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Esta foto foi tirada hoje à porta Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal. À saída, claro. Não veem o sorriso? Mesmo que o vejam, não conseguem perceber a exata proporção do que sinto interiormente. Podem ter uma vaga ideia, mas não dá para perceber o turbilhão de sensações. Vocês têm acompanhado aqui este meu percurso, têm feito parte dele de forma entusiasta (foi por isso que criei este blogue, lembram-se?) e, portanto, é justo que compartilhe convosco aquilo que, em palavras, consigo partilhar. As lágrimas que me correram hoje, sem vergonhas nem pudores, à frente da médica, quando ela me mostrou os resultados das análises, isso não consigo descrever por palavras. Sei que me entendem. 

Acabo de sair da APDP e da minha terceira consulta, desde que a 19 de junho me foi diagnosticada a Diabetes Tipo 2. Nesse dia, tinha 329 mg de açúcar por decilitro de sangue. Hoje, três meses e meio depois, tinha 89 mg/dl. O melhor teste, porém, já aqui o tinha dito, é o da hemoglobina glicada (ou glicosada), o valor médio de três meses de glicemia. Esta é a medida de referência usada clinicamente para diagnosticar o quadro de diabetes e aferir a evolução do paciente.

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Pois, se bem se lembram (contei aqui!), a 2 de agosto, apenas com um mês e picos de mudança de estilo de vida, o meu valor ainda era muito alto (9,1%), se atendermos ao valor-referência: o ideal é que o número esteja abaixo de 6,5/7. Hoje, 4 de outubro, a minha hemoglobina é perfeita: 6,4%. Um valor de alguém saudável!

No que toca a pesos e medições, os resultados não poderiam ser mais inspiradores e recompensadores: no espaço deste último mês perdi mais seis quilos, graças à conjugação "reeducação alimentar + exercício físico + medicação", e reduzi a minha cintura (o famoso e perigoso perímetro abdominal) em 7 cm. Isto significa que desde que iniciei o tratamento na APDP, perdi 12 quilos e 22 centímetros de barriga. O resultado é ainda mais espantoso se recuar a abril, quando me inscrevi no ginásio. Em seis meses perdi 23 quilos. Não é gralha, são mesmo 23 quilos. O meu índice de massa corporal baixou 5 pontos percentuais. Na prática isto diz uma coisa fundamental: é preciso continuar este caminho. Mas cá dentro,  meus amigos, cá dentro da cabeça é uma enorme volta. A começar pelo rótulo. Desde hoje deixei de ser um Obeso Grau III, e passei a ser um Obeso de Grau II. Pior ainda: abandonei, de acordo com os padrões de aferição do IMC (índice de massa corporal), o pavoroso escalão da Obesidade Mórbida. As palavras não são ocas, têm significado, têm peso. E às vezes, mesmo para um tipo bem resolvido e com uma autoestima alta, as palavras pesam toneladas.

No domingo passado passei pelo CascaiShopping e comprei um par de calças. Constatei que o meu número (aquele que tinha comprado há um mês e meio, quatro números abaixo do que vestia há quatro meses) já era grande de mais. A funcionária sugeriu-me um número abaixo. Ainda ficavam a bailar. Foram dois números abaixo. Ou seja, reduzi seis números (equivalente a 12, uma vez que as calças saltam de dois em dois...). 

Ao longos dos últimos dias, nas redes sociais, tenho colocado fotografias e rececebido centenas de simpáticos "likes" e dezenas de calorosos comentários. Com alguns emocionei-me. Outros fizeram-se sorrir. A todos agradeço. Muitos tinham um denominador comum: por um lado, o espanto e as felicitações; por outro, a ideia subjacente à frase "como vês, o esforço compensa". Tenho pensado muito nisso, nesta última ideia. Mas qual esforço? Acreditem, não estou a fazer género. E percebo que seja difícil perceber que esteja a ser sincero. Se fosse verdade, se fosse fácil perder peso no meu caso, não teria ultrapassado os 140 quilos, como cheguei a pesar. Mas, para ser honesto comigo, tenho de vos dizer: não tem havido esforço. Tem havido rigor, força de vontade, capacidade de resistência, uma grande entrega e, mais importante que tudo, um grande respeito por mim. É isso mesmo. Um grande respeito por mim. Mas esforço? Não. Habituei-me a fazer exercício físico porque era imprescindível. Tinha de ser. Hoje apaixonei-me por caminhadas.

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Tanto que, como sabem, no domingo passado me inscrei na primeira prova coletiva da minha vida. Foi a Mini Maratona de Lisboa, na Ponte Vasco da Gama. Mas quando cruzei a meta, ao fim de 6,5 quilómetros, senti que queria mais. E continuei, junto à margem do Tejo, até que cheguei ao Lux, onde chamei um Uber. No total do dia, tinha caminhado 14,9 quilómetros!

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Foi a minha primeira vez. Teve um simbolismo especial. Fui sozinho, não encontrei lá qualquer amigo dos que me disseram que também iam. Eram milhares de pessoas, seria a mesma dose de fortuna do que encontrar uma agulha no palheiro. Mas aquele sentimento de partilha, de comunhão, aquela sensação de que estávamos todos ao mesmo, foi magnífica. Tal como eu centenas de pessoas fizeram a prova a caminhar. Havia pais com crianças, havia carrinhos de bebéis e até alguém que se juntou com um cão a meio do percurso. Escusam de perguntar: sim, emocionei-me quando cruzei a meta. Não pelos 6,5 quilómetros, mas porque tinha conseguido, porque tinha sido capaz de me expor uma vez mais, de partilhar com os outros as minhas fragilidades e forças.

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No final, à chegada à linha de meta, instalada na Alameda dos Oceanos, o meu amigo e companheiro de trabalho Rodrigo Cabrita, um magnífico fotojornalista que estava a trabalhar, registou o momento que fica para a posteridade. Tal como o dorsal 22521 e a medalha, anónima, banal e sem qualquer valor financeiro, mas que nunca vou esquecer e que guardarei sempre comigo.

Portanto, que fique claro. Sim, o sacrifício pode valer a pena. E há alturas na vida que podemos e devemos fazer sacrifícios, se eles nos levarem a bens maiores. E neste caso, o da minha saúde, faria tdos os sacrifícios necessários. Mas, acreditem, não tem sido. Tem sido uma redescoberta apaixonante. Contagiante porque visível todos os dias. 

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Acham este prato de robalo grelhado em cama de legumes um sacrifício? Eu cá não acho. Estava delicioso. E é mais uma prova, das muitas que aqui tenho deixado, que um diagnóstico de Diabetes não é uma gilhotina em cima da cabeça. Nem tão pouco uma prisão absoluta que nos obriga a comer coisas chatas todos os dias. Não posso comer rissóis, bolas de berlim, mousses de leite condensado, folhados de carne, cozidos à portuguesa e feijoadas todos os dias? Não, não posso. Ainda bem. É preciso regra, rigor, contenção, alguma capacidade de resistência, mas há tanta coisa boa que podemos reaprender a cozinhar e a comer que as outras vão deixar de fazer falta. E quando sentirmos falta, já sabem a minha dica, comam. Uma vez não vos fará mal. 

Este texto já vai longo e não vos quero maçar mais. Nem queria terminar com uma mensagem moralista. Já aqui vos disse: eu deixei de fumar há cinco anos porque quis, não foi porque li nos maços que fumar causava cancro ou impotência sexual. Há momentos para tudo. Nem sempre estamos preparados para esse momento. Não quero ser heroi de ninguém, nem exemplo do que quer que seja. Mas posso ser uma inspiração. Para mim tenho sido. E se comigo tem resultado, convosco também vai resultar. Acreditem, deem o primeiro passo, não desistam. E passem cá para contar. Façam like na página de Facebook do Tipo 2 e partilhem as vossas histórias. Se formos todos a puxar para o mesmo lado, talvez isto seja menos difícil...

 

 

 

 

 

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 O aviso chegou por What'sApp. "Logo apetecia-me pizza. O que te parece?", lia-se na mensagem. Não me apetecia muito, devo confessar. Primeiro, porque embora gostando de pizza, não sou um amante da dita. Como, mas não é uma coisa que me faça dizer "o meu reino por uma pizza". E, em segundo lugar, porque a pizza tem farinha para fazer a massa (é rica em hidratos de carbono) e, independentemente do recheio que escolhermos, tem queijo, muito queijo, e pode ter natas e sei lá mais o quê (gordura). Ou seja, coisas pouco recomendáveis para quem está num processo como eu.

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Ainda assim, disse que sim. E mais. Fui tão fofinho que procurei um sítio diferente, uma pizzaria muito recomendada no TripAdvisor e no The Fork para lá de Sintra (em Arneiro dos Marinheiros, junto ao Magoito). E fomos. Pedimos um pão de alho especial (ups...), que tinha queijo, alho, e chouriço (ups, ups...) e uma pizza à chefe (frango, cogumelos, natas, azeitonas, amêndoas e oregãos). Há dois tamanos de pizza: as pequenas (à volta dos 11/12 euros) e as grandes (com preços médios de 14/15 euros). Achámos que uma grande daria para os dois, ainda por cima depois da entrada. Não só chegou como ainda trouxe metade para casa. E não foi por falta de qualidade: pizza excelente, caseira, feita à nossa frente.

Por mais que relativize, há sempre um grilo da consciência que fala na nossa cabeça. "Estás a comer pizza, estás a comer pizza!". Depois, há outro (que deve ser o grilo bonzinho) que ia dizendo "Sem stress, comeste salada low carb do Go Natural ao almoço, andaste cinco quilómetros a pé! Usufrui à vontade da tua pizza, homem!". E assim foi: comi descansadamente, sem peso na consciência (vá lá, sem grande peso na consciência). Descaradamente, ainda dei uma colherada no Petit Gateau, que, deslumbrantemente, era devorado à minha frente.

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 Por descargo de consciência, medi a glicemia duas horas depois (no pico do efeito da refeição): 114 mg de açúcar por decilitro de sangue. Um valor excelente. E voltei a medi-la hoje de manhã, em jejum. Queria mesmo certificar-me do efeito que a pizza tinha tido em mim: 96! Fiquei muito satisfeito. Em ambos os casos, os valores estão abaixo dos níveis de referência de diabetes, o que prova que o meu percurso feito até aqui, apesar de todos estes excessos já provocou mudanças no meu metabolismo, que não é afetado por estes pequenos desvios.

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 Tomei a medicação, preparei o meu pequeno almoço e tomei-o descansado: um iogurte magro de morango com sementes de chia, uma fatia de pão de cereais escura com manteiga magra, um queijo fresco magro e uma pera. O almoço, já agora, vai ser creme de espinafres sem batata, salada de quinoa com cogumelos frescos, tomate, farrapos de beterraba e argolas de lulas, que cozinhei ontem à noite e que será comida fria ao almoço.

Este post serve exatamente para mostrar que a vida do diabético não é a preto e branco, como muitos temem. Tenho-me esforçado por dizer isto aqui. Um diabético tem de viver, não pode ficar agrilhoado em coisas cozidas ou grelhadas sem qualquer sabor. Diversidade, equivalências bem feitas, riqueza de nutrientes e exercício físico são a base que, com a medicação prescrita pelos médicos da APDP, permite evoluções seguras e desvios cheios de prazer. Mas atenção, não relaxem, não se esqueçam que há um caminho a ser perseguido todos os dias. E os resultados só se conseguem com disciplina. 

 

PS - Ah, já agora. A Pizzaria de ontem chama-se Dona Azeitona. Não a conhecia. Os senhores foram muito simpáticos, mas eu paguei a conta. Apenas me refiro a ela, porque acho que merece.

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A marmita nunca tira férias. Nem na praia...

por Nuno Azinheira, em 10.08.16

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Via-a no Jumbo de Alfragide. Tinha um ar consistente, ampla, cheia de bolsas e recantos escondidos. E ainda umas caixas plásticas. "Tens a certeza que queres levar esta? Parece que vais levar o gato ao veterinário", perguntaram-me. Rimos à gargalhada no corredor do hipermercado. Peguei na mala e andei 2 metros com ela na mão, como se, de facto, levasse o gato ao tio Vet. Olhei para o preço e pareceu-me puxadote. Hesitei uma, duas vezes. Acabei convencido. "Esta é a mala ideal para poder levar as minhas refeições para onde quer que vá", autojustifiquei-me.

E é assim que, desde o final de julho, tenho uma marmita que mais parece a caixa do gato que não tenho. Estreei-a no dia seguinte no trabalho. Lá coube tudo: a merenda do meio da manhã, a sopa e o prato do almoço, a merenda do meio da tarde, mais um snack e ainda o jantar, que o dia ia ser longo.

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 A "marmita do gato", assim ficou conhecida cá em casa, tem sido um importante acessório também para os meus dias de praia, nesta primeira semana de férias no Algarve. Na sua bolsa central e nas duas laterais é possível arrumar tudo o que é necessário para um diabético: cinco ou seis refeições para um dia inteiro. Não se esqueçam que o diabético deve evitar jejuns prolongados, nunca saltando refeições e alimentando-se de 3 em 3 horas, o que evita situações de hipoglicemia – concentração de glicose no sangue muito baixa que se manifesta através de sintomas como ansiedade, tremores, palpitações, entre outros. 

Por isso, como a ideia é passar o dia de hoje na praia (à sombra, na hora de maior calor), nada como uma lancheira bem apetrechada de coisas frescas e de digestão fácil, mas que permitem uma sensação de saciedade. Lembrem-me: quanto menos sensação de fome tiverem, menos ingestão compulsiva fazem na refeição seguinte.

Captura de ecrã 2016-08-10, às 01.23.20.pngPara hoje, está tudo preparado. Vamos para a praia daqui a pouco e "a marmita do gato" está pronta. Algumas das coisas foram preparadas ontem à noite (lembram-se quando aqui vos falei da necessidade de ter tempo para um correto planeamento do dia seguinte? Essa é uma das chaves essenciais para levar a bom porto esta batalha).

Assim, o menu do dia é o seguinte:

Merenda das 11h30:

- 5 cenouras baby cruas, 1 triângulo de queijo magro e duas bolachas de aveia (cada uma, apenas 19 kcal, 0,2 gramas de gorduras, 3,5 gramas de hidratos de carbono, 0 gramas dos quais açúcar e 0,05 gramas de sal).

Almoço:

- salada fria de frango cozido (1/2 peito, equivalente a 80 gramas de carne); massa cotovelinhos cozida com brócolos em água aromatizada com coentros (duas colheres de sopa de massa e bróculos); 5 nozes, meia mozarella light e meia maçã verde partida em cubinhos.

- 200 ml de gaspacho de legumes bem frio.

Merenda das 16h30:

- Meia meloa e uma gelatina 10 kcal (alto teor de fibra).

Merenda das 19h00:

1 ovo cozido e 1 kiwi 

 

Hoje é dia de jantar em casa. E, de acordo com o planeado de manhã, vamos ter febras na brasa com salada. Ou seja, depois de chegarmos da praia, de ainda darmos uns mergulhos na piscina (num grupo com seis crianças não há como fugir a este prazer!), de tomar banho, de fazer a salada, de colocar a mesa, e de preparar as brasas, é certo e sabido que não nos sentaremos a jantar antes das 21h30. Chegarei lá sem fome e com uma alimentação espaçada e equilibrada. Tudo graças à malinha do gato, claro.

 

 

 

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O melhor incentivo para todos os que não acreditam

por Nuno Azinheira, em 24.07.16

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O caminho ainda agora começou, mas está a dar os seus frutos. Ontem foi o meu melhor dia desde 19 de junho no que toca aos valores de glicemia: 111 miligramas de glicose por decilitro de sangue de manhã (em jejum), 115 mg/dl às 17h00, duas horas e meia depois de almoçar e 121 mg/dl duas horas depois de jantar. 

De acordo com os médicos, os picos glicémicos registam-se sempre duas a três horas após as principais refeições. Recordo aqui um gráfico que já publiquei neste blogue e que contempla os valores de referência: ou seja, os valores que configuram situações de hipoglicémia (valores abaixo do recomendado), normalidade, pré diabetes e diabetes.

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Ora, como rapidamente se percebe, ontem foi um dia bom. Em jejum, ainda estão ligeiramente acima (no escalão pré-diabético), mas os dois valores depois das refeições claramente dentro da "normalidade".

O que quer isto dizer? Deixei de ser diabético? Nada disso, apenas que a conjugação entre a toma dos antidabéticos orais (Eucreas: vildagliptina + metformina), a os cuidados alimentares e o exercício físico estão a resultar. 

Está a ser um sacrifício? Não, nem por sombras. É uma questão de hábito. Acreditem, se são diabéticos ou pré-diabéticos, ajam. Façam alguma coisa. Mudem de vida. Mudem a vossa alimentação, mexam-se. Pela vossa saúde.

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Um dia bom. Calma, foi só um!

por Nuno Azinheira, em 13.07.16

 

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 Esta terça-feira foi um dia importante para mim. Todos os dias são importantes nesta batalha por uma vida mais saudável. Ou porque conquistámos algo, por mais insignificante que possa parecer, ou porque falhámos em alguma coisa e, com isso, aprendemos. Ontem foi dos bons. Apesar de ter sido um dia profissionalmente exigente, com seis reuniões fora do gabinete, houve tempo (tem de haver sempre tempo!) para comer a horas, sem saltar refeições, com minutos para mastigar e usufruir cada refeição. No final dia, escolhi o Parque das Nações, onde tinha sido a última reunião, para mais uma caminhada junto ao rio. Foram 6,7 quilómetros. Foi excelente. O Parque das Nações é, de facto, um local fantástico para praticar desporto. Ao longo daqueles 70 e tal minutos que por ali andei (não corro ainda), cruzei-me com dezenas de pessoas: homens e mulheres, novos e velhos, gordos e magros, a correr, a andar ou de bicicleta. Seguramente, uma experiênca a repetir.

Ontem de manhã tinha tomado uma decisão: passei a andar com o equipamento desportivo no carro. É uma forma de evitar desculpas: "Ah, agora até podia aproveitar, mas não trouxe os calções e os ténis..." Não, agora não. Não há desculpas. Eles estão sempre comigo. Há tempo entre reuniões? Há possibilidade? Bastam 30 minutos, vamos lá. Tem sido assim e estou entusiasmadíssimo. Aliás, nunca julguei que me pudesse entusiasmar com a prática de exercício físico.diab.jpg

Os resultados do exercício físico, conjugados com a alimentação e a medicação, estão a dar resultados visíveis. Para além dos 11 quilos já perdidos, os valores de glicemia estão quase controlados. Ontem foi o melhor dia de todos. Vinte e três dias depois do Dia Zero (19 de junho), as minhas três medições de glicemia de ontem são excelentes para um homem com a minha estrutura.

Nada está conseguido. Haverá dias em que os valores estarão mais altos, naturalmente. Não desanimarei. Tal como agora não embandeiro em arco. O que é preciso é não deixar de vigiar e de saber ler os sinais do nosso corpo, percebendo os impactos (positivos ou negativos) que algumas práticas ou novidades introduzem na glicemia.

 

 

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10 coisas que não se podem dizer a um diabético

por Nuno Azinheira, em 12.07.16

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1 - "És diabético? Coitado pá, isso é uma seca para a vida inteira"

Sim, nós sabemos que é para a vida inteira mas não vale a pena dizer com esse ar. Além disso, a Diabetes, sendo uma doença crónica e, portanto, motivo de vigilância constante, pode e deve ser um excelente pretexto para uma reeducação alimentar e de estilo de vida.

 

2 - "Isto não podes comer, pois não?"

Posso, posso. Antigamente, havia uma visão muito restritiva do regime alimentar que um diabético devia seguir. Hoje, de acordo com todos os médicos, estudos e livros da especialidade, o diabético pode comer de tudo, desde que com moderação. E que tenha noção que as opções que toma em determinado momento têm de ser compensadas nas refeições seguintes. A minha mãe, diabética, e que me tem ajudado muitíssimo neste processo, diz uma coisa com piada: "Eu posso comer. Mas não devo". É isto.

 

3 - "Olha, estou a combinar um jantar com amigos cá em casa. Queres vir? Queres que te faça uma canja sem sal?"

Uma canja sem sal? Mas estou no hospital e ninguém me disse nada? Se fizeres canja para todos, podes fazer que eu gosto muito. 

 

4 - "Tens de te picar todos os dias? Que seca!"

Há quem se pique todos os dias e goste. Diz que dá uma grande pedra. Mas não, nunca foi a minha cena. Sim, um diabético tem de se "picar" todos os dias. É a menor das complicações. A medição de glicemia deve ser diária (duas a três vezes ao dia). Sobretudo no início, é preciso perceber que tipo de impacto têm alterações e comportamentos na quantidade de açúcar no sangue. Por exemplo: antes e depois de exercício físico. A autovigilância é fundamental. E não vale a pena enfiar a cabeça na areia.

 

5 - "E que tal irmos comer um gelado? Ai, desculpa, tu não podes"

E se fosses à merda? O diabético aqui sou eu, não és tu. Se te apetece um gelado, vamos lá comer o gelado. Eu posso não comer. Ou posso comer, se me apetecer. Mas essa decisão é minha, não tua. Este arrependimento, esta espécie de sentimento de culpa que os amigos sentem depois de dizerem coisas banais, não faz sentido. Um diabético é um tipo normal, que apenas tem de ter mais cuidado com a sua alimentação. O mundo não gira à sua volta. É verdade que namorados(as), parceiros(as), amigos(as) e familiares são importantes no apoio que devem dar ao diabético, mas não o tratem com pena. Ele não merece. Mas sobretudo, não precisa.

 

6 - "Ai, eu não teria essa coragem!"

Não terias? Mas achas que sou algum herói porque estou a tentar mudar a minha vida e os meus hábitos alimentares e estilo de vida? Aqui não é uma questão de coragem. Ou é ou não é. Ou mudas ou morres. De repente ou, muito pior, lentamente, degradando a tua qualidade de vida e a dos que amas.

 

7 - "Porra, só vais comer isso? Não vais aguentar!"

Eh pá, obrigadinho pela motivação. O registo não é esse, ok? O registo é: "boa, assim é que é. Estou aqui para te ajudar, para te motivar. Continua, já se nota a evolução. Vais sentir-te muito melhor".

 

8 - "Olha, dei aqui uma volta à cozinha e arrumei as minhas coisas num armário. Aquele armário fica só para as tuas coisas"

Nunca gostei nada da cena "férias conjugais": aquela história moderna de casais que tiram uma semana de férias um do outro. Para descansar um do outro. Respeito, mas não entendo. "Cozinhas conjugais" também é uma cena que não me assiste. Entendo o objetivo e acho-o fofinho: "eu só quero que não caias em tentação, por isso escondi as Oreo". Pois, mas eu tenho de aprender a conviver com as Oreo todos os dias. Tenho de olhar para elas e saber que não devo comer. Não é escondendo, proibindo. O que tem de mudar é a cabeça do diabético, não é a vida das outras pessoas.

 

9 - "Quero lá saber se isto é um excesso de comida.
Ao menos se morrer, vou de barriguinha cheia"

É um disparate dizer isto. Não é um disparate dizer isto a um diabético, é um disparate dizer isto. Ponto. A um diabético recente, que está a fazer um esforço para mudar os seus hábitos de vida, é ainda mais. A vida são as nossas escolhas. Sei que isto parece uma frase do Gustavo Santos, mas é mesmo verdade. Ter noção dos nossos excessos e saber corrigir não é um ato de coragem, é um ato de inteligência. Falo de barriguinha cheia (literalmente). Passei anos a cometer excessos alimentares. 

 

10 - "Agora só falas de disso. Tornaste-te um fundamentalista, uma seca!"

É um risco, de facto. Tenho absoluta noção que nas últmas semanas falo muito disto com as pessoas que me estão mais próximas. É uma forma de me motivar, de promover resultados, de estimular incentivos. E já agora, sem querer ser um exemplo para ninguém (não sou, recuso essa ideia), alertar outras pessoas na mesma situação ou em pré-diabetes. Não quero tornar-me um radical, um fundamentalista. Há quatro anos deixei de fumar e quem convive comigo sabe que não tornei um fundamentalista da luta antitabágica. As pessas podem fumar no meu carro e em minha casa. Tenho lá cinzeiros à vista e tudo. E até tabaco, para os mais esquecidos. O que não quer dizer que não alerte de vez em quando amigos meus para o número de cigarros que estão a fumar. Com isto é a mesma coisa. Agora estou entusiasmadíssimo e isso nota-se na conversa. Não quero (e não vou) perder esse entusiasmo, mas espero que, em breve, se possa notar apenas na saúde, nas análises, na perda de peso e na roupa. Não quero ser um chato insuportável.

 

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Conhecem aqueles tipos que, ao fim de semana, se forem beber café a seguir ao almoço e se o café ficar a 100 metros de casa... levam o carro? E que reagem com um esgar à mera possibilidade de andar a pé nem que seja 200 metros? E que à proposta "vamos dar uma caminhada na praia?" respondem com um "eh pá, vai tu, que está um calor do caraças!" Conhecem? Eu também. Eu! Pronto, está dito!

Sim, há aqui alguma dose de exagero (os blogues têm de ter sempre um tom leve, vagamente confessional). Fora das minhas rotinas, em férias por exemplo, ando muito e sem me poupar. Prefiro cidades planas, claro, do que prémios da montanha. Mas, recordo-me bem, as últimas vezes que estive em Paris, em Roma, em Barcelona ou em Veneza, andei quilómetros. Sim, quilómetros. E ponham lá os dois dígitos na expressão. 

Fora das férias, a minha tendência para o exercício físico é quase zero. Sou assim. Tentei várias vezes, acreditem. Só à minha conta, o Holmes Place já se riu várias vezes. Em dez ou 12 anos, já fui sócio do clube da Defensores de Chaves, da 5 de outubro, das Amoreiras e da Beloura, sempre com os respetivos períodos de fidelização. Se juntarmos o período todo que por lá andei não devemos conseguir contar três anos. É de clientes como eu que os ginásios gostam. Estão a ver aqueles tipos que comem uma fatia de picanha, outra de maminha e um bocadinho de feijão e vão a um rodízio? Ou os que comem apenas salada num "all you can eat"? Pronto, somos todos da mesma raça. Uns tontos que damos razão a quem pensou no negócio com custo fixo!

Mesmo em criança já era assim. Andava de bicicleta com amigos, jogava à bola na rua com amigos, mas na escola, ficava sempre à baliza. Primeiro, porque ninguém escolhia "o gordo" para sua equipa ("pronto, ok, pode vir o Mega!" - nunca um apelido foi tão bem aplicado a um corpo). Em segundo, porque na baliza corria-se menos. Ainda por cima, não era propriamente um Rui Patrício...

O exercício físico é fundamental no combate à Diabetes. Já não falo no combate à obesidade, porque isso eu tinha obrigação de saber. Experiência não me falta. Mas no combate à Diabetes é fundamental.

Diz a Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP) que "a prática de exercício vai melhorar a sua (minha) condição cardiovascular geral". E acrescenta isto. Fica entre aspas e tudo, porque é muito importante. "Quando faz exercício está a estimular o seu pâncreas a produzir insulina e, por outro lado, como está a exercitar os músculos, eles precisam de energia. Deste modo, também está a aumentar a utilização de glicose pelos músculos impedindo que esta se acumule no sangue e aumente a sua glicemia". É fácil perceber, não é?

Há três meses, antes de ser um Tipo 2, quis ser um tipo mais saudável. E fiz o quê? Inscrevi-me num ginásio. Vá, riam-se! E fiz mais o quê? Arranjei um Personal Trainner. Pronto, podem parar de rebolar a rir? Esforcei-me e tenho conseguido ir regularmente. Houve ali um período de 15 dias em abril que não pus lá os pés, mas graças à persistência e infinita paciência do André Guardado, do Virgin Active SottoMayor, em Lisboa, tenho conseguido ir. O André diz que está orgulhoso de mim. Acho que é conversa de PT. 

Desde 19 de junho, dia em que oficialmente a Diabetes e eu fomos apresentados, o exercício físico ganhou ainda mais importância na minha vida. O menino sem vontade de fazer nada mudou. Porque teve de mudar. Faço caminhadas de quilómetros (e gosto!), faço passadeira, faço máquinas (o que eu gosto de máquinas) e nado. Não sei se alguma vez vou ser como o Filipe e a Natália, um casal de amigos que se tornaram runners (é assim que se diz, não é?). Mas tenho traçado objetivos e sido metódico a cumpri-los. Já meti um na cabeça: a 19 de março de 2017 quero percorrer (a caminhar, calma!) a Ponte 25 de Abril durante a Meia Maratona de Lisboa. Claro que não vou fazer os 21 quilómetros, mas colocar agora em julho um objetivo a longo prazo é bom. Motiva. Vou fazer a Ponte a pé. Depois, paro onde tiver de parar. E livrem-se de não irem lá apoiar-me, com aplausos e cartazes!!!

 

 

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"Não sabia que era diabético?"

por Nuno Azinheira, em 06.07.16

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19 de Junho. De bata branca e olhar grave, a médica perguntava: "O senhor não sabia que era diabético?" A pergunta parecia um raspanete. Era. Na mão, a médica do hospital tinha os resultados das análises que tinha mandado fazer uma hora e meia antes. 

Sentira-me mal. Em rigor, sentia-me mal há uma semana e tal. Dormia pouco, mal, sem sensação de descanso, acordando sobressaltado a meio da noite. "Muito stress", disse-me a médica, ao fim de cinco minutos no exíguo gabinete. Mediu-me a tensão. Estava alta. Hipertenso medicado há sete anos, ter picos de pressão arterial não era frequente, mas também não era inédito. "Tem de acalmar, senhor. E tem de perder de peso, mas isso o senhor já sabe", disse-me. Preparava-se para me despachar com uma receita de ansiolíticos. Até que ganhei coragem. "Sabe, dôtora. Há um histórico forte de diabetes na minha família. Eu sei que a diabetes é hereditária. Acordo muitas vezes a meio da noite com vontade de ir à casa de banho, tenho sempre muita sede. Não achará melhor fazermos uma análise para perceber se não serei diabético?", perguntei a meio tom. Arregalou-me os olhos e respondeu secamente com uma pergunta: "E só agora é que diz isso?". Retorqui: "Também não perguntou".

Fiz a recolha de urina e de sangue (uma vergonha...). Uma hora e meia depois, a pergunta da médica não deixava margem para ilusões. "O senhor não sabia que era diabético? Como é possível que não soubesse?". O número de glicemia era tão cru que não havia como evitá-lo. 329!

 

 

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