Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Viver numa cidade como Lisboa tem as suas vantagens. Quanto a mim, tem todas as vantagens, porque adoro viver cá. Com todos os seus defeitos. Valorizo mais tudo o resto: a proximidade de tudo, a luz, o Tejo, os turistas, a oferta que temos à nossa disposição. Sim, há algum trânsito? Há. Sim, é difícil estacionar? Por vezes. Sim, há obras por todo o lado? É verdade, elas têm de ser feitas.
Para quem, como eu, só percorria a cidade de automóvel, ela ganhou um encanto especial nos últimos dois meses e meio. Acreditem, eu que "vivo" esta cidade há 25 anos, desde que vim para cá estudar e a conduzir pela capital, tenho descoberto novos recantos, novas ruas, novos prédios, novas pessoas. As pessoas (os seus sorrisos, as suas caretas, os seus ares apressados, os seus rostos cansados, os seus viveres infelizes, as suas alegrias...) é o que mais me interessa na vida. E desde que comecei a caminhar a pé, de mochila às costas, ganhei uma visão diferente da minha cidade.
Como ontem vos disse, esta primeira semana de trabalho está a ser difícil, complicando a conciliação com o exercício físico, tão fundamental para a minha batalha contra a diabetes e pela perda de peso. Ainda não fui ao ginásio, não tenho conseguido caminhar de manhã (tenho saudades de o fazer junto ao rio...) nem ao fim da tarde. Mas, pelo menos, estes meus novos hábitos alteraram estruturalmente algo em mim. Hoje, tive três reuniões entre a hora do almoço e as 18h00. A primeira no Saldanha, a segunda na Estefânia, junto à Almirante Reis, e a terceira na Avenida da Liberdade. Em vez de fazer o que faria habitualmente, que era pegar no carro, estacionado em frente ao meu escritório na Avenida António Augusto de Aguiar, coloquei a mochila às costas, os fones na cabeça e lá fui a pé. Fui parando, fui olhando, entrei nas livrarias, comprei dois livros (hei-de vos falar deles aqui...), desci, subi e quando regressei ao escritório, só para fazer o balanço do dia com a minha equipa, tinha andado 5,6 quilómetros.
Não é o mesmo que a caminhada de manhã, dir-me-ão. É verdade. Não fui de calções, nem de T Shirt, nem de ténis. Fui com a minha roupa de trabalho, mas este hábito de andar a pé tornou-se algo de que já não prescindo. É um hábito bom. E saudável. Que continua a dar os seus frutos. E que, acreditem em mim, é irreversível.
Foi melhor do que eu estava à espera. Pela primeira vez, fiz caminhada acompanhado. Até aqui era sempre sozinho, ao meu ritmo, com os phones da cabeça e a ouvir a minha música. Ontem, tal como já vos tinha contado aqui, fui acompanhado. A minha sobrinha Sofia e a minha cunhada Teresa juntaram-se a mim. Foram 12,3 Km.
O dia amanheceu cinzento e fresquinho. Um bálsamo depois da inclemência dos últimos calorosos dias. Com 22 graus em Lisboa, partimos na caminhada. A Sofia, que tem sido na ternura dos seus 15 anos uma poderosíssima motivação para mim (acho que nem ela sabe o quanto...), tinha um sorriso rasgado. É bom vê-la assim, bonita, alegre e feliz. É bom senti-la próxima, cada vez mais próxima. É bom quando me dá a mão e caminhamos lado a lado. É bom quando me me manda mensagens cheias de corações.
A caminhada durou duas horas e 20 minutos, mais coisa, menos coisa. Fomos ao nosso ritmo. Conversando tranquilamente, sem stresses. Começámos junto à 5 de Outubro, descemos a Avenida da República, a Fontes Pereira de Melo, torneámos o Marquês, seguimos Avenida da Liberdade abaixo, Rossio, Rua do Ouro e Terreiro do Paço. O caminho sempre a descer, tranquilo, a um passo sereno, sempre de água em punho para irmos hidratando. Quando chegámos junto ao rio, o ceu já tinha aberto, a temperatura subido.
O mais impressionante nestas caminhadas que tenho feito, para além do impacto benéfico que elas têm na minha saúde, na minha motivação e na vontade de fazer exercício, é a capacidade de ir redescobrindo a pé uma cidade que adoro e que quase só conheço de automóvel. É ir olhando as lojas, as pessoas que passam, como se movem, como interagem. E ver como, lisboetas e turistas, vivem a cidade e o rio.
Foi no Terreiro do Paço que gravámos este vídeo:
A segunda parte do percurso foi mais inclinada: subimos do Cais do Sodré para o Chiado, via Rua do Alecrim. Foi duro, confesso. Aí foi preciso parar e repor energias. O que vale é que a minha malinha ia apetrechada. Depois, continuámos, ladeira acima até ao Jardim de S. Pedro de Alcântara, onde está um dos mais bonitos miradouros de Lisboa.
O ritmo baixou ligeiramente, na inversa proporção do mercúrio do termómetro, que ia subindo. Atravessámos o Príncipe Real, elogiámos uma das mais bonitas zonas de Lisboa, seguimos até ao Rato, subimos de novo para a Rua Castilho, Parque Eduardo VII e finalmente o ponto de origem, na Avenida 5 de Outubro.
Não preciso dizer que adorei. Perguntar-se-ão: "como é que este tipo consegue? Deve estar de rastos". Sim, estou cansado. Aliás, só estou a escrever este post, quatro horas depois de ter terminado a atividade. Mas o cansaço, sobretudo nos pés, é muito menor do que a vontade de continuar.
Amanhã vamos voltar. A Sofia está pronta para me desafiar. Ainda não lhe disse, mas estou a pensar levá-la até à linha de Cascais, junto à praia. Cheira-me que até vamos dar um mergulho no mar. Será que vamos sozinhos ou teremos companhia de quem prometeu vir? Nunca fiando. Amanhã veremos...
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.