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Olá a todos. É verdade que tenho andado arredio do blogue. Não é falta de interesse, nem a motivação a decrescer, fiquem descansados. Como pode a motivação decrescer se continuo a sentir os efeitos visíveis do meu novo estilo de vida? Em seis meses (4 meses e meio de diabético oficial + 1 mês e meio de ginásio antes da descoberta), os números continuam a crescer: 27 quilos perdidos. A glicemia mantém-se controlada em valores que oscilam entre os 85 e os 120 (perfeito!), a tensão arterial não ultrapassa os 13/8, a resistência ao exercício físico aumenta. Obviamente, sinto-me mutio bem do ponto de vista de saúde.
O último mês, porém, tem sido muito exigente do ponto de vista de trabalho, com várias solicitações profissionais, com o início do ano escolar, com novos cursos e mais aulas para dar, com mais trabalho jornalístico para coordenar, e com reuniões importantes para o futuro da Palavras Ditas. Por isso, está justificada a minha ausência por aqui. Não me levem a mal. De qualquer forma, tenho tentado alimentar quase diariamente a página do Facebook do Tipo 2 e também o meu Instagram está cheio de referências ao meu "novo eu".
Nestes últimos tempos tenho encontrado muita gente que não me via há meses. E os comentários são sempre os mesmos. Aos elogios, porque 27 quilos são 27 quilos e notam-se na roupa, seguem-se normamente as mesmas perguntas: "Tem custado muito?" "Cortaste com o quê?", "O que é que não podes comer?". As respostas são sempre as mesmas "Nada" e "Tudo". É verdade que não me privo de nada, embora evidentemente tenha deixado de comer as quantidades que comia a cada refeição e tenha interrompido o ciclo diário e vicioso de alimentos processados e fritos que me levaram ao ponto a que levaram. Mas quando digo que não me privo, é mesmo verdade. Ainda ontem, domingo, almocei num restaurante com o meu irmão mais novo, cunhada e sobrinhos e comi pão e um pouco de manteiga, e partilhámos uma picanha e um lombinho de porco. Tudo no churrasco, é certo, mas carnes vermelhas. E havia batatas fritas e esparregado. No final da semana passada, por exemplo, tinha comido numa pizzaria. Portanto, para acabar de vez com esse mito que só se pode perder peso "fechando a boca", é preciso dizer que é fundamental uma reeducação alimentar, mas não uma privação que, a médio prazo, só vai conduzir a vontades incontroláveis.
Estes seis meses de reeducação alimentar, aliados ao exercício físico e, naturalmente, a medicação para a diabetes têm sido essenciais. Ontem, descobri uma aplicação, o Storyo, que faz vídeos giros e simples com fotos escolhidas por nós. Aqui está o filme alimentar dos meus últimos seis meses. E podem ver a variedade e o ar apetitoso de cada coisa. Não como todos os dias peixe cozido ou peixe grelhado, como veem. É verdade que não estão cá os dois ou três rissóis que comi neste período, nem o croquete de espinafres que comi, há uma semana e meia, na Padaria Portuguesa, para matar saudades. Mas não me privei deles. Eles estão cá no meu organismo e foram bem recebidos, sem alteração dos valores vitais que agora me orientam. Mas quando penso no que como agora e no que comia há seis meses, assaltam-me dois sentimentos contraditórios: "que bom que isto está a ser e a resultar!", por um lado, e "que estúpido que eu fui durante tantos anos!". Ontem, o tal meu irmão de que já aqui falei, elogiava o caminho que tenho feito. Ele é médico veterinário e, apesar das diferenças, estudou disciplinas centrais da medicina. Sempre que eu começava em dieta, ele dava-me força, mas sorria. Do género "pois, pois...". Ontem, no decorrer da conversa, e quando lhe falava dos 8 números de calças reduzidos, das T-shirts XXL que já uso para o ginásio (em vez das 5XL de há sete ou oito meses), das camisas quatro números abaixo e de tudo isto, perguntei-lhe diretamente: "Conta lá, nunca acredistaste que isto seria possível, pois não?". Ele sorriu e anuiu. "Era difícil acreditar. Se calhar, nem tu acreditavas".
É verdade. Mas eis a prova de que é possível. Sempre vos disse aqui que não quero ser um exemplo para ninguém. Mas também não quero desvalorizar esta caminhada que, orgulhosamente, tenho trilhado. E por isso, deixo-vos a pergunta em jeito de desafio: se eu estou a conseguir, por que raio não hão-de conseguir vocês? Certo? Essa é a pergunta que devem fazer a vocês próprios. E acreditem: por mais ajuda que tenham, é sempre em vocês que está a mudança. É sempre de vocês que deve partir a atitude. Força!
Tenho um desafio para vos fazer. A Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal promove todos os meses uma iniciativa chamada "Sábados Desportivos". Por estranho que possa parecer, decorre aos sábados! Este sábado, dia 15, é um desses dias. Decorre no Parque das Conchas, no Lumiar (a concentração é na entrada mais perto à saída do Metro, linha amarela), e, segundo me foi explicado, a atividade é monotorizada por um professor de Educação Física especializado na temática da Diabetes.
O Sábado Desportivo decorre entre as 10h00 e as 12h30 e a entrada é gratuita. O público é muito heterogéneo: gente magra, gente gorda, mais novos (já participaram crianças com dez anos), mais séniores (a APDP disse-me que há um senhor comm 78 anos que participa de vez em quando...). As duas horas e meia são compostas de caminhada e de exercícios ligeiros que o professor nos pedirá de acordo com as nossas capacidades.
Nunca participei em nenhuma destas atividades, mas acho muito meritório o trabalho clínico, social e de integração que a APDP faz. E, por isso, decidi participar na edição deste sábado. As explicações que me foram dadas por telefone chegaram para me convencer. E creio que podem convencer-vos a vocês também. Para os mais velhos: "não vai só malta nova!". Para os mais novos: "não vão só 'cotas'!". Para os magros: "não vão só gordinhos!". Para os gordinhos: "não vão ser os únicos barrigudos!".
Assim sendo, só há duas coisas que vos fará faltar: ou o trabalho, ou a inércia. Se estão a trabalhar, está justificado. Se é mesmo por inércia, toca a combatê-la, a tirar o rabinho da cama e vir experimentar pela primeira vez. Tem outro aliciante: ficam finanalmente a conhecer o Tipo 2.
Podem inscrever-se através do 213 816 112. É melhor para eles terem uma noção do número de pessoas que terá o grupo. Mas se quiserem aparecer por lá sem dizer nada também podem. Muito importante: não têm de ser diabéticos nem sócios da APDP. A iniciativa é aberta a sócios, não sócios, pacientes, acompanhantes, não diabéticos. Basta ter vontade em fazer qualquer coisa para sermos saudáveis.
Vá, tomem uma decisão! Façam exercício físico (é um dos eixos fundamentais dos resultados que já obtive em quatro meses: 22 quilos perdidos, 23 centímetros de perímetro abdominal perdidos, glicemia estabilizada nos valores normais, colesterol e triglicéridos impecáveis, tensão arterial controlada). Não se desculpem com o tempo: sim, vão estar nuvens, sim, pode haver umas pingas, mas não vai chover a potes. Não inventem desculpas. Vamos?
Já vos disse que vou lá estar? ;)
Bom domingo! Tenho andado um pouco arredado do blogue, porque a minha vida está um relativo caos. Com o arranque do ano letivo na ETIC (sou coordenador dos dois cursos de Jornalismo da escola), os meus dias têm sido cheios de reuniões com alunos, professores e direção. É natural, as aulas começam esta semana. Acresce a minha atividade corrente na Palavras Ditas, enquanto gestor, professor e jornalista, e dá para perceber que se o dia tivesse mais de 24 horas, ele estaria preenchido.
Não pensem, portanto, que vos abandonei. E, mais importante que isso, apesar de tudo, não temam que me abandonei. Não, o caminho que iniciei em abril no ginásio e em junho com a descoberta da Diabetes continua firme. Há passos sustentados dados em frente e que não voltam atrás. Não, desta vez, garanto, não voltam mesmo atrás. Por mim.
Vamos então ao resumo da matéria dada: há uma semana participei pela primeira vez na minha vida numa prova coletiva, a Mini Maratona de Lisboa. Foram 6,5 quilómetros de emoções (a primeira vez é sempre especial), mas do ponto de vista físico foi uma prova pouco exigente, até porque estou habituado a caminhar em média 10 quilómetros.
Na terça-feira recebi excelentes resultados na Associação Protectora de Diabéticos de Portugal: mais seis quilos perdidos e mais sete centímetros de perímetro abdominal deitados abaixo. No total, desde o arranque desta "Operação Saúde", já lá vão 22 cm na barriga e 23 quilos ao ar. É obra!
Na quarta-feira, aproveitando o feriado, bati o meu recorde pessoal de quilómetros percorridos: 17,8 km numa só caminhada. Saí de casa, percorri o bairro de Alcântara, cruzei a avenida de Ceuta, e segui pela Rua das Janelas Verdes, subi toda a Avenida Infante Santo (que não é fácil), atravessei o Jardim da Estrela, desci até ao Rato pela Álvares Cabral, subi às Amoreiras pela D. Pedro V (também ela uma avenida com uma inclinação bem acentuada), e depois rumei até ao Parque Eduardo VII. Do alto, contemplei a vista e desci: Marquês de Pombal, Avenida da Liberdade, Rossio, Rua do Ouro, Terreiro do Paço, Cais do Sodré e de novo Alcântara. Mais de três horas a caminhar. Foi um treino exigente, sobretudo nas subidas, mas muito estimulante. O dia não acabou ali. À tarde estive a ajudar na inauguração do novo hospital veterinário do meu irmão Diogo e da minha cunhada Susana, a Alma Veterinária. Ao fim do dia, a aplicação do telemóvel não permitia ilusões: 19,2 km percorridos. Um dia fantástico, que, no entanto, deixou marcas físicas intensas nos músculos, de que só ontem comecei a recuperar.
Curiosamente, enquanto escrevo estas linhas, recebo uma notificação no meu telemóvel de uma das aplicações que me ajuda no exercício físico. E o que diz a notificação? Que esta última semana foi a minha melhor de sempre no que toca a quilómetros percorridos. Este tipo de incentivos são fundamentais, sobretudo para alguém que, como eu, até há poucos meses, não andava a pé e fazia tudo de carro.
Nestes últimos dias de repouso físico, fui alertado por um amigo para um texto de um jovem estudante de jornalismo, que conheço pessoalmente, que é formando na Palavras Ditas (façam like na página de facebook, já agora!). O L. é aquilo a que se pode chamar um "gordinho": não é gordo no sentido de obeso, mas tem, de facto, uns quilos a mais. Nunca falei com ele sobre esse assunto (aliás, as nossas conversas, pouco frequentes, nas redes sociais limitam-se a assuntos da área do jornalismo e da formação profissional), nem sabia tão pouco que ele era leitor do Tipo 2.
O post que o L. escreveu no seu próprio perfil de Faceboook emocionou-me muito. Porque deu mais um sentido à decisão que tomei na minha vida e a que dei o nome de #escolherviver. É disso que se trata: entre morrer lentamente ou viver, eu escolhi viver. Quando confrontado com o texto do L., comentei-o, mandei-lhe uma mensagem e agradeci o gesto. Dei-lhe força para o início da sua batalha. E pedi-lhe autorização para falar dele aqui no blogue. Ele concedeu-ma.
E o que diz o texto?: "Sim, este sou eu. Com 23 anos a caminho dos 24 e com uma idade metabólica de 38 anos, ou seja, o meu metabolismo porta-se como se eu tivesse esta idade. Este é o meu peso. E este é primeiro dia do resto da minha vida. Há 5 dias que não toco num doce ou guloseima. Para vocês não é nada, para mim é uma vitória (ainda que mínima). Muitos de vós não conhecem o jornalista Nuno Azinheira, e ele não sabe disto, mas foi ele que me inspirou através dos seus posts diários e da sua evolução. Ele usa uma hashtag chamada #escolherviver. Tem feito um percurso extraordinário na sua perda de peso e ganho de hábitos saudáveis. Ele não sabe. Mas foi ele que, sem o querer, me motivou com as publicações que tem feito. E fui eu que decidi que não quero ter diabetes (e tenho na família uma pessoa com essa doença, o que agrava), que não quero ter problemas de saúde por uma coisa que depende de mim. Única e exclusivamente de mim. E já tinha feito e desfeito dietas. Por estética, sempre. Já tinha ganhado e perdido peso. Desta vez, é a sério. Desta vez não é pela estética. Desta vez é pelo nosso bem mais precioso, a saúde. Posso vomitar o chão, como hoje tive vontade quando saí do ginásio porque há quase 3 anos que não me mexo, posso ficar com as pernas a tremer como se de um ataque se tratasse, como hoje, posso estar todo partido, mas o objetivo são os 70kg. Vai ser muito difícil, como eu nunca pensei que fosse (não consegui fazer mais que 8 abdominais), mas esta é a minha força - minha vontade. A minha motivação."
É um texto lindo, muito emocionante, porque escrito por um jovem consciente que não apanhou qualquer susto. Um jovem que decidiu mudar porque sim, porque quis, porque percebeu que pode ter uma vida melhor. É um texto lindo e emocionante porque assume que encontrou no meu exemplo uma força para desencadear a sua força. E isso toca-me muito, naturalmente. Tenho uma amiga de Facebook, também ela jovem, também ela estudante de jornalismo, que tem peso a mais. Há duas semanas disse-me, em jeito de questão, se poderia começar a fazer umas caminhadas comigo. Disse-lhe que sim, claro.
Quando aqui cheguei à blogosfera, disse ao que vinha. Que não me queria esconder, que queria assumir publicamente o meu combate contra a Diabetes Tipo 2. Que este blogue seria o meu compromisso público, a minha força de partilha, e que se ele ajudasse outras pessoas em igual situação, me sentiria muito feliz. Hoje sinto-me muito feliz com esta dimensão da minha vida. O que já perdi em peso, em açúcar, em colesterol elevado, em tensão arterial desequilibrada, ganhei em anos de vida. É verdade que, daqui a pouco, à saída de casa, me pode cair um piano em cima, mas esses imponderáveis eu não controlo. Esta parte da minha vida, sim, eu controlo. E seria uma estupidez que, podendo controlar, podendo ditar a saúde e a minha qualidade de vida, não aproveitasse essa faculdade racional que os seres humanos possuem.
Obrigado ao L. e a tantos outros que me têm incentivado de todas as maneiras. Obrigado aos que no Facebook, ao do Tipo 2 e ao meu pessoal, me dizem na brincadeira que hoje valho "metade" do que valia há seis meses. Obrigado aos que se espantam quando me veem. Obrigado às funcionárias das lojas onde me visto que já me trazem roupa oito números abaixo e que me dizem, com um sorriso, "mais uns meses e deixa de pertencer à secção "Tamanhos Grandes"". Obrigado aos que vibram com este meu sucesso. Obrigado aos que sorriem e me fazem likes. Todos fazem parte desta caminhada. Todos são responsáveis pelo facto de esta hastag do Instagram #escolherviver fazer cada vez mais sentido. Aos que ainda não acordaram, e são tantos!, está na hora. Acreditem: ninguem faz nada por nós. Nós (todos juntos) somos a nossa própria inspiração!
Não há como esconder, nem por que esconder: amanhã vai ser um dia muito importante para mim.
Embora não tenha nada de esotérico, sou um tipo muito ligado aos simbolismos. Os gestos, as datas, os momentos, as viagens, os gostos, os abraços, os acontecimentos.
Nesta fase da minha vida, mais ainda. E, portanto, para lá do 19 de junho, dia em que me foi diagnosticada a Diabetes Tipo 2, e que serviu para ativar a campainha que há dentro de nós, o dia de amanhã talvez seja o mais importante de todos. Amanhã, a esta hora, já estarei a percorrer a Ponte Vasco da Gama a pé, a fazer os primeiros quilómetros da Mini Maratona de Lisboa.
Serão apenas sete quilómetros, bem menos do que ando habitualmente nas minhas caminhadas, mas estes são sete quilómetros diferentes. Pela primeira vez, decidi inscrever-me numa prova coletiva. Pela primeira vez, vou partilhar esta experiência com outras pessoas. Pela primeira vez, aceitei o desafio que me coloquei a mim próprio. Pela primeira vez vou estar acompanhado por gente que partilha o mesmo gosto ou necessidade de exercício físico, mesmo sabendo que, no final, estarei sozinho. Mas sei que, quando cruzar a meta, sem ligar ao tempo (na mini maratona, aliás, nem haverá cronometragem oficial), vou sentir um imenso orgulho e uma grande felicidade. Porque é a primeira vez. Porque é especial. Porque é mais um passo na minha caminhada.
Os útimos dias têm sido difíceis. Mas se há uma coisa em que não cedi foi o meu compromisso comigo mesmo. Continuo focado nos objetivos, no processo de reeducação alimentar, tomando a medicação que me foi preescrita e fazendo exercício físico (ora caminhada, ora ginásio).
Amanhã vai ser então o grande dia. Se querem que vos diga, estou um pouco nervoso. É um bocadinho como o primeiro dia de aulas. Haviam de me ter visto, sexta-feira à hora do almoço, na sala Tejo do Pavilhão Atlântico, quando fui levantar o dorsal. Nunca tinha feito nada do género. E, portanto, achei que chegava lá, tinha um guichet e pronto, davam-me o dorsal. Mas não. Quem já é um pro nestas coisas deve estar a rir-se neste momento: lá estavam várias bancas com os dorsais, várias bancas com as T-Shirts e depois toda a sorte de marcas de desporto a venderem acessórios, roupa, calçado, seguros e mais uma imensidão de artigos relacionados com o desporto. Faz todo o sentido, mas para mim foi uma surpresa.
Amanhã tenho de estar na Gare do Oriente às oito da manhã. Há autocarros especiais que nos levam para o ponto de partida, na Ponte Vasco da Gama. Às 10h30, dá-se o tiro de arranque: primeiro partem os da meia maratona, a correr, focados nos seus objetivos de tempo. Depois, para trás, ficam os da Mini Maratona. A maior parte, já me disseram, também vai a correr, mas, garantem, não serei o único a caminhar. Mesmo que seja. Vou ao meu ritmo.
Já tenho tudo preparado. O meu primeiro Kitt de competição está a postos para me embalar. No final, não haverá prémios. Apenas um simbolismo. Mas é um simbolismo que me vai marcar para sempre, quando lá para o meio dia e picos chegar à meta. Não sei se receberei algum aplauso no final. Não sei se receberei um sorriso ou um abraço. Mas nesse momento, nesse exato momento, quero pensar em mim. Quero sentir-me um vencedor. Quero aplaudir-me a mim próprio e confortar-me no meu próprio abraço. Acho que mereço.
Fechem a boca. Sim, sou lisboeta e nunca tinha estado mais do que cinco minutos no Monsanto. Só de passagem e de carro. Conhecido como o pulmão verde de Lisboa, o Mosanto é um ponto de encontro sobretudo para quem tem filhos e para quem pratica exercício físico (sim, há outras atrações que o tornaram/tornam famoso, mas não me estava a referir a essas...). Acontece que eu não sou pai e portanto não conhecia os Parques do Alvito e da Serafina. Não me lembro de ter estado lá, apenas passado por lá. E como só há três meses comecei a mexer-me, o Monsanto não era um sítio óbvio para mim. Mesmo que esteja a cinco minutos de carro de minha casa. Já aqui disse que moro perto do LX Factory e, portanto, o Monsanto é um pulinho. Aliás, já vários amigos me tinham perguntado: "E no Monsanto, não treinas? Aquilo é porreiro". A minha resposta era sempre "Não, nunca experimentei". Até hoje. E, de facto, eles tinham razão. Aquilo é porreiro. O pior é lá chegar. É o diabo. :)
Apesar das mudanças que estou a operar na minha vida, eu estou longe de ser um atleta. E, portanto, subir de Alcântara ao Monsanto, através da Estrada do Alvito, é um desafio pesado. Faço o caminho com muita frequência de carro e até vos garanto que, lá de cima, somos capazes de ter uma das melhores vistas sobre o Rio Tejo.
O pior é lá chegar. Debaixo da ponte 25 de Abril, junto ao restaurante russo Tapadinha, começa um trilho pedestre em terra batida. Assustei-me logo ali. Mas o desafio estava lançado a mim próprio. Ainda não eram 9h30 e da manha e lá estava eu com o batimento cardíaco mais acelerado, calções e T Shirt preta, fones brancos na cabeça. A ladeira começava ali. Duvidei se arrancaria. Ou se deixava para outra altura, quando tivesse mais pedalada. Afinal, ainda só passaram três meses desde que comecei. Além disso, ontem, sábado, o André Guardado, meu PT no Virgin Active, tinha-me dado uma tareia. Conclusão: havia músculos no meu corpo. Isso. Havia, eu podia senti-los. Todos. Em todo o meu corpo. Nas coxas, na barrigas das pernas, na parte superior das pernas, nos ombros, nos peitorais, nos bíceps, nos tríceps (é impressionante a quantidade de nomes que eles arranjam...). Tudo estava dorido, mas não desisti. Um desafio é um desafio. Se me sentisse mal, tinha bom remédio: voltava para trás. A descer, dizem, todos os santos ajudam. E eu, mesmo não acreditando neles, tenho uma fezada que num momento de aflição, eles hão-de me valer. Não foi preciso.
Parei duas vezes pelo caminho, mas cheguei ao cume do meu primeiro Prémio da Montanha. De primeira categoria. Tive pena de não levar uma bandeira, como Neil Amstrong fez em 1969, quando, ao pisar a Lua, deixou lá a bandeira dos Estados Unidos da América. Eu podia ter levado uma bandeira: "O Tipo 2 esteve aqui!". Mas não levei. Acredito, porém, que pode não ter sido "um grande passo para a Humanidade", mas foi seguramente, "um pequeno passo" para mim.
É que até aqui eu tinha apenas feito caminhadas relativamente planas, sem grandes declives, portanto, em nenhum momento tinha chegado cansado, ou tinha sentido necessidade de abrandar o ritmo, ou mesmo de parar. Desta vez, foi diferente. E aumentar as cargas é bom, colocarmo-nos à prova também. E a sensação de superar os os obstáculos é excelente.
Confirma-se. A vista lá de cima é fantástica. Eu vejo-a quase todos os dias, quando vou para casa, mas a pé teve outro significado. Depois, continuei por ali acima até chegar ao Parque do Alvito. Àquela hora, já havia muitos pais com as suas crianças a passear e a divertir-se.
Achei o parque particularmente bem tratado, bonito, convidativo. Continuei ladeira acima, e comecei a cruzar-me com gente que caminhava, que corria, que andava de bicicleta. Pais a andar e flhos de triciclo, famílias completas, que passeavam os seus cães. Tudo era novo para mim. "Venho aqui todos os domingos com ele", disse-me Lara, segundos depois de eu ter ajudado o filho, que não teria mais de 4 anos, a levantar-se de uma miniqueda da sua minibicicleta com rodas atrás. A Alameda Keil do Amaral, que desemboca num anfiteatro natural (onde há muitos anos, duas décadas talvez, assisti a um concerto dos Madredeus), hoje, aparentemente abandonado, é um sítio familiar.
E senti-me bem nessa caminhada, agora já em terra firme e inclinação quase nula. Era já o momento de descompressão, apesar de ainda me faltar mais de metade do percurso que tinha pensado para regressar a casa.
Fi-lo pela Ajuda, descendo a íngreme Calçada, que voltou a mostrar-me que os músculos das minhas pernas estavam vivos. No final, já em Belém, fiz o caminho plano até casa, cruzando os 15 km de caminhada, contente e orgulhoso com o esforço feito.
Amanhã, segunda-feira, passam três meses desde que me foi diagnosticada Diabetes. O que eu andei para aqui chegar.
Viver numa cidade como Lisboa tem as suas vantagens. Quanto a mim, tem todas as vantagens, porque adoro viver cá. Com todos os seus defeitos. Valorizo mais tudo o resto: a proximidade de tudo, a luz, o Tejo, os turistas, a oferta que temos à nossa disposição. Sim, há algum trânsito? Há. Sim, é difícil estacionar? Por vezes. Sim, há obras por todo o lado? É verdade, elas têm de ser feitas.
Para quem, como eu, só percorria a cidade de automóvel, ela ganhou um encanto especial nos últimos dois meses e meio. Acreditem, eu que "vivo" esta cidade há 25 anos, desde que vim para cá estudar e a conduzir pela capital, tenho descoberto novos recantos, novas ruas, novos prédios, novas pessoas. As pessoas (os seus sorrisos, as suas caretas, os seus ares apressados, os seus rostos cansados, os seus viveres infelizes, as suas alegrias...) é o que mais me interessa na vida. E desde que comecei a caminhar a pé, de mochila às costas, ganhei uma visão diferente da minha cidade.
Como ontem vos disse, esta primeira semana de trabalho está a ser difícil, complicando a conciliação com o exercício físico, tão fundamental para a minha batalha contra a diabetes e pela perda de peso. Ainda não fui ao ginásio, não tenho conseguido caminhar de manhã (tenho saudades de o fazer junto ao rio...) nem ao fim da tarde. Mas, pelo menos, estes meus novos hábitos alteraram estruturalmente algo em mim. Hoje, tive três reuniões entre a hora do almoço e as 18h00. A primeira no Saldanha, a segunda na Estefânia, junto à Almirante Reis, e a terceira na Avenida da Liberdade. Em vez de fazer o que faria habitualmente, que era pegar no carro, estacionado em frente ao meu escritório na Avenida António Augusto de Aguiar, coloquei a mochila às costas, os fones na cabeça e lá fui a pé. Fui parando, fui olhando, entrei nas livrarias, comprei dois livros (hei-de vos falar deles aqui...), desci, subi e quando regressei ao escritório, só para fazer o balanço do dia com a minha equipa, tinha andado 5,6 quilómetros.
Não é o mesmo que a caminhada de manhã, dir-me-ão. É verdade. Não fui de calções, nem de T Shirt, nem de ténis. Fui com a minha roupa de trabalho, mas este hábito de andar a pé tornou-se algo de que já não prescindo. É um hábito bom. E saudável. Que continua a dar os seus frutos. E que, acreditem em mim, é irreversível.
Foi melhor do que eu estava à espera. Pela primeira vez, fiz caminhada acompanhado. Até aqui era sempre sozinho, ao meu ritmo, com os phones da cabeça e a ouvir a minha música. Ontem, tal como já vos tinha contado aqui, fui acompanhado. A minha sobrinha Sofia e a minha cunhada Teresa juntaram-se a mim. Foram 12,3 Km.
O dia amanheceu cinzento e fresquinho. Um bálsamo depois da inclemência dos últimos calorosos dias. Com 22 graus em Lisboa, partimos na caminhada. A Sofia, que tem sido na ternura dos seus 15 anos uma poderosíssima motivação para mim (acho que nem ela sabe o quanto...), tinha um sorriso rasgado. É bom vê-la assim, bonita, alegre e feliz. É bom senti-la próxima, cada vez mais próxima. É bom quando me dá a mão e caminhamos lado a lado. É bom quando me me manda mensagens cheias de corações.
A caminhada durou duas horas e 20 minutos, mais coisa, menos coisa. Fomos ao nosso ritmo. Conversando tranquilamente, sem stresses. Começámos junto à 5 de Outubro, descemos a Avenida da República, a Fontes Pereira de Melo, torneámos o Marquês, seguimos Avenida da Liberdade abaixo, Rossio, Rua do Ouro e Terreiro do Paço. O caminho sempre a descer, tranquilo, a um passo sereno, sempre de água em punho para irmos hidratando. Quando chegámos junto ao rio, o ceu já tinha aberto, a temperatura subido.
O mais impressionante nestas caminhadas que tenho feito, para além do impacto benéfico que elas têm na minha saúde, na minha motivação e na vontade de fazer exercício, é a capacidade de ir redescobrindo a pé uma cidade que adoro e que quase só conheço de automóvel. É ir olhando as lojas, as pessoas que passam, como se movem, como interagem. E ver como, lisboetas e turistas, vivem a cidade e o rio.
Foi no Terreiro do Paço que gravámos este vídeo:
A segunda parte do percurso foi mais inclinada: subimos do Cais do Sodré para o Chiado, via Rua do Alecrim. Foi duro, confesso. Aí foi preciso parar e repor energias. O que vale é que a minha malinha ia apetrechada. Depois, continuámos, ladeira acima até ao Jardim de S. Pedro de Alcântara, onde está um dos mais bonitos miradouros de Lisboa.
O ritmo baixou ligeiramente, na inversa proporção do mercúrio do termómetro, que ia subindo. Atravessámos o Príncipe Real, elogiámos uma das mais bonitas zonas de Lisboa, seguimos até ao Rato, subimos de novo para a Rua Castilho, Parque Eduardo VII e finalmente o ponto de origem, na Avenida 5 de Outubro.
Não preciso dizer que adorei. Perguntar-se-ão: "como é que este tipo consegue? Deve estar de rastos". Sim, estou cansado. Aliás, só estou a escrever este post, quatro horas depois de ter terminado a atividade. Mas o cansaço, sobretudo nos pés, é muito menor do que a vontade de continuar.
Amanhã vamos voltar. A Sofia está pronta para me desafiar. Ainda não lhe disse, mas estou a pensar levá-la até à linha de Cascais, junto à praia. Cheira-me que até vamos dar um mergulho no mar. Será que vamos sozinhos ou teremos companhia de quem prometeu vir? Nunca fiando. Amanhã veremos...
Eu sou o tipo mais preguiçoso à face da terra. Ou pelo menos era, não sei bem. Preguiçoso não no sentido de trabalhar, isso não. Mas preguiçoso no sentido de me mexer, de praticar exercício físico. Já vos disse por aqui: se tivesse de andar 150 metros para ir a uma loja, levava o carro. As coisas mudaram, entretanto. Eu sabia que tinham de mudar: o exercício físico é fundamental para quem quer adotar um estilo de vida mais saudável e, em concreto no meu caso, é um dos pilares essenciais na luta contra a diabetes tipo 2 (os outros são a reeducação alimentar e os medicamentos). E, assim sendo, as coisas mudaram.
Sejamos, porém, claros. Se alguém há um mês e meio me dissesse que eu me tornaria um tipo razoavelmente viciado em exercício físico, eu desatava a rir. Mesmo! Que disparate, não era possível! Eu viciado em desporto? Só de sofá, e mesmo assim sou bastante seletivo. Pois, acontece nas melhores famílias. De repente, aquilo que começou por ser uma necessidade imperiosa, quase uma obrigação, é hoje um prazer. Há dias em que não me apetece? Há, confesso. Não estou ainda nessa fase "Ressaca, ressaca, preciso da minha dose diária!", mas, se ao fim de dois dias, não fizer uma caminhada, sinto falta. Eu não sei se isso se passa com a restante malta, mas eu gosto de fazer isto sozinho. Também ainda não fiz de outra forma, portanto não tenho termo de comparação. Coloco os meus phones, vou a ouvir a minha banda sonora (nem queiram saber a misturada que está lá...) e lá vou eu. Tenho desafiado alguns amigos a virem comigo. Gostava de experimentar ir acompanhado, mas sem a obrigação de grandes conversas. Tenho ideia que me cansarei mais e que terei mais dificuldade em controlar a respiração se for a conversar. Mas ando cá com umas ideias: quando este blogue fizer seis meses, lá para janeiro, sempre podíamos fazer a 1ª Caminhada Tipo 2. O que vos parece? Uma concentração de gente, diabética ou não, que se quisesse juntar à causa. A ideia parece-me catita. Adiante.
A minha aplicação de telemóvel diz-me que neste mês de atividade física já caminhei 76,21 quilómetros. Não foi de tuk-tuk, nem atrás de Pokémons. Não, foi mesmo a pé. Em dez caminhadas, é uma média de 7,6 quilómetros por cada passeata. Tem sido ótimo e no final, apesar do cansaço nos pés e pernas (sempre são (ainda) três dígitos de quilos em cima deles...), há uma sensação de conforto. De que estou a fazer a coisa certa. Fico mais bem disposto, até parece que respiro melhor. De caminhada para caminhada, canso-me menos, apesar de o ritmo ter vindo a intensificar-se. Mas é um cansaço físico, de pernas e pés, não um cansaço cardíaco ou de pulso acelerado. Também não corro, tudo tem o seu tempo. Essencial para quem pratica atividade física ou só agora começou a fazer estas coisas: levar sempre uma garrafa de água, para ir hidratando, e uns hidratos de carbono do absorção rápida para, em caso de hipoglicemia (quando os valores de glicose no sangue descem a níveis perigosos), fazer frente a complicações de maior.
Não cometam o mesmo disparate que eu, logo no primeiro dia de exercício: fui todo lampeiro sem água, nem dinheiro para comprar o que quer que fosse. Conclusão, tive de viver da caridade de uma menina simpática de uma pastelaria que me deu um copo de água com açúcar. A partir daí, levo sempre a minha dose necessária para qualquer eventualidade.
Escolho habitualmente percursos perto do mar ou do rio. São mais frescos, mais relaxantes e, por lá, normalmente, cruzamo-nos sempre com muita gente que está a fazer o mesmo: gordos, magros, novos, velhos, homens, mulheres, a andar, a correr. Gente que está ali para o mesmo que nós. Que passa por nós em sentido contrário e que, por vezes, esboça um sorriso. É, há uma certa dose de cumplicidade entre as pessoas que, não sendo desportistas, praticam exercício físico. É um sorriso discreto, como quem diz "Ainda bem que vieste. Isto faz bem, não faz?". Essa sensação é muito agradável, devo confessar-vos. E motiva-me a continuar o caminho.
A minha atividade física não se limita às caminhadas. Desde abril que estou inscrito no ginásio. Foi antes de descobrir que sou diabético. Sabia que tinha de perder peso e inscrevi-me. Não era garantia de nada. A história da minha vida é pagar fidelizações em ginásios e nunca colocar lá os pés. Desta vez, fui para o Virgin Active, ali na Fontes Pereira de Melo, a cinco minutos do meu local de trabalho. Gosto do espaço, da variedade de máquinas, da simpatia das pessoas. Em maio fraquejei e não pus lá os pés. Mas, depois, o meu personal trainer tanto insistiu, tanto SMS enviou, que eu acabei por ceder. E fiz bem. O André Guardado já me conhece as manhas: sabe as máquinas de que gosto, sabe os exercícios para os quais não tenho paciência e é um motivador. Dir-se-á que todos os PT são assim, treinados para ser assim: têm a lábia toda, mostram-se sempre preocupados com os seus clientes e são ótimos motivadores. É verdade, é a vida deles, e portanto, é natural que procuram desempenhar o seu trabalho de forma profissional. O André tem sido um amigo, que puxa por mim, que respeita os meus limites, e que me motiva. A cada caminhada, a cada foto que coloco no Facebook ou no Instagram, lá tenho um like dele. Isso dá-me vontade de continuar. O negócio é bom para todos: em primeiro lugar para mim, que pratico exercício físico; em segundo lugar, para o André, que é pago pelo acompanhamento personalizado que me dá e vê os resultados em mim. E em terceiro, lugar para o ginásio, que continua a receber a minha mensalidade.
A propósito: tinha aula de PT marcada para hoje. Estou cansado. Os músculos das pernas e dos braços estão a fazer-se sentir. Baldei-me. Há dias assim.
Bom dia. Resisti ao almoço de ontem! Lembram-se de vos ter dito que ia almoçar com alunos num afamado restaurante da Margem Sul e que temia pelos hidratos? Pois bem, passei com distinção. O restaurante é daqueles que pratica almoço-buffet. Por um dado valor, comemos tudo o que queremos. Um perigo para quem tem obrigações para com a vida saudável! :)
Primeira paragem: entradas. Numa mesa grande conviviam alegremente rissóis, chamuças, queijos e enchidos. Nem olhei. Virei-lhe as costas ostensivamente. Posso até ter sido considerado indelicado. Mas nesta fase do campeonato não quero mesmo nada com fritos. Virei-me no sentido contrário.
Um balcão refrigerado tinha salada de tomate com mozarella, salada de feijão frade com atum, salada russa, salada de grão com bacalhau, beterraba e cenoura. Ignorei os pratos grandes e fui buscar um prato pequeno.
"Só isso, Nuno?", perguntaram-me os meus amigos. Sim, só isso. Isto é só a entrada, respondi-lhes enquanto os rissois, chamuças e queijos saltavam alegremente nos pratos dos restantes comensais.
Depois, partimos em direção ao conduto. Cinco réchauds colocados lado a lado escondiam os pratos principais: caldeirada; lombo de porco assado; arroz e batata frita; churrasco misto e massa. Por esta ordem.
Por esta altura, eu já estava relativamente saciado. Não, não estava cheio, mas, confesso-vos, se tivesse ficado por ali, não teria ficado com fome. Ainda assim, obriguei-me a comer mais alguma proteína.
E, sobretudo, não queria parecer indelicado para os meus amigos, entusiasmados com a qualidade do restaurante para o qual me tinham convidado. Tinha tudo excelente aspecto, ambiente simpático e fresquinho e o que provei tinha boa qualidade.
Voltei a ir buscar um prato de sobremesa e compus a minha refeição. Uma fatia de carne assada, uma colher de sopa de arroz e cenoura crua. De novo a pergunta sacramental: "só isso? Não vai ficar com fome?". Não, não vou, respondi.E não fiquei, de facto.
A água acompanhou-nos na refeição. Na hora da sobremesa é que eu já não acompanhei ninguém. "Não quer vir? Olhe que é tudo delicioso!", desafiaram-me. Que não. Fiquei na mesa. Eles foram. A Mousse de chocolate e o pudim flan invadiram a mesa. Mas, querem que vos diga?, não me custou nada. Nada mesmo.
E fiquei mais uma vez satisfeito e orgulhoso. No dia em que deixar de estar orgulhoso por cada vitória destas é o dia em que a minha reeducação alimentar é plena. Para já, sinto que continuo a fazer progressos grandes. Pequeninos de cada vez, mas seguros.
Ao fim da tarde, fui ao médico: pressão arterial 13/7. Depois da consulta, aproveitei a minha presença em Sintra, para andar 4,6 km a pé.
Ao fim da noite, antes de me deitar, como faço sempre medi a minha glicemia. 119 miligramas de açucar por decilitro de sangue. Excelente!
Estão a ver este por do sol? Não, não é de revista, é real. Aconteceu ontem. E eu estava lá. Eu, o Bruno, a Sofia e a Teresa. No Meco. Chegava ao fim uma simpática tarde de praia (com direito a 3,5 Km de caminhada na areia molhada e tudo...). "E que tal se jantássemos por aqui?". Pensámos nós e mais umas dezenas. Mas tivemos sorte e arranjaram-nos uma mesa mesmo junto à areia. E foi dali que fomos vendo o sol baixar até desaparecer no infinito.
Já aqui vos disse que, apesar de todo o meu entusiasmo, força de vontade e empenhamento, não vou tornar-me um fundamentalista. Nem sempre vou comer o que de mais saudável possa existir. E não há mal nenhum nisso, desde que tenhamos consciência disso e, responsavelmente, vigiemos a glicemia e façamos as equivalências necessárias no dia seguinte.
Pois comi uma excelente sopa de peixe (a lista tinha sopa de legumes, talvez opção mais saudável, mas, com a quantidade de batata que as sopas da restauração têm, até nem estou seguro disso...), que me soube maravilhosamente, pois partilhámos os quatro uma dose de amêijoas à Bulhão Pato e uma de Mexilhões à Espanhola. Antes, a suprema facadinha. Na mesa estava um queijo de Azeitão. Daqueles amanteigados, maravilhosos. E um belo pão. Branco, convidativo. Primeiro, armei-me em esquisito, deixando-os comer e resistindo. Depois, bem, depois, pensei: "Quem nunca pecou que atire a primeira pedra". Pequei. Mas pequei tão bem. E tão feliz: duas fatias de pão e um bocadinho de queijo. A refeição, para mim, terminou com um descafeinado.
À noite, quando cheguei a casa e, antes de me deitar, medi a glicemia. Surpresa: 131! Valores absolutamente normais, dentro dos parâmetros de referência, para o final do dia, depois das refeições. É a prova de que um "desvario" de vez em quando não tem qualquer problema. Animem-se, isto não tem de ser um inferno. Não é mesmo. Não pode ser!
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