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No meu processo de reeducação alimentar, e na tentativa de diversificar o que como, tenho introduzido com muita frequência alternativas vegetarianas na minha dieta diária. Não, não deixei de comer carne (ainda quinta-feira jantei - e bem! - na Horta dos Brunos, em Lisboa), mas gostando eu de comida vegetariana e de quase todos os ingredientes que a compõem (o tofu talvez seja mesmo a única excepção), foi fácil juntá-la ao meu dia-a-dia. Até porque isso é benéfico: em primeiro lugar, porque a proteína vegetal tem menos gordura do que a animal; em segundo lugar, porque tem um mais alto teor de fibra, capaz de absorver os hidratos de carbono consumidos, preocupação que um diabético como eu não pode perder de vista.

Foi assim que os burgers vegetarianos entraram na minha vida. Já aqui vos falei do Kiosk, um espaço de comida saudável que o El Corte Inglés abriu em Lisboa, mesmo ao lado do Take Away, em frentre ao supermercado: tem burgers vegetarianos de várias cores e sabores, tem quiches, tem saladas várias, tem quinoas e couscous de toda a espécie. A primeira vez que provei gostei. E fiquei cliente.

Aqui chegados, convém desfazer uma ideia que, de tantas vezes repetida, se tornou um mito: a comida saudável é mais cara. É mentira. Quer dizer se tormarmos como ponto de comparação e referência um menu Big Mac, sim, é mais cara, mas quanto ao resto das cadeias de fast food, não é verdade. O já falado Kiosk tem menus a 6,5 euros (um burger / fatia de quiche + uma salada + uma bebida), 7,5 (um burger / fatia de quiche + mix de duas saladas + uma bebida) e a 8,5 (um burger + um mix de três saladas + uma bebida). Fico-me sempre pelo menu 1 ou 2 e, às vezes, fico cheio, dependendo dos acompanhamentos que escolho. No mesmo piso, na zona da restauração, o Go Natural, outra cadeia saudável e com valores nutricionais bem à vista de cada opção alimentar, os menus com sopa variam entre os 7 e os 8 euros. Não é mais caro, seguramente, do que outras cadeias, de boa qualidade mas mais calóricas, como por exemplo, a Pans and Company, a H3 ou a Wok to Walk.

Os burgers vegetarianos seguiram-me até à ETIC, escola onde dou aulas. O bar Nómada acaba de lançar uma linha de cinco burgers vegan, acompanhados por salada. Já comi dois diferentes, em intervalos de aulas noturnas, e gostei. Nem de propósito, o Facebook tem insistido em colocar à minha frente um post patrocinado de uma empresa caseira que vende para fora burgers vegetarianos artesanais e que os leva a casa do cliente duas vezes por semana.

Perante tamanha oferta, esta manhã decidi produzir os meus próprios burgers. A cozinha é uma excelente terapia para domingos chuvosos como este e, portanto, às 09h15 levantei-me, preparei o meu pequeno almoço, tomei a medicação, e fiquei na cozinha. E sairam os três primeiros Burgers Tipo 2:

 

1) Grão com açafrão, aveia e coentros;

2) Feijão com espinafres, cenoura e sésamo;

3) Beterraba com quinoa e cogumelos.

 

Não tem ciência nenhuma e cada receita demora 15 minutos a fazer (sim, a Bimby e os restantes robôs de cozinha vieram ajudar muito a vida...). Tem uma vantagem: a fórmula é sempre a mesma, e permite ir acrescentando ingredientes conforme os gostos ou o que temos em casa. Experimentem, ensaiem, testem os sabores de que mais gostam. É uma forma divertida de comer e de perceber o que estão, realmente a comer.

Os passos são sempre os mesmos para cada variedade de burger:

a) Picar duas a três fatias de pão mais velho (cerca de 120 gramas), com um bom molho de coentros e reservar. Como não tenho pão velho em casa, piquei três fatias de pão de forma Shape, com alto teor de fibra e baixo de hidratos de carbono, que é o que como habitualmente.

b) Juntar no copo misturador uma lata de grão / lata de feijão / lata de ervilhas. Meia cebola, um dente de alho. E depois, legumes a gosto: cogumelos, espinafres, courgete, cenoura, abóbora, beterraba, azeitonas. Regar com um fio de azeite, colocar uma pitada de sala e pimenta moida na hora. Usem as especiarias que mais gostarem: açafrão, pimentão, cominhos, cravinho (são as especiarias que lhes dão o toque original). Levar tudo a picar durante um minuto. Deitar um copo de água e cozinhar durante 4 minutos. 

c) Juntar o pão ralado e os coentros que reservámos e uma gema de ovo. Envolver durante 1 minuto. Juntar agora, a gosto, sementes de girassol, ou de sésamo, ou de papoila. Para um toque mais requintado, e um bocadinho mais calórico, uns fios de queijo desfiado.

d) Deixar arrefecer e, com a mão, fazer uma almômdega grande e espalmar. Se sentir que ainda é difícil trabalhar com as mãos, juntar um pouco de pão ralado. Cada burger fica com 120/150 gramas. 

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e) Leve-os ao congelador para ficarem mais compactos. Cada dose dá para entre seis e oito burgers, dependendo da quantidade de ingredientes e o peso dos ditos. Podem ficar no congelador durante dois meses. Portanto, tem uma excelente alternativa para preparar uma refeição rápida quando chega a casa. Tira um burger do congelador e tem duas hipóteses: ou um minuto no microondas (mais saudável), ou alourar na frigideira com um pouco de azeite em lume brando (um nadinha mais calóricos e estaladiços).

Junte uma salada fresca de alface e rúcula, ou uma caprese (tomate e mozarela) e bom apetite! Experimentem e depois digam qualquer coisa. Quem sabe não encontrámos aqui um potencial negócio? :)

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Trinta quilos depois...

por Nuno Azinheira, em 28.11.16

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E de repente passaram 30 quilos. Isso, exatamente. Trinta quilos! Sem dietas milagrosas, sem chás, sem sopas de pacote, sem seivas e jejuns, sem banda gástrica. Apenas pela reeducação alimentar e pela prática de exercício físico. O "apenas" é uma força de expressão. É mais uma força de vontade, que a Diabetes Tipo 2, diagnosticada há pouco mais de cinco meses, fez despertar em mim. 

Perguntam-me frequentemente se tem custado muito. Se me tenho privado de muita coisa. E a resposta é sempre a mesma. Não. Não e não! E não é conversa, é verdade. Sábado almocei numa pizzaria, quarta-feira da semana passada comi um magnífico croquete na Padaria Portuguesa. Sem sombra de pecado. O que acontece é que isso passou a ser a excepção e não a regra. O que acontece é que passei a tomar todos os dias um pequeno almoço decente, com pouca gordura e com baixo teor de açúcar. O que acontece é que passei a comer mais vezes ao dia e menos de cada vez. O que acontece é que passei a diversificar a ingestão de alimentos, a procurar alternativas. O que acontece é que deixei de comer "qualquer coisa ali no café" ou a "tirar qualquer coisa da máquina". O que acontece é que passei a mexer-me: caminhadas ou ginásio. E mesmo quando não o consigo (e o último mês tem sido difícil do ponto de vista de disponibilidade física e mental - há muita coisa acontecer ao mesmo tempo), mudou o meu comportamento diário: "ontem" procurava deixar o carro à porta do sítio onde tinha de ir; "hoje" vou a pé. 

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Passaram seis meses e muita coisa mudou em mim. Não são só os 30 quilos (caramba, 30! Nem acredito!), mas a consciência de que aquele outro, feito barril de pólvora, já não existe. Pode morrer de repente, claro, mas esses são os imponderáveis da vida. Este está cá. Inteiro, vivo e a fazer tudo para que a sua vida seja melhor. E viver melhor a vida não significa abdicar de tudo o que nos dá prazer à mesa. É por isso que as mil e uma dietas que fui fazendo nos últimos vinte anos, assentes na ideia da privação e da condescendência de "um dia do disparate", nunca resultaram comigo. A dieta resulta para quem tem cinco quilos a perder. Para casos como o meu é preciso mudar de raiz, é preciso reeducar, é preciso aprender a conhecer os alimentos, o seu valor nutricional e o seu impacto no nosso organismo.

Não sou exemplo para ninguém, mas sou um exemplo para mim. Admito que possa ser um caso inspirador, e fico feliz por saber que há gente que dá um passo por causa dos meus. Há um orgulho grande cá dentro. E um coração a bater de forma mais saudável. E é isso que me motiva a continuar. Mesmo que haja dias em que tudo parece mais difícil...

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Como eu sobrevivi aos salgados ao pequeno almoço

por Nuno Azinheira, em 15.11.16

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Uma meia de leite e um rissol. Um sumo de laranja natural e uma empada de galinha. Um café e um folhado de carne. Pensem bem: quando, de manhã, vão "beber a bica" à pastelaria, quantas pessoas veem a fazer isto? Muitas, seguramente. E quantos de nós o fazemos, já o fizemos em algum momento da vida, ou fizemos disso uma prática corrente matinal?

Não vale a pena negar. Portugal é o país que mais salgados consome. Não, não creio que haja algum estudo científico sobre isto. E se o há, eu desconheço. Mas é um estudo empírico meu. Basta, aliás, sair de Portugal e perceber que em qualquer pastelaria / confeiraria em Madrid, em Paris, em Roma, a quantidade de salgados que se produzem e que estão à disposição do consumidor é muito mais pequena do que em Portugal. Por cá, por mais modesto que seja o café ou "snack bar", há sempre rissóis e aqueles merendas industrializadas de queijo e fiambre. Se a pastelaria for de "fabrico próprio", pois então temos uma panóplia de salgados: rissóis, croquetes, empadas de galinha, folhados de salsicha, folhados de carne, merendas mistas, folhados de Chaves, etc. E depois há os salgados "trendy", internacionais, ou "gourmet": os rissóis de leitão, já massificados, são os representantes da primeira categoria; as empadas de palmito ou os kibbi estão no lote dos segundos; as empadas de espinafres com cogumelos ou os folhados de queijo de cabra estão entre os sabores mais requintados.

Quanto mais para Norte do país viajamos, mais a quantidade (e qualidade, vá....) dos salgados é uma realidade. A qualidade sobe e o preço desce na inversa proporção. Em Matosinhos, por exemplo, em frente ao largo da câmara, há uma confeitaria excelente que tem mais de 30 variedades de salgados, sempre a sair, sempre quentes. Já lá fui muito feliz, acreditem. Lá e em várias pastelarias do Porto (assim de repente, penso na rua de Santa Catarina, na rua de Júlio Dinis, ou na Rua do Bolhão, por exemplo).

Quando penso nestes tempos, vejo um cenário muito longínquo. Mesmo. Já vos disse aqui: há muitos anos que a minha prática regular de pequeno almoço era fora de casa, na pastelaria. Portanto, quando penso que há cinco meses ainda não falhei um pequeno almoço em casa, sinto um grande orgulho. Era talvez a prova mais difícil de superar para mim: desabituar-me do sabor dos salgados. Como de vez em quando, para matar saudades, mas nunca ao pequeno almoço, e de mês a mês.

Deixo-vos aqui uma pequena ideia do que significa comer cada uma destas coisas:

Empada de galinha: 180 kcal, 10 gramas de gordura, 25 gramas de hidratos de carbono.

Rissol de camarão: 200 kcal, 11 g de gordura,  12 g de HC

Folhado de carne: 180 kcal, 13 g de gordura, 19 g de HC

Folhado de salsicha: 202 kcal, 14 g de gordura, 20 g de HC

Chamuça: 190 kcal, 13 g de gordura, 18 g de HC

Isto não é para vos chatear, mesmo!, é só para alertar.

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De junho para cá, a minha reeducação alimentar mudou os meus pequenos almoços. São mais saudáveis, mais diversificados, têm muito menos calorias, muito menos gordura e a dose certa de hidratos de carbono para começar o dia. Fruta, vegetais, leite magro (ou de vaca, ou de soja, ou de amêndoa - atenção ao de arroz, que tem mais açúcar), ou iogurte magro, pão de alto teor de fibra e baixo índice glicémico (o pão Shape é o melhor, para mim), queijo fresco magro, fiambre de peru ou de frango magro, com baixo teor de sal. Ou seja, mais alimentos naturais, menos alimentos processados.

Não me canso de dizer o que já sabem: o pequeno almoço é uma das mais importantes refeições do dia. É ele que dá energia suficiente para começar bem a jornada de trabalho. O jejum prolongado aumenta a dificuldade de concentração, o cansaço e obriga o organismo a trabalhar em esforço.

Os meus pequenos almoços, que tenho partilhado regularmente no Facebook do Tipo 2, têm em média 30 gramas de hidratos de carbono, mas um baixíssimo índice de gordura. E não, não vale a pena perguntarem se fico com fome: não fico. É evidente, que, tomado o pequeno almoço em média às 08h30, volto a comer a meio da manhã (11h30), uma gelatina magra, ou um queijo fresco magro (se não o comi antes), ou dois biscoitos de alto teor de fibra. 

Hoje sou mais saudável. Sinto-me melhor. Tenho a minha Diabetes controlada. Sem esforço. E com prazer!

 

 

 

 

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Pela Educação é que vamos!

por Nuno Azinheira, em 02.11.16

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 Pontos prévios:

1) Consumi fast food durante muito tempo. De vez em quando, muito de vez em quando (terá acontecido duas vezes nos últimos quatro meses), voltei lá.

2) Não tenho nada contra a Burger King. Nem contra a Mc Donalds (embora confesse que goste mais de algumas coisas da primeira).

3) Defendo a liberdade criativa e rejeito qualquer censura na publicidade ou em qualquer outra forma de comunicação. Desde que ela não fira o bom senso, o bom gosto (conceito perigoso, eu sei) e desde que ela não contrarie a lei.

 

Agora o essencial.

A Burger King acaba de lançar o seu novo hamburger, com uma campanha em massa em tudo o que é mupis pela cidade, nas últimas duas semanas. Esta foto que ilustra este meu post foi tirada na zona de Santo Amaro, em Alcântara, perto do local onde resido. Junto a esta paragem de autocarros, num raio de aproximadamente 500 metros, existe uma conhecida escola secundária muito frequentada, uma escola preparatória (desculpem as designações antiquadas, mas eu agora já não percebo nada das novas denominações C+S e tal...), um centro de explicações e, pelo menos, um jardim de infância.

Portugal é um país em que, tal como acontece em quase todos os países ditos desenvolvidos, o crescimento da obesidade infantil é assustador. Segundo os dados oficiais, estima-se que existam 20% de crianças obesas em Portugal e 30% com peso excessivo. Isto representa a prazo uma epidemia brutal: quer no espoletar da Diabetes ou de doenças cardiovasculares, quer na redução da qualidade de vida das pessoas, quer (e convém não esquecer esta parte) nos custos que o Serviço Nacional de Saúde terá de comportar nos tratamentos. Por isso, tanto se fala de prevenção. A 5 de fevereiro deste ano, aplaudi o facto de o Parlamento ter aprovado um projeto lei da autoria do PS, PEV e PAN, com os votos favoráveis dos proponentes e ainda do Bloco de Esquerda e do PCP, e com as abstenções do PSD e do CDS.

No comunicado de um dos partidos proponentes lê-se que "a alimentação e aprendizagem alimentar das crianças em idade escolar e pré-escolar é determinante na saúde dos mesmos e na prevenção da obesidade". No mesmo documento, o partido alerta que "os consumos em excesso de fritos, de misturas de hidratos de carbono e gorduras, aperitivos excessivamente condimentados, exagero de sal, doces, açucares e proteínas 3 têm consequências graves: diabetes, cáries, problemas renais, obesidade e outros problemas de saúde".

A alteração legislativa pressupõe restrição da publicidade a alimentos e bebidas com elevado teor de açúcar, gordura e sal a menos de 500 metros das escolas e os anúncios televisivos a estes produtos antes e depois de programas infantis ou juvenis.

Não andei com um metro a medir em rigor se o mupi em causa está a 500 metros ou a 490, nem me parece que seja essa a discusão, até porque este meu post não tem qualquer intuito persecutório. É apenas uma forma (a minha) de alertar, enquanto cidadão, enquanto obeso, enquanto diabético, para esta questão.

O novo produto da Burger King, que tem ótimo aspeto e deve ser deliciosamente viciante, é uma bomba: tem dois hamburgers, duas fatias de queijo com alto teor de gordura, bacon frito, um ovo estrelado, molho e, parece-me, cebola frita. Ou seja, uma criança/jovem que coma um menu destes ao almoço ou jantar (hamburger + batata frita + refrigerante) está a consumir praticamente 1000 calorias, cerca de 40 gramas de gordura, 3 a 4 gramas de sal e entre 90 a 100 gramas de hidratos de carbono. É mais, muito mais, do que o valor de rereferência recomendado para uma refeição.

Este problema é muito mais grave do que aparenta e não se resume a esta ou àquela cadeia de fast food. Este problema deve ser encarado pelas autoridades portuguesas: comunidade clínica e políticos. E tem uma abrangência muito mais vasta, que vai das dietas servidas nas cantinas das escolas (hoje mais controladas e bastante mais diversificadas, há que reconhecer), às máquinas de vending que estão espalhadas por todo o lado (instituições públicas e de saúde, inclusivé), às quantidades de açúcar permitidas nos refrigerantes e alimentos de pequeno almoço para crianças, passando pela quantidade industrial de doses que, culturalmente, nos habituámos a consumir nos restaurantes portugueses.

Não se trata de legislar por legislar. Não se trata de proibir por proibir. Escusam os paladinos da liberdade vir em defesa da dita. Eu também estou nesse lote. Trata-se de uma questão de saúde pública. Trata-se de educar e legislar. Trata-se de legislar para educar. Trata-se de educar para prevenir. 

Passados estes anos todos sobre a entrada em vigor da Lei do Tabaco, os resultados são visíveis por todos os que não sejam fundamentalistas: há dez ou 15 anos, numa turma de alunos universitários, 70% fumava. Hoje, e falo pela experiência própria feita da relação diária com vários grupos de alunos, apenas dois ou três em cada dez tem o hábito de fumar. Esse trabalho começou com prevenção e com legislação, muito criticada por fumadores. Os resultados (não sendo científicos, são os que verifico na minha realidade diária) são absolutamente claros.

Pela Educação é que vamos!

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Está na hora, não?

por Nuno Azinheira, em 02.11.16

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 Olá a todos. É verdade que tenho andado arredio do blogue. Não é falta de interesse, nem a motivação a decrescer, fiquem descansados. Como pode a motivação decrescer se continuo a sentir os efeitos visíveis do meu novo estilo de vida? Em seis meses (4 meses e meio de diabético oficial + 1 mês e meio de ginásio antes da descoberta), os números continuam a crescer: 27 quilos perdidos. A glicemia mantém-se controlada em valores que oscilam entre os 85 e os 120 (perfeito!), a tensão arterial não ultrapassa os 13/8, a resistência ao exercício físico aumenta. Obviamente, sinto-me mutio bem do ponto de vista de saúde.

O último mês, porém, tem sido muito exigente do ponto de vista de trabalho, com várias solicitações profissionais, com o início do ano escolar, com novos cursos e mais aulas para dar, com mais trabalho jornalístico para coordenar, e com reuniões importantes para o futuro da Palavras Ditas. Por isso, está justificada a minha ausência por aqui. Não me levem a mal. De qualquer forma, tenho tentado alimentar quase diariamente a página do Facebook do Tipo 2 e também o meu Instagram está cheio de referências ao meu "novo eu".

Nestes últimos tempos tenho encontrado muita gente que não me via há meses. E os comentários são sempre os mesmos. Aos elogios, porque 27 quilos são 27 quilos e notam-se na roupa, seguem-se normamente as mesmas perguntas: "Tem custado muito?" "Cortaste com o quê?", "O que é que não podes comer?". As respostas são sempre as mesmas "Nada" e "Tudo". É verdade que não me privo de nada, embora evidentemente tenha deixado de comer as quantidades que comia a cada refeição e tenha interrompido o ciclo diário e vicioso de alimentos processados e fritos que me levaram ao ponto a que levaram. Mas quando digo que não me privo, é mesmo verdade. Ainda ontem, domingo, almocei num restaurante com o meu irmão mais novo, cunhada e sobrinhos e comi pão e um pouco de manteiga, e partilhámos uma picanha e um lombinho de porco. Tudo no churrasco, é certo, mas carnes vermelhas. E havia batatas fritas e esparregado. No final da semana passada, por exemplo, tinha comido numa pizzaria. Portanto, para acabar de vez com esse mito que só se pode perder peso "fechando a boca", é preciso dizer que é fundamental uma reeducação alimentar, mas não uma privação que, a médio prazo, só vai conduzir a vontades incontroláveis.

Estes seis meses de reeducação alimentar, aliados ao exercício físico e, naturalmente, a medicação para a diabetes têm sido essenciais. Ontem, descobri uma aplicação, o Storyo, que faz vídeos giros e simples com fotos escolhidas por nós. Aqui está o filme alimentar dos meus últimos seis meses. E podem ver a variedade e o ar apetitoso de cada coisa. Não como todos os dias peixe cozido ou peixe grelhado, como veem. É verdade que não estão cá os dois ou três rissóis que comi neste período, nem o croquete de espinafres que comi, há uma semana e meia, na Padaria Portuguesa, para matar saudades. Mas não me privei deles. Eles estão cá no meu organismo e foram bem recebidos, sem alteração dos valores vitais que agora me orientam. Mas quando penso no que como agora e no que comia há seis meses, assaltam-me dois sentimentos contraditórios: "que bom que isto está a ser e a resultar!", por um lado, e "que estúpido que eu fui durante tantos anos!". Ontem, o tal meu irmão de que já aqui falei, elogiava o caminho que tenho feito. Ele é médico veterinário e, apesar das diferenças, estudou disciplinas centrais da medicina. Sempre que eu começava em dieta, ele dava-me força, mas sorria. Do género "pois, pois...". Ontem, no decorrer da conversa, e quando lhe falava dos 8 números de calças reduzidos, das T-shirts XXL que já uso para o ginásio (em vez das 5XL de há sete ou oito meses), das camisas quatro números abaixo e de tudo isto, perguntei-lhe diretamente: "Conta lá, nunca acredistaste que isto seria possível, pois não?". Ele sorriu e anuiu. "Era difícil acreditar. Se calhar, nem tu acreditavas".

É verdade. Mas eis a prova de que é possível. Sempre vos disse aqui que não quero ser um exemplo para ninguém. Mas também não quero desvalorizar esta caminhada que, orgulhosamente, tenho trilhado. E por isso, deixo-vos a pergunta em jeito de desafio: se eu estou a conseguir, por que raio não hão-de conseguir vocês? Certo? Essa é a pergunta que devem fazer a vocês próprios. E acreditem: por mais ajuda que tenham, é sempre em vocês que está a mudança. É sempre de vocês que deve partir a atitude. Força!

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O tempo ajuda a curar quase tudo. Esquece, atenua, suaviza, resolve. Mesmo os traumas. Embora alguns, e para alguns, a coisa possa ser mais difícil. "Baleia fora de água". Têm noção do impacto que uma expressão destas dita repetidamente pode ter numa criança obesa de oito ou nove anos? Ou mesmo num adolescente de 12 ou 13? Eu ouvia-a dezenas, centenas de vezes. Eu e todos aqueles que tinham peso a mais. "Gordo", "Badocha" ou mesmo "Piranha" (numa homenagem a esse clássico da TV dos anos 80 chamado "Verão Azul") eram algo ainda aceitável, mas "baleia fora de água" deixava-me fora de mim. Era uma crueldade própria de crianças, eu sei, mas magoava. Ficava a repetir-se cá dentro, como uma matraca. Uma vez, explodi. Um parvalhão na escola chamou-me "Baleia fora de água" e eu, com um ar de superiodade intelectual e simulando indiferença perante o mimo, respondi-lhe: "Pois é, sou baleia fora de água, mas isto com uma dieta, passa. Agora, tu és um estúpido. E serás sempre um estúpido. Não há nada que possa melhorar isso". E virei-lhe as costas. Ainda pensei que o gajo viesse atrás de mim: ou para insistir na conversa ou para me dar um murro, mas não. Ficou quedo e mudo. Provavelmente, a pensar no que lhe disse. Para mim, aquele foi um momento de viragem. Fiquei orgulhoso da minha resposta e decidi interiormente que não voltaria a deixar-me afetar por aquilo que de malicioso os outros dissessem sobre a minha aparência física. 

Se o tempo ajuda a curar quase tudo, a idade também ajuda a colocar quase tudo em perspectiva. E à medida que fui crescendo, aprendi a valorizar umas coisas em detrimento de outras, e a fazer das minhas fraquezas, forças. Percebi que a única forma de calar os outros é dando o melhor de nós. Foi assim que cresci profissionalmente. Procurando sempre fazer melhor. Tentando melhorar a cada erro cometido. É assim hoje ainda. Procurando refletir sobre o que faço (na profissão, na vida...), percebendo como posso melhorar.

Quando me perguntam por que razão só agora me passei a preocupar com a minha saúde, a minha resposta não é clara. Não sei. Eu já me preocupava antes, de vez em quando, mas intervalava a reflexão entre rissóis e folhados de Chaves. Com demasiada frequência, admita-se. O diagnóstico oficial da Diabetes, a 19 de junho, foi o click, claro, mas dois meses antes já me havia inscrito no ginásio e tinha jurado a mim próprio que desta vez era a sério. E, sim, eu já sabia que era diabético. Os sintomas que eu tinha não me deixavam grandes dúvidas. Acho que há um momento para tudo. A idade ajuda-nos a perceber isso com mais clareza. 

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É bom, porém, não esquecer o que deixámos lá atrás. Por mais resolvido que eu, gordo, tenha crescido, é sempre bom não esquecer algumas coisas. Por mais que eu sempre me tenha despido na praia sem problemas de mostrar as banhocas e as mamas, há sempre uma "baleia fora de água" que vem à tona. Há sempre gente que olha de espanto quando se cruza à beira-mar connosco. Há sempre uns tipos que apontam o dedo e que dizem uma piada, seguida de gargalhada geral. E é por isso que resolvi escrever este post.

E é por isso que escolhi o título que escolhi. Há cinco coisas que nunca se devem perguntar/dizer a um gordo (a não ser em ambiente clínico ou familiar, claro...):

 

- Quanto é que pesas?

- Não faças uma dieta, não...

- Estás outra vez mais gordo!

- Não tens espelhos lá em casa?

- Ouve lá, onde é que arranjas roupa desse tamanho?

 

As cinco perguntas revelam uma grande falta de sensibilidade. Um gordo sabe que é gordo. Um gordo tem espelhos em casa. Um gordo sabe que tem de perder peso. Um gordo sofre à procura de roupa para o seu tamanho e fica constrangido quando, numa loja, é obrigado a responder com um "pois, mas não chega" à frase da empregada "este tamanho dá de certeza para si, é o maior que temos cá". Perante este momento, o gordo pensa: "porra, sou mesmo um bisonte! Nem mesmo o maior que eles têm cá dá para mim. Talvez vá ao Tecidos Vidal comprar pano para um toldo e faça uma túnica!"

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Ao contrário do que muitos pensam e disseram na altura em que o programa chegou a Portugal, formatos como o "The Biggest Loser" ("O Peso Pesado", SIC), entre outros, foram muito importantes para as cabeças portuguesas. Para as cabeças dos gordos, em primeiro lugar. É sempre bom sabermos que não estamos sozinhos no mundo e que há casos ainda mais graves dos que os nossos. Isto não resolve nada em nós, mas, acreditem, alivia. Um gordo que pesa 145 quilos olha com respeito para alguém que se expõe na televisão, que se pesa numa balança, e que vê aquilo marcar 173 quilos. Há uma identificação, uma espécie de projeção, quase uma irmandade. Em segundo lugar, e mais importante, creio que programas como "O Peso Pesado" vieram alertar os portugueses para a normalidade da obesidade mórbida. Normalidade no sentido de "há gente assim, que tem de lutar, que tem de sofrer". Normalidade no sentido de "esta gente que está a conseguir isto merece o nosso respeito, o nosso aplauso, porque revela força de vontade, porque não tem receio nem vergonha de se expor".

Os "The Biggest Loser" da vida chegaram por razões pouco samaritanas: é hipocrisia pensar que chegaram para ajudar o mundo. Não, chegaram porque toda a gente gosta de espiolhar pelo buraco da fechadura e ver "gente assim" (são obesos mórbidos, podiam ser anões, homens de quatro pernas ou mulheres de bigode). E isso gera audiências, numa indústria que movimenta milhões de euros como a televisão. Mas, apesar de tudo, ainda bem que chegaram, porque ajudaram os portugueses (e falo nos portugueses porque nos Estados Unidos a obesidade, por tão frequente e intensa, não é tabu) a olhar para esta realidade, a saber respeitar os gordos e a perceber que a obesidade é uma patologia, a acordar para a alimentação saudável, a despertar para o gravíssimo problema que, enquanto sociedade, temos em mãos chamado obesidade infantil.

Estou a escrever este post hoje, 22 de outubro de 2016, porque hoje é um dia histórico nesta minha caminhada. Tão histórico como o 19 de junho. Pela primeira vez, em cima da balança, baixei de uma fasquia mítica que havia ultrapassado aos 24 anos. Ou seja, aos 24 anos eu atingi um peso e, nos últimos 18 anos, nunca consegui baixar desse peso. Foi sempre a subir. Como já vos disse que não se pergunta o peso a um gordo, já sei que não vão fazer a pergunta, mas antes que se ponham a adivinhar, esclareço já: não, ainda não é a barreira psicológica dos dois dígitos. Seria bom que assim fosse, mas ainda falta muito. Mas os 26 quilos que perdi desde abril fizeram-me baixar de uma fasquia mítica que ultrapassara aos 18 anos. Este é o meu "The Bigest Loser". Por enquanto, uma parte dele é só minha, longe dos holofotes. Haverá um momento em que partilharei convosco os valores. Por enquanto, ainda há constrangimentos que não consigo superar. Mas é fácil fazer contas, perceber o meu entusiasmo e o meu orgulho. E esse faço questão de o partilhar aqui. 

Haverá gente que, cansada destes posts e das suas réplicas nas minhas redes sociais, dirão: "outra vez? mas este gajo agora só fala disto?". Falo daquilo que quero, daquilo que é a minha batalha mais importante. Falo porque preciso. Por mim. Falo porque é preciso. Pelos outros. Quem gosta de mim, quem me admira, quem é meu amigo, quem tem orgulho em mim perceberá o quão importante isto é. Isto e tudo o resto: a minha profissão, a minha empresa, os meus alunos, os meus textos, as minhas ideias, os meus amores. O Nuno, o Tipo 2, é uma soma disso tudo. Com virtudes e defeitos. E com uma imensa vontade de viver e ser feliz.

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Feira dos Tecidos. Promoções! Vendo barato!

por Nuno Azinheira, em 20.10.16

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Seis meses depois de me ter voltado a inscrever no ginásio e quatro meses após a descoberta de que sou diabético Tipo 2, há passos firmes que foram dados. Mudanças profundas. Interiores, em primeiro lugar. E que se refletem muito claramente no exterior (aparência física) e na minha saúde. Ao longo destes meses, tenho deixado por aqui as marcas dessas mudanças, tenho partilhado convosco, aqui no blogue ou na página de Facebook do Tipo 2, as minhas opiniões, a minha nova alimentação, a minha prática continuada de exercício físico, os desafios que me coloco a mim próprio e as motivações que se seguem.

Confesso-vos que me é agradável e motivador ver os olhos de espanto e ouvir os comentários daqueles que não me veem há quatro ou cinco meses. Para os que comigo lidam todos os dias, as mudanças também são notórias, mas não é possível ter essa percepção tão clara. Eu, que há 42 anos me aturo, convivo comigo diariamente e, sim, vou sentindo quase todos os dias as alterações no meu corpo e no meu metabolismo. Primeiro, nas coisas práticas:

- A minha tensão está controlada e em valores que oscilam entre os 12/7 e os 13/7;

- A minha glicose no sangue (glicemia) varia, em média, entre os 85 (antes das refeições) e os 120 (depois das refeições) mg de açúcar por decilitro de sangue (os valores referência dos diabéticos vão até aos 160 mg/dl);

- O meu colesterol e triglicéridos estão em valores saudáveis;

- Passei a dormir perfeitamente, sete/oito horas por dia, sem acordar a meio da noite e com um sono pendular (acordo religiosamente às 08.30, sem despertador);

- Deixei de ter azia, sensações de enfartamento, pernas inchadas, dores nas costas;

- Aumentei a minha resistência física: hoje subir três andares de escadas ainda me deixa cansado, mas não à beira de um colapso;

- Perdi 24 quilos;

- Perdi 25 centímetros de perímetro abdominal, ou seja de barriga, a zona mais perigosa dos obesos, porque é lá que está concentrada a gordura visceral, aquela potencialmente mais perigosa para o coração;

- Baixei a matéria gorda do meu corpo em 5 pontos percentuais.

Isto é o mais importante de tudo: é o que me devolve anos de vida e, sobretudo, qualidade de vida.

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 A acompanhar a isto, há o outro lado: a roupa. Em seis meses, estou a uns passos de deixar de vestir na secção de "Tamanhos Grandes", apesar de ainda continuar a ser grande. Em calças, por exemplo, tenho tido grande dificuldade, porque 25 centímetros de cintura perdida significa baixar cinco ou seis números de calças (que saltam de dois em dois, portanto 10 ou 12!). A estrutura do corpo mudou também. A largura de ombros é hoje menor, o que faz que as camisas que vestia não as possa mais vestir. As costas endireitaram, porque o peso que a coluna suporta é menor, a barriga é menos saliente.

Há dois dias decidi fazer uma limpeza nos meus armários. Tinha de ser. E o resulado foi muito divertido, mas ao mesmo tempo preocupante. Não tenho hoje um fato, um blazer ou um casaco que me fique bem. Metade das camisas passaram a ser camisas de noite.

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E, das três, uma: ou o OLX cria uma secção de "Tamanhos Grandes" para eu poder fazer alguma receita com a roupa que já não visto (muita dela de marca e alguma dela com muito pouco uso); ou faço uma venda de garagem (!) ou lanço uma promoção tipo "Feira dos Tecidos. Novos padrões para cortinados. Vendo barato!".

É óbvio que esta é a chamada "boa dor de cabeça". Claro que vou ter de gastar dinheiro em roupa, e muito provavelmente, não rentabilizo em nada a roupa que já não uso. Mas é um ótimo sinal e altamente moralizador. Felizmente, nos últimos anos eu cometia um erro muito frequente: comprava camisas ou casacos uns números abaixo do que vestia para me incentivar a perder peso. Algumas dessas peças de roupa ficaram arrumadas no armário durante dois anos, sem nunca terem sido usadas. Passaram agora a ter serventia. Mas há outro problema: o investimento em roupa tem de ser tranquilo e em pequenas quantidades de cada vez. Porque a batalha contra o excesso de peso está longe de terminar e estou motivado a continuar, mesmo sabendo que os progressos serão, a partir de agora, mais lentos e mais difíceis. Mas eu vou continuar a perder peso, vou continuar a moldar o meu corpo. Portanto, estar a comprar agora muita roupa pode significar a prazo voltar a ter o mesmo problema. Vamos com calma, pé ante pé. Continuando a lutar, sem desistir. Sabendo que cada passo que dou é um passo para me sentir mais forte e mais saudável. E sabendo que isto só se consegue com a medicação antidiabética que tomo e, sobretudo, com a articulação de dois critérios fundamentais na mudança do estilo de vida: uma alimentação variada, de baixos hidratos de carbono (açúcares), e a prática sistemática de exercício físico. E quando digo sistemática não significa horas de caminhada ou de corrida todos os dias. Nem toda a gente tem paciência, e sobretudo tempo, para isso. Aliás, deixem-me que vos diga: para o metabolismo são mais frutuosos 20 minutos de caminhada a pé todos os dias do que duas horas de corrida uma vez por semana. Por falar nisso, escrever este post atrasou-me. E já não vou a tempo de caminhar agora: vai ter de ficar mais para o fim do dia. 

 

 

 

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A importância de não nos fecharmos numa concha

por Nuno Azinheira, em 15.10.16

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Acordei. 08.17. Lá fora chovia a cântaros. Era forte o som da chuva a cair nos telhados de Lisboa. As previsões apontavam para a probabilidade de umas pingas, sim, mas nada que pudesse assustar. E logo hoje que me tinha inscrito, pela primeira vez, nos Sábados Desportivos que a Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal promove em dois sábados de cada mês. Ainda por cima, tinha vindo aqui ontem desafiar-vos a virem comigo e a conhecerem-me pessoalmente, depois destes meses em que temos partilhado desabafos, motivações, frustrações, preocupações e experiências de vida.

Não, eu não podia faltar. Mas chovia. Lá fora chovia a cântaros. Continuava forte o som da chuva a cair nos telhados de Lisboa. Peguei no telemóvel, confirmei na aplicação de meteorologia que, sim, a probabilidade de chover ao longo do dia era forte (60%). Batia certo. "E agora? Vou de calções e T-Shirt para o Lumiar e corro o risco de apanhar uma molha e não estar lá ninguém?" ou "Falto ao meu compromisso, invocando a ira dos deuses e fico na cama?". 

Não podia ser. Os últimos quatro meses têm sido de batalha, de coragem, de sentido de responsabilidade e, sem que esse fosse o meu objetivo inicial, tornaram-me também um exemplo, uma fonte de inspiração aos olhos de que me lê aqui no blogue ou no Facebook. Não queria entrar numa de "Bem prega Frei Tomás". Não podia prometer uma coisa e depois falhar. Apenas por conforto de ficar na cama.

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Levantei-me a medo. Fui à janela. Ao fundo a Ponte 25 de Abril, o Tejo e umas nuvens carregadas. Os vidros molhados. A chuva caía. Voltei a deitar-me e a enroscar-me na almofada. Nisto, providencialmente, toca o despertador, que eu tinha colocado para as 08.30. Simbólico. Se é para despertar, é para despertar. 

Levantei-me, tratei do pequeno-almoço, da medicação e de mim. Vesti os calções e a T-Shirt, calcei os ténis. Na mochila coloquei uma garrafa de água, uma maçã e duas bolachas de fibra e gengibre, mais o glicómetro e a carteira. Por via das dúvidas, preparei a mochila para o ginásio. Se lá chegasse ao Lumiar, e não estivesse ninguém, ia praticar exercício indoor.

No caminho não parou de chover. Mas eu não desisti e segui a minha rota, em busca do Parque das Conchas, no Lumiar, onde nunca tinha entrado na vida. Quando cheguei e estacionei o carro, vi dez pessoas à porta da entrada junto à saída do Metro (era o local combinado). Eram todos mais velhos do que eu. Não sei se tinham "ar de diabético" (o que é isso, afinal?), mas percebi que, sim, aquela era a minha gente. Gente como eu, interessada em fazer exercício, sofrendo da mesma doença do que eu, e procurando, melhor ou pior, aumentar a sua qualidade de vida. Na frente do grupo, um amigo antigo, o João Antunes,  velho companheiro dos tempos dos relatos na saudosa Rádio Ocidente. Ele já tinha prometido ontem que viria, quando eu desafiei toda a gente. Prometeu e também cumpriu. Nos minutos seguintes, juntaram-se mais cinco ou seis pessoas. E conheci a Ana Rodrigues, a professora de Educação Física que trabalha para a APDP e que, percebi logo, tinha já uma grande empatia com todos ("os meus meninos", como disse repetidamente). Apresentámo-nos, e a seu pedido falei-lhe do meu historial. As duas horas que se seguiram foram excelentes: caminhada de três quilómetros pelo parque, muito bonito, com zonas relvadas e outras de pinhal, subidas e descidas; exercícios de força, flexões, elasticidade e resistência, e alongamentos no final. Gargalhadas, histórias de partilha e de superação. Antes e depois do exercício medimos a glicemia. E todos constataram a descida dos valores com a prática da atividade.

No final pedi para tirar uma selfie, uma foto de família, que, expliquei previamente, seria para publicar aqui. Ninguém se importou e todos apareceram para a foto. No fundo, a ideia era essa. Partilhar. É esse o caminho, o objetivo. Uma partilha entre iguais, para desmistificar a diabetes e perceber que a vida pode ser melhor mesmo com a doença. No meu caso, seguramente, sobtetudo por causa da doença. Dentro de 15 dias, se não tiver qualquer compromisso inadiável, voltarei lá. Fiquei fã. E atenção: a iniciativa, que é de inscrição gratuita, não é válida apenas para diabéticos. Qualquer um pode aparecer, e juntar-se ao grupo. Venham. O pior que pode acontecer é fecharem-se na vossa própria concha...

 

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Bom domingo! Tenho andado um pouco arredado do blogue, porque a minha vida está um relativo caos. Com o arranque do ano letivo na ETIC (sou coordenador dos dois cursos de Jornalismo da escola), os meus dias têm sido cheios de reuniões com alunos, professores e direção. É natural, as aulas começam esta semana. Acresce a minha atividade corrente na Palavras Ditas, enquanto gestor, professor e jornalista, e dá para perceber que se o dia tivesse mais de 24 horas, ele estaria preenchido.

Não pensem, portanto, que vos abandonei. E, mais importante que isso, apesar de tudo, não temam que me abandonei. Não, o caminho que iniciei em abril no ginásio e em junho com a descoberta da Diabetes continua firme. Há passos sustentados dados em frente e que não voltam atrás. Não, desta vez, garanto, não voltam mesmo atrás. Por mim. 

Vamos então ao resumo da matéria dada: há uma semana participei pela primeira vez na minha vida numa prova coletiva, a Mini Maratona de Lisboa. Foram 6,5 quilómetros de emoções (a primeira vez é sempre especial), mas do ponto de vista físico foi uma prova pouco exigente, até porque estou habituado a caminhar em média 10 quilómetros.

Na terça-feira recebi excelentes resultados na Associação Protectora de Diabéticos de Portugal: mais seis quilos perdidos e mais  sete centímetros de perímetro abdominal deitados abaixo. No total, desde o arranque desta "Operação Saúde", já lá vão 22 cm na barriga e 23 quilos ao ar. É obra! 

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Na quarta-feira, aproveitando o feriado, bati o meu recorde pessoal de quilómetros percorridos: 17,8 km numa só caminhada. Saí de casa, percorri o bairro de Alcântara, cruzei a avenida de Ceuta, e segui pela Rua das Janelas Verdes, subi toda a Avenida Infante Santo (que não é fácil), atravessei o Jardim da Estrela, desci até ao Rato pela Álvares Cabral, subi às Amoreiras pela D. Pedro V (também ela uma avenida com uma inclinação bem acentuada), e depois rumei até ao Parque Eduardo VII. Do alto, contemplei a vista e desci: Marquês de Pombal, Avenida da Liberdade, Rossio, Rua do Ouro, Terreiro do Paço, Cais do Sodré e de novo Alcântara. Mais de três horas a caminhar. Foi um treino exigente, sobretudo nas subidas, mas muito estimulante. O dia não acabou ali. À tarde estive a ajudar na inauguração do novo hospital veterinário do meu irmão Diogo e da minha cunhada Susana, a Alma Veterinária. Ao fim do dia, a aplicação do telemóvel não permitia ilusões: 19,2 km percorridos. Um dia fantástico, que, no entanto, deixou marcas físicas intensas nos músculos, de que só ontem comecei a recuperar.

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Curiosamente, enquanto escrevo estas linhas, recebo uma notificação no meu telemóvel de uma das aplicações que me ajuda no exercício físico. E o que diz a notificação? Que esta última semana foi a minha melhor de sempre no que toca a quilómetros percorridos. Este tipo de incentivos são fundamentais, sobretudo para alguém que, como eu, até há poucos meses, não andava a pé e fazia tudo de carro.

Nestes últimos dias de repouso físico, fui alertado por um amigo para um texto de um jovem estudante de jornalismo, que conheço pessoalmente, que é formando na Palavras Ditas (façam like na página de facebook, já agora!). O L. é aquilo a que se pode chamar um "gordinho": não é gordo no sentido de obeso, mas tem, de facto, uns quilos a mais. Nunca falei com ele sobre esse assunto (aliás, as nossas conversas, pouco frequentes, nas redes sociais limitam-se a assuntos da área do jornalismo e da formação profissional), nem sabia tão pouco que ele era leitor do Tipo 2.

O post que o L. escreveu no seu próprio perfil de Faceboook emocionou-me muito. Porque deu mais um sentido à decisão que tomei na minha vida e a que dei o nome de #escolherviver. É disso que se trata: entre morrer lentamente ou viver, eu escolhi viver. Quando confrontado com o texto do L., comentei-o, mandei-lhe uma mensagem e agradeci o gesto. Dei-lhe força para o início da sua batalha. E pedi-lhe autorização para falar dele aqui no blogue. Ele concedeu-ma.

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E o que diz o texto?: "Sim, este sou eu. Com 23 anos a caminho dos 24 e com uma idade metabólica de 38 anos, ou seja, o meu metabolismo porta-se como se eu tivesse esta idade. Este é o meu peso. E este é primeiro dia do resto da minha vida. Há 5 dias que não toco num doce ou guloseima. Para vocês não é nada, para mim é uma vitória (ainda que mínima). Muitos de vós não conhecem o jornalista Nuno Azinheira, e ele não sabe disto, mas foi ele que me inspirou através dos seus posts diários e da sua evolução. Ele usa uma hashtag chamada #escolherviver. Tem feito um percurso extraordinário na sua perda de peso e ganho de hábitos saudáveis. Ele não sabe. Mas foi ele que, sem o querer, me motivou com as publicações que tem feito. E fui eu que decidi que não quero ter diabetes (e tenho na família uma pessoa com essa doença, o que agrava), que não quero ter problemas de saúde por uma coisa que depende de mim. Única e exclusivamente de mim. E já tinha feito e desfeito dietas. Por estética, sempre. Já tinha ganhado e perdido peso. Desta vez, é a sério. Desta vez não é pela estética. Desta vez é pelo nosso bem mais precioso, a saúde. Posso vomitar o chão, como hoje tive vontade quando saí do ginásio porque há quase 3 anos que não me mexo, posso ficar com as pernas a tremer como se de um ataque se tratasse, como hoje, posso estar todo partido, mas o objetivo são os 70kg. Vai ser muito difícil, como eu nunca pensei que fosse (não consegui fazer mais que 8 abdominais), mas esta é a minha força - minha vontade. A minha motivação."

É um texto lindo, muito emocionante, porque escrito por um jovem consciente que não apanhou qualquer susto. Um jovem que decidiu mudar porque sim, porque quis, porque percebeu que pode ter uma vida melhor. É um texto lindo e emocionante porque assume que encontrou no meu exemplo uma força para desencadear a sua força. E isso toca-me muito, naturalmente. Tenho uma amiga de Facebook, também ela jovem, também ela estudante de jornalismo, que tem peso a mais. Há duas semanas disse-me, em jeito de questão, se poderia começar a fazer umas caminhadas comigo. Disse-lhe que sim, claro. 

Quando aqui cheguei à blogosfera, disse ao que vinha. Que não me queria esconder, que queria assumir publicamente o meu combate contra a Diabetes Tipo 2. Que este blogue seria o meu compromisso público, a minha força de partilha, e que se ele ajudasse outras pessoas em igual situação, me sentiria muito feliz. Hoje sinto-me muito feliz com esta dimensão da minha vida. O que já perdi em peso, em açúcar, em colesterol elevado, em tensão arterial desequilibrada, ganhei em anos de vida. É verdade que, daqui a pouco, à saída de casa, me pode cair um piano em cima, mas esses imponderáveis eu não controlo. Esta parte da minha vida, sim, eu controlo. E seria uma estupidez que, podendo controlar, podendo ditar a saúde e a minha qualidade de vida, não aproveitasse essa faculdade racional que os seres humanos possuem. 

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 Obrigado ao L. e a tantos outros que me têm incentivado de todas as maneiras. Obrigado aos que no Facebook, ao do Tipo 2 e ao meu pessoal, me dizem na brincadeira que hoje valho "metade" do que valia há seis meses. Obrigado aos que se espantam quando me veem. Obrigado às funcionárias das lojas onde me visto que já me trazem roupa oito números abaixo e que me dizem, com um sorriso, "mais uns meses e deixa de pertencer à secção "Tamanhos Grandes"". Obrigado aos que vibram com este meu sucesso. Obrigado aos que sorriem e me fazem likes. Todos fazem parte desta caminhada. Todos são responsáveis pelo facto de esta hastag do Instagram #escolherviver fazer cada vez mais sentido. Aos que ainda não acordaram, e são tantos!, está na hora. Acreditem: ninguem faz nada por nós. Nós (todos juntos) somos a nossa própria inspiração!

 

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Esta foto foi tirada hoje à porta Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal. À saída, claro. Não veem o sorriso? Mesmo que o vejam, não conseguem perceber a exata proporção do que sinto interiormente. Podem ter uma vaga ideia, mas não dá para perceber o turbilhão de sensações. Vocês têm acompanhado aqui este meu percurso, têm feito parte dele de forma entusiasta (foi por isso que criei este blogue, lembram-se?) e, portanto, é justo que compartilhe convosco aquilo que, em palavras, consigo partilhar. As lágrimas que me correram hoje, sem vergonhas nem pudores, à frente da médica, quando ela me mostrou os resultados das análises, isso não consigo descrever por palavras. Sei que me entendem. 

Acabo de sair da APDP e da minha terceira consulta, desde que a 19 de junho me foi diagnosticada a Diabetes Tipo 2. Nesse dia, tinha 329 mg de açúcar por decilitro de sangue. Hoje, três meses e meio depois, tinha 89 mg/dl. O melhor teste, porém, já aqui o tinha dito, é o da hemoglobina glicada (ou glicosada), o valor médio de três meses de glicemia. Esta é a medida de referência usada clinicamente para diagnosticar o quadro de diabetes e aferir a evolução do paciente.

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Pois, se bem se lembram (contei aqui!), a 2 de agosto, apenas com um mês e picos de mudança de estilo de vida, o meu valor ainda era muito alto (9,1%), se atendermos ao valor-referência: o ideal é que o número esteja abaixo de 6,5/7. Hoje, 4 de outubro, a minha hemoglobina é perfeita: 6,4%. Um valor de alguém saudável!

No que toca a pesos e medições, os resultados não poderiam ser mais inspiradores e recompensadores: no espaço deste último mês perdi mais seis quilos, graças à conjugação "reeducação alimentar + exercício físico + medicação", e reduzi a minha cintura (o famoso e perigoso perímetro abdominal) em 7 cm. Isto significa que desde que iniciei o tratamento na APDP, perdi 12 quilos e 22 centímetros de barriga. O resultado é ainda mais espantoso se recuar a abril, quando me inscrevi no ginásio. Em seis meses perdi 23 quilos. Não é gralha, são mesmo 23 quilos. O meu índice de massa corporal baixou 5 pontos percentuais. Na prática isto diz uma coisa fundamental: é preciso continuar este caminho. Mas cá dentro,  meus amigos, cá dentro da cabeça é uma enorme volta. A começar pelo rótulo. Desde hoje deixei de ser um Obeso Grau III, e passei a ser um Obeso de Grau II. Pior ainda: abandonei, de acordo com os padrões de aferição do IMC (índice de massa corporal), o pavoroso escalão da Obesidade Mórbida. As palavras não são ocas, têm significado, têm peso. E às vezes, mesmo para um tipo bem resolvido e com uma autoestima alta, as palavras pesam toneladas.

No domingo passado passei pelo CascaiShopping e comprei um par de calças. Constatei que o meu número (aquele que tinha comprado há um mês e meio, quatro números abaixo do que vestia há quatro meses) já era grande de mais. A funcionária sugeriu-me um número abaixo. Ainda ficavam a bailar. Foram dois números abaixo. Ou seja, reduzi seis números (equivalente a 12, uma vez que as calças saltam de dois em dois...). 

Ao longos dos últimos dias, nas redes sociais, tenho colocado fotografias e rececebido centenas de simpáticos "likes" e dezenas de calorosos comentários. Com alguns emocionei-me. Outros fizeram-se sorrir. A todos agradeço. Muitos tinham um denominador comum: por um lado, o espanto e as felicitações; por outro, a ideia subjacente à frase "como vês, o esforço compensa". Tenho pensado muito nisso, nesta última ideia. Mas qual esforço? Acreditem, não estou a fazer género. E percebo que seja difícil perceber que esteja a ser sincero. Se fosse verdade, se fosse fácil perder peso no meu caso, não teria ultrapassado os 140 quilos, como cheguei a pesar. Mas, para ser honesto comigo, tenho de vos dizer: não tem havido esforço. Tem havido rigor, força de vontade, capacidade de resistência, uma grande entrega e, mais importante que tudo, um grande respeito por mim. É isso mesmo. Um grande respeito por mim. Mas esforço? Não. Habituei-me a fazer exercício físico porque era imprescindível. Tinha de ser. Hoje apaixonei-me por caminhadas.

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Tanto que, como sabem, no domingo passado me inscrei na primeira prova coletiva da minha vida. Foi a Mini Maratona de Lisboa, na Ponte Vasco da Gama. Mas quando cruzei a meta, ao fim de 6,5 quilómetros, senti que queria mais. E continuei, junto à margem do Tejo, até que cheguei ao Lux, onde chamei um Uber. No total do dia, tinha caminhado 14,9 quilómetros!

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Foi a minha primeira vez. Teve um simbolismo especial. Fui sozinho, não encontrei lá qualquer amigo dos que me disseram que também iam. Eram milhares de pessoas, seria a mesma dose de fortuna do que encontrar uma agulha no palheiro. Mas aquele sentimento de partilha, de comunhão, aquela sensação de que estávamos todos ao mesmo, foi magnífica. Tal como eu centenas de pessoas fizeram a prova a caminhar. Havia pais com crianças, havia carrinhos de bebéis e até alguém que se juntou com um cão a meio do percurso. Escusam de perguntar: sim, emocionei-me quando cruzei a meta. Não pelos 6,5 quilómetros, mas porque tinha conseguido, porque tinha sido capaz de me expor uma vez mais, de partilhar com os outros as minhas fragilidades e forças.

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No final, à chegada à linha de meta, instalada na Alameda dos Oceanos, o meu amigo e companheiro de trabalho Rodrigo Cabrita, um magnífico fotojornalista que estava a trabalhar, registou o momento que fica para a posteridade. Tal como o dorsal 22521 e a medalha, anónima, banal e sem qualquer valor financeiro, mas que nunca vou esquecer e que guardarei sempre comigo.

Portanto, que fique claro. Sim, o sacrifício pode valer a pena. E há alturas na vida que podemos e devemos fazer sacrifícios, se eles nos levarem a bens maiores. E neste caso, o da minha saúde, faria tdos os sacrifícios necessários. Mas, acreditem, não tem sido. Tem sido uma redescoberta apaixonante. Contagiante porque visível todos os dias. 

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Acham este prato de robalo grelhado em cama de legumes um sacrifício? Eu cá não acho. Estava delicioso. E é mais uma prova, das muitas que aqui tenho deixado, que um diagnóstico de Diabetes não é uma gilhotina em cima da cabeça. Nem tão pouco uma prisão absoluta que nos obriga a comer coisas chatas todos os dias. Não posso comer rissóis, bolas de berlim, mousses de leite condensado, folhados de carne, cozidos à portuguesa e feijoadas todos os dias? Não, não posso. Ainda bem. É preciso regra, rigor, contenção, alguma capacidade de resistência, mas há tanta coisa boa que podemos reaprender a cozinhar e a comer que as outras vão deixar de fazer falta. E quando sentirmos falta, já sabem a minha dica, comam. Uma vez não vos fará mal. 

Este texto já vai longo e não vos quero maçar mais. Nem queria terminar com uma mensagem moralista. Já aqui vos disse: eu deixei de fumar há cinco anos porque quis, não foi porque li nos maços que fumar causava cancro ou impotência sexual. Há momentos para tudo. Nem sempre estamos preparados para esse momento. Não quero ser heroi de ninguém, nem exemplo do que quer que seja. Mas posso ser uma inspiração. Para mim tenho sido. E se comigo tem resultado, convosco também vai resultar. Acreditem, deem o primeiro passo, não desistam. E passem cá para contar. Façam like na página de Facebook do Tipo 2 e partilhem as vossas histórias. Se formos todos a puxar para o mesmo lado, talvez isto seja menos difícil...

 

 

 

 

 

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