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Gosto de receber em casa. Sempre foi assim. Acho que é daquelas coisas que vieram de criança. Os meus pais eram excelentes anfitriões e tinham gosto em receber amigos para almoçar ou jantar em casa. Era uma excitação entre os filhos. Esse gosto passou para nós. Quer eu quer os meus irmãos também gostam dos prazeres da mesa e das boas conversas à volta dela.
Ontem foi dia de jantarada cá em casa. Éramos 11. E, ao contrário do que costuma ser habitual, os preparativos não foram fáceis. Em primeiro lugar, porque de manhã fiquei com a "telha". Queria ir fazer caminhada para o pé da praia com a minha sobrinha. Ela estava constipada e eu de rastos dos 12 quilómetros da véspera. Pernas e pés muito doridos. E, portanto, achei prudente não fazer aquilo que me apetecia: ir repetir a dose. Descansei até um pouco mais tarde e foquei-me no jantar.
Carne ou peixe? Que entradas? Que acompanhamentos? O problema da sobremesa estava resolvido: a Sofia já tinha prometido uns brownies. Prometeu e cumpriu. Excelentes. Só comi um quadradinho, mas comi. Não costumo ser tão indeciso na cozinha. Sou um razoável cozinheiro. Aventuro-me mais do que o básico e o retorno dos amigos é normalmente positivo. Nem sempre as coisas correm de forma perfeita, mas é a vida.
Quando fui para o supermercado, às 14h00, ainda não sabia o que ia apresentar às 20h30. O problema não era tanto a escolha em si, mas a natureza da escolha. A minha alimentação, como bem sabem, mudou há um mês e meio. Tenho pregado sempre que posso as virtudes desta mudança, tentando não me tornar um fundamentalista. A hesitação é esta: por um lado, penso que o diabético sou eu, portanto não tenho de limitar as opções de escolha dos outros em função da minha condição. A minha família e amigos não são diabéticos e, portanto, não têm de ser obrigados a qualquer mudança. Por outro lado, pesam dois fatores: primeiro, a minha reeducação alimentar não me privou de nada, nem introduziu alimentos não consensuais (se me tivesse tornado vegetariano, não faria tofu num jantar para pessoas não vegetarianas...). Em segundo lugar, se acredito nos benefícios da nova forma de me alimentar, penso que também não faz sentido apresentar um jantar com o contrário do que defendo. Tipo "faz o que ele diz, não faças o que ele faz".
E foi nestes pensamentos que ainda andei 30 ou 40 minutos no hipermado. Salmão, rico em ómega 3, e peixe suficientemente versátil (podia ser lombinhos no forno ou em lasanha de requeijão com espinafres, um prato que me sai bem, mas altamente calórico...), ou peitos de frango. Optei pela segunda alternativa: um peitinho para cada um (escolhi peitos com 150 gramas, não há necessidade de mais por pessoa, uma vez que havia entradas).
Barrei o interior dos peitos de frango, um a um, com pesto e recheei-os com espinafres cozidos e um toque de queijo de cabra de baixo teor calórico. Temperei-os com um fio de azeite, vinho branco em abundância e o sumo de uma laranja espremida. Sal q.b, louro, pimenta e... forno. Fiz duas belas saladas: uma de mistura de alfaces e cenoura. Outra de tomate, milho, azeitonas, sementes de girassol e oregãos. Na hora fiz ainda um risotto de espargos com cogumelos, que estava fantástico, devo confessar. Podia ter-me ficado pelas saladas? Podia, ainda por cima porque o frango já tinha espinafres, mas apeteceu-me fazer o risotto.
Para entradas, escolhi pão escuro com alto teor de fibra. Duas variedades: de centeio e de alfarroba. Tinha algum receio que não fosse aprovado, mas, caramba, tinha de dar alguns novos exemplos!!! Fiz um paté de atum caseiro, (uma lata de atum natural, sem azeite, uma colher de sopa de maionese light, uma colher de sopa de pikles bem esmagadinhos, uma colher de sobremesa de polpa de tomate e, o meu toque: uma colher de sobremesa de gin), e um quejo creme com ervas, com metade das gorduras. Ainda havia uma tábua com queijo da ilha e fuet.
O jantar foi muito agradável e elogiado. Não foi um jantar de dia-a-dia para mim. Comi mais do que é habitual, mas tinha lá algumas das minhas novas preocupações, que passei ao resto dos comensais. Mas era um dia especial e, como tal, também assim o encarei, sem sentimentos de culpa. Hoje o açúcar está mais alto do que é habitual, embora não preocupantemente alto (142 mg/dl). Sei que o dia vai ser compensações. Tudo tranquilo e sem stress.
Sem stress é como quem diz: no final da noite, metade dos comensais ficaram presos num dos elevadores (o 2). Fomos conversando de fora para dentro, para manter a boa disposição, enquanto os técnicos da marca tinham tempo de chegar. Ainda passaram uns bons 20 minutos. Entre sustos e faltas de ar momentâneas, a coisa resolveu-se a bem. E terminou na rua, juntos, em gargalhada. Ficou uma história para contar. Sugeriu-se a criação de um blogue. Podia chamar-se "O Tipo do Elevador 2". Aprovado!
"Não tenho paciência para andar toda a vida comer peixe cozido e bife grelhado", dizem-me constantemente. Nem eu. Gosto muito de pescada cozida com brócolos, mas, reconheçamos, é uma seca de comida. Uma vez por semana e está bom. Siga. Os regimes alimentares são muito menos espartanos e desinteressantes do que a maior parte das pessoas pensa. Eu incluído. Genericamente, o segredo está na variedade e na diversidade, acautelando naturalmente a quantidade, o sal, os índices de gordura e, no caso de um diabético, de hidratos de carbono, sobretudo de açúcar.
Primeira coisa essencial: verduras cruas e legumes cozidos. Não se esqueçam de os incluir em cada refeição principal. Mas diversifiquem a vossa escolha. Não comam só brócolos, ou só feijão verde, ou só alface. Vão fartar-se rapidamente. Variem. Diversifiquem. Agora uns, logo outros, a seguir ainda outros. Há tanta variedade para quê complicar?
Às principais refeições, ocupem metade do prato com legumes cozidos ou crus. Reservem a restante metade para as proteínas (1/4 do prato) e para os hidratos de carbono (1/4 do prato). Neste exemplo, uma bela salada de tomate maduro com cebola e oregãos, dois pedaços de frango assado no forno (cerca de 120 gramas de carne - sem pele) e duas colheres de sopa de arroz branco, o equivalente a 45 gramas (1 porção de hidratos de carbono -12 gramas). Atenção, descansem. Eu não ando de balança atrás para pesar os alimentos. É tudo uma questão de hábito: com a rotina vão habituar-se às porções certas.
No Portal da Diabetes, da Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal, vão encontrar a lista de todas as equivalências em hidratos de carbono. Uma porção de hidratos tem 12 gramas. Uma batata cozida do tamanho de um ovo corresponde a uma porção. É o mesmo que duas colheres de arroz, quatro colheres de grão, cinco coheres de milho de lata, ou 30 gramas de pão escuro ou um copo de leite, ou três bolachas tipo Maria, ou um kiwi. Todas estas coisas têm o mesmo peso de hidratos de carbono (onde se inclui o alçúcar).
Vejam a tabela aqui: Tabela de Equivalências de Hidratos de Carbono. Vão perceber facilmente a imensidão de coisas que podem fazer com a comida, a variedade que podem apresentar em cada prato. Optem pelas carnes mais magras (frango, peru, coelho), mas não risquem a carne de vaca e de porco. Podem comer, embora menos frequentemente e limpando as partes mais gordas. Sobrtudo, esqueçam aquelas "doses de restaurante". Um bife de 300 gramas com molho de natas e batata frita, uma pratalhada de Cozido à Portuguesa, dois panados de peru com batata frita e arroz. Não é precisa tanta comida. Acreditem: ao fim de 15, 20 dias, vão perceber isso, e habituar-se às novas doses.
Por exemplo, o que temos neste prato à direita? Um bife de atum (adoro atum fresco). O bife tem 125 gramas, partido em cinco bocados (um truque para, no momento de comer, parecer mais...). A saladinha de tomate lá está e depois dividi os hidratos de carbono em duas meias porções: (1 colher de sopa de massa colorida e 1 colher de sopa de esparregado de espinafres - não, não conta como legumes! Tem farinha, logo é um hidrato).
Diminuir as doses, além de ser uma gestão alimentar muito mais racional, saudável e equilibrada, tem um outro efeito prático: sai mais barato. Por exemplo: o bife de atum não está ao alcance de qualquer bolsa. Varia entre os 11 e os 14 euros o quilo, consoante o supermercado e se não estiver em promoção. Ora, se pedirmos um bife com 250 gramas (é fácil um bife pesar 250 gramas, acreditem...), pagaremos entre 3 e 4 euros pelo bife. Se reduzirmos a dose para os valores recomendáveis (120/140 gramas), pagaremos pouco mais do que 1,5 euros pelo pedaço de peixe. Faz diferença.
Como veem, cor não falta nestes pratos. É preciso é imaginação, variedade de alimentos e capacidade de criação. Se comerem de forma equilibrada ao almoço e ao jantar, e se forem complementando, de três em três horas, com pequenos reforços (um iogurte magro, uma peça de fruta + 2 bolachas ou 2 tostas, uma gelatina 10 Kcal, um queijo fresco magro), verão que não têm fome. Acreditem em mim, que, como sabem, não sou homem de pouco alimento!
Nota: todos estes pratos são verdadeiros, não se de banco de imagens. E as fotos foram tiradas por mim.
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