Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Aqui chegados, mentir-vos-ia se dissesse que, em nenhum momento, estremeci com a novidade. Houve ali uma hora inicial, deitado na marquesa daquele hospital, enquanto "metia para a veia", que o coração acelerou. Que me passaram imensas coisas pela cabeça. Sobretudo, sobre as imensas coisas que me tinham passado pela boca todos estes anos!!!
À minha volta, os mais próximos fizeram soar as campainhas de alarme. "Estes valores são altíssimos. Isto é grave!", ou "É preciso mudar urgentemente!". É. Foi. A Diabetes é uma doença grave sobretudo pelas complicações que, não dominada, pode acarretar. Controlado o nível do açúcar no sangue, por via de medicação, de um regime alimentar equilibrado, variado e baixo em hidratos de carbono, e de exercício físico, é uma doença crónica como tantas outras.
Passados os cinco minutos, só queria sair dali. Só queria esquecer o hospital e lembrar-me que não queria voltar ali. Diabetes, diabetes, diabetes. A palavra repetiu-se vezes sem conta na minha cabeça. Era preciso mudar o chip. Era preciso perceber que esta era (é) a oportunidade de fazer o que tem de ser feito: perder peso, adotar um estilo de vida mais saudável, cuidar de mim e dos que amo. É preciso fazer sacrifícios? É. Vai ser, estou consciente. Mas o resultado final vai ser muito melhor.
Passaram 15 dias e os valores começam a estar bem mais controlados. Perdi uma dezena de quilos, a glicemia está a descer, a hipertensão está de novo no registo normal. Nada está conseguido. Sei que vou tropeçar, sei que não deixarei de ter vida social, sei que haverá dias em que não posso comer só uma saladinha. Mas sei também que no dia seguinte tenho de compensar a ingestão de hidratos. É tudo uma questão de equivalências, como mais à frente explicarei. Mas, não estou iludido. Isto é um combate para a vida.
Para já, o essencial. Não desvalorizei a Diabetes. Mas também não a dramatizei. Mantenho-me consciente dos seus perigos. Mas incrivelmente determinado. E, sobretudo, não me sinto um "coitadinho". Acho que esse é o primeiro passo para mudarmos a nossa vida. Encararmos as coisas de frente. Sim, sou diabético, e então?
19 de Junho. De bata branca e olhar grave, a médica perguntava: "O senhor não sabia que era diabético?" A pergunta parecia um raspanete. Era. Na mão, a médica do hospital tinha os resultados das análises que tinha mandado fazer uma hora e meia antes.
Sentira-me mal. Em rigor, sentia-me mal há uma semana e tal. Dormia pouco, mal, sem sensação de descanso, acordando sobressaltado a meio da noite. "Muito stress", disse-me a médica, ao fim de cinco minutos no exíguo gabinete. Mediu-me a tensão. Estava alta. Hipertenso medicado há sete anos, ter picos de pressão arterial não era frequente, mas também não era inédito. "Tem de acalmar, senhor. E tem de perder de peso, mas isso o senhor já sabe", disse-me. Preparava-se para me despachar com uma receita de ansiolíticos. Até que ganhei coragem. "Sabe, dôtora. Há um histórico forte de diabetes na minha família. Eu sei que a diabetes é hereditária. Acordo muitas vezes a meio da noite com vontade de ir à casa de banho, tenho sempre muita sede. Não achará melhor fazermos uma análise para perceber se não serei diabético?", perguntei a meio tom. Arregalou-me os olhos e respondeu secamente com uma pergunta: "E só agora é que diz isso?". Retorqui: "Também não perguntou".
Fiz a recolha de urina e de sangue (uma vergonha...). Uma hora e meia depois, a pergunta da médica não deixava margem para ilusões. "O senhor não sabia que era diabético? Como é possível que não soubesse?". O número de glicemia era tão cru que não havia como evitá-lo. 329!
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.