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A minha primeira vez no Monsanto

por Nuno Azinheira, em 18.09.16

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 Fechem a boca. Sim, sou lisboeta e nunca tinha estado mais do que cinco minutos no Monsanto. Só de passagem e de carro. Conhecido como o pulmão verde de Lisboa, o Mosanto é um ponto de encontro sobretudo para quem tem filhos e para quem pratica exercício físico (sim, há outras atrações que o tornaram/tornam famoso, mas não me estava a referir a essas...). Acontece que eu não sou pai e portanto não conhecia os Parques do Alvito e da Serafina. Não me lembro de ter estado lá, apenas passado por lá. E como só há três meses comecei a mexer-me, o Monsanto não era um sítio óbvio para mim. Mesmo que esteja a cinco minutos de carro de minha casa. Já aqui disse que moro perto do LX Factory e, portanto, o Monsanto é um pulinho. Aliás, já vários amigos me tinham perguntado: "E no Monsanto, não treinas? Aquilo é porreiro". A minha resposta era sempre "Não, nunca experimentei". Até hoje. E, de facto, eles tinham razão. Aquilo é porreiro. O pior é lá chegar. É o diabo. :)

Apesar das mudanças que estou a operar na minha vida, eu estou longe de ser um atleta. E, portanto, subir de Alcântara ao Monsanto, através da Estrada do Alvito, é um desafio pesado. Faço o caminho com muita frequência de carro e até vos garanto que, lá de cima, somos capazes de ter uma das melhores vistas sobre o Rio Tejo.

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O pior é lá chegar. Debaixo da ponte 25 de Abril, junto ao restaurante russo Tapadinha, começa um trilho pedestre em terra batida. Assustei-me logo ali. Mas o desafio estava lançado a mim próprio. Ainda não eram 9h30 e da manha e lá estava eu com o batimento cardíaco mais acelerado, calções e T Shirt preta, fones brancos na cabeça. A ladeira começava ali. Duvidei se arrancaria. Ou se deixava para outra altura, quando tivesse mais pedalada. Afinal, ainda só passaram três meses desde que comecei. Além disso, ontem, sábado, o André Guardado, meu PT no Virgin Active, tinha-me dado uma tareia. Conclusão: havia músculos no meu corpo. Isso. Havia, eu podia senti-los. Todos. Em todo o meu corpo. Nas coxas, na barrigas das pernas, na parte superior das pernas, nos ombros, nos peitorais, nos bíceps, nos tríceps (é impressionante a quantidade de nomes que eles arranjam...). Tudo estava dorido, mas não desisti. Um desafio é um desafio. Se me sentisse mal, tinha bom remédio: voltava para trás. A descer, dizem, todos os santos ajudam. E eu, mesmo não acreditando neles, tenho uma fezada que num momento de aflição, eles hão-de me valer. Não foi preciso.

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Parei duas vezes pelo caminho, mas cheguei ao cume do meu primeiro Prémio da Montanha. De primeira categoria. Tive pena de não levar uma bandeira, como Neil Amstrong fez em 1969, quando, ao pisar a Lua, deixou lá a bandeira dos Estados Unidos da América. Eu podia ter levado uma bandeira: "O Tipo 2 esteve aqui!". Mas não levei. Acredito, porém, que pode não ter sido "um grande passo para a Humanidade", mas foi seguramente, "um pequeno passo" para mim.

É que até aqui eu tinha apenas feito caminhadas relativamente planas, sem grandes declives, portanto, em nenhum momento tinha chegado cansado, ou tinha sentido necessidade de abrandar o ritmo, ou mesmo de parar. Desta vez, foi diferente. E aumentar as cargas é bom, colocarmo-nos à prova também. E a sensação de superar os os obstáculos é excelente.

 

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Confirma-se. A vista lá de cima é fantástica. Eu vejo-a quase todos os dias, quando vou para casa, mas a pé teve outro significado. Depois, continuei por ali acima até chegar ao Parque do Alvito. Àquela hora, já havia muitos pais com as suas crianças a passear e a divertir-se.

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Achei o parque particularmente bem tratado, bonito, convidativo. Continuei ladeira acima, e comecei a cruzar-me com gente que caminhava, que corria, que andava de bicicleta. Pais a andar e flhos de triciclo, famílias completas, que passeavam os seus cães. Tudo era novo para mim. "Venho aqui todos os domingos com ele", disse-me Lara, segundos depois de eu ter ajudado o filho, que não teria mais de 4 anos, a levantar-se de uma miniqueda da sua minibicicleta com rodas atrás. A Alameda Keil do Amaral, que desemboca num anfiteatro natural (onde há muitos anos, duas décadas talvez, assisti a um concerto dos Madredeus), hoje, aparentemente abandonado, é um sítio familiar.

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E senti-me bem nessa caminhada, agora já em terra firme e inclinação quase nula. Era já o momento de descompressão, apesar de ainda me faltar mais de metade do percurso que tinha pensado para regressar a casa.

Fi-lo pela Ajuda, descendo a íngreme Calçada, que voltou a mostrar-me que os músculos das minhas pernas estavam vivos. No final, já em Belém, fiz o caminho plano até casa, cruzando os 15 km de caminhada, contente e orgulhoso com o esforço feito. 

Amanhã, segunda-feira, passam três meses desde que me foi diagnosticada Diabetes. O que eu andei para aqui chegar.

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