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O tempo ajuda a curar quase tudo. Esquece, atenua, suaviza, resolve. Mesmo os traumas. Embora alguns, e para alguns, a coisa possa ser mais difícil. "Baleia fora de água". Têm noção do impacto que uma expressão destas dita repetidamente pode ter numa criança obesa de oito ou nove anos? Ou mesmo num adolescente de 12 ou 13? Eu ouvia-a dezenas, centenas de vezes. Eu e todos aqueles que tinham peso a mais. "Gordo", "Badocha" ou mesmo "Piranha" (numa homenagem a esse clássico da TV dos anos 80 chamado "Verão Azul") eram algo ainda aceitável, mas "baleia fora de água" deixava-me fora de mim. Era uma crueldade própria de crianças, eu sei, mas magoava. Ficava a repetir-se cá dentro, como uma matraca. Uma vez, explodi. Um parvalhão na escola chamou-me "Baleia fora de água" e eu, com um ar de superiodade intelectual e simulando indiferença perante o mimo, respondi-lhe: "Pois é, sou baleia fora de água, mas isto com uma dieta, passa. Agora, tu és um estúpido. E serás sempre um estúpido. Não há nada que possa melhorar isso". E virei-lhe as costas. Ainda pensei que o gajo viesse atrás de mim: ou para insistir na conversa ou para me dar um murro, mas não. Ficou quedo e mudo. Provavelmente, a pensar no que lhe disse. Para mim, aquele foi um momento de viragem. Fiquei orgulhoso da minha resposta e decidi interiormente que não voltaria a deixar-me afetar por aquilo que de malicioso os outros dissessem sobre a minha aparência física.
Se o tempo ajuda a curar quase tudo, a idade também ajuda a colocar quase tudo em perspectiva. E à medida que fui crescendo, aprendi a valorizar umas coisas em detrimento de outras, e a fazer das minhas fraquezas, forças. Percebi que a única forma de calar os outros é dando o melhor de nós. Foi assim que cresci profissionalmente. Procurando sempre fazer melhor. Tentando melhorar a cada erro cometido. É assim hoje ainda. Procurando refletir sobre o que faço (na profissão, na vida...), percebendo como posso melhorar.
Quando me perguntam por que razão só agora me passei a preocupar com a minha saúde, a minha resposta não é clara. Não sei. Eu já me preocupava antes, de vez em quando, mas intervalava a reflexão entre rissóis e folhados de Chaves. Com demasiada frequência, admita-se. O diagnóstico oficial da Diabetes, a 19 de junho, foi o click, claro, mas dois meses antes já me havia inscrito no ginásio e tinha jurado a mim próprio que desta vez era a sério. E, sim, eu já sabia que era diabético. Os sintomas que eu tinha não me deixavam grandes dúvidas. Acho que há um momento para tudo. A idade ajuda-nos a perceber isso com mais clareza.
É bom, porém, não esquecer o que deixámos lá atrás. Por mais resolvido que eu, gordo, tenha crescido, é sempre bom não esquecer algumas coisas. Por mais que eu sempre me tenha despido na praia sem problemas de mostrar as banhocas e as mamas, há sempre uma "baleia fora de água" que vem à tona. Há sempre gente que olha de espanto quando se cruza à beira-mar connosco. Há sempre uns tipos que apontam o dedo e que dizem uma piada, seguida de gargalhada geral. E é por isso que resolvi escrever este post.
E é por isso que escolhi o título que escolhi. Há cinco coisas que nunca se devem perguntar/dizer a um gordo (a não ser em ambiente clínico ou familiar, claro...):
- Quanto é que pesas?
- Não faças uma dieta, não...
- Estás outra vez mais gordo!
- Não tens espelhos lá em casa?
- Ouve lá, onde é que arranjas roupa desse tamanho?
As cinco perguntas revelam uma grande falta de sensibilidade. Um gordo sabe que é gordo. Um gordo tem espelhos em casa. Um gordo sabe que tem de perder peso. Um gordo sofre à procura de roupa para o seu tamanho e fica constrangido quando, numa loja, é obrigado a responder com um "pois, mas não chega" à frase da empregada "este tamanho dá de certeza para si, é o maior que temos cá". Perante este momento, o gordo pensa: "porra, sou mesmo um bisonte! Nem mesmo o maior que eles têm cá dá para mim. Talvez vá ao Tecidos Vidal comprar pano para um toldo e faça uma túnica!"
Ao contrário do que muitos pensam e disseram na altura em que o programa chegou a Portugal, formatos como o "The Biggest Loser" ("O Peso Pesado", SIC), entre outros, foram muito importantes para as cabeças portuguesas. Para as cabeças dos gordos, em primeiro lugar. É sempre bom sabermos que não estamos sozinhos no mundo e que há casos ainda mais graves dos que os nossos. Isto não resolve nada em nós, mas, acreditem, alivia. Um gordo que pesa 145 quilos olha com respeito para alguém que se expõe na televisão, que se pesa numa balança, e que vê aquilo marcar 173 quilos. Há uma identificação, uma espécie de projeção, quase uma irmandade. Em segundo lugar, e mais importante, creio que programas como "O Peso Pesado" vieram alertar os portugueses para a normalidade da obesidade mórbida. Normalidade no sentido de "há gente assim, que tem de lutar, que tem de sofrer". Normalidade no sentido de "esta gente que está a conseguir isto merece o nosso respeito, o nosso aplauso, porque revela força de vontade, porque não tem receio nem vergonha de se expor".
Os "The Biggest Loser" da vida chegaram por razões pouco samaritanas: é hipocrisia pensar que chegaram para ajudar o mundo. Não, chegaram porque toda a gente gosta de espiolhar pelo buraco da fechadura e ver "gente assim" (são obesos mórbidos, podiam ser anões, homens de quatro pernas ou mulheres de bigode). E isso gera audiências, numa indústria que movimenta milhões de euros como a televisão. Mas, apesar de tudo, ainda bem que chegaram, porque ajudaram os portugueses (e falo nos portugueses porque nos Estados Unidos a obesidade, por tão frequente e intensa, não é tabu) a olhar para esta realidade, a saber respeitar os gordos e a perceber que a obesidade é uma patologia, a acordar para a alimentação saudável, a despertar para o gravíssimo problema que, enquanto sociedade, temos em mãos chamado obesidade infantil.
Estou a escrever este post hoje, 22 de outubro de 2016, porque hoje é um dia histórico nesta minha caminhada. Tão histórico como o 19 de junho. Pela primeira vez, em cima da balança, baixei de uma fasquia mítica que havia ultrapassado aos 24 anos. Ou seja, aos 24 anos eu atingi um peso e, nos últimos 18 anos, nunca consegui baixar desse peso. Foi sempre a subir. Como já vos disse que não se pergunta o peso a um gordo, já sei que não vão fazer a pergunta, mas antes que se ponham a adivinhar, esclareço já: não, ainda não é a barreira psicológica dos dois dígitos. Seria bom que assim fosse, mas ainda falta muito. Mas os 26 quilos que perdi desde abril fizeram-me baixar de uma fasquia mítica que ultrapassara aos 18 anos. Este é o meu "The Bigest Loser". Por enquanto, uma parte dele é só minha, longe dos holofotes. Haverá um momento em que partilharei convosco os valores. Por enquanto, ainda há constrangimentos que não consigo superar. Mas é fácil fazer contas, perceber o meu entusiasmo e o meu orgulho. E esse faço questão de o partilhar aqui.
Haverá gente que, cansada destes posts e das suas réplicas nas minhas redes sociais, dirão: "outra vez? mas este gajo agora só fala disto?". Falo daquilo que quero, daquilo que é a minha batalha mais importante. Falo porque preciso. Por mim. Falo porque é preciso. Pelos outros. Quem gosta de mim, quem me admira, quem é meu amigo, quem tem orgulho em mim perceberá o quão importante isto é. Isto e tudo o resto: a minha profissão, a minha empresa, os meus alunos, os meus textos, as minhas ideias, os meus amores. O Nuno, o Tipo 2, é uma soma disso tudo. Com virtudes e defeitos. E com uma imensa vontade de viver e ser feliz.
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Não há como esconder, nem por que esconder: amanhã vai ser um dia muito importante para mim.
Embora não tenha nada de esotérico, sou um tipo muito ligado aos simbolismos. Os gestos, as datas, os momentos, as viagens, os gostos, os abraços, os acontecimentos.
Nesta fase da minha vida, mais ainda. E, portanto, para lá do 19 de junho, dia em que me foi diagnosticada a Diabetes Tipo 2, e que serviu para ativar a campainha que há dentro de nós, o dia de amanhã talvez seja o mais importante de todos. Amanhã, a esta hora, já estarei a percorrer a Ponte Vasco da Gama a pé, a fazer os primeiros quilómetros da Mini Maratona de Lisboa.
Serão apenas sete quilómetros, bem menos do que ando habitualmente nas minhas caminhadas, mas estes são sete quilómetros diferentes. Pela primeira vez, decidi inscrever-me numa prova coletiva. Pela primeira vez, vou partilhar esta experiência com outras pessoas. Pela primeira vez, aceitei o desafio que me coloquei a mim próprio. Pela primeira vez vou estar acompanhado por gente que partilha o mesmo gosto ou necessidade de exercício físico, mesmo sabendo que, no final, estarei sozinho. Mas sei que, quando cruzar a meta, sem ligar ao tempo (na mini maratona, aliás, nem haverá cronometragem oficial), vou sentir um imenso orgulho e uma grande felicidade. Porque é a primeira vez. Porque é especial. Porque é mais um passo na minha caminhada.
Os útimos dias têm sido difíceis. Mas se há uma coisa em que não cedi foi o meu compromisso comigo mesmo. Continuo focado nos objetivos, no processo de reeducação alimentar, tomando a medicação que me foi preescrita e fazendo exercício físico (ora caminhada, ora ginásio).
Amanhã vai ser então o grande dia. Se querem que vos diga, estou um pouco nervoso. É um bocadinho como o primeiro dia de aulas. Haviam de me ter visto, sexta-feira à hora do almoço, na sala Tejo do Pavilhão Atlântico, quando fui levantar o dorsal. Nunca tinha feito nada do género. E, portanto, achei que chegava lá, tinha um guichet e pronto, davam-me o dorsal. Mas não. Quem já é um pro nestas coisas deve estar a rir-se neste momento: lá estavam várias bancas com os dorsais, várias bancas com as T-Shirts e depois toda a sorte de marcas de desporto a venderem acessórios, roupa, calçado, seguros e mais uma imensidão de artigos relacionados com o desporto. Faz todo o sentido, mas para mim foi uma surpresa.
Amanhã tenho de estar na Gare do Oriente às oito da manhã. Há autocarros especiais que nos levam para o ponto de partida, na Ponte Vasco da Gama. Às 10h30, dá-se o tiro de arranque: primeiro partem os da meia maratona, a correr, focados nos seus objetivos de tempo. Depois, para trás, ficam os da Mini Maratona. A maior parte, já me disseram, também vai a correr, mas, garantem, não serei o único a caminhar. Mesmo que seja. Vou ao meu ritmo.
Já tenho tudo preparado. O meu primeiro Kitt de competição está a postos para me embalar. No final, não haverá prémios. Apenas um simbolismo. Mas é um simbolismo que me vai marcar para sempre, quando lá para o meio dia e picos chegar à meta. Não sei se receberei algum aplauso no final. Não sei se receberei um sorriso ou um abraço. Mas nesse momento, nesse exato momento, quero pensar em mim. Quero sentir-me um vencedor. Quero aplaudir-me a mim próprio e confortar-me no meu próprio abraço. Acho que mereço.
Fechem a boca. Sim, sou lisboeta e nunca tinha estado mais do que cinco minutos no Monsanto. Só de passagem e de carro. Conhecido como o pulmão verde de Lisboa, o Mosanto é um ponto de encontro sobretudo para quem tem filhos e para quem pratica exercício físico (sim, há outras atrações que o tornaram/tornam famoso, mas não me estava a referir a essas...). Acontece que eu não sou pai e portanto não conhecia os Parques do Alvito e da Serafina. Não me lembro de ter estado lá, apenas passado por lá. E como só há três meses comecei a mexer-me, o Monsanto não era um sítio óbvio para mim. Mesmo que esteja a cinco minutos de carro de minha casa. Já aqui disse que moro perto do LX Factory e, portanto, o Monsanto é um pulinho. Aliás, já vários amigos me tinham perguntado: "E no Monsanto, não treinas? Aquilo é porreiro". A minha resposta era sempre "Não, nunca experimentei". Até hoje. E, de facto, eles tinham razão. Aquilo é porreiro. O pior é lá chegar. É o diabo. :)
Apesar das mudanças que estou a operar na minha vida, eu estou longe de ser um atleta. E, portanto, subir de Alcântara ao Monsanto, através da Estrada do Alvito, é um desafio pesado. Faço o caminho com muita frequência de carro e até vos garanto que, lá de cima, somos capazes de ter uma das melhores vistas sobre o Rio Tejo.
O pior é lá chegar. Debaixo da ponte 25 de Abril, junto ao restaurante russo Tapadinha, começa um trilho pedestre em terra batida. Assustei-me logo ali. Mas o desafio estava lançado a mim próprio. Ainda não eram 9h30 e da manha e lá estava eu com o batimento cardíaco mais acelerado, calções e T Shirt preta, fones brancos na cabeça. A ladeira começava ali. Duvidei se arrancaria. Ou se deixava para outra altura, quando tivesse mais pedalada. Afinal, ainda só passaram três meses desde que comecei. Além disso, ontem, sábado, o André Guardado, meu PT no Virgin Active, tinha-me dado uma tareia. Conclusão: havia músculos no meu corpo. Isso. Havia, eu podia senti-los. Todos. Em todo o meu corpo. Nas coxas, na barrigas das pernas, na parte superior das pernas, nos ombros, nos peitorais, nos bíceps, nos tríceps (é impressionante a quantidade de nomes que eles arranjam...). Tudo estava dorido, mas não desisti. Um desafio é um desafio. Se me sentisse mal, tinha bom remédio: voltava para trás. A descer, dizem, todos os santos ajudam. E eu, mesmo não acreditando neles, tenho uma fezada que num momento de aflição, eles hão-de me valer. Não foi preciso.
Parei duas vezes pelo caminho, mas cheguei ao cume do meu primeiro Prémio da Montanha. De primeira categoria. Tive pena de não levar uma bandeira, como Neil Amstrong fez em 1969, quando, ao pisar a Lua, deixou lá a bandeira dos Estados Unidos da América. Eu podia ter levado uma bandeira: "O Tipo 2 esteve aqui!". Mas não levei. Acredito, porém, que pode não ter sido "um grande passo para a Humanidade", mas foi seguramente, "um pequeno passo" para mim.
É que até aqui eu tinha apenas feito caminhadas relativamente planas, sem grandes declives, portanto, em nenhum momento tinha chegado cansado, ou tinha sentido necessidade de abrandar o ritmo, ou mesmo de parar. Desta vez, foi diferente. E aumentar as cargas é bom, colocarmo-nos à prova também. E a sensação de superar os os obstáculos é excelente.
Confirma-se. A vista lá de cima é fantástica. Eu vejo-a quase todos os dias, quando vou para casa, mas a pé teve outro significado. Depois, continuei por ali acima até chegar ao Parque do Alvito. Àquela hora, já havia muitos pais com as suas crianças a passear e a divertir-se.
Achei o parque particularmente bem tratado, bonito, convidativo. Continuei ladeira acima, e comecei a cruzar-me com gente que caminhava, que corria, que andava de bicicleta. Pais a andar e flhos de triciclo, famílias completas, que passeavam os seus cães. Tudo era novo para mim. "Venho aqui todos os domingos com ele", disse-me Lara, segundos depois de eu ter ajudado o filho, que não teria mais de 4 anos, a levantar-se de uma miniqueda da sua minibicicleta com rodas atrás. A Alameda Keil do Amaral, que desemboca num anfiteatro natural (onde há muitos anos, duas décadas talvez, assisti a um concerto dos Madredeus), hoje, aparentemente abandonado, é um sítio familiar.
E senti-me bem nessa caminhada, agora já em terra firme e inclinação quase nula. Era já o momento de descompressão, apesar de ainda me faltar mais de metade do percurso que tinha pensado para regressar a casa.
Fi-lo pela Ajuda, descendo a íngreme Calçada, que voltou a mostrar-me que os músculos das minhas pernas estavam vivos. No final, já em Belém, fiz o caminho plano até casa, cruzando os 15 km de caminhada, contente e orgulhoso com o esforço feito.
Amanhã, segunda-feira, passam três meses desde que me foi diagnosticada Diabetes. O que eu andei para aqui chegar.
O Tipo 2 está quase a fazer três meses. Muito caminho já foi andado até aqui. E muitos se foram juntando a nós, quer aqui, quer à página de Facebook, que já tem quase 4 mil seguidores. Aliás, se ainda não foram lá colocar o like, do que é que estão à espera? Na página de Facebook encontram todos os posts que aqui vou colocando e outro material exclusivo que não vem para aqui (fotos e vídeos, por exemplo).
Quem me tem seguido sabe dos meus objetivos: em primeiro lugar, motivar-me nesta batalha contra a diabetes e pela perda de peso e ajudar outos a encararem a doença não como um fardo, mas como uma janela para um estilo de vida mais saudável.
Para estes dois objetivos, tenho usado estratégias várias: por um lado, conto as histórias em nome pessoal, sem me esconder, sem esconder os que me rodeiam, sem meter a cabeça na areia. Partilho convosco as minhas alegrias, os meus sucessos e algumas angústias. Falo de mim, das minhas coisas, dos meus gostos, das minhas forma de ser, do meu feitio. Ou seja, procuro dar um rosto, humanizar uma doença que atinge diretamente um milhão de pesssoas em Portugal, mais, indiretamente, as que convivem com elas.
Por outro lado, procuro assumir um lado pedagógico, quase de serviço público. Ressalvando sempre que não sou médico, e o que aqui partilho resulta das conversas que tenho com a excelente e dedicada equipa clínica multidisciplinar que me segue na Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal, tenho procurado fornecer informação útil para quem é diabético ou para quem, mesmo não sendo ainda, tem fortes probabilidades de vir a ser. Preocupo-me com todos, mas, como compreenderão, mais com aqueles que, das duas, uma: ou não querem saber (aconteceu comigo, antes do diagnóstico oficial) ou vivem em negação ("sei que sou mas não quero saber dessa maldita doença, nem picar-me, nem mudar a minha vida").
No fundo, o que procuro é descomplicar a Diabetes, explicando que é uma doença crónica e que, controlados os valores da glicemia no sangue, permite uma vida absolutamente normal. Mas é preciso mudar o estilo de vida: tomar a medicação que nos é receitada pelos médicos (e só pelos médicos, que eu não acredito em chás e truques naturais...), reeducação alimentar e exercício físico.
Já aqui o disse e reforço: o grande medo que há sobre a diabetes resulta do grande desconhecimento sobre a doença. As pessoas têm medo do desconhecido. Ouvem falar em cegueira, em amputação de membros, em AVC. E, sim, tudo isso pode acontecer. Mas só se não mudarmos os hábitos alimentares e deixarmos a vida sedentária em que a maior parte nós vive. Não é preciso correr maratonas, e não vale a pena invocar a falta de tempo: bastam 30 minutos por dia de caminhada (à hora do almoço, por exemplo, em vez de irem beber a bica ao café do lado, deem mais uns passos e vão ao outro a seguir).
Já aqui tenho recomendado livros (hei-de voltar a eles, em breve), já aqui tenho citado sites credíveis e relatórios científicos. Hoje publico este vídeo produzido por um excelente site chamado Controlar a Diabetes. É um vídeo que mostra, com imagens, com grafismos e com uma linguagem muito acessível, o que é isso da equivalência de hidratos de carbono, um hábito essencial na nossa reeducação alimentar. Perguntas como "Quanto arroz posso comer?", "posso juntar arroz e ervilhas?", "posso comer fruta?", "E como é em dias de festa?" estão todas respondidas. Vejam o vídeo e percebam como, passados os primeiros dias, se habituarão facilmente às novidades.
Para terminar, vamos ser claros: ter diabetes é bom? Não, claro que não. É dramático? Não, não é, mas obriga-nos a mudar algumas coisas na nossa vida. Este Tipo 2 que vocês se habituaram a ler é o exemplo de que é possível: já perdi 19 quilos, 15 centímetros (!) de perímetro abdominal (a barriguinha onde se concentra a gordura visceral, tão propícia a enfartes do miocárdio), reduzi o colesterol para metade, baixei os triglicéridos, estabilizei a tensão arterial e tenho os níveis de açúcar no sangue absolutamente controlados e quase num patamar de "não diabetes". E, como vos tenho mostrado, não tenho sido mais papista que o papa. Tenho pecado. Com muito gosto.
Ponham isto na cabeça: "se este tipo consegue, eu também vou conseguir!". E não me venham com essa conversa de que eu tenho muita força de vontade. Sempre que me dizem isso, eu respondo da mesma forma: "se tivesse muita força de vontade, não tinha chegado aos 42 anos com obesidade mórbida, a pesar 140 e tal quilos, com o açúcar nos 300 e muitos, e não era hipertenso há oito anos. Tudo isto era um barril de pólvora. Um cocktail explosivo que, mais cedo ou mais tarde, mata. E é certo que sabemos que todos nós, um dia, seguiremos deitados para o mesmo destino, mas mais vale ser tarde do que cedo. Eu penso sempre nisso. E em todos os que amo e em tudo o que ainda me apetece fazer. Foi "isto", foi só "isto" que me fez dar o click. É disso que estão a precisar, um click.
Ontem foi dia de voltar a auto-injetar-me. Se bem se lembram, já vos contei aqui que na minha visita à Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal , a diabetologista mudou-me a medicação e dosagens. Manteve-me a metformina diária, mas acrescentou-me um medicamento de toma semanal auto-injetável. O Bydureon é um pó e solvente para suspensão injetável de libertação prolongada. Ou seja, tomo uma vez por semana, sempre no mesmo dia e preferencialmente à mesma hora, e ele vai libertando o medicamento ao longo da semana. Segundo a médica, optou por esta solução para mim porque a combinação dos seus princípios ativos permitem o controlo da glicemia e reforçam a perda de peso.
Há uma semana, na primeira vez, a auto-injeção fez-me alguma confusão. É uma caneta idêntica à de quem toma insulina (não é o meu caso), a agulha é fininha, mas o ato de ser eu a espetar a agulha em mim próprio não me foi confortável, como aqui contei. Ontem, foi mais fácil. Já me custou menos, embora aqueles dez segundos em que a agulha tem de estar dentro de nós não sejam uma coisa agradável. Não é doloroso, mas admito que não seja confortável. Mas tem de ser e, já me conhecem, se tem de ser, vamos a isso.
Na primeira semana, não senti qualquer contra-indicação, embora tenha verificado que os níveis de glicose tenham subido um bocadinho e estado mais irregulares. Coisa para a qual a médica já me tinha alertado que poderia acontecer na primeira semana. Nada de muito grave. Por exemplo: aconteceu-me nos primeiros dias ter glicemias de 145/150 duas horas depois das refeições, que eram valores que habitualmente já não tinha. Uma semana depois, esses valores já estão controlados e a minha glicemia em jejum, a que estava a ser mais difícil de baixar, está com os melhores valores de sempre. Antes do pequeno almoço tenho estado com valores de açúcar no sangue na casa dos 105/110 mg por decilitro de sangue.
Quase dois meses depois da crise de hiperglicemia que espoletou esta mudança na minha vida, sinto-me muito bem fisicamente. Já perdi 13,5 quilos, o meu açúcar baixou de forma drástica e consistente, o meu eletrocardiograma revelou um coração sem sobressaltos, o colesterol e triglicéridos baixaram muitíssimo e estão hoje absolutamente dentro dos valores de referência. Continuo a minha reeducação alimentar e ganhei gosto pelo exercício físico. São razões suficientes para me manter altamente motivado e, creio, são também razões suficientes para motivar quem continua, aí desse lado, a precisar de um empurrãozinho.
Quando criei este blogue, disse claramente que não queria ser um exemplo para ninguém. Só para mim. Mas a verdade é que o blogue e a página de Facebook do Tipo 2 (a propósito, já fizeram like?) cresceram muito neste tempo. Tal como a quantidade de mensagens, públicas e privadas, que me enviam a dar forças, a confessar fraquezas e a pedir conselhos. Saber que com esta minha mudança posso ajudar outros também me motiva a continuar. E por isso é altura de vos agradecer a todos por continuarem comigo. Para os mais céticos, para os que ainda não sabem/não conseguem lidar com esta doença, acreditem: a Diabetes não é incapacitante e, controlada, permite uma vida saudável. Até mais saudável do que antes. Olhem para mim.
Foi melhor do que eu estava à espera. Pela primeira vez, fiz caminhada acompanhado. Até aqui era sempre sozinho, ao meu ritmo, com os phones da cabeça e a ouvir a minha música. Ontem, tal como já vos tinha contado aqui, fui acompanhado. A minha sobrinha Sofia e a minha cunhada Teresa juntaram-se a mim. Foram 12,3 Km.
O dia amanheceu cinzento e fresquinho. Um bálsamo depois da inclemência dos últimos calorosos dias. Com 22 graus em Lisboa, partimos na caminhada. A Sofia, que tem sido na ternura dos seus 15 anos uma poderosíssima motivação para mim (acho que nem ela sabe o quanto...), tinha um sorriso rasgado. É bom vê-la assim, bonita, alegre e feliz. É bom senti-la próxima, cada vez mais próxima. É bom quando me dá a mão e caminhamos lado a lado. É bom quando me me manda mensagens cheias de corações.
A caminhada durou duas horas e 20 minutos, mais coisa, menos coisa. Fomos ao nosso ritmo. Conversando tranquilamente, sem stresses. Começámos junto à 5 de Outubro, descemos a Avenida da República, a Fontes Pereira de Melo, torneámos o Marquês, seguimos Avenida da Liberdade abaixo, Rossio, Rua do Ouro e Terreiro do Paço. O caminho sempre a descer, tranquilo, a um passo sereno, sempre de água em punho para irmos hidratando. Quando chegámos junto ao rio, o ceu já tinha aberto, a temperatura subido.
O mais impressionante nestas caminhadas que tenho feito, para além do impacto benéfico que elas têm na minha saúde, na minha motivação e na vontade de fazer exercício, é a capacidade de ir redescobrindo a pé uma cidade que adoro e que quase só conheço de automóvel. É ir olhando as lojas, as pessoas que passam, como se movem, como interagem. E ver como, lisboetas e turistas, vivem a cidade e o rio.
Foi no Terreiro do Paço que gravámos este vídeo:
A segunda parte do percurso foi mais inclinada: subimos do Cais do Sodré para o Chiado, via Rua do Alecrim. Foi duro, confesso. Aí foi preciso parar e repor energias. O que vale é que a minha malinha ia apetrechada. Depois, continuámos, ladeira acima até ao Jardim de S. Pedro de Alcântara, onde está um dos mais bonitos miradouros de Lisboa.
O ritmo baixou ligeiramente, na inversa proporção do mercúrio do termómetro, que ia subindo. Atravessámos o Príncipe Real, elogiámos uma das mais bonitas zonas de Lisboa, seguimos até ao Rato, subimos de novo para a Rua Castilho, Parque Eduardo VII e finalmente o ponto de origem, na Avenida 5 de Outubro.
Não preciso dizer que adorei. Perguntar-se-ão: "como é que este tipo consegue? Deve estar de rastos". Sim, estou cansado. Aliás, só estou a escrever este post, quatro horas depois de ter terminado a atividade. Mas o cansaço, sobretudo nos pés, é muito menor do que a vontade de continuar.
Amanhã vamos voltar. A Sofia está pronta para me desafiar. Ainda não lhe disse, mas estou a pensar levá-la até à linha de Cascais, junto à praia. Cheira-me que até vamos dar um mergulho no mar. Será que vamos sozinhos ou teremos companhia de quem prometeu vir? Nunca fiando. Amanhã veremos...
Eu sou o tipo mais preguiçoso à face da terra. Ou pelo menos era, não sei bem. Preguiçoso não no sentido de trabalhar, isso não. Mas preguiçoso no sentido de me mexer, de praticar exercício físico. Já vos disse por aqui: se tivesse de andar 150 metros para ir a uma loja, levava o carro. As coisas mudaram, entretanto. Eu sabia que tinham de mudar: o exercício físico é fundamental para quem quer adotar um estilo de vida mais saudável e, em concreto no meu caso, é um dos pilares essenciais na luta contra a diabetes tipo 2 (os outros são a reeducação alimentar e os medicamentos). E, assim sendo, as coisas mudaram.
Sejamos, porém, claros. Se alguém há um mês e meio me dissesse que eu me tornaria um tipo razoavelmente viciado em exercício físico, eu desatava a rir. Mesmo! Que disparate, não era possível! Eu viciado em desporto? Só de sofá, e mesmo assim sou bastante seletivo. Pois, acontece nas melhores famílias. De repente, aquilo que começou por ser uma necessidade imperiosa, quase uma obrigação, é hoje um prazer. Há dias em que não me apetece? Há, confesso. Não estou ainda nessa fase "Ressaca, ressaca, preciso da minha dose diária!", mas, se ao fim de dois dias, não fizer uma caminhada, sinto falta. Eu não sei se isso se passa com a restante malta, mas eu gosto de fazer isto sozinho. Também ainda não fiz de outra forma, portanto não tenho termo de comparação. Coloco os meus phones, vou a ouvir a minha banda sonora (nem queiram saber a misturada que está lá...) e lá vou eu. Tenho desafiado alguns amigos a virem comigo. Gostava de experimentar ir acompanhado, mas sem a obrigação de grandes conversas. Tenho ideia que me cansarei mais e que terei mais dificuldade em controlar a respiração se for a conversar. Mas ando cá com umas ideias: quando este blogue fizer seis meses, lá para janeiro, sempre podíamos fazer a 1ª Caminhada Tipo 2. O que vos parece? Uma concentração de gente, diabética ou não, que se quisesse juntar à causa. A ideia parece-me catita. Adiante.
A minha aplicação de telemóvel diz-me que neste mês de atividade física já caminhei 76,21 quilómetros. Não foi de tuk-tuk, nem atrás de Pokémons. Não, foi mesmo a pé. Em dez caminhadas, é uma média de 7,6 quilómetros por cada passeata. Tem sido ótimo e no final, apesar do cansaço nos pés e pernas (sempre são (ainda) três dígitos de quilos em cima deles...), há uma sensação de conforto. De que estou a fazer a coisa certa. Fico mais bem disposto, até parece que respiro melhor. De caminhada para caminhada, canso-me menos, apesar de o ritmo ter vindo a intensificar-se. Mas é um cansaço físico, de pernas e pés, não um cansaço cardíaco ou de pulso acelerado. Também não corro, tudo tem o seu tempo. Essencial para quem pratica atividade física ou só agora começou a fazer estas coisas: levar sempre uma garrafa de água, para ir hidratando, e uns hidratos de carbono do absorção rápida para, em caso de hipoglicemia (quando os valores de glicose no sangue descem a níveis perigosos), fazer frente a complicações de maior.
Não cometam o mesmo disparate que eu, logo no primeiro dia de exercício: fui todo lampeiro sem água, nem dinheiro para comprar o que quer que fosse. Conclusão, tive de viver da caridade de uma menina simpática de uma pastelaria que me deu um copo de água com açúcar. A partir daí, levo sempre a minha dose necessária para qualquer eventualidade.
Escolho habitualmente percursos perto do mar ou do rio. São mais frescos, mais relaxantes e, por lá, normalmente, cruzamo-nos sempre com muita gente que está a fazer o mesmo: gordos, magros, novos, velhos, homens, mulheres, a andar, a correr. Gente que está ali para o mesmo que nós. Que passa por nós em sentido contrário e que, por vezes, esboça um sorriso. É, há uma certa dose de cumplicidade entre as pessoas que, não sendo desportistas, praticam exercício físico. É um sorriso discreto, como quem diz "Ainda bem que vieste. Isto faz bem, não faz?". Essa sensação é muito agradável, devo confessar-vos. E motiva-me a continuar o caminho.
A minha atividade física não se limita às caminhadas. Desde abril que estou inscrito no ginásio. Foi antes de descobrir que sou diabético. Sabia que tinha de perder peso e inscrevi-me. Não era garantia de nada. A história da minha vida é pagar fidelizações em ginásios e nunca colocar lá os pés. Desta vez, fui para o Virgin Active, ali na Fontes Pereira de Melo, a cinco minutos do meu local de trabalho. Gosto do espaço, da variedade de máquinas, da simpatia das pessoas. Em maio fraquejei e não pus lá os pés. Mas, depois, o meu personal trainer tanto insistiu, tanto SMS enviou, que eu acabei por ceder. E fiz bem. O André Guardado já me conhece as manhas: sabe as máquinas de que gosto, sabe os exercícios para os quais não tenho paciência e é um motivador. Dir-se-á que todos os PT são assim, treinados para ser assim: têm a lábia toda, mostram-se sempre preocupados com os seus clientes e são ótimos motivadores. É verdade, é a vida deles, e portanto, é natural que procuram desempenhar o seu trabalho de forma profissional. O André tem sido um amigo, que puxa por mim, que respeita os meus limites, e que me motiva. A cada caminhada, a cada foto que coloco no Facebook ou no Instagram, lá tenho um like dele. Isso dá-me vontade de continuar. O negócio é bom para todos: em primeiro lugar para mim, que pratico exercício físico; em segundo lugar, para o André, que é pago pelo acompanhamento personalizado que me dá e vê os resultados em mim. E em terceiro, lugar para o ginásio, que continua a receber a minha mensalidade.
A propósito: tinha aula de PT marcada para hoje. Estou cansado. Os músculos das pernas e dos braços estão a fazer-se sentir. Baldei-me. Há dias assim.
O caminho ainda agora começou, mas está a dar os seus frutos. Ontem foi o meu melhor dia desde 19 de junho no que toca aos valores de glicemia: 111 miligramas de glicose por decilitro de sangue de manhã (em jejum), 115 mg/dl às 17h00, duas horas e meia depois de almoçar e 121 mg/dl duas horas depois de jantar.
De acordo com os médicos, os picos glicémicos registam-se sempre duas a três horas após as principais refeições. Recordo aqui um gráfico que já publiquei neste blogue e que contempla os valores de referência: ou seja, os valores que configuram situações de hipoglicémia (valores abaixo do recomendado), normalidade, pré diabetes e diabetes.
Ora, como rapidamente se percebe, ontem foi um dia bom. Em jejum, ainda estão ligeiramente acima (no escalão pré-diabético), mas os dois valores depois das refeições claramente dentro da "normalidade".
O que quer isto dizer? Deixei de ser diabético? Nada disso, apenas que a conjugação entre a toma dos antidabéticos orais (Eucreas: vildagliptina + metformina), a os cuidados alimentares e o exercício físico estão a resultar.
Está a ser um sacrifício? Não, nem por sombras. É uma questão de hábito. Acreditem, se são diabéticos ou pré-diabéticos, ajam. Façam alguma coisa. Mudem de vida. Mudem a vossa alimentação, mexam-se. Pela vossa saúde.
Esta terça-feira foi um dia importante para mim. Todos os dias são importantes nesta batalha por uma vida mais saudável. Ou porque conquistámos algo, por mais insignificante que possa parecer, ou porque falhámos em alguma coisa e, com isso, aprendemos. Ontem foi dos bons. Apesar de ter sido um dia profissionalmente exigente, com seis reuniões fora do gabinete, houve tempo (tem de haver sempre tempo!) para comer a horas, sem saltar refeições, com minutos para mastigar e usufruir cada refeição. No final dia, escolhi o Parque das Nações, onde tinha sido a última reunião, para mais uma caminhada junto ao rio. Foram 6,7 quilómetros. Foi excelente. O Parque das Nações é, de facto, um local fantástico para praticar desporto. Ao longo daqueles 70 e tal minutos que por ali andei (não corro ainda), cruzei-me com dezenas de pessoas: homens e mulheres, novos e velhos, gordos e magros, a correr, a andar ou de bicicleta. Seguramente, uma experiênca a repetir.
Ontem de manhã tinha tomado uma decisão: passei a andar com o equipamento desportivo no carro. É uma forma de evitar desculpas: "Ah, agora até podia aproveitar, mas não trouxe os calções e os ténis..." Não, agora não. Não há desculpas. Eles estão sempre comigo. Há tempo entre reuniões? Há possibilidade? Bastam 30 minutos, vamos lá. Tem sido assim e estou entusiasmadíssimo. Aliás, nunca julguei que me pudesse entusiasmar com a prática de exercício físico.
Os resultados do exercício físico, conjugados com a alimentação e a medicação, estão a dar resultados visíveis. Para além dos 11 quilos já perdidos, os valores de glicemia estão quase controlados. Ontem foi o melhor dia de todos. Vinte e três dias depois do Dia Zero (19 de junho), as minhas três medições de glicemia de ontem são excelentes para um homem com a minha estrutura.
Nada está conseguido. Haverá dias em que os valores estarão mais altos, naturalmente. Não desanimarei. Tal como agora não embandeiro em arco. O que é preciso é não deixar de vigiar e de saber ler os sinais do nosso corpo, percebendo os impactos (positivos ou negativos) que algumas práticas ou novidades introduzem na glicemia.
Conhecem aqueles tipos que, ao fim de semana, se forem beber café a seguir ao almoço e se o café ficar a 100 metros de casa... levam o carro? E que reagem com um esgar à mera possibilidade de andar a pé nem que seja 200 metros? E que à proposta "vamos dar uma caminhada na praia?" respondem com um "eh pá, vai tu, que está um calor do caraças!" Conhecem? Eu também. Eu! Pronto, está dito!
Sim, há aqui alguma dose de exagero (os blogues têm de ter sempre um tom leve, vagamente confessional). Fora das minhas rotinas, em férias por exemplo, ando muito e sem me poupar. Prefiro cidades planas, claro, do que prémios da montanha. Mas, recordo-me bem, as últimas vezes que estive em Paris, em Roma, em Barcelona ou em Veneza, andei quilómetros. Sim, quilómetros. E ponham lá os dois dígitos na expressão.
Fora das férias, a minha tendência para o exercício físico é quase zero. Sou assim. Tentei várias vezes, acreditem. Só à minha conta, o Holmes Place já se riu várias vezes. Em dez ou 12 anos, já fui sócio do clube da Defensores de Chaves, da 5 de outubro, das Amoreiras e da Beloura, sempre com os respetivos períodos de fidelização. Se juntarmos o período todo que por lá andei não devemos conseguir contar três anos. É de clientes como eu que os ginásios gostam. Estão a ver aqueles tipos que comem uma fatia de picanha, outra de maminha e um bocadinho de feijão e vão a um rodízio? Ou os que comem apenas salada num "all you can eat"? Pronto, somos todos da mesma raça. Uns tontos que damos razão a quem pensou no negócio com custo fixo!
Mesmo em criança já era assim. Andava de bicicleta com amigos, jogava à bola na rua com amigos, mas na escola, ficava sempre à baliza. Primeiro, porque ninguém escolhia "o gordo" para sua equipa ("pronto, ok, pode vir o Mega!" - nunca um apelido foi tão bem aplicado a um corpo). Em segundo, porque na baliza corria-se menos. Ainda por cima, não era propriamente um Rui Patrício...
O exercício físico é fundamental no combate à Diabetes. Já não falo no combate à obesidade, porque isso eu tinha obrigação de saber. Experiência não me falta. Mas no combate à Diabetes é fundamental.
Diz a Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP) que "a prática de exercício vai melhorar a sua (minha) condição cardiovascular geral". E acrescenta isto. Fica entre aspas e tudo, porque é muito importante. "Quando faz exercício está a estimular o seu pâncreas a produzir insulina e, por outro lado, como está a exercitar os músculos, eles precisam de energia. Deste modo, também está a aumentar a utilização de glicose pelos músculos impedindo que esta se acumule no sangue e aumente a sua glicemia". É fácil perceber, não é?
Há três meses, antes de ser um Tipo 2, quis ser um tipo mais saudável. E fiz o quê? Inscrevi-me num ginásio. Vá, riam-se! E fiz mais o quê? Arranjei um Personal Trainner. Pronto, podem parar de rebolar a rir? Esforcei-me e tenho conseguido ir regularmente. Houve ali um período de 15 dias em abril que não pus lá os pés, mas graças à persistência e infinita paciência do André Guardado, do Virgin Active SottoMayor, em Lisboa, tenho conseguido ir. O André diz que está orgulhoso de mim. Acho que é conversa de PT.
Desde 19 de junho, dia em que oficialmente a Diabetes e eu fomos apresentados, o exercício físico ganhou ainda mais importância na minha vida. O menino sem vontade de fazer nada mudou. Porque teve de mudar. Faço caminhadas de quilómetros (e gosto!), faço passadeira, faço máquinas (o que eu gosto de máquinas) e nado. Não sei se alguma vez vou ser como o Filipe e a Natália, um casal de amigos que se tornaram runners (é assim que se diz, não é?). Mas tenho traçado objetivos e sido metódico a cumpri-los. Já meti um na cabeça: a 19 de março de 2017 quero percorrer (a caminhar, calma!) a Ponte 25 de Abril durante a Meia Maratona de Lisboa. Claro que não vou fazer os 21 quilómetros, mas colocar agora em julho um objetivo a longo prazo é bom. Motiva. Vou fazer a Ponte a pé. Depois, paro onde tiver de parar. E livrem-se de não irem lá apoiar-me, com aplausos e cartazes!!!
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