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Por estes dias, a propósito deste meu processo de reeducação alimentar (é disso que se trata!), para controlar a diabetes e melhorar a minha qualidade de vida, lembrei-me de uma excelente reportagem televisiva.
Chama-se Somos o que comemos, foi exibida em 2015 na SIC e foi feita por uma equipa de profissionais cujo principal rosto, a jornalista, chama-se Miriam Alves.
É um testemunho impressionante para todos: diabéticos ou não diabéticos. Pais e filhos. Qualquer pessoa que se preocupe minimamente com aquilo que come deve ver esta reportagem. Ali se desfazem muitos mitos ("eu pensei que o Iced Tea era chá gelado"), ali se revelam muitas verdades escondidas atrás das máscaras, ali se apontam caminhos e, sobretudo, ali se mostram os números. Por exemplo, estes que vemos na imagem e que são paradigmáticos da sociedade que construímos: a alimentação inadequada é responsável por muitos mais anos de vida perdidos do que o tabaco, o álcool e a droga.
A preocupação maior dos clínicos ouvidos nesta reportagem são as crianças. Os hábitos alimentares promovidos pelos pais logo nos primeiros anos de vida dos seus filhos são determinantes para os seus futuros. E, naturalmente, os pais não têm consciência dos perigos.
Os números são reais e alarmantes. E o que se verifica é que desde o pequeno almoço até ao jantar, consumimos muito mais açúcar do que aquela é recomendado pela Organização Mundial de Saúde.
Ora, com tudo aquilo que têm lido neste blogue ao longo das últimas semanas, é fácil perceber como a esmagadora maior parte das pessoas ultrapassam em muito o consumo de 25 gramas de açúcar por dia. Nos refrigerantes e no álcool que bebe. Nos bolos ou doces que come. Nos salgados, queijos, enchidos, fiambres e outras carnes processas a que não resiste diariamente. Vejam a reportagem e depois falamos.
Tenho imensas saudades da minha avó materna. Na cozinha fazia três coisas superlativas. Uma simples: galinha corada (com limão dentro do bucho), uma complexa: os melhores pastéis de massa tenra que alguma vez comi, e uma inimaginável: coelho à caçador acompanhado de bacalhau desfiado com puré. Sim, é a mais estranha, improvável e perfeita combinação de que há memória. Mas estas memórias perduram no tempo e falamos delas sempre que estamos juntos, em família. A vida é também isto. Afectos, partilhas.
A minha avó era diabética. Não era gorda. Era uma mulher lindíssima, com uma pele suave de bebé, que manteve até aos últimos dias. Cresci a ouvi-la dizer um provérbio popular então muito em voga: "Gordura é formosura". Mentira. Percebo a intenção com que se diz isso a uma criança, procurando educá-la no sentido certo: o que interessa é o interior (os valores) e não o exterior. É uma mentira piedosa, mas é uma mentira. E elas (as mães, as avós...) também nos ensinaram que mentir é feio.
Hoje os tempos mudaram, o acesso à informação é outro, a sensibilização para as questões alimentares é muito maior, a vigilância dos adultos também. Mas continuamos todos a assobiar para o lado no que toca a educação alimentar. De que vale obrigar as máquinas de vending dos hospitais a terem fruta fresca, se depois continuamos a permitir uma overdose publicitária a produtos em que a dose de açucar ultrapassa claramente o admissível? É um crime. Um crime que tem responsáveis.
A obesidade infantil é um problema de saúde pública. A Diabetes atinge um milhão de portugueses. O Estado gasta milhões de euros, por via do Sistema Nacional de Saúde, no tratamento destas patologias. Mas continuamos a brincar aos alimentos energéticos "para dar força" às nossas crianças. Ou a deixarmo-nos enredar pelos mitos urbanos que fazem a nossa cabeça há anos.
O açúcar é o inimigo público número 1 na alimentação. Dir-se-á que é o sal, até porque há dois milhões de hipertensos em Portugal, mas em relação ao sal, há hoje já uma mais correta sensibilização para o seu uso excessivo. No caso do açúcar, não. "O que é doce nunca amargou", diziam também as nossas avós. Amarga e muito, anos mais tarde.
A glicose (açúcar no sangue) é essencial à vida. O nosso organismo utiliza o açúcar para produzir energia indispensável ao funcionamento normal dos vários órgãos e tecidos.
Para que a glicose possa ser utilizada pelo organismo precisa de uma importante hormona: a insulina. A insulina é uma hormona (substância química produzida pelo organismo) que tem como função regular a glicemia. Em situações normais e desde muito cedo na vida - antes de nascermos - o pâncreas produz esta hormona que retira o "açúcar" do sangue, transportando-o para dentro das células. Desta forma, os níveis de "açúcar" no sangue (glicemia) baixam.
Na Diabetes mellitus esta situação está alterada. A característica mais importante e que define a Diabetes mellitus é a subida anormal e descontrolada da glicemia ou "açúcar no sangue". Isto é causado por problemas com a produção de insulina ou com a sua atuação nas células (a chamada "resistência à insulina").
A Diabetes Tipo 2 é a forma mais frequente de diabetes: 9 em cada 10 diabéticos são do tipo 2. Surge em qualquer idade, mas é mais frequente nas pessoas adultas com peso a mais. Neste tipo de diabetes, o organismo produz menos insulina e a insulina faz menos efeito (chama-se a isto "resistência à insulina").
O que ando a fazer há 20 dias é, para além de exercício físico, mudar os meus hábitos alimentares, reduzindo as quantidades de comida que ingiro, diminuindo o intervalo entre refeições para 2,5/3 horas, diversificando a alimentação, evitando os alimentos com maior índice glicémio, e aprendendo a ajustar as doses certas de todos os nutrientes.
Nestes dias, em que os resultados começam a ser visíveis (também com a ajuda da medicação), passei a estar particularmente atento aos rótulos no supermercado. E há coisas verdadeiramente incríveis.
Num dos próximos textos, vou dar-vos alguns exemplos inocentes de coisas que bebemos e da quantidade de açúcar que ingerimos. Preparem-se para um susto valente! :)
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