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A minha primeira vez acompanhado

por Nuno Azinheira, em 30.07.16

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 Foi melhor do que eu estava à espera. Pela primeira vez, fiz caminhada acompanhado. Até aqui era sempre sozinho, ao meu ritmo, com os phones da cabeça e a ouvir a minha música. Ontem, tal como já vos tinha contado aqui, fui acompanhado. A minha sobrinha Sofia e a minha cunhada Teresa juntaram-se a mim. Foram 12,3 Km.

O dia amanheceu cinzento e fresquinho. Um bálsamo depois da inclemência dos últimos calorosos dias. Com 22 graus em Lisboa, partimos na caminhada. A Sofia, que tem sido na ternura dos seus 15 anos uma poderosíssima motivação para mim (acho que nem ela sabe o quanto...), tinha um sorriso rasgado. É bom vê-la assim, bonita, alegre e feliz. É bom senti-la próxima, cada vez mais próxima. É bom quando me dá a mão e caminhamos lado a lado. É bom quando me me manda mensagens cheias de corações.

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 A caminhada durou duas horas e 20 minutos, mais coisa, menos coisa. Fomos ao nosso ritmo. Conversando tranquilamente, sem stresses. Começámos junto à 5 de Outubro, descemos a Avenida da República, a Fontes Pereira de Melo, torneámos o Marquês, seguimos Avenida da Liberdade abaixo, Rossio, Rua do Ouro e Terreiro do Paço. O caminho sempre a descer, tranquilo, a um passo sereno, sempre de água em punho para irmos hidratando. Quando chegámos junto ao rio, o ceu já tinha aberto, a temperatura subido. 

O mais impressionante nestas caminhadas que tenho feito, para além do impacto benéfico que elas têm na minha saúde, na minha motivação e na vontade de fazer exercício, é a capacidade de ir redescobrindo a pé uma cidade que adoro e que quase só conheço de automóvel. É ir olhando as lojas, as pessoas que passam, como se movem, como interagem. E ver como, lisboetas e turistas, vivem a cidade e o rio.

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 Foi no Terreiro do Paço que gravámos este vídeo:

Caminhada a três

A segunda parte do percurso foi mais inclinada: subimos do Cais do Sodré para o Chiado, via Rua do Alecrim. Foi duro, confesso. Aí foi preciso parar e repor energias. O que vale é que a minha malinha ia apetrechada. Depois, continuámos, ladeira acima até ao Jardim de S. Pedro de Alcântara, onde está um dos mais bonitos miradouros de Lisboa. 

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 O ritmo baixou ligeiramente, na inversa proporção do mercúrio do termómetro, que ia subindo. Atravessámos o Príncipe Real, elogiámos uma das mais bonitas zonas de Lisboa, seguimos até ao Rato, subimos de novo para a Rua Castilho, Parque Eduardo VII e finalmente o ponto de origem, na Avenida 5 de Outubro.

Não preciso dizer que adorei. Perguntar-se-ão: "como é que este tipo consegue? Deve estar de rastos". Sim, estou cansado. Aliás, só estou a escrever este post, quatro horas depois de ter terminado a atividade. Mas o cansaço, sobretudo nos pés, é muito menor do que a vontade de continuar.

Amanhã vamos voltar. A Sofia está pronta para me desafiar. Ainda não lhe disse, mas estou a pensar levá-la até à linha de Cascais, junto à praia. Cheira-me que até vamos dar um mergulho no mar. Será que vamos sozinhos ou teremos companhia de quem prometeu vir? Nunca fiando. Amanhã veremos...

 

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Pst, pst, sim é consigo. Não finja que não ouve!

por Nuno Azinheira, em 14.07.16

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Há pouco mais de uma semana, quando decidi criar este blogue, expliquei-me. Disse ao que vinha. "Porque é que resolvi criar este blogue? Porque é que, na opinião, seguramente respeitável de muita gente, me decidi expor assim de uma forma tão crua? A resposta é simples. Para ajudar. Para me ajudar a mim, em primeiro lugar. (...) Se com estes textos conseguir ajudar outros que estão na mesma situação, melhor." Foi isto que escrevi no dia 6. 

Entretanto, passaram oito dias. Na página de Facebook que criei (https://www.facebook.com/azinheira.tipo2/), já se juntaram a mim mais de 2000 pessoas. Muitos amigos, claro, mas também muita gente que não conheço de parte nenhuma. Pessoas que têm um contacto direto com a Diabetes: ou porque são diabéticos, ou porque vivem de perto com doentes, ou porque, não sendo ainda, estão naquela fase chamada de "pré-diabética". É a pior fase. Porque, em muitos casos, é a mais ignorante e a mais irresponsável. Eu sei porque também a vivi. Há cinco anos o meu médico de clínica geral alertou-me para os valores de açúcar no sangue, dizendo que configurava uma situação de pré-diabetes. Há dois anos, na medicina do trabalho, outro médico confirmou-me a mesma história. E eu, em ambos os casos, fiz o mesmo: acenei com a cabeça, fiz um ar compenetrado e grave, deixei escapar uma frase do tipo "sim, tenho mesmo de tratar de mim" e pronto. Saí do consultório e entrei na pastelaria mais próxima.

Convém não descurar esses avisos. Levem-nos a sério. Uma situação de pré-diabetes é absolutamente reversível, com um pouco de exercício físico e uma alimentação mais cuidada e moderada. Deixar o tempo andar, fingir que não é nada connosco, empurrar (literalmente) com a barriga para a frente não resolve nada. Só complica.

De entre as mensagens de estímulo que tenho recebido, recebo também algumas dúvidas e, sobretudo, desabafos. Importa reforçar o que tenho dito aqui frequentemente: não sou médico, sou apenas um diabético que tomei contacto recentemente com a doença e que quer viver melhor. Mudei hábitos alimentares enraizados, passei a praticar exercício físico e comecei a ler muito sobre a Diabetes. Mas nada do que eu possa dizer ou aqui escrever substitui o que um médico diga. Até porque cada caso é um caso, e o que se aplica a mim pode não se aplicar a outros. Das mensagens que recebo as que mais me preocupam são as de gente que se diz despreocupada com a questão. Ou que não valoriza muito os sinais. Eu sei o que isso é. Fiz exatamente o mesmo até ao dia 19 de junho.

Há coisas que é preciso saber. Há sinais a que é preciso estar atento:

- Se tem peso a mais

- Se tem casos de diabetes em familiares diretos

- Se sente muita sede e extrema necessidade de beber água de forma quase descontrolada

- Se urina mais do que o habitual, ou se acorda todos os dias a meio da noite para ir à casa de banho

- Se sente sempre sensação de fome

- Se perde peso repentinamente

- Se, sendo mulher, acumula infeções ginecológicas ou urinárias

- Se sente um cansaço crónico

- Se sente a visão turva ou desfocada

- Se as feridas demoram a cicatrizar

 

Então, não ignore estes sinais. Consulte o seu médico, faça análises e mude o seu estilo de vida. O "não querer saber" é a pior atitude. Irresponsável para nós próprios. Injusto para quem vive connosco. Insustentável para o Sistema Nacional de Saúde.

 

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10 coisas que não se podem dizer a um diabético

por Nuno Azinheira, em 12.07.16

Captura de ecrã 2016-07-12, às 11.20.46.png

 

1 - "És diabético? Coitado pá, isso é uma seca para a vida inteira"

Sim, nós sabemos que é para a vida inteira mas não vale a pena dizer com esse ar. Além disso, a Diabetes, sendo uma doença crónica e, portanto, motivo de vigilância constante, pode e deve ser um excelente pretexto para uma reeducação alimentar e de estilo de vida.

 

2 - "Isto não podes comer, pois não?"

Posso, posso. Antigamente, havia uma visão muito restritiva do regime alimentar que um diabético devia seguir. Hoje, de acordo com todos os médicos, estudos e livros da especialidade, o diabético pode comer de tudo, desde que com moderação. E que tenha noção que as opções que toma em determinado momento têm de ser compensadas nas refeições seguintes. A minha mãe, diabética, e que me tem ajudado muitíssimo neste processo, diz uma coisa com piada: "Eu posso comer. Mas não devo". É isto.

 

3 - "Olha, estou a combinar um jantar com amigos cá em casa. Queres vir? Queres que te faça uma canja sem sal?"

Uma canja sem sal? Mas estou no hospital e ninguém me disse nada? Se fizeres canja para todos, podes fazer que eu gosto muito. 

 

4 - "Tens de te picar todos os dias? Que seca!"

Há quem se pique todos os dias e goste. Diz que dá uma grande pedra. Mas não, nunca foi a minha cena. Sim, um diabético tem de se "picar" todos os dias. É a menor das complicações. A medição de glicemia deve ser diária (duas a três vezes ao dia). Sobretudo no início, é preciso perceber que tipo de impacto têm alterações e comportamentos na quantidade de açúcar no sangue. Por exemplo: antes e depois de exercício físico. A autovigilância é fundamental. E não vale a pena enfiar a cabeça na areia.

 

5 - "E que tal irmos comer um gelado? Ai, desculpa, tu não podes"

E se fosses à merda? O diabético aqui sou eu, não és tu. Se te apetece um gelado, vamos lá comer o gelado. Eu posso não comer. Ou posso comer, se me apetecer. Mas essa decisão é minha, não tua. Este arrependimento, esta espécie de sentimento de culpa que os amigos sentem depois de dizerem coisas banais, não faz sentido. Um diabético é um tipo normal, que apenas tem de ter mais cuidado com a sua alimentação. O mundo não gira à sua volta. É verdade que namorados(as), parceiros(as), amigos(as) e familiares são importantes no apoio que devem dar ao diabético, mas não o tratem com pena. Ele não merece. Mas sobretudo, não precisa.

 

6 - "Ai, eu não teria essa coragem!"

Não terias? Mas achas que sou algum herói porque estou a tentar mudar a minha vida e os meus hábitos alimentares e estilo de vida? Aqui não é uma questão de coragem. Ou é ou não é. Ou mudas ou morres. De repente ou, muito pior, lentamente, degradando a tua qualidade de vida e a dos que amas.

 

7 - "Porra, só vais comer isso? Não vais aguentar!"

Eh pá, obrigadinho pela motivação. O registo não é esse, ok? O registo é: "boa, assim é que é. Estou aqui para te ajudar, para te motivar. Continua, já se nota a evolução. Vais sentir-te muito melhor".

 

8 - "Olha, dei aqui uma volta à cozinha e arrumei as minhas coisas num armário. Aquele armário fica só para as tuas coisas"

Nunca gostei nada da cena "férias conjugais": aquela história moderna de casais que tiram uma semana de férias um do outro. Para descansar um do outro. Respeito, mas não entendo. "Cozinhas conjugais" também é uma cena que não me assiste. Entendo o objetivo e acho-o fofinho: "eu só quero que não caias em tentação, por isso escondi as Oreo". Pois, mas eu tenho de aprender a conviver com as Oreo todos os dias. Tenho de olhar para elas e saber que não devo comer. Não é escondendo, proibindo. O que tem de mudar é a cabeça do diabético, não é a vida das outras pessoas.

 

9 - "Quero lá saber se isto é um excesso de comida.
Ao menos se morrer, vou de barriguinha cheia"

É um disparate dizer isto. Não é um disparate dizer isto a um diabético, é um disparate dizer isto. Ponto. A um diabético recente, que está a fazer um esforço para mudar os seus hábitos de vida, é ainda mais. A vida são as nossas escolhas. Sei que isto parece uma frase do Gustavo Santos, mas é mesmo verdade. Ter noção dos nossos excessos e saber corrigir não é um ato de coragem, é um ato de inteligência. Falo de barriguinha cheia (literalmente). Passei anos a cometer excessos alimentares. 

 

10 - "Agora só falas de disso. Tornaste-te um fundamentalista, uma seca!"

É um risco, de facto. Tenho absoluta noção que nas últmas semanas falo muito disto com as pessoas que me estão mais próximas. É uma forma de me motivar, de promover resultados, de estimular incentivos. E já agora, sem querer ser um exemplo para ninguém (não sou, recuso essa ideia), alertar outras pessoas na mesma situação ou em pré-diabetes. Não quero tornar-me um radical, um fundamentalista. Há quatro anos deixei de fumar e quem convive comigo sabe que não tornei um fundamentalista da luta antitabágica. As pessas podem fumar no meu carro e em minha casa. Tenho lá cinzeiros à vista e tudo. E até tabaco, para os mais esquecidos. O que não quer dizer que não alerte de vez em quando amigos meus para o número de cigarros que estão a fumar. Com isto é a mesma coisa. Agora estou entusiasmadíssimo e isso nota-se na conversa. Não quero (e não vou) perder esse entusiasmo, mas espero que, em breve, se possa notar apenas na saúde, nas análises, na perda de peso e na roupa. Não quero ser um chato insuportável.

 

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