Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Se há país pouco aconselhável a quem assumiu o compromisso público de perder peso, Espanha é um deles. E uma cidade em particular: Madrid. Pois é onde estou, desde sexta-feira à tarde, para um rápido "city break" cultural (e gastronómico, vá...). O pretexto foi discutido durante a semana: "e que tal ir num pulinho ver a exposição do Caravaggio no Museu Thyssen, no Prado?".
A ideia foi do meu irmão Duarte e foi combinada com o meu tio António. Eu fiz de penetra e vim também. Ainda bem. Hoje é o último dia e mais daqui a pouco, a seguir ao almoço, estamos de regresso a Lisboa, de automóvel. O balanço é fantástico: excelente exposição, excelentes jornadas grastronómicas, excelentes passeios por uma cidade exubertante que há muitos anos me encanta, e excelente companhia.
Voltemos ao início, então. Madrid é uma capital de grandes diversidade e, sobretudo, qualidade gastronómicas, que, ao contrário do que muitos portugueses pensam, não se resume à tortilla de patatas, aos calamares fritos, ou às patatas bravas. Quero eu dizer que depois de uma semana de novo no bom caminho, a corrigir os excessos das férias algarvias (mesmo assim, se bem se recordam, perdi quase 4 quilos em agosto), este desvio de 530 km provocou um desvio no consumo de hidratos.
Na sexta-feira, a caminho de Madrid, almoçámos em Trujillo: uns revuletos para "empezar", uns secretos, uma presa e um bacalhau frito. Bom, para começar. Ao jantar, fomos ao mais antigo restaurante do Mundo, o afamado Botin (1725): umas setas e uns callos para começar e, a seguir, um "cordero lechal" e um "conchinillo" (leitão), ambos no forno com batatas.
O almoço de ontem foi na Casa Benigna, onde se comem os melhores arrozes (vulgo paellas) do mundo: partilhámos entre os três a de arroz negro com frutos do mar, a da horta e a de carne de caça. Magníficas! Viva os hidratos de carbono!
O jantar foi no asturiano Esbardos, com comida mais pesada: uma fabada tradicional (com feijão branco e não favas, atenção). No regresso a Lisboa, daqui a pouco, vamos parar em Alcalá de Henares, cidade onde nasceu Miguel de Carvantes no século XVI.
Perante este cenário, o que faz um tipo diabético e que tem como objetivo perder peso?
- em primeiro lugar, relativiza e percebe que três dias são três dias e que a vida é para ser vivida e que se é para estar a comer sementes de girassol numa viagem destas mais vale não vir.
- em segundo lugar, é ter algum cuidado (tanto quanto possível) com o tamanho das doses, assumindo que, naturalmente, comerá mais do que é habitual e recomendável.
- em terceiro lugar é, pelo menos no pequeno almoço do hotel, manter o hábito saudável: leite magro, um pão escuro, meio queijo fresco, um kiwi e um ovo cozido.
- em quarto lugar levar uma maçã ou uma pera e dois pacotes de duas bolachas ricas em fibra para o intervalo entre refeições: não prolongando mais do que três horas entre cada ingestão. Sempre se come menos nas principais refeições (cof, cof, cof...)
- em quinto lugar, andar a pé. Andar, andar, andar, até não poder mais. Sexta feira, percorri 6,8 km e ontem, ao longo de todo o dia, foram 15,59km.
A passeata começou logo de manhã: eu e o meu irmão, às oito horas (sete em Lisboa), a caminhar no Parque do Retiro. Impressionante o número de pessoas a correr, a caminhar, àquela hora. Andei todo o dia a pé. Só à noite, do restaurante para o hotel, morto de cansaço, é que partilhei o táxi com eles.
Descansem os que acham que um fim de semana destes pode arruinar o trabalho feito para trás. Sim, se for uma coisa repetida. Sim, se o nosso chip não tiver mudado. Mas não, quando as coisas mudaram nas nossas cabeças. Acreditem, um diabético se seguir os cuidados normais de alimentação, se tormar a medicação e se fizer exercício físico, consegue ter estas escapadinhas, ter uma vida normal. A ideia restrititva da dieta diabética é uma coisa que já não corresponde à verdade.
Querem dois exemplos? Sábado à noite, a minha glicemia pós-prandial (duas horas a seguir ao jantar) estava com 124 mg/dl de sangue e ontem com 155. Ou seja, mesmo com todas as mudanças, todos os hidratos consumidos a mais, a glicemia subiu mas manteve-se em valores junto ao limite superior admissível. Hoje de manhã, em jejum, já estava de novo nos 106, o que significa que a capacidade de recuperação do meu organismo já é hoje muito maior. Aumentei um quilo? Sim, é verdade. A partir de amanhã, já recupero.
Amanhã volta tudo ao normal. A minha comida, os meus ritmos, os meus temperos, os meus cuidados. E tudo retomará o seu caminho normal. Ligarei para a Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal para remarcar a consulta que desmarquei na sexta-feira. E quando lá, mantenho o que aqui vos disse há um par de dias: sairei de lá orgulhoso do caminho feito. Apesar de Madrid...
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.