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Olá a todos. É verdade que tenho andado arredio do blogue. Não é falta de interesse, nem a motivação a decrescer, fiquem descansados. Como pode a motivação decrescer se continuo a sentir os efeitos visíveis do meu novo estilo de vida? Em seis meses (4 meses e meio de diabético oficial + 1 mês e meio de ginásio antes da descoberta), os números continuam a crescer: 27 quilos perdidos. A glicemia mantém-se controlada em valores que oscilam entre os 85 e os 120 (perfeito!), a tensão arterial não ultrapassa os 13/8, a resistência ao exercício físico aumenta. Obviamente, sinto-me mutio bem do ponto de vista de saúde.
O último mês, porém, tem sido muito exigente do ponto de vista de trabalho, com várias solicitações profissionais, com o início do ano escolar, com novos cursos e mais aulas para dar, com mais trabalho jornalístico para coordenar, e com reuniões importantes para o futuro da Palavras Ditas. Por isso, está justificada a minha ausência por aqui. Não me levem a mal. De qualquer forma, tenho tentado alimentar quase diariamente a página do Facebook do Tipo 2 e também o meu Instagram está cheio de referências ao meu "novo eu".
Nestes últimos tempos tenho encontrado muita gente que não me via há meses. E os comentários são sempre os mesmos. Aos elogios, porque 27 quilos são 27 quilos e notam-se na roupa, seguem-se normamente as mesmas perguntas: "Tem custado muito?" "Cortaste com o quê?", "O que é que não podes comer?". As respostas são sempre as mesmas "Nada" e "Tudo". É verdade que não me privo de nada, embora evidentemente tenha deixado de comer as quantidades que comia a cada refeição e tenha interrompido o ciclo diário e vicioso de alimentos processados e fritos que me levaram ao ponto a que levaram. Mas quando digo que não me privo, é mesmo verdade. Ainda ontem, domingo, almocei num restaurante com o meu irmão mais novo, cunhada e sobrinhos e comi pão e um pouco de manteiga, e partilhámos uma picanha e um lombinho de porco. Tudo no churrasco, é certo, mas carnes vermelhas. E havia batatas fritas e esparregado. No final da semana passada, por exemplo, tinha comido numa pizzaria. Portanto, para acabar de vez com esse mito que só se pode perder peso "fechando a boca", é preciso dizer que é fundamental uma reeducação alimentar, mas não uma privação que, a médio prazo, só vai conduzir a vontades incontroláveis.
Estes seis meses de reeducação alimentar, aliados ao exercício físico e, naturalmente, a medicação para a diabetes têm sido essenciais. Ontem, descobri uma aplicação, o Storyo, que faz vídeos giros e simples com fotos escolhidas por nós. Aqui está o filme alimentar dos meus últimos seis meses. E podem ver a variedade e o ar apetitoso de cada coisa. Não como todos os dias peixe cozido ou peixe grelhado, como veem. É verdade que não estão cá os dois ou três rissóis que comi neste período, nem o croquete de espinafres que comi, há uma semana e meia, na Padaria Portuguesa, para matar saudades. Mas não me privei deles. Eles estão cá no meu organismo e foram bem recebidos, sem alteração dos valores vitais que agora me orientam. Mas quando penso no que como agora e no que comia há seis meses, assaltam-me dois sentimentos contraditórios: "que bom que isto está a ser e a resultar!", por um lado, e "que estúpido que eu fui durante tantos anos!". Ontem, o tal meu irmão de que já aqui falei, elogiava o caminho que tenho feito. Ele é médico veterinário e, apesar das diferenças, estudou disciplinas centrais da medicina. Sempre que eu começava em dieta, ele dava-me força, mas sorria. Do género "pois, pois...". Ontem, no decorrer da conversa, e quando lhe falava dos 8 números de calças reduzidos, das T-shirts XXL que já uso para o ginásio (em vez das 5XL de há sete ou oito meses), das camisas quatro números abaixo e de tudo isto, perguntei-lhe diretamente: "Conta lá, nunca acredistaste que isto seria possível, pois não?". Ele sorriu e anuiu. "Era difícil acreditar. Se calhar, nem tu acreditavas".
É verdade. Mas eis a prova de que é possível. Sempre vos disse aqui que não quero ser um exemplo para ninguém. Mas também não quero desvalorizar esta caminhada que, orgulhosamente, tenho trilhado. E por isso, deixo-vos a pergunta em jeito de desafio: se eu estou a conseguir, por que raio não hão-de conseguir vocês? Certo? Essa é a pergunta que devem fazer a vocês próprios. E acreditem: por mais ajuda que tenham, é sempre em vocês que está a mudança. É sempre de vocês que deve partir a atitude. Força!
Seis meses depois de me ter voltado a inscrever no ginásio e quatro meses após a descoberta de que sou diabético Tipo 2, há passos firmes que foram dados. Mudanças profundas. Interiores, em primeiro lugar. E que se refletem muito claramente no exterior (aparência física) e na minha saúde. Ao longo destes meses, tenho deixado por aqui as marcas dessas mudanças, tenho partilhado convosco, aqui no blogue ou na página de Facebook do Tipo 2, as minhas opiniões, a minha nova alimentação, a minha prática continuada de exercício físico, os desafios que me coloco a mim próprio e as motivações que se seguem.
Confesso-vos que me é agradável e motivador ver os olhos de espanto e ouvir os comentários daqueles que não me veem há quatro ou cinco meses. Para os que comigo lidam todos os dias, as mudanças também são notórias, mas não é possível ter essa percepção tão clara. Eu, que há 42 anos me aturo, convivo comigo diariamente e, sim, vou sentindo quase todos os dias as alterações no meu corpo e no meu metabolismo. Primeiro, nas coisas práticas:
- A minha tensão está controlada e em valores que oscilam entre os 12/7 e os 13/7;
- A minha glicose no sangue (glicemia) varia, em média, entre os 85 (antes das refeições) e os 120 (depois das refeições) mg de açúcar por decilitro de sangue (os valores referência dos diabéticos vão até aos 160 mg/dl);
- O meu colesterol e triglicéridos estão em valores saudáveis;
- Passei a dormir perfeitamente, sete/oito horas por dia, sem acordar a meio da noite e com um sono pendular (acordo religiosamente às 08.30, sem despertador);
- Deixei de ter azia, sensações de enfartamento, pernas inchadas, dores nas costas;
- Aumentei a minha resistência física: hoje subir três andares de escadas ainda me deixa cansado, mas não à beira de um colapso;
- Perdi 24 quilos;
- Perdi 25 centímetros de perímetro abdominal, ou seja de barriga, a zona mais perigosa dos obesos, porque é lá que está concentrada a gordura visceral, aquela potencialmente mais perigosa para o coração;
- Baixei a matéria gorda do meu corpo em 5 pontos percentuais.
Isto é o mais importante de tudo: é o que me devolve anos de vida e, sobretudo, qualidade de vida.
A acompanhar a isto, há o outro lado: a roupa. Em seis meses, estou a uns passos de deixar de vestir na secção de "Tamanhos Grandes", apesar de ainda continuar a ser grande. Em calças, por exemplo, tenho tido grande dificuldade, porque 25 centímetros de cintura perdida significa baixar cinco ou seis números de calças (que saltam de dois em dois, portanto 10 ou 12!). A estrutura do corpo mudou também. A largura de ombros é hoje menor, o que faz que as camisas que vestia não as possa mais vestir. As costas endireitaram, porque o peso que a coluna suporta é menor, a barriga é menos saliente.
Há dois dias decidi fazer uma limpeza nos meus armários. Tinha de ser. E o resulado foi muito divertido, mas ao mesmo tempo preocupante. Não tenho hoje um fato, um blazer ou um casaco que me fique bem. Metade das camisas passaram a ser camisas de noite.
E, das três, uma: ou o OLX cria uma secção de "Tamanhos Grandes" para eu poder fazer alguma receita com a roupa que já não visto (muita dela de marca e alguma dela com muito pouco uso); ou faço uma venda de garagem (!) ou lanço uma promoção tipo "Feira dos Tecidos. Novos padrões para cortinados. Vendo barato!".
É óbvio que esta é a chamada "boa dor de cabeça". Claro que vou ter de gastar dinheiro em roupa, e muito provavelmente, não rentabilizo em nada a roupa que já não uso. Mas é um ótimo sinal e altamente moralizador. Felizmente, nos últimos anos eu cometia um erro muito frequente: comprava camisas ou casacos uns números abaixo do que vestia para me incentivar a perder peso. Algumas dessas peças de roupa ficaram arrumadas no armário durante dois anos, sem nunca terem sido usadas. Passaram agora a ter serventia. Mas há outro problema: o investimento em roupa tem de ser tranquilo e em pequenas quantidades de cada vez. Porque a batalha contra o excesso de peso está longe de terminar e estou motivado a continuar, mesmo sabendo que os progressos serão, a partir de agora, mais lentos e mais difíceis. Mas eu vou continuar a perder peso, vou continuar a moldar o meu corpo. Portanto, estar a comprar agora muita roupa pode significar a prazo voltar a ter o mesmo problema. Vamos com calma, pé ante pé. Continuando a lutar, sem desistir. Sabendo que cada passo que dou é um passo para me sentir mais forte e mais saudável. E sabendo que isto só se consegue com a medicação antidiabética que tomo e, sobretudo, com a articulação de dois critérios fundamentais na mudança do estilo de vida: uma alimentação variada, de baixos hidratos de carbono (açúcares), e a prática sistemática de exercício físico. E quando digo sistemática não significa horas de caminhada ou de corrida todos os dias. Nem toda a gente tem paciência, e sobretudo tempo, para isso. Aliás, deixem-me que vos diga: para o metabolismo são mais frutuosos 20 minutos de caminhada a pé todos os dias do que duas horas de corrida uma vez por semana. Por falar nisso, escrever este post atrasou-me. E já não vou a tempo de caminhar agora: vai ter de ficar mais para o fim do dia.
Acordei. 08.17. Lá fora chovia a cântaros. Era forte o som da chuva a cair nos telhados de Lisboa. As previsões apontavam para a probabilidade de umas pingas, sim, mas nada que pudesse assustar. E logo hoje que me tinha inscrito, pela primeira vez, nos Sábados Desportivos que a Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal promove em dois sábados de cada mês. Ainda por cima, tinha vindo aqui ontem desafiar-vos a virem comigo e a conhecerem-me pessoalmente, depois destes meses em que temos partilhado desabafos, motivações, frustrações, preocupações e experiências de vida.
Não, eu não podia faltar. Mas chovia. Lá fora chovia a cântaros. Continuava forte o som da chuva a cair nos telhados de Lisboa. Peguei no telemóvel, confirmei na aplicação de meteorologia que, sim, a probabilidade de chover ao longo do dia era forte (60%). Batia certo. "E agora? Vou de calções e T-Shirt para o Lumiar e corro o risco de apanhar uma molha e não estar lá ninguém?" ou "Falto ao meu compromisso, invocando a ira dos deuses e fico na cama?".
Não podia ser. Os últimos quatro meses têm sido de batalha, de coragem, de sentido de responsabilidade e, sem que esse fosse o meu objetivo inicial, tornaram-me também um exemplo, uma fonte de inspiração aos olhos de que me lê aqui no blogue ou no Facebook. Não queria entrar numa de "Bem prega Frei Tomás". Não podia prometer uma coisa e depois falhar. Apenas por conforto de ficar na cama.
Levantei-me a medo. Fui à janela. Ao fundo a Ponte 25 de Abril, o Tejo e umas nuvens carregadas. Os vidros molhados. A chuva caía. Voltei a deitar-me e a enroscar-me na almofada. Nisto, providencialmente, toca o despertador, que eu tinha colocado para as 08.30. Simbólico. Se é para despertar, é para despertar.
Levantei-me, tratei do pequeno-almoço, da medicação e de mim. Vesti os calções e a T-Shirt, calcei os ténis. Na mochila coloquei uma garrafa de água, uma maçã e duas bolachas de fibra e gengibre, mais o glicómetro e a carteira. Por via das dúvidas, preparei a mochila para o ginásio. Se lá chegasse ao Lumiar, e não estivesse ninguém, ia praticar exercício indoor.
No caminho não parou de chover. Mas eu não desisti e segui a minha rota, em busca do Parque das Conchas, no Lumiar, onde nunca tinha entrado na vida. Quando cheguei e estacionei o carro, vi dez pessoas à porta da entrada junto à saída do Metro (era o local combinado). Eram todos mais velhos do que eu. Não sei se tinham "ar de diabético" (o que é isso, afinal?), mas percebi que, sim, aquela era a minha gente. Gente como eu, interessada em fazer exercício, sofrendo da mesma doença do que eu, e procurando, melhor ou pior, aumentar a sua qualidade de vida. Na frente do grupo, um amigo antigo, o João Antunes, velho companheiro dos tempos dos relatos na saudosa Rádio Ocidente. Ele já tinha prometido ontem que viria, quando eu desafiei toda a gente. Prometeu e também cumpriu. Nos minutos seguintes, juntaram-se mais cinco ou seis pessoas. E conheci a Ana Rodrigues, a professora de Educação Física que trabalha para a APDP e que, percebi logo, tinha já uma grande empatia com todos ("os meus meninos", como disse repetidamente). Apresentámo-nos, e a seu pedido falei-lhe do meu historial. As duas horas que se seguiram foram excelentes: caminhada de três quilómetros pelo parque, muito bonito, com zonas relvadas e outras de pinhal, subidas e descidas; exercícios de força, flexões, elasticidade e resistência, e alongamentos no final. Gargalhadas, histórias de partilha e de superação. Antes e depois do exercício medimos a glicemia. E todos constataram a descida dos valores com a prática da atividade.
No final pedi para tirar uma selfie, uma foto de família, que, expliquei previamente, seria para publicar aqui. Ninguém se importou e todos apareceram para a foto. No fundo, a ideia era essa. Partilhar. É esse o caminho, o objetivo. Uma partilha entre iguais, para desmistificar a diabetes e perceber que a vida pode ser melhor mesmo com a doença. No meu caso, seguramente, sobtetudo por causa da doença. Dentro de 15 dias, se não tiver qualquer compromisso inadiável, voltarei lá. Fiquei fã. E atenção: a iniciativa, que é de inscrição gratuita, não é válida apenas para diabéticos. Qualquer um pode aparecer, e juntar-se ao grupo. Venham. O pior que pode acontecer é fecharem-se na vossa própria concha...
Tenho um desafio para vos fazer. A Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal promove todos os meses uma iniciativa chamada "Sábados Desportivos". Por estranho que possa parecer, decorre aos sábados! Este sábado, dia 15, é um desses dias. Decorre no Parque das Conchas, no Lumiar (a concentração é na entrada mais perto à saída do Metro, linha amarela), e, segundo me foi explicado, a atividade é monotorizada por um professor de Educação Física especializado na temática da Diabetes.
O Sábado Desportivo decorre entre as 10h00 e as 12h30 e a entrada é gratuita. O público é muito heterogéneo: gente magra, gente gorda, mais novos (já participaram crianças com dez anos), mais séniores (a APDP disse-me que há um senhor comm 78 anos que participa de vez em quando...). As duas horas e meia são compostas de caminhada e de exercícios ligeiros que o professor nos pedirá de acordo com as nossas capacidades.
Nunca participei em nenhuma destas atividades, mas acho muito meritório o trabalho clínico, social e de integração que a APDP faz. E, por isso, decidi participar na edição deste sábado. As explicações que me foram dadas por telefone chegaram para me convencer. E creio que podem convencer-vos a vocês também. Para os mais velhos: "não vai só malta nova!". Para os mais novos: "não vão só 'cotas'!". Para os magros: "não vão só gordinhos!". Para os gordinhos: "não vão ser os únicos barrigudos!".
Assim sendo, só há duas coisas que vos fará faltar: ou o trabalho, ou a inércia. Se estão a trabalhar, está justificado. Se é mesmo por inércia, toca a combatê-la, a tirar o rabinho da cama e vir experimentar pela primeira vez. Tem outro aliciante: ficam finanalmente a conhecer o Tipo 2.
Podem inscrever-se através do 213 816 112. É melhor para eles terem uma noção do número de pessoas que terá o grupo. Mas se quiserem aparecer por lá sem dizer nada também podem. Muito importante: não têm de ser diabéticos nem sócios da APDP. A iniciativa é aberta a sócios, não sócios, pacientes, acompanhantes, não diabéticos. Basta ter vontade em fazer qualquer coisa para sermos saudáveis.
Vá, tomem uma decisão! Façam exercício físico (é um dos eixos fundamentais dos resultados que já obtive em quatro meses: 22 quilos perdidos, 23 centímetros de perímetro abdominal perdidos, glicemia estabilizada nos valores normais, colesterol e triglicéridos impecáveis, tensão arterial controlada). Não se desculpem com o tempo: sim, vão estar nuvens, sim, pode haver umas pingas, mas não vai chover a potes. Não inventem desculpas. Vamos?
Já vos disse que vou lá estar? ;)
Fechem a boca. Sim, sou lisboeta e nunca tinha estado mais do que cinco minutos no Monsanto. Só de passagem e de carro. Conhecido como o pulmão verde de Lisboa, o Mosanto é um ponto de encontro sobretudo para quem tem filhos e para quem pratica exercício físico (sim, há outras atrações que o tornaram/tornam famoso, mas não me estava a referir a essas...). Acontece que eu não sou pai e portanto não conhecia os Parques do Alvito e da Serafina. Não me lembro de ter estado lá, apenas passado por lá. E como só há três meses comecei a mexer-me, o Monsanto não era um sítio óbvio para mim. Mesmo que esteja a cinco minutos de carro de minha casa. Já aqui disse que moro perto do LX Factory e, portanto, o Monsanto é um pulinho. Aliás, já vários amigos me tinham perguntado: "E no Monsanto, não treinas? Aquilo é porreiro". A minha resposta era sempre "Não, nunca experimentei". Até hoje. E, de facto, eles tinham razão. Aquilo é porreiro. O pior é lá chegar. É o diabo. :)
Apesar das mudanças que estou a operar na minha vida, eu estou longe de ser um atleta. E, portanto, subir de Alcântara ao Monsanto, através da Estrada do Alvito, é um desafio pesado. Faço o caminho com muita frequência de carro e até vos garanto que, lá de cima, somos capazes de ter uma das melhores vistas sobre o Rio Tejo.
O pior é lá chegar. Debaixo da ponte 25 de Abril, junto ao restaurante russo Tapadinha, começa um trilho pedestre em terra batida. Assustei-me logo ali. Mas o desafio estava lançado a mim próprio. Ainda não eram 9h30 e da manha e lá estava eu com o batimento cardíaco mais acelerado, calções e T Shirt preta, fones brancos na cabeça. A ladeira começava ali. Duvidei se arrancaria. Ou se deixava para outra altura, quando tivesse mais pedalada. Afinal, ainda só passaram três meses desde que comecei. Além disso, ontem, sábado, o André Guardado, meu PT no Virgin Active, tinha-me dado uma tareia. Conclusão: havia músculos no meu corpo. Isso. Havia, eu podia senti-los. Todos. Em todo o meu corpo. Nas coxas, na barrigas das pernas, na parte superior das pernas, nos ombros, nos peitorais, nos bíceps, nos tríceps (é impressionante a quantidade de nomes que eles arranjam...). Tudo estava dorido, mas não desisti. Um desafio é um desafio. Se me sentisse mal, tinha bom remédio: voltava para trás. A descer, dizem, todos os santos ajudam. E eu, mesmo não acreditando neles, tenho uma fezada que num momento de aflição, eles hão-de me valer. Não foi preciso.
Parei duas vezes pelo caminho, mas cheguei ao cume do meu primeiro Prémio da Montanha. De primeira categoria. Tive pena de não levar uma bandeira, como Neil Amstrong fez em 1969, quando, ao pisar a Lua, deixou lá a bandeira dos Estados Unidos da América. Eu podia ter levado uma bandeira: "O Tipo 2 esteve aqui!". Mas não levei. Acredito, porém, que pode não ter sido "um grande passo para a Humanidade", mas foi seguramente, "um pequeno passo" para mim.
É que até aqui eu tinha apenas feito caminhadas relativamente planas, sem grandes declives, portanto, em nenhum momento tinha chegado cansado, ou tinha sentido necessidade de abrandar o ritmo, ou mesmo de parar. Desta vez, foi diferente. E aumentar as cargas é bom, colocarmo-nos à prova também. E a sensação de superar os os obstáculos é excelente.
Confirma-se. A vista lá de cima é fantástica. Eu vejo-a quase todos os dias, quando vou para casa, mas a pé teve outro significado. Depois, continuei por ali acima até chegar ao Parque do Alvito. Àquela hora, já havia muitos pais com as suas crianças a passear e a divertir-se.
Achei o parque particularmente bem tratado, bonito, convidativo. Continuei ladeira acima, e comecei a cruzar-me com gente que caminhava, que corria, que andava de bicicleta. Pais a andar e flhos de triciclo, famílias completas, que passeavam os seus cães. Tudo era novo para mim. "Venho aqui todos os domingos com ele", disse-me Lara, segundos depois de eu ter ajudado o filho, que não teria mais de 4 anos, a levantar-se de uma miniqueda da sua minibicicleta com rodas atrás. A Alameda Keil do Amaral, que desemboca num anfiteatro natural (onde há muitos anos, duas décadas talvez, assisti a um concerto dos Madredeus), hoje, aparentemente abandonado, é um sítio familiar.
E senti-me bem nessa caminhada, agora já em terra firme e inclinação quase nula. Era já o momento de descompressão, apesar de ainda me faltar mais de metade do percurso que tinha pensado para regressar a casa.
Fi-lo pela Ajuda, descendo a íngreme Calçada, que voltou a mostrar-me que os músculos das minhas pernas estavam vivos. No final, já em Belém, fiz o caminho plano até casa, cruzando os 15 km de caminhada, contente e orgulhoso com o esforço feito.
Amanhã, segunda-feira, passam três meses desde que me foi diagnosticada Diabetes. O que eu andei para aqui chegar.
Quantas vezes não ficámos enfartados depois de um jantar? Quantas vezes não tivemos dúvidas (ou mesmo certezas) de que a dose que nos puseram
à frente era muito superior à necessária? Quantas vezes não dissémos, à mesa, para amigos "Deixa-me cá tirar mais um bocadinho. Isto já não é fome, é mesmo gula!"? Quantas vezes, num restaurante, quando uma dose veio para a mesa, não comentámos com o/a companheiro/a de refeição "Devíamos ter dividido a dose. Isto dá para um batalhão!". Já nos aconteceu a todos. Uma, duas, três, dez, cem vezes. Acontece quase sempre. Sempre.
Vocês já me conhecem: gosto de comer, gosto do prazer de uma boa refeição, gosto daquele culto da mesa, de ter amigos à volta da dita, de uma boa dose de conversa e de gargalhadas. Portanto, cessem os temores: não vou aqui armar-me em puritano. Longe disso. Quem sou eu, afinal, para isso, que acumulei erros alimentares ao longo de quase 42 anos de vida?
Já vos disse, não me tornei um radical. Falo muito mais destes assuntos, estudo muito mais estas questões, preocupo-me muito mais com a minha saúde e procuro partilhar com quem me quer ouvir (ou ler) a informação que sei. Só isso. Cada um seguirá o seu caminho à mesma. Entendidos? Sem ressentimentos, então...
"Carbs & Cals", na edição portuguesa, é um "guia visual para a contagem de hidratos de carbono para pessoas com Diabetes". O trabalho é uma compilação da dietista Chris Cheyette e do fotógrafo Yello Balolia. Já o tinha visto na Fnac duas ou três vezes e fiquei interessado nele. Não o comprei na altura porque, ao folheá-lo, encontrei uma série de pratos e alimentos que fazem parte da dieta no Reino Unido (os autores são ingleses), mas que não têm adequação habitual em Portugal. E, por outro lado, faltavam lá pratos e alimentos que fazem as delícias dos portugueses. Intriguei-me ainda com uma coisa que me parecia estranha: "como é possível isto não estar adaptado para português?" Não era só a tradução, era a adaptação.
Afinal estava. Num destes dias, na livraria do Saldanha Residence, em Lisboa, encontrei-o. Na semana passada, na sede da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal, em Lisboa, também vi que estão lá à venda todos os os livros com a chancela ou com o apoio científico da APDP. É o caso deste. A adaptação à nossa realidade ficou a cargo da dietista Ana Raimundo Costa, precisamente a minha nutricionista na associação, e de quem já aqui vos falei.
Mas o que tem, afinal, este livro de tão interessante e de tão diferente dos outros? É que não se limita a explicar a importância da contabilização do consumo de hidratos de carbono de um diabético. Nem se alonga em explicações técnicas. Não, este livro não explica, mostra. De uma forma muito clara. O livro tem mais de 900 fotografias a cores de alimentos e bebidas, com até seis quantidades diferentes de cada alimento.
A ideia é simples. Por cada secção (o livro está dividido por 14 categorias de alimentos codificados por cores), fazemos a pergunta interiormente: "ora bem, quanto é que eu, em média, como de arroz de pato? Será este bocadinho, será este prato assim, ou será esta pratalhada?" Não vale a pena enganarmo-nos. Também ninguém precisa de saber: escusam de fazer esse exercício ao lado dos colegas de trabalho e amigos (embora, acreditem, se o fizerem pode ser bem divertido...). Façam-no sozinhos em casa, no quarto ou na sala. O que importa é que assimilem o que comem, de facto, e o quanto é que isso representa em hidratos de carbono e em calorias. E, depois, mais importante do que isso, percebam que, se reduzirem a dose, consomem muito menos calorias (portanto, perdem peso) e muito menos hidratos (logo, reduzem a quantidade de açúcar no sangue). Viverão melhor, enfim.
Vamos lá a mais exemplos. Quem não gosta de um bom prato de Esparguete à Bolonhesa? Então, os miúdos adoram. É rápido de fazer e é gostoso. Olhem lá para a imagem e sejam sinceros comigo: normalmente, como fica o vosso prato quando se servem de uma Bolonhesa? Como na primeira imagem (60 gramas de esparguete e 90 de bolonhesa)? Hummm, não acredito. Se comerem pouquito, talvez o segundo prato. Se estiverem com fomeca, o terceiro vai na boa. Quem adota aquela máxima "Eu treino, eu posso", vai logo para a linha de baixo. Ou aqueles pais e avós que servem os filhos/netos ("oh, coitadinho, ele está a crescer. Come filho, come!"). Repito: não estou a censurar ninguém. Eu não cheguei ao meu peso e ao corpo que tenho a beber água do Luso. Estamos entendidos? Já perceberam que por cada foto têm o valor equivalente de calorias e de hidratos de carbono, o que faz este guia excelente não só para diabéticos, mas também para aqueles que, não sendo, são obesos, pré-obesos ou para lá caminham.
E Cozido à Portuguesa, quem não gosta? São boas as doses que vêm nos restaurantes, não são? E ainda há aquela frase fatal, que se repete nos sítios mais familiares: "Senhor Antunes, arranje-me aí mais dois bocadinhos de farinheira e de carne de porco, se faz favor!". Já repararam que nunca ninguém pede ao senhor Antunes mais um bocadinho de cenoura cozida e de nabo?
Olhem a linha do meio: parece um prato razoável. Está cheio mas não tem muito de tudo: tem um bocado de couves, um bocado de arroz, meia dúzia de feijões, uma rodela de vários enchidos e carne. A quarta fotografia deve corresponder à média de meia dose de Cozido à Portuguesa num normal restaurante português. Aquele quarto prazo corresponde quase 50 gramas de hidratos de carbono e 668 calorias. Se a dose for maior, aquela pratalhada pode chegar às 72 gramas de hidratos de carbono (que dão energia mas que se transformam em glicose na corrente sanguínea) e ultrapassar as 1000 calorias. "Ai que horror, mas eu não como tanto!". Sim, já sei que estão a pensar nisso. "Só uma besta come aquilo tudo", acrescentam envergonhadamente. Não. Basta que comam uma primeira dose e depois voltem a servir-se "de mais um bocadinho para acamar".
E para sobremesa, vai uma Mousse de chocolate? Vai, pois. A diferença entre uma pequena e uma grande dose vai na distância entre 75 e 450 calorias ou entre 10 gramas e 60 gramas de carbohidratos.
O livro tem muitos exemplos para descobrir: desde o leite ao vinho (sabiam que há uma enorme diferença entre o vinho branco e o tinto e que este último quase não tem hidratos de carbono? Eu não sabia!), dos bolos à fruta, dos cereais de pequeno almoço aos pães de leite e croissants. É um guia para ir folheando e abrindo a boca de espanto a cada página, acreditem.
Para terminar, um clássico: sim, comer um pastel de nata é melhor do que um queque. É um clássico porque já muita gente sabe disso, tantas vezes o exemplo foi repetido, mas contraria aquilo que o nosso senso comum responderia. Um pastel de nata? Que tem creme e massa folhada? Um queque, que é um bolo seco e sem creme? Mas que tem montes de manteiga. O exemplo também está no livro. O pastel tem 34 gramas de hidratos de carbono, enquanto o queque, que tem quase mais cem calorias, fornece 40 gramas de hidratos.
Pronto, não vos maço mais. Boa leitura!
Ando a ler um livro um bocadinho assustador. Chama-se "Açúcar - O pior inimigo". Comprei-o há duas semanas numa grande superfície e só comecei a lê-lo hoje. Tem estado na minha mesa de cabeceira há mais de 15 dias. Tenho estado literalmente a dormir com o inimigo.
O livro é assustador porque nos obriga a refletir sobre, por um lado, as coisas que comemos, e, por outro, as coisas que a indústria alimentar acrescenta aos alimentos para os tornar mais apetecíveis, logo mais vendáveis.
Já aqui vos disse que tenho lido muita coisa nos útimos dois meses. Não pensem que me tornei um obsessivo. Continuo a ler romances, livros de comunuicação e outros, mas - não há como negar - passei a interessar-me por estes assuntos. Por uma questão de saúde, desde logo: só posso mudar os meus hábitos de vida, se perceber o que é que os velhos hábitos significam.
Apesar de assustador, "Açúcar - O pior inimigo", escrito por Richard P. Jacoby e Raquel Baldelomar, deve ser lido. Não só por diabéticos como eu. Não só por obesos como eu. Mas também por todos os que querem perder alguns quilos e prevenir males futuros. O livro mostra de que forma o açúcar, nas suas mais variadas designações e composições, é prejudicial para o nosso organismo, inclusivamente provocando a compressão dos nervos.
Digo "açúcar nas suas mais variadas designações e composições" porque a falta de informação faz com que as pessoas ignorem os malefícios dos sucedâneos e afins. Cito uma passagem deste livro que estou a ler:
"A indústria alimentar esconde sob diferentes nomes o açúcar adicionado nos seus produtos, a que podemos chamar gémeos maléficos. Porém, açúcar é açúcar. Depois de ler o rótulo, dispense o produto se qualquer um destes termos maus comuns para o açúcar estiver entre os primerios cinco ingredientes:
Açúcar amarelo, açúcar de beterraba, açúcar mascavado, cana-de-açúcar, caramelo, concentrado de sumo de fruta, dextrina, dextrose, glicose, malte de cevada, maltodextrina, maltose, mel, melaço, melaço de cana, sacarose,xarope de milho, xarope de milho rico em frutose, xarope de ácer (entre outros)".
Dois meses. E, de repente, passaram dois meses. Se eu tivesse um calendário atrás de uma qualquer porta na minha vida, fazia um círculo a vermelho em redor do dia 20 de junho. E juntava-lhe uma legenda: “o primeiro dia do resto da minha vida”. Não, acreditem, não é exagero. É como sinto estes dois meses que hoje se assinalam. Uma nova vida que começou ali.
Um dia antes tinha-me sido diagnosticada oficialmente Diabetes Tipo 2.
Tinha entrado em hiperglicemia, com 329 mg de glicose por decilitro de sangue. O meu quadro ficou ali traçado: só havia uma forma de mudar o estado de coisas: a conjugação de medicação, uma profunda reeducação alimentar e exercício físico diário.
O resto, bem o resto, vocês já sabem, porque têm acompanhado por aqui. Esta segunda semana de férias, tal como esperava, está a ser mais difícil do que a primeira. À disciplina dos primeiros oito dias seguiram-se algumas concessões nesta segunda fase, decorrente da natureza mais exigente desta segunda semana.
Os primeiros dias foram passados quase sempre fora de casa, na praia, com um rigoroso planeamento alimentar na véspera. Agora, a maioria dos dias são passados em casa de família, junto à piscina, na serra, a cinco quilómetros de Tavira. A companhia é mais velha e em casa há mais tentações: mais vinho rosé, mais vinho tinto, mais cervejas, mais grappa, mais assados, mais batatas fritas à mão de semear, mais presunto e ovos mexidos, enfim, vocês sabem do que falo. Acresce que as noites quentes têm convidado a longas conversas madrugada fora, sempre de copo na mão, junto à piscina. Noites longas são pouco compatíveis com manhãs desportivas.
Ainda assim, não me interpretem mal: isto não tem sido uma balda. Os pequenos almoços continuam a ser corretos, tenho feito saladas e algumas caminhadas. Mas também tem havido álcool e gelados de Tavira à mesa de casa.
São 19h00 e acabei de fazer uma caminhada junto ao rio Gilão. Foram só 3 km, mas deu para desmoer um pouco. Passei por uma farmácia e pesei-me: menos 2,6 quilos do que quando parti de Lisboa. Ou seja, nestes novos dois meses, já lá vão 14,6 quilos perdidos. Provavelmente, não vou cumprir um dos meus “mandamentos de férias” (eram 3,5 quilos nas duas semanas), mas isso interessa pouco. O que é verdadeiramente relevante é que o meu metabolismo está a mudar com os meus novos hábitos. E que, apesar dos excessos de férias, consigo manter a minha rota definida.
A meio da próxima semana, quando regressar ao trabalho, terei oportunidade de voltar ao normal. É mais fácil planear e mais fácil cumprir o planeamento. Para já, uma coisa é certa: sinto-me bem e orgulhoso destes dois meses. A minha batalha contra a obesidade e a diabetes é longa. Muito longa. Mas não lhe vou dar tréguas, acreditem.
Para já, para além dos sinais clínicos animadores, vou descobrindo novidades no meu corpo todos os dias: umas covinhas que não estavam, uns ossos que não sentia porque estavam debaixo de uma camada adiposa considerável, umas peles que recomendam correção cirúrgica lá mais para a frente. Tudo isso faz parte da construção deste novo Nuno. E nesse processo não há volta a dar.
Anda um tipo a entrar nos eixos, seguindo um caminho definido, bem trilhado, com resultados visíveis, e eis que aparecem os diabinhos da tentação. Eles andam sempre por aí a pairar. Esta minha segunda semana de férias algarvias, em casa de família, têm tido muitos diabinhos à solta. Nada de surpreendente, eu já vos tinha prevenido para isso. E, sobretudo, já me tinha prevenido a mim próprio.
Depois de uma primeira semana em que passei com distinção, apenas com uma bola de Berlim na praia e sem gelados, esta segunda semana, em Tavira, tenho fraquejado. Enfim, nada de grave, claro, mas tenho caído em tentação. Algum álcool e dois gelados. Há três dias que me andavam a falar dos "melhores rissóis do mundo" no café Mira, uma relíquia tavirense (os conhecedores sabem do que falo). Quando aqui chegámos, correu o rumor de que o Mira tinha fechado. O horror, a tragédia. Numa das minhas caminhadas matinais comprovei que se mantinha aberto. Era falso alarme. Apenas mudou de mãos. Ou melhor, os proprietários mantêm-se os mesmos, mas "concessionaram" a operação. E deram-lhe um toque de modernidade. Uma pena.
Corações mais sossegados. Retomaram-se velhas rotinas. De manhã, cafezinho no Mira. E um rissol. Ontem resisti. Hoje, sentado na esplanada com os restantes comensais, ouvi o diabinho: "come lá um rissol, pá! Não sejas maricas!". Não fui. Comi o rissol. Simpático, mas longe de ser o propalado "melhor do mundo". Pelo menos do meu mundo, que, em matéria de rissóis, tem muitos quilómetros palmilhados.
O rissol não me soube bem. Não era mau, mas não fui capaz de o fruir. Bateu-me um sentimento de culpa. Como se tivesse violado uma linha intransponível. Como se tivesse transposto uma barreira psicológica. E transpus. Ao fim de 59 dias, comi um salgado. Pronto, levanta a cabeça e segue. Ainda ouvi a conversa motivadora: "Tem calma, não foi por comeres um rissol que colocaste em causa o teu percurso até aqui". É verdade.
Passadas estas horas estou tranquilo em relação ao rissol que comi de manhã. Mas tinha-o aqui entalado. Tinha de vos contar. O Tipo 2, tão motivado, tão inspirador, também fraqueja. E vai fraquejar mais vezes. É mesmo assim. De vez em quando, convém pisarmos o risco. Caso contrário, tornamo-nos uma seca...
Medi a glicemia há pouco: 124. O rissol já lá vai e não deixou rasto. Ao menos isso. Ainda se fosse o melhor do mundo, sempre havia um consolo. Assim não. Adeus!
Ontem foi dia de voltar a auto-injetar-me. Se bem se lembram, já vos contei aqui que na minha visita à Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal , a diabetologista mudou-me a medicação e dosagens. Manteve-me a metformina diária, mas acrescentou-me um medicamento de toma semanal auto-injetável. O Bydureon é um pó e solvente para suspensão injetável de libertação prolongada. Ou seja, tomo uma vez por semana, sempre no mesmo dia e preferencialmente à mesma hora, e ele vai libertando o medicamento ao longo da semana. Segundo a médica, optou por esta solução para mim porque a combinação dos seus princípios ativos permitem o controlo da glicemia e reforçam a perda de peso.
Há uma semana, na primeira vez, a auto-injeção fez-me alguma confusão. É uma caneta idêntica à de quem toma insulina (não é o meu caso), a agulha é fininha, mas o ato de ser eu a espetar a agulha em mim próprio não me foi confortável, como aqui contei. Ontem, foi mais fácil. Já me custou menos, embora aqueles dez segundos em que a agulha tem de estar dentro de nós não sejam uma coisa agradável. Não é doloroso, mas admito que não seja confortável. Mas tem de ser e, já me conhecem, se tem de ser, vamos a isso.
Na primeira semana, não senti qualquer contra-indicação, embora tenha verificado que os níveis de glicose tenham subido um bocadinho e estado mais irregulares. Coisa para a qual a médica já me tinha alertado que poderia acontecer na primeira semana. Nada de muito grave. Por exemplo: aconteceu-me nos primeiros dias ter glicemias de 145/150 duas horas depois das refeições, que eram valores que habitualmente já não tinha. Uma semana depois, esses valores já estão controlados e a minha glicemia em jejum, a que estava a ser mais difícil de baixar, está com os melhores valores de sempre. Antes do pequeno almoço tenho estado com valores de açúcar no sangue na casa dos 105/110 mg por decilitro de sangue.
Quase dois meses depois da crise de hiperglicemia que espoletou esta mudança na minha vida, sinto-me muito bem fisicamente. Já perdi 13,5 quilos, o meu açúcar baixou de forma drástica e consistente, o meu eletrocardiograma revelou um coração sem sobressaltos, o colesterol e triglicéridos baixaram muitíssimo e estão hoje absolutamente dentro dos valores de referência. Continuo a minha reeducação alimentar e ganhei gosto pelo exercício físico. São razões suficientes para me manter altamente motivado e, creio, são também razões suficientes para motivar quem continua, aí desse lado, a precisar de um empurrãozinho.
Quando criei este blogue, disse claramente que não queria ser um exemplo para ninguém. Só para mim. Mas a verdade é que o blogue e a página de Facebook do Tipo 2 (a propósito, já fizeram like?) cresceram muito neste tempo. Tal como a quantidade de mensagens, públicas e privadas, que me enviam a dar forças, a confessar fraquezas e a pedir conselhos. Saber que com esta minha mudança posso ajudar outros também me motiva a continuar. E por isso é altura de vos agradecer a todos por continuarem comigo. Para os mais céticos, para os que ainda não sabem/não conseguem lidar com esta doença, acreditem: a Diabetes não é incapacitante e, controlada, permite uma vida saudável. Até mais saudável do que antes. Olhem para mim.
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