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"Somos o que comemos"

por Nuno Azinheira, em 08.07.16

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Não, isto não é um post de autoajuda. Mas, afinal, quantas vezes já ouvimos esta frase? Muitas. Demasiadas. Nós somos, de facto, o que comemos.

As escolhas que fazemos são determinantes para a nossa qualidade de vida. Todos sabemos. Mas há alguém que fume que não saiba que o tabaco faz mal? Que contribui para o cancro do pulmão, que aumenta as probabilidades de acidente vascular cerebral, que pode provocar impotência sexual? E em algum momento, quando se repete aquele gesto maquinal de tirar um cigarro do maço, alguém normal pensa para si "olha, mais um Viagrazinho que vou ter de tomar"?

Deixei de fumar há quatro anos. Mas não foi porque me disseram que fazia mal. Eu já sabia. Deixei de fumar porque num dia tinha a pressão arterial mais alta do que o habitual e assustei-me. Nunca mais peguei num cigarro. Ainda tenho o maço numa gaveta em casa. Já serviu para gente aflita cá em casa. Nestes quatro anos nunca mais me apeteceu fumar. Porque decidi que não queria mais. Assustei-me. Os sustos são excelentes. Não só para os soluços.

Já sei que devem estar a pensar que sou um tipo cheio de força de vontade. Nada disso. Se fosse assim, não estaria naquela categoria clínica da "obesidade mórbida" (porra, não sei o que pesa mais, se os quilos propriamente ditos, se o raio da semântica...). Salivo só de pensar numa excelente empada de galinha ou de um ótimo rissol de camarão.

Hoje desafiei o perigo. Encarei o touro pelos cornos. Entrei numa pastelaria com "fabrico próprio" para comprar uma garrafa de água. Estava sensivelmente a meio de uma caminhada de oito quilómetros junto ao Tejo. Tinha cometido o disparate supremo de não levar uma garrafa para ir hidratando à medida que os quilómetros avançavam. Entrei na pastelaria e podia ter fugido para uma zona de balcão livre de perigo. Mas não. Parei bem em frente à montra. Havia de tudo: algumas dez variedades de salgados e outras tantas de bolos com creme (tentam-me menos, confesso). Ótimo aspeto. Olhei para eles e disse-lhes "olá". Eles olharam para mim e quase jurava que os senti gritarem "come-me, come-me!".

"Bom dia, se faz favor?", perguntou-me, sorridente, a empregada. "Quero uma garrafa de água de meio litro", pedi. "Fresca ou natural?", indagou. "Fresca", respondi. Ela ainda insistiu, a provocadora: "Mais alguma coisa?". Engoli em seco, fiz o meu ar mais forte e respondi-lhe claramente: "Não, estou bem assim".

Custou um bocadinho. Vai custar mais vezes, eu sei. Desta vez, passei no teste. Senti-me orgulhoso.

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