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Está na hora, não?

por Nuno Azinheira, em 02.11.16

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 Olá a todos. É verdade que tenho andado arredio do blogue. Não é falta de interesse, nem a motivação a decrescer, fiquem descansados. Como pode a motivação decrescer se continuo a sentir os efeitos visíveis do meu novo estilo de vida? Em seis meses (4 meses e meio de diabético oficial + 1 mês e meio de ginásio antes da descoberta), os números continuam a crescer: 27 quilos perdidos. A glicemia mantém-se controlada em valores que oscilam entre os 85 e os 120 (perfeito!), a tensão arterial não ultrapassa os 13/8, a resistência ao exercício físico aumenta. Obviamente, sinto-me mutio bem do ponto de vista de saúde.

O último mês, porém, tem sido muito exigente do ponto de vista de trabalho, com várias solicitações profissionais, com o início do ano escolar, com novos cursos e mais aulas para dar, com mais trabalho jornalístico para coordenar, e com reuniões importantes para o futuro da Palavras Ditas. Por isso, está justificada a minha ausência por aqui. Não me levem a mal. De qualquer forma, tenho tentado alimentar quase diariamente a página do Facebook do Tipo 2 e também o meu Instagram está cheio de referências ao meu "novo eu".

Nestes últimos tempos tenho encontrado muita gente que não me via há meses. E os comentários são sempre os mesmos. Aos elogios, porque 27 quilos são 27 quilos e notam-se na roupa, seguem-se normamente as mesmas perguntas: "Tem custado muito?" "Cortaste com o quê?", "O que é que não podes comer?". As respostas são sempre as mesmas "Nada" e "Tudo". É verdade que não me privo de nada, embora evidentemente tenha deixado de comer as quantidades que comia a cada refeição e tenha interrompido o ciclo diário e vicioso de alimentos processados e fritos que me levaram ao ponto a que levaram. Mas quando digo que não me privo, é mesmo verdade. Ainda ontem, domingo, almocei num restaurante com o meu irmão mais novo, cunhada e sobrinhos e comi pão e um pouco de manteiga, e partilhámos uma picanha e um lombinho de porco. Tudo no churrasco, é certo, mas carnes vermelhas. E havia batatas fritas e esparregado. No final da semana passada, por exemplo, tinha comido numa pizzaria. Portanto, para acabar de vez com esse mito que só se pode perder peso "fechando a boca", é preciso dizer que é fundamental uma reeducação alimentar, mas não uma privação que, a médio prazo, só vai conduzir a vontades incontroláveis.

Estes seis meses de reeducação alimentar, aliados ao exercício físico e, naturalmente, a medicação para a diabetes têm sido essenciais. Ontem, descobri uma aplicação, o Storyo, que faz vídeos giros e simples com fotos escolhidas por nós. Aqui está o filme alimentar dos meus últimos seis meses. E podem ver a variedade e o ar apetitoso de cada coisa. Não como todos os dias peixe cozido ou peixe grelhado, como veem. É verdade que não estão cá os dois ou três rissóis que comi neste período, nem o croquete de espinafres que comi, há uma semana e meia, na Padaria Portuguesa, para matar saudades. Mas não me privei deles. Eles estão cá no meu organismo e foram bem recebidos, sem alteração dos valores vitais que agora me orientam. Mas quando penso no que como agora e no que comia há seis meses, assaltam-me dois sentimentos contraditórios: "que bom que isto está a ser e a resultar!", por um lado, e "que estúpido que eu fui durante tantos anos!". Ontem, o tal meu irmão de que já aqui falei, elogiava o caminho que tenho feito. Ele é médico veterinário e, apesar das diferenças, estudou disciplinas centrais da medicina. Sempre que eu começava em dieta, ele dava-me força, mas sorria. Do género "pois, pois...". Ontem, no decorrer da conversa, e quando lhe falava dos 8 números de calças reduzidos, das T-shirts XXL que já uso para o ginásio (em vez das 5XL de há sete ou oito meses), das camisas quatro números abaixo e de tudo isto, perguntei-lhe diretamente: "Conta lá, nunca acredistaste que isto seria possível, pois não?". Ele sorriu e anuiu. "Era difícil acreditar. Se calhar, nem tu acreditavas".

É verdade. Mas eis a prova de que é possível. Sempre vos disse aqui que não quero ser um exemplo para ninguém. Mas também não quero desvalorizar esta caminhada que, orgulhosamente, tenho trilhado. E por isso, deixo-vos a pergunta em jeito de desafio: se eu estou a conseguir, por que raio não hão-de conseguir vocês? Certo? Essa é a pergunta que devem fazer a vocês próprios. E acreditem: por mais ajuda que tenham, é sempre em vocês que está a mudança. É sempre de vocês que deve partir a atitude. Força!

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O tempo ajuda a curar quase tudo. Esquece, atenua, suaviza, resolve. Mesmo os traumas. Embora alguns, e para alguns, a coisa possa ser mais difícil. "Baleia fora de água". Têm noção do impacto que uma expressão destas dita repetidamente pode ter numa criança obesa de oito ou nove anos? Ou mesmo num adolescente de 12 ou 13? Eu ouvia-a dezenas, centenas de vezes. Eu e todos aqueles que tinham peso a mais. "Gordo", "Badocha" ou mesmo "Piranha" (numa homenagem a esse clássico da TV dos anos 80 chamado "Verão Azul") eram algo ainda aceitável, mas "baleia fora de água" deixava-me fora de mim. Era uma crueldade própria de crianças, eu sei, mas magoava. Ficava a repetir-se cá dentro, como uma matraca. Uma vez, explodi. Um parvalhão na escola chamou-me "Baleia fora de água" e eu, com um ar de superiodade intelectual e simulando indiferença perante o mimo, respondi-lhe: "Pois é, sou baleia fora de água, mas isto com uma dieta, passa. Agora, tu és um estúpido. E serás sempre um estúpido. Não há nada que possa melhorar isso". E virei-lhe as costas. Ainda pensei que o gajo viesse atrás de mim: ou para insistir na conversa ou para me dar um murro, mas não. Ficou quedo e mudo. Provavelmente, a pensar no que lhe disse. Para mim, aquele foi um momento de viragem. Fiquei orgulhoso da minha resposta e decidi interiormente que não voltaria a deixar-me afetar por aquilo que de malicioso os outros dissessem sobre a minha aparência física. 

Se o tempo ajuda a curar quase tudo, a idade também ajuda a colocar quase tudo em perspectiva. E à medida que fui crescendo, aprendi a valorizar umas coisas em detrimento de outras, e a fazer das minhas fraquezas, forças. Percebi que a única forma de calar os outros é dando o melhor de nós. Foi assim que cresci profissionalmente. Procurando sempre fazer melhor. Tentando melhorar a cada erro cometido. É assim hoje ainda. Procurando refletir sobre o que faço (na profissão, na vida...), percebendo como posso melhorar.

Quando me perguntam por que razão só agora me passei a preocupar com a minha saúde, a minha resposta não é clara. Não sei. Eu já me preocupava antes, de vez em quando, mas intervalava a reflexão entre rissóis e folhados de Chaves. Com demasiada frequência, admita-se. O diagnóstico oficial da Diabetes, a 19 de junho, foi o click, claro, mas dois meses antes já me havia inscrito no ginásio e tinha jurado a mim próprio que desta vez era a sério. E, sim, eu já sabia que era diabético. Os sintomas que eu tinha não me deixavam grandes dúvidas. Acho que há um momento para tudo. A idade ajuda-nos a perceber isso com mais clareza. 

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É bom, porém, não esquecer o que deixámos lá atrás. Por mais resolvido que eu, gordo, tenha crescido, é sempre bom não esquecer algumas coisas. Por mais que eu sempre me tenha despido na praia sem problemas de mostrar as banhocas e as mamas, há sempre uma "baleia fora de água" que vem à tona. Há sempre gente que olha de espanto quando se cruza à beira-mar connosco. Há sempre uns tipos que apontam o dedo e que dizem uma piada, seguida de gargalhada geral. E é por isso que resolvi escrever este post.

E é por isso que escolhi o título que escolhi. Há cinco coisas que nunca se devem perguntar/dizer a um gordo (a não ser em ambiente clínico ou familiar, claro...):

 

- Quanto é que pesas?

- Não faças uma dieta, não...

- Estás outra vez mais gordo!

- Não tens espelhos lá em casa?

- Ouve lá, onde é que arranjas roupa desse tamanho?

 

As cinco perguntas revelam uma grande falta de sensibilidade. Um gordo sabe que é gordo. Um gordo tem espelhos em casa. Um gordo sabe que tem de perder peso. Um gordo sofre à procura de roupa para o seu tamanho e fica constrangido quando, numa loja, é obrigado a responder com um "pois, mas não chega" à frase da empregada "este tamanho dá de certeza para si, é o maior que temos cá". Perante este momento, o gordo pensa: "porra, sou mesmo um bisonte! Nem mesmo o maior que eles têm cá dá para mim. Talvez vá ao Tecidos Vidal comprar pano para um toldo e faça uma túnica!"

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Ao contrário do que muitos pensam e disseram na altura em que o programa chegou a Portugal, formatos como o "The Biggest Loser" ("O Peso Pesado", SIC), entre outros, foram muito importantes para as cabeças portuguesas. Para as cabeças dos gordos, em primeiro lugar. É sempre bom sabermos que não estamos sozinhos no mundo e que há casos ainda mais graves dos que os nossos. Isto não resolve nada em nós, mas, acreditem, alivia. Um gordo que pesa 145 quilos olha com respeito para alguém que se expõe na televisão, que se pesa numa balança, e que vê aquilo marcar 173 quilos. Há uma identificação, uma espécie de projeção, quase uma irmandade. Em segundo lugar, e mais importante, creio que programas como "O Peso Pesado" vieram alertar os portugueses para a normalidade da obesidade mórbida. Normalidade no sentido de "há gente assim, que tem de lutar, que tem de sofrer". Normalidade no sentido de "esta gente que está a conseguir isto merece o nosso respeito, o nosso aplauso, porque revela força de vontade, porque não tem receio nem vergonha de se expor".

Os "The Biggest Loser" da vida chegaram por razões pouco samaritanas: é hipocrisia pensar que chegaram para ajudar o mundo. Não, chegaram porque toda a gente gosta de espiolhar pelo buraco da fechadura e ver "gente assim" (são obesos mórbidos, podiam ser anões, homens de quatro pernas ou mulheres de bigode). E isso gera audiências, numa indústria que movimenta milhões de euros como a televisão. Mas, apesar de tudo, ainda bem que chegaram, porque ajudaram os portugueses (e falo nos portugueses porque nos Estados Unidos a obesidade, por tão frequente e intensa, não é tabu) a olhar para esta realidade, a saber respeitar os gordos e a perceber que a obesidade é uma patologia, a acordar para a alimentação saudável, a despertar para o gravíssimo problema que, enquanto sociedade, temos em mãos chamado obesidade infantil.

Estou a escrever este post hoje, 22 de outubro de 2016, porque hoje é um dia histórico nesta minha caminhada. Tão histórico como o 19 de junho. Pela primeira vez, em cima da balança, baixei de uma fasquia mítica que havia ultrapassado aos 24 anos. Ou seja, aos 24 anos eu atingi um peso e, nos últimos 18 anos, nunca consegui baixar desse peso. Foi sempre a subir. Como já vos disse que não se pergunta o peso a um gordo, já sei que não vão fazer a pergunta, mas antes que se ponham a adivinhar, esclareço já: não, ainda não é a barreira psicológica dos dois dígitos. Seria bom que assim fosse, mas ainda falta muito. Mas os 26 quilos que perdi desde abril fizeram-me baixar de uma fasquia mítica que ultrapassara aos 18 anos. Este é o meu "The Bigest Loser". Por enquanto, uma parte dele é só minha, longe dos holofotes. Haverá um momento em que partilharei convosco os valores. Por enquanto, ainda há constrangimentos que não consigo superar. Mas é fácil fazer contas, perceber o meu entusiasmo e o meu orgulho. E esse faço questão de o partilhar aqui. 

Haverá gente que, cansada destes posts e das suas réplicas nas minhas redes sociais, dirão: "outra vez? mas este gajo agora só fala disto?". Falo daquilo que quero, daquilo que é a minha batalha mais importante. Falo porque preciso. Por mim. Falo porque é preciso. Pelos outros. Quem gosta de mim, quem me admira, quem é meu amigo, quem tem orgulho em mim perceberá o quão importante isto é. Isto e tudo o resto: a minha profissão, a minha empresa, os meus alunos, os meus textos, as minhas ideias, os meus amores. O Nuno, o Tipo 2, é uma soma disso tudo. Com virtudes e defeitos. E com uma imensa vontade de viver e ser feliz.

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Feira dos Tecidos. Promoções! Vendo barato!

por Nuno Azinheira, em 20.10.16

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Seis meses depois de me ter voltado a inscrever no ginásio e quatro meses após a descoberta de que sou diabético Tipo 2, há passos firmes que foram dados. Mudanças profundas. Interiores, em primeiro lugar. E que se refletem muito claramente no exterior (aparência física) e na minha saúde. Ao longo destes meses, tenho deixado por aqui as marcas dessas mudanças, tenho partilhado convosco, aqui no blogue ou na página de Facebook do Tipo 2, as minhas opiniões, a minha nova alimentação, a minha prática continuada de exercício físico, os desafios que me coloco a mim próprio e as motivações que se seguem.

Confesso-vos que me é agradável e motivador ver os olhos de espanto e ouvir os comentários daqueles que não me veem há quatro ou cinco meses. Para os que comigo lidam todos os dias, as mudanças também são notórias, mas não é possível ter essa percepção tão clara. Eu, que há 42 anos me aturo, convivo comigo diariamente e, sim, vou sentindo quase todos os dias as alterações no meu corpo e no meu metabolismo. Primeiro, nas coisas práticas:

- A minha tensão está controlada e em valores que oscilam entre os 12/7 e os 13/7;

- A minha glicose no sangue (glicemia) varia, em média, entre os 85 (antes das refeições) e os 120 (depois das refeições) mg de açúcar por decilitro de sangue (os valores referência dos diabéticos vão até aos 160 mg/dl);

- O meu colesterol e triglicéridos estão em valores saudáveis;

- Passei a dormir perfeitamente, sete/oito horas por dia, sem acordar a meio da noite e com um sono pendular (acordo religiosamente às 08.30, sem despertador);

- Deixei de ter azia, sensações de enfartamento, pernas inchadas, dores nas costas;

- Aumentei a minha resistência física: hoje subir três andares de escadas ainda me deixa cansado, mas não à beira de um colapso;

- Perdi 24 quilos;

- Perdi 25 centímetros de perímetro abdominal, ou seja de barriga, a zona mais perigosa dos obesos, porque é lá que está concentrada a gordura visceral, aquela potencialmente mais perigosa para o coração;

- Baixei a matéria gorda do meu corpo em 5 pontos percentuais.

Isto é o mais importante de tudo: é o que me devolve anos de vida e, sobretudo, qualidade de vida.

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 A acompanhar a isto, há o outro lado: a roupa. Em seis meses, estou a uns passos de deixar de vestir na secção de "Tamanhos Grandes", apesar de ainda continuar a ser grande. Em calças, por exemplo, tenho tido grande dificuldade, porque 25 centímetros de cintura perdida significa baixar cinco ou seis números de calças (que saltam de dois em dois, portanto 10 ou 12!). A estrutura do corpo mudou também. A largura de ombros é hoje menor, o que faz que as camisas que vestia não as possa mais vestir. As costas endireitaram, porque o peso que a coluna suporta é menor, a barriga é menos saliente.

Há dois dias decidi fazer uma limpeza nos meus armários. Tinha de ser. E o resulado foi muito divertido, mas ao mesmo tempo preocupante. Não tenho hoje um fato, um blazer ou um casaco que me fique bem. Metade das camisas passaram a ser camisas de noite.

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E, das três, uma: ou o OLX cria uma secção de "Tamanhos Grandes" para eu poder fazer alguma receita com a roupa que já não visto (muita dela de marca e alguma dela com muito pouco uso); ou faço uma venda de garagem (!) ou lanço uma promoção tipo "Feira dos Tecidos. Novos padrões para cortinados. Vendo barato!".

É óbvio que esta é a chamada "boa dor de cabeça". Claro que vou ter de gastar dinheiro em roupa, e muito provavelmente, não rentabilizo em nada a roupa que já não uso. Mas é um ótimo sinal e altamente moralizador. Felizmente, nos últimos anos eu cometia um erro muito frequente: comprava camisas ou casacos uns números abaixo do que vestia para me incentivar a perder peso. Algumas dessas peças de roupa ficaram arrumadas no armário durante dois anos, sem nunca terem sido usadas. Passaram agora a ter serventia. Mas há outro problema: o investimento em roupa tem de ser tranquilo e em pequenas quantidades de cada vez. Porque a batalha contra o excesso de peso está longe de terminar e estou motivado a continuar, mesmo sabendo que os progressos serão, a partir de agora, mais lentos e mais difíceis. Mas eu vou continuar a perder peso, vou continuar a moldar o meu corpo. Portanto, estar a comprar agora muita roupa pode significar a prazo voltar a ter o mesmo problema. Vamos com calma, pé ante pé. Continuando a lutar, sem desistir. Sabendo que cada passo que dou é um passo para me sentir mais forte e mais saudável. E sabendo que isto só se consegue com a medicação antidiabética que tomo e, sobretudo, com a articulação de dois critérios fundamentais na mudança do estilo de vida: uma alimentação variada, de baixos hidratos de carbono (açúcares), e a prática sistemática de exercício físico. E quando digo sistemática não significa horas de caminhada ou de corrida todos os dias. Nem toda a gente tem paciência, e sobretudo tempo, para isso. Aliás, deixem-me que vos diga: para o metabolismo são mais frutuosos 20 minutos de caminhada a pé todos os dias do que duas horas de corrida uma vez por semana. Por falar nisso, escrever este post atrasou-me. E já não vou a tempo de caminhar agora: vai ter de ficar mais para o fim do dia. 

 

 

 

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Bom domingo! Tenho andado um pouco arredado do blogue, porque a minha vida está um relativo caos. Com o arranque do ano letivo na ETIC (sou coordenador dos dois cursos de Jornalismo da escola), os meus dias têm sido cheios de reuniões com alunos, professores e direção. É natural, as aulas começam esta semana. Acresce a minha atividade corrente na Palavras Ditas, enquanto gestor, professor e jornalista, e dá para perceber que se o dia tivesse mais de 24 horas, ele estaria preenchido.

Não pensem, portanto, que vos abandonei. E, mais importante que isso, apesar de tudo, não temam que me abandonei. Não, o caminho que iniciei em abril no ginásio e em junho com a descoberta da Diabetes continua firme. Há passos sustentados dados em frente e que não voltam atrás. Não, desta vez, garanto, não voltam mesmo atrás. Por mim. 

Vamos então ao resumo da matéria dada: há uma semana participei pela primeira vez na minha vida numa prova coletiva, a Mini Maratona de Lisboa. Foram 6,5 quilómetros de emoções (a primeira vez é sempre especial), mas do ponto de vista físico foi uma prova pouco exigente, até porque estou habituado a caminhar em média 10 quilómetros.

Na terça-feira recebi excelentes resultados na Associação Protectora de Diabéticos de Portugal: mais seis quilos perdidos e mais  sete centímetros de perímetro abdominal deitados abaixo. No total, desde o arranque desta "Operação Saúde", já lá vão 22 cm na barriga e 23 quilos ao ar. É obra! 

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Na quarta-feira, aproveitando o feriado, bati o meu recorde pessoal de quilómetros percorridos: 17,8 km numa só caminhada. Saí de casa, percorri o bairro de Alcântara, cruzei a avenida de Ceuta, e segui pela Rua das Janelas Verdes, subi toda a Avenida Infante Santo (que não é fácil), atravessei o Jardim da Estrela, desci até ao Rato pela Álvares Cabral, subi às Amoreiras pela D. Pedro V (também ela uma avenida com uma inclinação bem acentuada), e depois rumei até ao Parque Eduardo VII. Do alto, contemplei a vista e desci: Marquês de Pombal, Avenida da Liberdade, Rossio, Rua do Ouro, Terreiro do Paço, Cais do Sodré e de novo Alcântara. Mais de três horas a caminhar. Foi um treino exigente, sobretudo nas subidas, mas muito estimulante. O dia não acabou ali. À tarde estive a ajudar na inauguração do novo hospital veterinário do meu irmão Diogo e da minha cunhada Susana, a Alma Veterinária. Ao fim do dia, a aplicação do telemóvel não permitia ilusões: 19,2 km percorridos. Um dia fantástico, que, no entanto, deixou marcas físicas intensas nos músculos, de que só ontem comecei a recuperar.

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Curiosamente, enquanto escrevo estas linhas, recebo uma notificação no meu telemóvel de uma das aplicações que me ajuda no exercício físico. E o que diz a notificação? Que esta última semana foi a minha melhor de sempre no que toca a quilómetros percorridos. Este tipo de incentivos são fundamentais, sobretudo para alguém que, como eu, até há poucos meses, não andava a pé e fazia tudo de carro.

Nestes últimos dias de repouso físico, fui alertado por um amigo para um texto de um jovem estudante de jornalismo, que conheço pessoalmente, que é formando na Palavras Ditas (façam like na página de facebook, já agora!). O L. é aquilo a que se pode chamar um "gordinho": não é gordo no sentido de obeso, mas tem, de facto, uns quilos a mais. Nunca falei com ele sobre esse assunto (aliás, as nossas conversas, pouco frequentes, nas redes sociais limitam-se a assuntos da área do jornalismo e da formação profissional), nem sabia tão pouco que ele era leitor do Tipo 2.

O post que o L. escreveu no seu próprio perfil de Faceboook emocionou-me muito. Porque deu mais um sentido à decisão que tomei na minha vida e a que dei o nome de #escolherviver. É disso que se trata: entre morrer lentamente ou viver, eu escolhi viver. Quando confrontado com o texto do L., comentei-o, mandei-lhe uma mensagem e agradeci o gesto. Dei-lhe força para o início da sua batalha. E pedi-lhe autorização para falar dele aqui no blogue. Ele concedeu-ma.

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E o que diz o texto?: "Sim, este sou eu. Com 23 anos a caminho dos 24 e com uma idade metabólica de 38 anos, ou seja, o meu metabolismo porta-se como se eu tivesse esta idade. Este é o meu peso. E este é primeiro dia do resto da minha vida. Há 5 dias que não toco num doce ou guloseima. Para vocês não é nada, para mim é uma vitória (ainda que mínima). Muitos de vós não conhecem o jornalista Nuno Azinheira, e ele não sabe disto, mas foi ele que me inspirou através dos seus posts diários e da sua evolução. Ele usa uma hashtag chamada #escolherviver. Tem feito um percurso extraordinário na sua perda de peso e ganho de hábitos saudáveis. Ele não sabe. Mas foi ele que, sem o querer, me motivou com as publicações que tem feito. E fui eu que decidi que não quero ter diabetes (e tenho na família uma pessoa com essa doença, o que agrava), que não quero ter problemas de saúde por uma coisa que depende de mim. Única e exclusivamente de mim. E já tinha feito e desfeito dietas. Por estética, sempre. Já tinha ganhado e perdido peso. Desta vez, é a sério. Desta vez não é pela estética. Desta vez é pelo nosso bem mais precioso, a saúde. Posso vomitar o chão, como hoje tive vontade quando saí do ginásio porque há quase 3 anos que não me mexo, posso ficar com as pernas a tremer como se de um ataque se tratasse, como hoje, posso estar todo partido, mas o objetivo são os 70kg. Vai ser muito difícil, como eu nunca pensei que fosse (não consegui fazer mais que 8 abdominais), mas esta é a minha força - minha vontade. A minha motivação."

É um texto lindo, muito emocionante, porque escrito por um jovem consciente que não apanhou qualquer susto. Um jovem que decidiu mudar porque sim, porque quis, porque percebeu que pode ter uma vida melhor. É um texto lindo e emocionante porque assume que encontrou no meu exemplo uma força para desencadear a sua força. E isso toca-me muito, naturalmente. Tenho uma amiga de Facebook, também ela jovem, também ela estudante de jornalismo, que tem peso a mais. Há duas semanas disse-me, em jeito de questão, se poderia começar a fazer umas caminhadas comigo. Disse-lhe que sim, claro. 

Quando aqui cheguei à blogosfera, disse ao que vinha. Que não me queria esconder, que queria assumir publicamente o meu combate contra a Diabetes Tipo 2. Que este blogue seria o meu compromisso público, a minha força de partilha, e que se ele ajudasse outras pessoas em igual situação, me sentiria muito feliz. Hoje sinto-me muito feliz com esta dimensão da minha vida. O que já perdi em peso, em açúcar, em colesterol elevado, em tensão arterial desequilibrada, ganhei em anos de vida. É verdade que, daqui a pouco, à saída de casa, me pode cair um piano em cima, mas esses imponderáveis eu não controlo. Esta parte da minha vida, sim, eu controlo. E seria uma estupidez que, podendo controlar, podendo ditar a saúde e a minha qualidade de vida, não aproveitasse essa faculdade racional que os seres humanos possuem. 

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 Obrigado ao L. e a tantos outros que me têm incentivado de todas as maneiras. Obrigado aos que no Facebook, ao do Tipo 2 e ao meu pessoal, me dizem na brincadeira que hoje valho "metade" do que valia há seis meses. Obrigado aos que se espantam quando me veem. Obrigado às funcionárias das lojas onde me visto que já me trazem roupa oito números abaixo e que me dizem, com um sorriso, "mais uns meses e deixa de pertencer à secção "Tamanhos Grandes"". Obrigado aos que vibram com este meu sucesso. Obrigado aos que sorriem e me fazem likes. Todos fazem parte desta caminhada. Todos são responsáveis pelo facto de esta hastag do Instagram #escolherviver fazer cada vez mais sentido. Aos que ainda não acordaram, e são tantos!, está na hora. Acreditem: ninguem faz nada por nós. Nós (todos juntos) somos a nossa própria inspiração!

 

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Tenho andado um pouco desaparecido daqui, é verdade. Queixem-se à vontade, deem-me na cabeça, mas às vezes há momentos em que o mundo (o nosso mundo) pára. E é preciso respirar fundo, reencontrar forças, lutar contra as inércias, e voltar à luta. Apesar de tudo não tenho estado parado, tenho feito o meu exercício físico diário. Ora, no ginásio, ora nas caminhadas que aqui vos vou contando.

Três meses depois de ter começado a tratar a minha diabetes tipo 2 (o click foi quase instantâneo, como sabem), sou hoje um homem mais saudável do que era. Mais longe do barril de pólvora em que o meu corpo se tornara. Perdi 20 quilos, reduzi os níveis de colesterol, de triglicéridos e de perímetro abdominal, contribuindo com isso para a redução das probabilidades de um enfarte do miocárdio. A minha tensão arterial estabilizou, os valores da minha glicemia estão hoje perfeitamente controlados e quase nos limites de um "não diabético". Isto não significa que a batalha acabou. Nada disso. Vai continuar. Até porque, devo confessar-vos, há coisas que mudaram de forma tão estrutural na minha vida, que já não é possível voltar atrás. 

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Falo do exercício físico. Mais do que uma necessidade de saúde, o exercício físico passou a ser um hábito, uma saudável rotina, um prazer. Hoje já não penso duas vezes quando é preciso ir a algum lado e não me apetece ir de carro. Vou a pé. Ao meu ritmo, no meu registo, com a minha música, mas vou. Desço e subo sem me cansar tanto, controlo a respiração e já consigo conversar ao mesmo tempo que ando. Tenho uma hora perdida antes de uma reunião de trabalho? Vou andar um bocadinho. Creio que isto dá uma dimensão aproximada do que mudou na minha vida. Quem não tem paciência para estas coisas, percebe bem o que eu sentia. E sentirá agora uma pontinha de inveja. "Ai se eu tivesse a força de vontade que ele tem...", pensam. Pensam e dizem-me, que eu bem leio as mensagens que me mandam por aqui e pelo Facebook. Não se enganem. Vocês não têm falta de força de vontade. Ou pelo menos, não têm mais do que eu tinha até há três meses. Mas há momentos em que temos de tomar decisões na vida. Há momentos em que temos de parar e que nos confrontar com a realidade, por mais dura que ela possa parecer. "A continuar assim, vou ter muitos problemas, ou vou morrer cedo". Sim, pensei nisso, não há que negá-lo. E eu não quero morrer cedo. Quer dizer, sei que esse dia vai acontecer, mas quanto mais tarde, melhor. 

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Não estou sozinho nesta batalha. Tenho as pessoas que gostam de mim à minha volta, tenho a minha equipa clínica da Associação de Diabéticos. E tenho meu PT, o André Guardado, do Virgin Active de Lisboa, que tem sido inexcedível no apoio e adequado no tom e na forma como exige de mim mais esforço e mais determinação.

O exercício físico é essencial para o controlo da diabetes. Não basta a mudança de hábitos alimentares, embora eles sejam muito importantes. Mas nada é possível sem darmos um pontapé no sedentarismo.

Quando fazemos exercício estamos a estimular o pâncreas a produzir insulina. Por outro lado, como estamos a exercitar os músculos, eles precisam de energia. Deste modo, também estamos a aumentar a utilização de glicose pelos músculos, impedindo que esta se acumule no sangue e aumente os valores de glicemia. Isto não é só teoria: basta fazermos um teste de medição de glicemia antes e depois do exercício e verificar a diferença.

Nas conversas que tenho tido com as pessoas que me vão seguindo por aqui tenho verificado o receio que muita gente tem que a prática de exercício físico lhe provoque crises de hipoglicemia: ou seja, quando os valores do açúcar no sangue descem abaixo dos 70 mg por decilitro de sangue. É uma preocupação que deve ser tida em conta (e por isso a necessidade de nos alimentarmos corretamente antes do exercício físico, de levarnos água para hidratação e um hidrato de carbono de absorção rápida para o caso de nos sentimos "com fraqueza").

A prática regular de exercício físico, em especial os exercícios aeróbios:

  1. Diminui os níveis de glicose no sangue;
  2. Estimula a produção de insulina;
  3. Aumenta a sensibilidade celular à insulina;
  4. Aumenta a capacidade de captação de glicose pelos músculos;
  5. Diminui a gordura corporal, a qual está relacionada à diabetes tipo 2.
  6. Permite a perda de peso.
  7. Estimula a nossa autoestima por conseguirmos alcançar objetivos.
  8. Uma melhor autoestima torna-nos mais confiantes e felizes connosco e com os outros.

De um modo geral, e sempre com controlo de profissionais qualificados, o exercício deve contemplar uma mistura de dois tipos de exercícios:

  1. Exercícios aeróbios (a caminhada, como eu faço, é uma delas, mas a corrida, ou a natação ou o ciclismo podem ser boas alternativas). Meia hora por dia pode ser o suficiente. Ou seja, cerca de 150 minutos/semana, com intensidade moderada. Pelo menos no início.
  2. Exercícios de musculação – Duas a três vezes por semana, de 30 minutos cada, dando mais importância aos grandes grupos musculares.

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Pela minha parte, sinto bem a diferença. Há menos gordura localizada na barriga, e junto à zona abdominal, há muito menos cansaço cardiovascular e tenho vindo a desenvolver músculos em zonas onde até aqui existia apenas gordura. Ou seja, os músculos estavam lá, mas tapados.

O caso das minhas pernas é paradigmático. Eu sempre fui um obeso sobretudo da cintura para cima, mas hoje, quatro meses depois de ter começado a fazer exercício (inscrevi-me no ginásio e com PT um mês antes da história da diabetes), a definição muscular das minhas pernas (na zona dos gémeos) é hoje claramente notória e é um reflexo deste trabalho que tenho feito e não quero parar.

Nem todos podem ter a mesma paciência para ginásios, mas há imensas coisas que podem fazer. Por exemplo, quem tem cães, pode prolongar um pouco mais as passeatas com eles. É bom para os bichanos e é bom para nós. Quem gosta de natação pode fazer hidroginástica. Que me perdoem os mais crescidos, mas sempre achei que a hidroginástica era uma "tanga" e uma coisa para "gente mais velha". Antes das férias, na piscina do ginásio, resolvi ir a uma aula (são gratuitas): gostei muito. Em primeiro lugar, eu não era o único netinho por ali (havia gente da minha idade e até mais novos...) e depois, não, a hidroginástica não é uma tanga. É aliás muito mais difícil do que parece, porque, por causa da água, a força que temos de fazer para mexer os músculos é muito mais intensa. 

Outra ideia: têm escadas em casa, ou no prédio onde vivem ou trabalham? Experimentem descê-las e subi-las pelo menos uma vez por dia. Reduzam o uso dos elevadores (pronto, se viverem no 12º andar, deixo já de parte este exemplo...), vão ver o efeito que isso provoca no vosso corpo e na vossa capacidade de resistir ao esforço. Vá, força!

 

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É longe de Lisboa que me desgraço

por Nuno Azinheira, em 12.09.16

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 Isto não são só coisas boas, calma. Há avanços e recuos, há momentos em que não conseguimos resistir. Portanto, não quero dar-vos a ideia de ilusão, nem que esta batalha, permanente e diária, é fácil. Não é. Também não é o bicho de sete cabeças que muitos, por medo e desconhecimento, pensam, mas não é fácil.

Este blogue, que se chama Tipo 2, tem um subtítulo: "Motivações, desafios e frustrações de um diabético em busca de melhor qualidade de vida". E, portanto, não vale a pena esconder-vos as frustrações. Tenho por aqui, ao longo dos últimos meses, partilhado convosco as motivações e os desafios. E, de quando em vez, algumas frustrações. Como aquela em Tavira, em agosto, quando não resisti a um rissol. Não teve problema nenhum, mas foi o simbolismo do primeiro rissol comido depois da minha mudança de estilo de vida. Quem já me lia nessa altura sabe como isso me marcou. Fiquei ali a matutar na coisa durante um tempo.

Pois bem, este fim de semana portei-me mal. Repito: portei-me mal. Agora em letra grande: PORTEI-ME MAL. Foi um conjunto de disparates. Não há outra forma de dizer. A coisa até começou bem no sábado, com 11 quilómetros de caminhada aqui em Lisboa, junto ao rio. Mas depois o resto do fim-de-semana foi para esquecer. Um amigo de infância fez 40 anos e, com aquela treta de "só se fazem 40 anos uma vez na vida...", convidou os amigos para um fim de semana numa herdade ao pé de Beja. Eramos, entre adultos e crianças, 40 e tal alminhas num monte fechado para nós. A coisa tinha tudo: sol, calor, piscina (imaginem toda a gente ali metida...), prova de vinhos (na Herdade do Vau produz-se o vinho Riso, de muito boa qualidade), acompanhada de queijos, enchidos, salgados e outras coisas do Diabo, jantar e dormida e pequeno almoço de domingo. Só faltou a pulseirinha, mas estava tudo incluído. Foi um grande espectáculo, mas, aqui para nós, não foi um espectáculo digno de se ver aqui para o meu lado. Já de regresso a Lisboa, fora do programa, decidimos almoçar em Serpa, no Molhó Bico. O excelente ensopado de borrego e o Pudim de Requeijão com Leite Condensado não foram o meu melhor momento. Mas estava deliciosos, ao menos isso.

Consequências? Bem, no sábado à noite, antes de me deitar, a glicose estava mais alta do que o normal (claro!), mas longe de níveis alarmantes: 162. Mas no jejum de domingo já tinha descido para 114. E ontem à noite, já depois de ter jantado um hamburguer de salmão e uma bela salada de tomate, já estava nos 99. Portanto, do ponto de vista da glicemia, a coisa voltou ao sítio. Não me pesei, mas sei que devo ter recuperado um quilinho com os anos do Nuno. Paciência, é a vida! 

Hoje, o meu sobrinho mais novo, Martim, completa 5 anos. Ai, vou ter de resistir tanto. Ai vou, vou...

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Claro que pode comer bananas. Quer dizer: se quer basear a sua dieta alimentar à base de bananas, é capaz de não ser uma boa ideia, mas se estamos a falar de comer moderadamanete bananas, a resposta é sim: pode comer.

Tenha só uma coisa em atenção: uma banana normal, daquelas importadas que temos nos supermercados, de tamanho médio (85 gramas, tirada a casca) fornece cerca de 20 gramas de hidratos de carbono. Se a banana for das grandes, com 128 gramas, já contem 30 gramas de hidratos de carbono e fornece 122 calorias.

Já se for uma banana da Madeia, mais pequenina e saborosa (e mais cara), deve pesar cerca de 65 gramas. Aí o seu suporte de carbohidratos é de 15 gramas, ou seja, é o idêntico a uma maçã, a uma nectarina, a duas clementinas pequenas, a dez pares de cerejas, a uma taça de framboesas ou de morangos, a dois kiwi, a 12 bagos de uvas ou, acredite, a três figos frescos!

Quer isto dizer que não há problema se, moderadamente, substituir uma banana pequena (ou meia banana grande) por outra peça de fruta na sua dieta diária. Não o faça todos os dias, mas pode fazê-lo duas ou três vezes por semana. Mas não se esqueça, a fruta tem açúcar (frutose) e deve ser sempre comida na companhia de fibra, para absorver o impacto do açúcar na corrente sanguínea.

Já agora, é importante saber que as bananas são uma excelente fonte de potássio e magnésio, importantes para a estabilização da tensão arterial, para a prevenção de doenças cardiovasculares e essenciais para a função nervosa e muscular. Por alguma razão, quando tem câimbras, deve comer bananas, porque ajuda a repor o nível de potássio.

 

Fontes: 

A este propósito, recomendo-lhe a compra de:

Carbs & Cals, um guia compilado por Chris Cheyette e Yello Balolia, recomendado pela APDP, e cuja adaptação para Portugal foi feita pela minha nutricionista, Ana Raimundo Costa;

Guia dos Alimentos Vegetais, de Jean-Claude Rodet;

100% sem Diabetes - como controlar a doença através da alimentação, de Eduarda Alves

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"Come-me, come-me", pediu o rissol. E eu comi-o.

por Nuno Azinheira, em 17.08.16

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 Anda um tipo a entrar nos eixos, seguindo um caminho definido, bem trilhado, com resultados visíveis, e eis que aparecem os diabinhos da tentação. Eles andam sempre por aí a pairar. Esta minha segunda semana de férias algarvias, em casa de família, têm tido muitos diabinhos à solta. Nada de surpreendente, eu já vos tinha prevenido para isso. E, sobretudo, já me tinha prevenido a mim próprio.

Depois de uma primeira semana em que passei com distinção, apenas com uma bola de Berlim na praia e sem gelados, esta segunda semana, em Tavira, tenho fraquejado. Enfim, nada de grave, claro, mas tenho caído em tentação. Algum álcool e dois gelados. Há três dias que me andavam a falar dos "melhores rissóis do mundo" no café Mira, uma relíquia tavirense (os conhecedores sabem do que falo). Quando aqui chegámos, correu o rumor de que o Mira tinha fechado. O horror, a tragédia. Numa das minhas caminhadas matinais comprovei que se mantinha aberto. Era falso alarme. Apenas mudou de mãos. Ou melhor, os proprietários mantêm-se os mesmos, mas "concessionaram" a operação. E deram-lhe um toque de modernidade. Uma pena.

Corações mais sossegados. Retomaram-se velhas rotinas. De manhã, cafezinho no Mira. E um rissol. Ontem resisti. Hoje, sentado na esplanada com os restantes comensais, ouvi o diabinho: "come lá um rissol, pá! Não sejas maricas!". Não fui. Comi o rissol. Simpático, mas longe de ser o propalado "melhor do mundo". Pelo menos do meu mundo, que, em matéria de rissóis, tem muitos quilómetros palmilhados. 

O rissol não me soube bem. Não era mau, mas não fui capaz de o fruir. Bateu-me um sentimento de culpa. Como se tivesse violado uma linha intransponível. Como se tivesse transposto uma barreira psicológica. E transpus. Ao fim de 59 dias, comi um salgado. Pronto, levanta a cabeça e segue. Ainda ouvi a conversa motivadora: "Tem calma, não foi por comeres um rissol que colocaste em causa o teu percurso até aqui". É verdade. 

Passadas estas horas estou tranquilo em relação ao rissol que comi de manhã. Mas tinha-o aqui entalado. Tinha de vos contar. O Tipo 2, tão motivado, tão inspirador, também fraqueja. E vai fraquejar mais vezes. É mesmo assim. De vez em quando, convém pisarmos o risco. Caso contrário, tornamo-nos uma seca...

Medi a glicemia há pouco: 124. O rissol já lá vai e não deixou rasto. Ao menos isso. Ainda se fosse o melhor do mundo, sempre havia um consolo. Assim não. Adeus!

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