novos (já participaram crianças com dez anos), mais séniores (a APDP disse-me que há um senhor comm 78 anos que participa de vez em quando...). As duas horas e meia são compostas de caminhada e de exercícios ligeiros que o professor nos pedirá de acordo com as nossas capacidades.

Nunca participei em nenhuma destas atividades, mas acho muito meritório o trabalho clínico, social e de integração que a APDP faz. E, por isso, decidi participar na edição deste sábado. As explicações que me foram dadas por telefone chegaram para me convencer. E creio que podem convencer-vos a vocês também. Para os mais velhos: "não vai só malta nova!". Para os mais novos: "não vão só 'cotas'!". Para os magros: "não vão só gordinhos!". Para os gordinhos: "não vão ser os únicos barrigudos!".

Assim sendo, só há duas coisas que vos fará faltar: ou o trabalho, ou a inércia. Se estão a trabalhar, está justificado. Se é mesmo por inércia, toca a combatê-la, a tirar o rabinho da cama e vir experimentar pela primeira vez. Tem outro aliciante: ficam finanalmente a conhecer o Tipo 2.

Podem inscrever-se  através do 213 816 112. É melhor para eles terem uma noção do número de pessoas que terá o grupo. Mas se quiserem aparecer por lá sem dizer nada também podem. Muito importante: não têm de ser diabéticos nem sócios da APDP. A iniciativa é aberta a sócios, não sócios, pacientes, acompanhantes, não diabéticos. Basta ter vontade em fazer qualquer coisa para sermos saudáveis.

Vá, tomem uma decisão! Façam exercício físico (é um dos eixos fundamentais dos resultados que já obtive em quatro meses: 22 quilos perdidos, 23 centímetros de perímetro abdominal perdidos, glicemia estabilizada nos valores normais, colesterol e triglicéridos impecáveis, tensão arterial controlada). Não se desculpem com o tempo: sim, vão estar nuvens, sim, pode haver umas pingas, mas não vai chover a potes. Não inventem desculpas. Vamos?

Já vos disse que vou lá estar? ;)

 

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Esta foto foi tirada hoje à porta Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal. À saída, claro. Não veem o sorriso? Mesmo que o vejam, não conseguem perceber a exata proporção do que sinto interiormente. Podem ter uma vaga ideia, mas não dá para perceber o turbilhão de sensações. Vocês têm acompanhado aqui este meu percurso, têm feito parte dele de forma entusiasta (foi por isso que criei este blogue, lembram-se?) e, portanto, é justo que compartilhe convosco aquilo que, em palavras, consigo partilhar. As lágrimas que me correram hoje, sem vergonhas nem pudores, à frente da médica, quando ela me mostrou os resultados das análises, isso não consigo descrever por palavras. Sei que me entendem. 

Acabo de sair da APDP e da minha terceira consulta, desde que a 19 de junho me foi diagnosticada a Diabetes Tipo 2. Nesse dia, tinha 329 mg de açúcar por decilitro de sangue. Hoje, três meses e meio depois, tinha 89 mg/dl. O melhor teste, porém, já aqui o tinha dito, é o da hemoglobina glicada (ou glicosada), o valor médio de três meses de glicemia. Esta é a medida de referência usada clinicamente para diagnosticar o quadro de diabetes e aferir a evolução do paciente.

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Pois, se bem se lembram (contei aqui!), a 2 de agosto, apenas com um mês e picos de mudança de estilo de vida, o meu valor ainda era muito alto (9,1%), se atendermos ao valor-referência: o ideal é que o número esteja abaixo de 6,5/7. Hoje, 4 de outubro, a minha hemoglobina é perfeita: 6,4%. Um valor de alguém saudável!

No que toca a pesos e medições, os resultados não poderiam ser mais inspiradores e recompensadores: no espaço deste último mês perdi mais seis quilos, graças à conjugação "reeducação alimentar + exercício físico + medicação", e reduzi a minha cintura (o famoso e perigoso perímetro abdominal) em 7 cm. Isto significa que desde que iniciei o tratamento na APDP, perdi 12 quilos e 22 centímetros de barriga. O resultado é ainda mais espantoso se recuar a abril, quando me inscrevi no ginásio. Em seis meses perdi 23 quilos. Não é gralha, são mesmo 23 quilos. O meu índice de massa corporal baixou 5 pontos percentuais. Na prática isto diz uma coisa fundamental: é preciso continuar este caminho. Mas cá dentro,  meus amigos, cá dentro da cabeça é uma enorme volta. A começar pelo rótulo. Desde hoje deixei de ser um Obeso Grau III, e passei a ser um Obeso de Grau II. Pior ainda: abandonei, de acordo com os padrões de aferição do IMC (índice de massa corporal), o pavoroso escalão da Obesidade Mórbida. As palavras não são ocas, têm significado, têm peso. E às vezes, mesmo para um tipo bem resolvido e com uma autoestima alta, as palavras pesam toneladas.

No domingo passado passei pelo CascaiShopping e comprei um par de calças. Constatei que o meu número (aquele que tinha comprado há um mês e meio, quatro números abaixo do que vestia há quatro meses) já era grande de mais. A funcionária sugeriu-me um número abaixo. Ainda ficavam a bailar. Foram dois números abaixo. Ou seja, reduzi seis números (equivalente a 12, uma vez que as calças saltam de dois em dois...). 

Ao longos dos últimos dias, nas redes sociais, tenho colocado fotografias e rececebido centenas de simpáticos "likes" e dezenas de calorosos comentários. Com alguns emocionei-me. Outros fizeram-se sorrir. A todos agradeço. Muitos tinham um denominador comum: por um lado, o espanto e as felicitações; por outro, a ideia subjacente à frase "como vês, o esforço compensa". Tenho pensado muito nisso, nesta última ideia. Mas qual esforço? Acreditem, não estou a fazer género. E percebo que seja difícil perceber que esteja a ser sincero. Se fosse verdade, se fosse fácil perder peso no meu caso, não teria ultrapassado os 140 quilos, como cheguei a pesar. Mas, para ser honesto comigo, tenho de vos dizer: não tem havido esforço. Tem havido rigor, força de vontade, capacidade de resistência, uma grande entrega e, mais importante que tudo, um grande respeito por mim. É isso mesmo. Um grande respeito por mim. Mas esforço? Não. Habituei-me a fazer exercício físico porque era imprescindível. Tinha de ser. Hoje apaixonei-me por caminhadas.

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Tanto que, como sabem, no domingo passado me inscrei na primeira prova coletiva da minha vida. Foi a Mini Maratona de Lisboa, na Ponte Vasco da Gama. Mas quando cruzei a meta, ao fim de 6,5 quilómetros, senti que queria mais. E continuei, junto à margem do Tejo, até que cheguei ao Lux, onde chamei um Uber. No total do dia, tinha caminhado 14,9 quilómetros!

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Foi a minha primeira vez. Teve um simbolismo especial. Fui sozinho, não encontrei lá qualquer amigo dos que me disseram que também iam. Eram milhares de pessoas, seria a mesma dose de fortuna do que encontrar uma agulha no palheiro. Mas aquele sentimento de partilha, de comunhão, aquela sensação de que estávamos todos ao mesmo, foi magnífica. Tal como eu centenas de pessoas fizeram a prova a caminhar. Havia pais com crianças, havia carrinhos de bebéis e até alguém que se juntou com um cão a meio do percurso. Escusam de perguntar: sim, emocionei-me quando cruzei a meta. Não pelos 6,5 quilómetros, mas porque tinha conseguido, porque tinha sido capaz de me expor uma vez mais, de partilhar com os outros as minhas fragilidades e forças.

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No final, à chegada à linha de meta, instalada na Alameda dos Oceanos, o meu amigo e companheiro de trabalho Rodrigo Cabrita, um magnífico fotojornalista que estava a trabalhar, registou o momento que fica para a posteridade. Tal como o dorsal 22521 e a medalha, anónima, banal e sem qualquer valor financeiro, mas que nunca vou esquecer e que guardarei sempre comigo.

Portanto, que fique claro. Sim, o sacrifício pode valer a pena. E há alturas na vida que podemos e devemos fazer sacrifícios, se eles nos levarem a bens maiores. E neste caso, o da minha saúde, faria tdos os sacrifícios necessários. Mas, acreditem, não tem sido. Tem sido uma redescoberta apaixonante. Contagiante porque visível todos os dias. 

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Acham este prato de robalo grelhado em cama de legumes um sacrifício? Eu cá não acho. Estava delicioso. E é mais uma prova, das muitas que aqui tenho deixado, que um diagnóstico de Diabetes não é uma gilhotina em cima da cabeça. Nem tão pouco uma prisão absoluta que nos obriga a comer coisas chatas todos os dias. Não posso comer rissóis, bolas de berlim, mousses de leite condensado, folhados de carne, cozidos à portuguesa e feijoadas todos os dias? Não, não posso. Ainda bem. É preciso regra, rigor, contenção, alguma capacidade de resistência, mas há tanta coisa boa que podemos reaprender a cozinhar e a comer que as outras vão deixar de fazer falta. E quando sentirmos falta, já sabem a minha dica, comam. Uma vez não vos fará mal. 

Este texto já vai longo e não vos quero maçar mais. Nem queria terminar com uma mensagem moralista. Já aqui vos disse: eu deixei de fumar há cinco anos porque quis, não foi porque li nos maços que fumar causava cancro ou impotência sexual. Há momentos para tudo. Nem sempre estamos preparados para esse momento. Não quero ser heroi de ninguém, nem exemplo do que quer que seja. Mas posso ser uma inspiração. Para mim tenho sido. E se comigo tem resultado, convosco também vai resultar. Acreditem, deem o primeiro passo, não desistam. E passem cá para contar. Façam like na página de Facebook do Tipo 2 e partilhem as vossas histórias. Se formos todos a puxar para o mesmo lado, talvez isto seja menos difícil...

 

 

 

 

 

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Como de mais? O livro que afasta todas as dúvidas

por Nuno Azinheira, em 17.09.16

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Quantas vezes não ficámos enfartados depois de um jantar? Quantas vezes não tivemos dúvidas (ou mesmo certezas) de que a dose que nos puseram 
à frente era muito superior à necessária? Quantas vezes não dissémos, à mesa, para amigos "Deixa-me cá tirar mais um bocadinho. Isto já não é fome, é mesmo gula!"? Quantas vezes, num restaurante, quando uma dose veio para a mesa, não comentámos com o/a companheiro/a de refeição "Devíamos ter dividido a dose. Isto dá para um batalhão!". Já nos aconteceu a todos. Uma, duas, três, dez, cem vezes. Acontece quase sempre. Sempre.

Vocês já me conhecem: gosto de comer, gosto do prazer de uma boa refeição, gosto daquele culto da mesa, de ter amigos à volta da dita, de uma boa dose de conversa e de gargalhadas. Portanto, cessem os temores: não vou aqui armar-me em puritano. Longe disso. Quem sou eu, afinal, para isso, que acumulei erros alimentares ao longo de quase 42 anos de vida?

Já vos disse, não me tornei um radical. Falo muito mais destes assuntos, estudo muito mais estas questões, preocupo-me muito mais com a minha saúde e procuro partilhar com quem me quer ouvir (ou ler) a informação que sei. Só isso. Cada um seguirá o seu caminho à mesma. Entendidos? Sem ressentimentos, então...

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 "Carbs & Cals", na edição portuguesa, é um "guia visual para a contagem de hidratos de carbono para pessoas com Diabetes". O trabalho é uma compilação da dietista Chris Cheyette e do fotógrafo Yello Balolia. Já o tinha visto na Fnac duas ou três vezes e fiquei interessado nele. Não o comprei na altura porque, ao folheá-lo, encontrei uma série de pratos e alimentos que fazem parte da dieta no Reino Unido (os autores são ingleses), mas que não têm adequação habitual em Portugal. E, por outro lado, faltavam lá pratos e alimentos que fazem as delícias dos portugueses. Intriguei-me ainda com uma coisa que me parecia estranha: "como é possível isto não estar adaptado para português?" Não era só a tradução, era a adaptação. 

Afinal estava. Num destes dias, na livraria do Saldanha Residence, em Lisboa, encontrei-o. Na semana passada, na sede da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal, em Lisboa, também vi que estão lá à venda todos os os livros com a chancela ou com o apoio científico da APDP. É o caso deste. A adaptação à nossa realidade ficou a cargo da dietista Ana Raimundo Costa, precisamente a minha nutricionista na associação, e de quem já aqui vos falei.

Mas o que tem, afinal, este livro de tão interessante e de tão diferente dos outros? É que não se limita a explicar a importância da contabilização do consumo de hidratos de carbono de um diabético. Nem se alonga em explicações técnicas. Não, este livro não explica, mostra. De uma forma muito clara. O livro tem mais de 900 fotografias a cores de alimentos e bebidas, com até seis quantidades diferentes de cada alimento. 

A ideia é simples. Por cada secção (o livro está dividido por 14 categorias de alimentos codificados por cores), fazemos a pergunta interiormente: "ora bem, quanto é que eu, em média, como de arroz de pato? Será este bocadinho, será este prato assim, ou será esta pratalhada?" Não vale a pena enganarmo-nos. Também ninguém precisa de saber: escusam de fazer esse exercício ao lado dos colegas de trabalho e amigos (embora, acreditem, se o fizerem pode ser bem divertido...). Façam-no sozinhos em casa, no quarto ou na sala. O que importa é que assimilem o que comem, de facto, e o quanto é que isso representa em hidratos de carbono e em calorias. E, depois, mais importante do que isso, percebam que, se reduzirem a dose, consomem muito menos calorias (portanto, perdem peso) e muito menos hidratos (logo, reduzem a quantidade de açúcar no sangue). Viverão melhor, enfim.

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Vamos lá a mais exemplos. Quem não gosta de um bom prato de Esparguete à Bolonhesa? Então, os miúdos adoram. É rápido de fazer e é gostoso. Olhem lá para a imagem e sejam sinceros comigo: normalmente, como fica o vosso prato quando se servem de uma Bolonhesa? Como na primeira imagem (60 gramas de esparguete e 90 de bolonhesa)? Hummm, não acredito. Se comerem pouquito, talvez o segundo prato. Se estiverem com fomeca, o terceiro vai na boa. Quem adota aquela máxima "Eu treino, eu posso", vai logo para a linha de baixo. Ou aqueles pais e avós que servem os filhos/netos ("oh, coitadinho, ele está a crescer. Come filho, come!"). Repito: não estou a censurar ninguém. Eu não cheguei ao meu peso e ao corpo que tenho a beber água do Luso. Estamos entendidos? Já perceberam que por cada foto têm o valor equivalente de calorias e de hidratos de carbono, o que faz este guia excelente não só para diabéticos, mas também para aqueles que, não sendo, são obesos, pré-obesos ou para lá caminham.

E Cozido à Portuguesa, quem não gosta? São boas as doses que vêm nos restaurantes, não são? E ainda há aquela frase fatal, que se repete nos sítios mais familiares: "Senhor Antunes, arranje-me aí mais dois bocadinhos de farinheira e de carne de porco, se faz favor!". Já repararam que nunca ninguém pede ao senhor Antunes mais um bocadinho de cenoura cozida e de nabo?

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Olhem a linha do meio: parece um prato razoável. Está cheio mas não tem muito de tudo: tem um bocado de couves, um bocado de arroz, meia dúzia de feijões, uma rodela de vários enchidos e carne. A quarta fotografia deve corresponder à média de meia dose de Cozido à Portuguesa num normal restaurante português. Aquele quarto prazo corresponde quase 50 gramas de hidratos de carbono e 668 calorias. Se a dose for maior, aquela pratalhada pode chegar às 72 gramas de hidratos de carbono (que dão energia mas que se transformam em glicose na corrente sanguínea) e ultrapassar as 1000 calorias. "Ai que horror, mas eu não como tanto!". Sim, já sei que estão a pensar nisso. "Só uma besta come aquilo tudo", acrescentam envergonhadamente. Não. Basta que comam uma primeira dose e depois voltem a servir-se "de mais um bocadinho para acamar".

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E para sobremesa, vai uma Mousse de chocolate? Vai, pois. A diferença entre uma pequena e uma grande dose vai na distância entre 75 e 450 calorias ou entre 10 gramas e 60 gramas de carbohidratos.

O livro tem muitos exemplos para descobrir: desde o leite ao vinho (sabiam que há uma enorme diferença entre o vinho branco e o tinto e que este último quase não tem hidratos de carbono? Eu não sabia!), dos bolos à fruta, dos cereais de pequeno almoço aos pães de leite e croissants. É um guia para ir folheando e abrindo a boca de espanto a cada página, acreditem. 

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Para terminar, um clássico: sim, comer um pastel de nata é melhor do que um queque. É um clássico porque já muita gente sabe disso, tantas vezes o exemplo foi repetido, mas contraria aquilo que o nosso senso comum responderia. Um pastel de nata? Que tem creme e massa folhada? Um queque, que é um bolo seco e sem creme? Mas que tem montes de manteiga. O exemplo também está no livro. O pastel tem 34 gramas de hidratos de carbono, enquanto o queque, que tem quase mais cem calorias, fornece 40 gramas de hidratos.

Pronto, não vos maço mais. Boa leitura!

 

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Tenho andando mais afastado nos últimos dias, mas não levem a mal. Estou com o "síndroma do regresso às aulas". Depois das férias, o retorno à normalidade é sempre difícil: os problemas estão exatamente onde estavam antes das férias, as reuniões estão de volta, as contas para pagar, os projetos para tocar para a frente, as decisões para tomar e, mais importante do que tudo isso, depois de duas semanas e meia de calções e T Shirt, voltam as calças e as camisas. Não é fácil.

Desde que regressei do Algarve, ainda não fui ao ginásio. O André Guardado, meu PT, mandou-me uma SMS a lembrar-me que existe e perante a minha resposta disse-me: "Mantém-te em atividade". Estou a tentar. Fiz caminhada no fim-de-semana mas não consegui repetir a dose ontem e hoje. Trabalho oblige

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O que continuo sem descurar é a alimentação. Mantém-se tudo igual, e continuo a perder volume e peso. No domingo precisei de comprar duas T Shirts novas para o treino. As antigas estavam muito largas. Do 4XL que vestia, passei agora para o 2XL. Os calções/bermudas que comprei em julho (quatro números abaixo) já vão ter de ser apertados. E hoje mesmo fiz mais dois furos no cinto.

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 Quanto a açúcar, vamos bem obrigado! Terminei no domingo a primeira rodada do Bydureon, o medicamento auto-injetável que me foi receitado há um mês na Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal. Ao fim de quatro injeções, continuo a não gostar da sensação, mas é perfeitamente suportável. Fácil de administrar e o desconforto é rápido. Sexta feira volto à APDP para fazer um balanço da coisa: regressarei com menos seis quilos do que há um mês e com a glicemia, quer em jejum quer a pós-prandial (depois das refeições), a variar entre os 100 e os 120 mg de açúcar por decilitro de sangue. Excelente! O medicamento é para continuar.

Pronto, por hoje fico-me por aqui. Foi uma espécie de visita de médico: entrada por saída. Antes do jantar ainda tenho uma reunião. Já tocaram à campainha...

 

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 Ui, tenho tanto para vos contar! Ontem, tive a minha primeira prova de fogo, 42 dias depois de me ter sido diagnosticada Diabetes Tipo 2. Foi o meu primeiro contacto com a equipa de médicos da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal que me vai seguir. Podia ter escolhido outra solução, mas desde a primeira hora, depois de algumas referências obtidas, decidi ser acompanhado pela equipa multidisciplinar da APDP. Para primeira amostra, e apesar de lá ter estado entre as 12h45 e as 17h45, fiquei satisfeito.

E porquê prova de fogo? Porque, apesar de todo o rigor que tenho tido, apesar da reeducação alimentar que estou a fazer, apesar do exercício físico que iniciei há um mês e tal, e apesar dos sinais (interiores e exteriores), agora o veredicto era a sério: faria exames, análises e seria visto por profissionais de saúde. Reforço aquilo que sempre disse aqui: não sou médico. Tudo o que aqui escrevo, e que tem resultado em mim, não deve ser tido como exemplo para todos. Cada caso é um caso e cada um deve procurar a ajuda médica necessária para melhorar a sua qualidadade de vida, como eu tenho feito, com resultados visíveis.

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Desde que iniciei esta conjugação medicamentos+alimentação+exercício físico, perdi 12 quilos, aumentei massa muscular (que também pesa), baixei quatro números de calças (o que significa que o meu perímetro abdominal reduziu, o que é o melhor sinal de todos, porque a gordura localizada nesta zona é a mais perigosa de todas) e um número de camisas.

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Nota: A evolução das fotos que aqui publico não é de apenas um mês e meio. São fotos dos últimos dois anos. Acho que se nota bem a diferença...  

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Voltando ao dia de ontem, de manhã fui ao ginásio para uma aula com PT. Ao chegar ao Virgin Active, lembrei-me que um dos exames que faria à tarde seria um eletrocardiograma. Seria compatível com a prática de exercício físico de manhã? Como não sabia, liguei ao meu médico de família. Que sim, que era compatível, que até era melhor, porque quando fizesse o exame à tarde, veriam um coração que tinha feito esforço de manhã.

Mandaram-me estar na APDP às 12h45 já almoçado. E eu, que sou um menino cumpridor, lá estava. Esperei uns minutos, fui à triagem para pesagem e medições. Meia hora depois estava a recolher as minhas colheitas de sangue e urina para análise. No imediato, a técnica disse-me que estava com 158 mg de glicose por decilitro de sangue. "É um valor muito simpático, uma vez que estamos após o almoço", disse-me. Simpático?, pensei. De facto, dez minutos antes de entrar no laboratório, enquanto esperava, ouvi a mesma profissional a dizer a uma senhora de cerca de 60 anos: "'Sôdona' Etelvina, estamos com os valores um bocadinho elevados. Vai ficar aqui a descansar com insulina. Neste momento tem 358 de açúcar". A 'sôdona' Etelvina passou para a sala ao lado e eu entrei. Apesar de me ter dito que eram um valor "simpático", os meus 158 mg/dl não me pareciam nada simpáticos. Muito acima do normal, que têm sido nas últimas semanas, duas horas depois do almoço (considerado o pico da glicose) de 125 ou 130. Fui à casa de banho e medi com o meu glicómetro: 124. Voltei ao laboratório e mostrei os valores à técnica. Nada como perceber as coisas como elas são: "Fez bem em fazer isso. O valor que acabou de obter foi de uma colheita capilar, com o teste de sangue no dedo. Eu fiz aproveitando o sangue que lhe retirei da veia. São valores mais fidedignos e há sempre uma ligeira variação. Não fique preopcupado. O seu valor é absolutamente normal". Agradeci, saí e fiquei mais descansado. 

Seguiu-se o exame aos olhos, para despistar a Retinopatia Diabética, ou seja, complicações na visão decorrentes da presença exagerada de açúcar na corrente sanguínea (os resultados só se saberão mais tarde), e, logo a seguir, o electrocardiograma. Demorou dois minutos. No final, a técnica olhou para ele e disse: "o coração de um jovem". Lembrei-me dos meus quase 42 anos e sorri. 

Depois dos exames, as consultas. Primeiro, claro, a espera. A sala de espera tinha agora bem mais gente. Na sua maioria gente mais velha do que eu, embora houvesse dois ou três jovens. Na sua maioria, gente com excesso de peso como eu, embora menos obesos do que eu. Ouvi muitas conversas durante aquelas horas que ali estive, mas disso ocupar-me-ei num outro post.

Ao fim de 40 minutos, lá fui chamado ao consultório. A minha diabetologista, Dra. Ana Filipa Lopes, apresentou-se, estendeu-me a mão e deu-me as boas vindas. Fez perguntas e eu respondi. Elogiou o trabalho feito nas últimas semanas e falou-me do valor da única análise que já estava disponível, o da Hemoglobina Glicada (HbA1c). É uma análise extremamente útil na avaliação da glicemia por períodos prolongados. A hemoglobina glicada serve para monitorizar o controlo da Diabetes de uma forma mais contínua, pois permite analisar a glicemia média de 90 dias. Um valor aceitável é de 7%, um valor ótimo é 6,5%. 

O meu médico de família, António Calaim, já me tinha alertado para não me assustar. O meu "caminho" tem ainda só um mês e meio, portanto, o outro mês e meio anterior, de açúcares altos e descontrolados, fariam seguramente o valor da HbA1c subir muito acima do desejável. "Pode ser que tenhas 10 ou 11%, não nos vamos assustar", alertara-me o médico. O resultado foi o esperado, embora o valor mais baixo do expectado. "Tem 9,1% de hemoglobina glicada, que é um valor alto, mas acredito que mantendo o que tem estado a fazer, na próxima análise que fizer, já vamos ter resultados desejáveis".

Quanto à medicação, manteve-me tudo, mas mudou-me o antidiabético oral. Continua a ser metformina diária, mas receitou-me ainda Bydureon, "uma medicamento de ação prolongada, que se toma apenas se toma uma vez por semana e que combina o combate à diabetes mas, ao mesmo tempo, reforça a perda de peso, que é o que o Nuno continua a precisar", explicou-me a endocrinologista. "Tem uma contrariedade apenas: não foi possível desenvolver este medicamento por via oral, é injetável com uma caneta", explicou-me. Tremi um pouco, confesso. "No fundo, é como a insulina, mas isto não é insulina", acrescentou. Continuei apreensivo. Nunca gostei de agulhas e a perspetiva de fazer a administração numa prega da minha própria barriga (vulgo pneu) não me agrada. "Não há outra alternativa?", perguntei. Ela sorriu. "Haver, há. É continuar com a medicação que está a fazer, que está a ter efeito no controlo da diabetes, mas eu acho que vai ter um ganho substancial com esta solução que lhe proponho, porque vai ajudá-lo ainda mais a perder peso. Mas só faz se quiser. Se não quiser, mantemos tudo como está". Pensei cinco segundos em silêncio. E resolvi aceitar. Também há um mês e meio a ideia de me picar três vezes ao dia para controlar a glicemia me soava a estranho e afinal... não custa nada.

Também aqui, a médica mudou a prática: "Ah, e não quero que continue a picar-se três vezes ao dia. A sua glicemia já não o justifica. Basta que controle dia sim, dia não, ou depois de alguma refeição especial para perceber que impacto é que ela teve em si. Mas não faz sentido continuar a medir a sua gicemia com tanta frequência". E pronto, estava terminada a consulta.

De volta à sala de espera, agora à pinha. Mais 20 minutos, e eis que sou chamado pela Dra. Ana Raimundo Costa, que passou a ser a minha nutricionista. A consulta demorou mais de 40 minutos. Por minha culpa. Fartei-me de falar, expliquei-lhe as mudanças introduzidas na minha alimentação, enumerei as refeições, falei-lhe das equivalências, mostrei-lhe fotografias, falei-lhe do blogue. A empatia foi rápida e recíproca. "Não lhe vou passar nenhum plano alimentar, Nuno. Basta continuar a fazer o que está a fazer, está a ir muito bem. Parabéns!".

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 De repente, chegou o email com os resultados das análises. "Uau!", disse primeiro. Depois, imprimiu as folhas para me mostrar. À minha frente tinha as análises feitas a 19 de junho e, agora, estas de 2 de agosto. Olhei para umas e para outras. Deixem-me confessar: vieram-me as lágrimas aos olhos. Não sei bem porquê. Ou, melhor, sei. Sei perfeitamente. Porque verifiquei que o caminho que comecei está a dar resultados científicos. "Nuno, parabéns! Colesterol a níveis normais, reduziu para metade. Triglicéridos excelentes. São valores muito importantes porque têm a ver com o metabolismo lípido, aquilo que afeta o coração e que provoca as complicações cardíacas", explicou.

Há 40 e tal dias, o meu colesterol era de 270 mg/dl. Caiu para 135, 1 (o valor de referência é abaixo de 200). Os triglicéridos, que já estavam bem em junho, com 121 mg/dl, baixaram para 110, 2 (o valor de referência é abaixo dos 150). E o açúcar, que tinha sido 329 no dia em que tudo começou, estava ontem, depois de almoço, nos 158 mg/dl. 

Despedi-me com dois beijinhos da nutricionista. Prometeu-me que vinha cá ler o blogue. E veio, percebi meia hora mais tarde. 

O dia na APDP ainda não tinha terminado. Numa última consulta, foi-me explicado como usar a tal caneta do tal medicamento que vou passar a autoadministrar uma vez por semana. O ideal é que seja sempre no mesmo dia da semana e sensivelmente à mesma hora. Escolhi o domingo ao pequeno almoço. Assim, faço em casa, sem stresses. Acho que à primeira vai custar um bocadinho, mas que é tudo uma questão de hábito. Se me vai fazer bem, então vamos lá sem medos. Volto à Associação em setembro. E, espero, com novas razões para sair de lá a rir.

 

 

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Vigio, logo existo! E vejam como resulta.

por Nuno Azinheira, em 16.07.16

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Ninguém faz nada por nós, acreditem. É claro que não estamos sozinhos no mundo e não dependemos só de nós, mas o que eu quero dizer com esta frase é que o mais importante está em nós, na nossa força de vontade, na nossa capacidade de perceber que mudar o estilo de vida é essencial para ter uma saúde melhor. É preciso ser responsável. E é essa responsabilidade que nos conduz a resultados. Uma das principais responsabilidades de um diabético é a autovigilância. Ignorar este facto é fingir que não se tem o problema. Um diabético não pode ter uma vaga ideia de que tem o açúcar alto. Um diabético tem de saber realmente qual a quantidade de açúcar que tem no sangue (aqui ficam os valores de referência - um quadro retirado do site da APDP). 

Um destes dias conheci alguém diabético tipo 2 que não faz a medição: a célebre "picada de dedo". Nunca fez. Perguntei-lhe como controla os valores da sua glicemia. Não controla. Toma os antidabéticos orais, mas não mede a glicemia. Não sou médico (repito isto vezes sem conta para que não restem dúvidas. Os conselhos que dou, as coisas de que falo resultam da minha própria experiência, do que leio e do que converso com o meu médico, e adequam-se a mim), mas parece-me que controlar a glicemia é algo vital para um diabético. Só assim é possível controlar o caminho que estamos a fazer: se estamos a correr corretamente ou se há ajustes a fazer, se os medicamentos estão a surtir efeito, e perceber o impacto do exercício físico no nosso corpo.

Tenho, como já perceberam, levado muito a sério essa autovigilância. Como aqui já escrevei anteriormente, meço a glicemia três vezes ao dia: jejum, meio da tarde e à noite. E praticamente um mês decorrido sobre a minha crise hiperglicémica que espoletou tudo isto, a evolução dos meus valores é altamente favorável. Os gráficos que vos mostro são aqui são retirados da App que uso diariamente que monotorizar os resultados. 

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Se bem se lembram, no dia 19 de junho (domingo), quando fui ao hospital, a análise deu 322 miligramas de glicose por decilitro de sangue. Comecei a medicação no dia seguinte e a medição na terça-feira. A minha primeira medição, nesse dia, registou 269 mg/dl. Vejam a evolução.

A zona sombreada em cada gráfico (correspondente a cada semana) é a margem média considerada de referência para um diabético (entre os 70 mg/dl e os 160 mg/dl). Vejam como na primeira semana, os valores estavam todos acima dessa margem. E que na segunda semana havia muitos acima e alguns já dentro da margem. Na terceira semana a maior parte estava dentro da margem de referência, mas alguns ainda fora. Finalmente, nesta quarta semana, só há dois valores acima da margem (foram registados no dia da Final do Europeu, domingo, dia de festança e nervos à flor da pele). Nesta última semana, a minha glicemia média está nos 115/120!

Não pensem que já estou a festejar. Não. Mas comemoro cada dia. Consciente que é apenas mais um dia. Mas orgulhoso de cada conquista que faço. Continuo seriamente a alimentar-me bem (acreditem, ainda não pequei com uma empada ou um rissol...) e a fazer exercício físico. Porque vejo os resultados e isso é o maior incentivo de todos. Esse é o combustível que me alimenta todos os dias. E é com ele que vou seguir a minha viagem. Tem sido bom partilhá-la convosco e sentir o vosso apoio aqui e nas redes sociais. Obrigado.

 

 

 

 

 

 

 

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Morra a avestruz, morra! Pim!

por Nuno Azinheira, em 09.07.16

Não sou médico, não tenho aspirações a tal, nem sequer pretendo aqui dar conselhos clínicos. O que aqui vou escrevendo neste blogue é o resultado do que vou aprendendo com os médicos e com a muita coisa que entretanto comecei a ler. E quando falo em leituras, esqueçam a Wikipedia, ou aqueles sites manhosos tipo www.tudooquequerosabersobretodasascoisasdomundo.com.br.

Já aqui vos falei que o meu processo de interiorização da doença foi rápido. E que não dramatizei, apesar de a ter valorizado. Não entrei em negação. No próprio dia, entrei pela primeira vez no site da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (www.apdp.pt). O site não é particularmente bonito, mas é muito útil. Fala da associação, das suas valências, dos seus serviços, dos seus protocolos, das suas especialidades, e fala sobretudo para os diabéticos e para quem com eles convive (num dos próximos dias aqui falarei da importância que os que nos rodeiam têm para o nosso bem-estar e como deve ser o seu comportamento perante o diabético).

No dia seguinte, passei pela Fnac e procurei livros técnicos sobre Diabetes. Por incrível que pareça, não há muita coisa. Ou o que há editado não está disponível (o problema não é exclusivo da Fnac, já experimentei a Bertrand e foi a mesma coisa). Na área de Saúde e Bem Estar, há 13 546 livros sobre dietas (as dos famosos, as dos sumos, a paleo, a 1,2,3, a low carb, a dos sumos detox, a dos 15 dias, a anti-cancro e uma imensidão de capas sugestivas e títulos que nos fazem logo sentir melhor). À pergunta "qual é a área onde estão os livros sobre Diabetes?", a pergunta é invariavelmente a mesma. "Bem, não temos propriamente uma área. Eles estão por aí, é uma questão de procurar". Esta nem é das piores respostas. Numa livraria conceituada no centro de Lisboa, responderam-me: "Já procurou ali nos livros de saúde e bem estar?" Perante a estupidez da pergunta, respondi: "Ai que disparate, não me tinha ocorrido. Estava à procura na zona das biografias e na música clássica. Peço-lhe desculpa".

É preciso ter calma. O caminho faz-se caminhando a ainda agora estamos no início. De 19 de junho para cá, já comprei sete livros de Diabetes. Tenho lido muito. Percebendo reações, razões, equivalências, cuidados a ter. Em todos aprendo sempre um bocadinho. Os primeiros dois que comprei foiram estes editados em conjunto pela Lidel e pela própria APDP. Úteis, muito práticos e com uma linguagem claramente acessível para quem quiser interessar-se pelo assunto. Acreditem, o pior é fazer como a avestruz...

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