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Tenho um desafio para vos fazer. A Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal promove todos os meses uma iniciativa chamada "Sábados Desportivos". Por estranho que possa parecer, decorre aos sábados! Este sábado, dia 15, é um desses dias. Decorre no Parque das Conchas, no Lumiar (a concentração é na entrada mais perto à saída do Metro, linha amarela), e, segundo me foi explicado, a atividade é monotorizada por um professor de Educação Física especializado na temática da Diabetes.
O Sábado Desportivo decorre entre as 10h00 e as 12h30 e a entrada é gratuita. O público é muito heterogéneo: gente magra, gente gorda, mais novos (já participaram crianças com dez anos), mais séniores (a APDP disse-me que há um senhor comm 78 anos que participa de vez em quando...). As duas horas e meia são compostas de caminhada e de exercícios ligeiros que o professor nos pedirá de acordo com as nossas capacidades.
Nunca participei em nenhuma destas atividades, mas acho muito meritório o trabalho clínico, social e de integração que a APDP faz. E, por isso, decidi participar na edição deste sábado. As explicações que me foram dadas por telefone chegaram para me convencer. E creio que podem convencer-vos a vocês também. Para os mais velhos: "não vai só malta nova!". Para os mais novos: "não vão só 'cotas'!". Para os magros: "não vão só gordinhos!". Para os gordinhos: "não vão ser os únicos barrigudos!".
Assim sendo, só há duas coisas que vos fará faltar: ou o trabalho, ou a inércia. Se estão a trabalhar, está justificado. Se é mesmo por inércia, toca a combatê-la, a tirar o rabinho da cama e vir experimentar pela primeira vez. Tem outro aliciante: ficam finanalmente a conhecer o Tipo 2.
Podem inscrever-se através do 213 816 112. É melhor para eles terem uma noção do número de pessoas que terá o grupo. Mas se quiserem aparecer por lá sem dizer nada também podem. Muito importante: não têm de ser diabéticos nem sócios da APDP. A iniciativa é aberta a sócios, não sócios, pacientes, acompanhantes, não diabéticos. Basta ter vontade em fazer qualquer coisa para sermos saudáveis.
Vá, tomem uma decisão! Façam exercício físico (é um dos eixos fundamentais dos resultados que já obtive em quatro meses: 22 quilos perdidos, 23 centímetros de perímetro abdominal perdidos, glicemia estabilizada nos valores normais, colesterol e triglicéridos impecáveis, tensão arterial controlada). Não se desculpem com o tempo: sim, vão estar nuvens, sim, pode haver umas pingas, mas não vai chover a potes. Não inventem desculpas. Vamos?
Já vos disse que vou lá estar? ;)
Já aqui vos contei: sempre fui gordo. Os anais da história dizem que até aos seis anos era um pisco a comer e que até era magrito. Mas a partir dos seis anos comecei a engordar. Era um "badocha". E um "caixa de óculos", já agora, porque usava uns grossos, de massa, como naquela altura os meninos tinham. Sempre cresci gordo. Sempre cresci a ouvir os termos todos que vocês conhecem: "Piranha", "Baleia fora de água", "Badocha", "Monte de banhas". Assim, de repente, não me lembro de mais. Apesar de tudo, cresci com uma certa autoestima elevada. Era um líder entre os amigos. Um falador, um bom aluno, um sedutor. Já não me recordo, mas claro que ouvir todos esses nomes deve ter sido difícil. Mas se me perguntam se me marcaram para todo o sempre, a resposta é uma: não.
Ser gordo atrapalhava algumas coisas na fase de crescimento. A começar pela roupa: nunca havia números para nós. Aliás, a impreparação dos comerciantes para lidar com gordos é uma coisa que roça o absurdo. A pior coisa que se pode dizer a um gordo que procura um determinado número de calças ou de camisa é uma resposta do tipo: "Experimente este. Este dá de certeza, que é enorme!". E depois se não dá? "Ah, ia jurar que dava. É o maior que temos". Pior a emenda que o soneto. Só falta mesmo dizer que "essa é a peça que temos normalmente para os bisontes, mas você ainda é maior do que um bisonte". Sim, isso acontece. Aconteceu-me.
Ser gordo atrapalha noutras coisas. Nas brincadeiras na escola. O gordo vai sempre à baliza, porque nunca ninguém quer o gordo na sua equipa. Eu era sempre o último a ser escolhido pelos capitães.
Ser gordo magoa nas intimidades. Todos gostamos do belo. O gordo não faz parte dos cânones tradicionais de beleza. E isto é válido para homens e mulheres. Passei anos da minha adolescência com amores não correspondidos, simplesmente porque a outra parte nem reparava no gordo. Até que um dia percebi que havia mercado. Que há gente que gosta de gente, independentemente de ser gordo ou de ser magro. Gosta de gente, com gente dentro. Com cabeça, com ideias, com charme, com inteligência, com humor. Safei-me, enfim.
Quem nasce e cresce gordo nunca deixa de ser gordo. Mesmo que perca muitos quilos, mesmo que o corpo diga o contrário, será sempre gordo na cabeça. Saberá sempre perceber o que sofre um gordo, ou alguém diferente. Um gordo não é perfeito: um gordo também olha primeiro para o embrulho e depois para o conteúdo, mas, provavelmente, se for bem formado(a), perceberá que o conteúdo é bem mais importante que o embrulho.
Para quê esta conversa? Para vos explicar que quem luta contra o excesso de peso, luta severamente. Luta muto. Pela sua saúde, pela sua autoestima, contra os preconceitos. É uma luta que pesa toneladas. E é uma luta de avanços e de recuos. E de muitos fracassos.
A questão da minha autoestima sempre a resolvi com o trabalho e com o sucesso profissional que fui conseguindo com o meu trabalho. Comecei aos 15 na rádio. Tenho 42. Quando olho para trás e vejo o que já fiz, orgulho-me. Fiz imensas coisas mal? Claro que sim. Mas muita coisa de que me orgulho. E isso sempre me fez acreditar em mim, no meu conteúdo. Apesar do embrulho.
Chegou a vez de tratar do embrulho, como sabem. Foi um click que despertou na minha cabeça com a descoberta da Diabetes. Em rigor tinha começado dois meses antes com uma nova tentativa de ginásio. E um PT dedicado. Cheguei a ter um peso idêntico àqueles jovens que se inscreveram no Peso Pesado. Desde abril para cá perdi 19 quilos. Desde que a Diabetes foi diagnosticada oficialmente, a 19 de junho, perdi 15. Durante as férias (as férias, sabem, aquele período em que há mais pão, mais álcool, mais patuscadas...) perdi 6,5 quilos e 15 centímetros de perímetro abdominal. Estes dados foram-me confirmados terça-feira na consulta que tive na Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal.
Quinze centímetros de perímetro abdominal perdido significam duas coisas óbvias: menos quatro números de calças, menos dois números de camisas e T Shirts. Mas uma ainda mais importante: menor risco de complicações cardíacas, como AVC. Calculam a emoção com que saí da APDP e os parabéns e o beijinho que recebi da enfermeira Rita Almeida e da nutricionista Ana Raimundo. Aqueles sorridos e as minhas lágrimas, que não tive problemas em esconder, são o melhor estímulo para continuar.
Hoje, as Memórias do Facebook trouxeram-me uma foto de há cinco anos. Era eu, com mais 30 quilos e menos cinco anos. Mais perto da doença. Talvez da morte, embora a gente nunca saiba quando a velhaca aparece. Hoje, pareço outro. Não pareço. Sou outro. E não vou desistir. Mas de facto apetece dizer "Descubra as Diferenças"...
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