Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
19 de Junho. De bata branca e olhar grave, a médica perguntava: "O senhor não sabia que era diabético?" A pergunta parecia um raspanete. Era. Na mão, a médica do hospital tinha os resultados das análises que tinha mandado fazer uma hora e meia antes.
Sentira-me mal. Em rigor, sentia-me mal há uma semana e tal. Dormia pouco, mal, sem sensação de descanso, acordando sobressaltado a meio da noite. "Muito stress", disse-me a médica, ao fim de cinco minutos no exíguo gabinete. Mediu-me a tensão. Estava alta. Hipertenso medicado há sete anos, ter picos de pressão arterial não era frequente, mas também não era inédito. "Tem de acalmar, senhor. E tem de perder de peso, mas isso o senhor já sabe", disse-me. Preparava-se para me despachar com uma receita de ansiolíticos. Até que ganhei coragem. "Sabe, dôtora. Há um histórico forte de diabetes na minha família. Eu sei que a diabetes é hereditária. Acordo muitas vezes a meio da noite com vontade de ir à casa de banho, tenho sempre muita sede. Não achará melhor fazermos uma análise para perceber se não serei diabético?", perguntei a meio tom. Arregalou-me os olhos e respondeu secamente com uma pergunta: "E só agora é que diz isso?". Retorqui: "Também não perguntou".
Fiz a recolha de urina e de sangue (uma vergonha...). Uma hora e meia depois, a pergunta da médica não deixava margem para ilusões. "O senhor não sabia que era diabético? Como é possível que não soubesse?". O número de glicemia era tão cru que não havia como evitá-lo. 329!
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.